30 outubro 2022

A dor do Papa pelo atentado em Mogadíscio: Deus converta os corações dos violentos

 
 Mogadíscio: lugar do atentado reivindicado pelas milícias al-Shaabab.   (AFP or licensors) 
 
Francisco pede orações pelo ataque na capital somaliana que deixou mais de cem mortos, incluindo muitas crianças, e foi reivindicado pelas milícias al-Shaabab. O apelo do Presidente Hassan Sheikh Mohamu para que a comunidade internacional envie médicos ao país.
 

Francesca Sabatinelli, Silvonei José – Vatican News

Dramático o apelo do Papa que, nas saudações pós-Angelus, dirigidas à multidão reunida na Praça de São Pedro, transporta com as suas palavras os fiéis à martirizada Somália:

Enquanto celebrarmos a vitória de Cristo sobre o mal e a morte, rezemos pelas vítimas do ataque terrorista que, em Mogadíscio, matou mais de cem pessoas, incluindo muitas crianças. Que Deus converta os corações dos violentos!

Cinco anos depois, no mesmo lugar, outro massacre de inocentes. São mais de cem vítimas - em outubro de 2017 foram 500 -, do duplo ataque que atingiu um traficado cruzamento na capital somaliana, Mogadíscio, na tarde deste sábado (29/10), em frente ao Ministério da Educação, e que também deixou mais de 300 feridos. Dois carros-bomba explodiram em poucos minutos. A responsabilidade pelo ataque foi reivindicada pelo grupo al-Shabaab, ligado à Al-Qaeda, que supostamente apontou o ministério como uma "base inimiga" que recebe apoio de países não-muçulmanos e está "comprometido em retirar as crianças somalianas da fé islâmica". O grupo tinha declarado no passado que continuaria as suas atividades terroristas até à criação de um estado islâmico governado pela Sharia.

Objetivo dos ataques altos funcionários institucionais

O ataque ocorreu num dia em que o presidente Hassan Sheikh Mohamud, o primeiro-ministro Hamza Abdi Barre e vários altos funcionários estavam a reunirem-se precisamente para discutir sobre o aumento dos esforços para combater o extremismo violento e em particular, al-Shabaab. Um evento que naquelas horas ocorria a pouca distância do local do atentado e que provavelmente estava na mira dos extremistas que, não conseguindo chegar perto, dirigiram-se para o ministério. A primeira explosão, segundo testemunhas, atingiu o muro do ministério, onde geralmente estão presentes vendedores ambulantes e cambistas. A segunda explosão ocorreu em frente a um movimentado restaurante.

O apelo do presidente

Dramático apelo do presidente, que pediu à comunidade internacional e aos "muçulmanos ao redor do mundo" que enviem médicos ao país, que tem um dos sistemas de saúde mais fracos do mundo. As milícias al-Shabaab, que foram expulsas pela União Africana da capital em 2011, ainda controlam grandes extensões do território rural e realizam ataques periódicos.

VN

Papa Francisco: devemos ter o olhar de Cristo que procura os perdidos, com compaixão

 
 Papa no Angelus  (Vatican Media) 
 
O Papa Francisco rezou neste domingo o Angelus com os fiéis na Praça de São Pedro e recordou a figura de Zaqueu e o seu encontro com Jesus.
 

Silvonei José – Vatican News

“O olhar de Deus nunca se detém no nosso passado cheio de erros, mas olha com infinita confiança para o que nos podemos tornar”: foi o que disse o Papa Francisco neste domingo, 30 de outubro, na alocução que precedeu o Angelus recitado com os fiéis reunidos na Praça de São Pedro.

No dia em que a liturgia narra o Evangelho do encontro entre Jesus e Zaqueu, chefe dos publicanos na cidade de Jericó, Francisco disse que no centro desta narração está o verbo procurar. Zaqueu "procurava ver quem era Jesus" e Jesus, após encontrá-lo, afirma: "O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido".

Então o Papa deteve-se nos dois olhares que se procuram: o olhar de Zaqueu que procura Jesus e o olhar de Jesus que procura Zