05 março 2021

Como mensageiro da Paz, Papa parte com destino ao Iraque

 
 Junto à porta do A330 da Alitátla, o Papa Francisco despede-se dos presentes no Aeroporto Fiumicino 
 
"E vou até vós como peregrino da paz, para repetir: "Sois todos irmãos" (Mt 23,8). Sim, vou como peregrino da paz em busca de fraternidade, animado pelo desejo de rezar juntos e caminhar juntos, também com irmãos e irmãs de outras tradições religiosas, unidos pelo pai Abraão, que reúne numa só família muçulmanos, judeus e cristãos”, disse o Papa Francisco aos iraquianos um dia antes da sua viagem.

 

Vatican News

"Irmãos e irmãs de todas as tradições religiosas. Desta terra, há milénios, Abraão começou a sua viagem. Hoje cabe a nós continuá-la, com o mesmo espírito, caminhando juntos pelos caminhos da paz! 

“Sois todos irmãos” é o lema da 33ª Viagem Apostólica do Papa Francisco, que o leva desta vez como mensageiro da paz ao Iraque. Antes de deixar a Casa de Santa Marta, pouco antes das 7 horas, o Santo Padre teve um encontro com 12 refugiados iraquianos, atendidos pela Comunidade de Santo Egídio e pela Cooperativa Auxilium. Presente no encontro o Esmoler Pontifício, cardeal Konrad Krajewski.

Após, o Papa dirigiu-se ao Aeroporto de Fiumicino, em Roma, onde o aguardava para as despedidas Dom Gino Reali, bispo da Diocese de Porto-Santa Rufina, sob cuja jurisdição está o Aeroporto Internacional. Depois de subir as escadas do avião com máscara protetora, e carregando a sua valise preta com livros e objetos pessoais, Francisco saudou parte da tripulação e acenou para os presentes no Aeroporto.

O avião decolou às 7h45. A bordo do voo, acompanha a viagem uma imagem de Nossa Senhora de Loreto. O séquito papal é formado, entre outros, pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, pelo prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, cardeal Leonardo Sandri e pelo grão-mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro, ex-núncio no Iraque e especialista em assuntos do Médio Oriente, cardeal Fernando Filoni.

Os 74 jornalistas que acompanham o Pontífice no avião da Alitália serão saudados brevemente durante a viagem de ida e, na de volta, como de costume, dirigirão perguntas ao Pontífice, na já habitual entrevista no término de cada Viagem Apostólica.

O voo AZ 4000 do A330 da Alitália deverá aterrar no Aeroporto Internacional de Bagdad ao meio-dia, hora local (+2 horas em relação à Itália), após percorrer 2.947 km em 4h30 e sobrevoar Grécia, Chipre, Israel, Jordânia, além de, naturalmente, Itália e Iraque. O Papa será recebido pelo primeiro-ministro, com quem manterá um breve encontro e a quem presenteará um Trítico, uma medalha de prata e uma edição especial da "Fratelli tutti". 

O telegrama ao Presidente Mattarella

No momento de deixar o território italiano, o Santo Padre enviou o habitual telegrama ao Presidente da República Sergio Mattarella com o desejo de prosperidade e serenidade estendido a toda a população. Em resposta o agradecimento do Chefe de Estado e a ênfase de que a presença do Papa no Iraque "representa para as martirizadas comunidades cristãs daquele país e de toda a região, um testemunho concreto de proximidade e de paterna solicitude". Mattarella também destacou que a visita iraquiana é "um sinal de continuidade após a Viagem Apostólica aos Emirados Árabes Unidos" e "mais um passo no caminho traçado pela declaração sobre a fraternidade humana".

 

  A imagem de Nossa Senhora de Loreto a bordo do voo papal 

Bagdad, primeira etapa da visita

A capital da República do Iraque, foi fundada em 762 pelo califa abásside al-Mansur, no local onde o curso do rio Tigre se aproxima ao Eufrates, numa das áreas culturais mais antigas da humanidade, a Mesopotâmia.

A posição favorável para o comércio e a administração do território permitiu que a cidade crescesse e prosperasse até tornar-se um dos centros culturais mais importante do mundo. Do esplendor alcançado pelos abássidas, ainda temos ecos nas histórias de "As Mil e Uma Noites", em grande parte ambientadas na cidade, que pelos maravilhosos palácios e jardins era conhecida como a "cidade da paz".

Foi ali que ele nasceu, como biblioteca privada do califa abássida Harun al Rashid (Harune Arraxide), a Bayt al-Haikma, a "Casa da Sabedoria", ampliada mais tarde pelo seu filho e sucessor al Ma'mun, um dos lugares de estudo mais conhecidos da história. Partindo de uma biblioteca privada, este lugar expandiu-se cada vez mais, tornando-se público e dando a oportunidade aos estudiosos de consultar mais de meio milhão de livros.  

A Bayt al Hikmah representou no mundo o mais importante centro de conhecimento por vários séculos. No entanto, não sobreviveu às devastações sofridas pela capital abássida: incêndios, guerras civis e, por fim, a invasão devastadora dos mongóis liderados pelo sobrinho de Genghis Khan, Hülegü. Com o fim do Califado, no século XIII, teve início a decadência de Bagdad.

Saqueada pelos mongóis em 1258, destruída por Timer em 1400, passou a fazer parte do Império Otomano em 1638, até ao século XX, sendo ocupada posteriormente pelos britânicos, durante a Primeira Guerra Mundial.

Em 1932, com a independência, voltou a ser um importante centro cultural no mundo árabe, e na década de 1970, graças ao petróleo, conheceu um período de prosperidade, que terminou definitivamente após o conflito com o Irão, as Guerras do Golfo, a queda do ditador Saddam Hussein e a ocupação militar em 2003.

Bagdad, cujo nome parece derivar do antigo persa "Bagh" e "Dad", ou "presente de Deus", pela forma perfeitamente circular do seu núcleo original, foi sempre definida como "Cidade Redonda". Ali, dentro de três círculos de muros concêntricos, Al-Mansur construiu o seu palácio, o opulento Golden Gate Palace, com  uma cúpula verde mais de 40 m de altura, e a adjacente Grande Mesquita.

Na cidade atual, abundam os monumentos construídos por ordem de Saddam Hussein, para celebrar a sua figura e as suas vitórias. Entre os principais, o Arco de Mãos da Vitória, o Monumento ao Soldado Desconhecido, e o monumento Al-Shaheed, que comemoram a Guerra Irão-Iraque.

Hussein também mandou construir algumas mesquitas, entre as quais a mesquita Umm al-Mahare, ou "Mãe de todas as batalhas", na periferia, cujos minaretes têm a forma de fuzis Kalashkinov e mísseis Scud; a mesquita kazimayn, localizada a noroeste de Bagdad, típico exemplo de arte islâmica, onde são conservados os túmulos dos Imames venerados por muçulmanos xiitas. E no bairro de Bab al-Sheik, a mesquita al-Qadiriya, que já foi uma escola do Alcorão.

Marcos de referência da capital, separados pelo rio Tigre, são o Santuário Khadhimiya e a Mesquita Abu Hanifa, em Adhamiya, uma das mais importantes mesquitas sunitas na capital; o Palácio de Saddam Hussein, construído pela sua vontade em 1988 numa colina no alto da cidade; o Museu Nacional iraquiano - fundado em 1926 pela arqueóloga e viajante britânica Gertrude Bell, conhecida como a "Rainha de Bagdad" - o qual, em 2003, após a invasão dos Estados Unidos, foi saqueado das suas preciosas antiguidades, que datam mais de 5.000 anos; o zoológico construído em 1971, que em 2003 foi completamente devastado, mas agora acessível novamente; os bairros característicos de Karrada e Al Mansour; e o mercado histórico de Shorja, o maior souk ao ar livre da cidade, que remonta à era abássida.

VN

Sem comentários:

Enviar um comentário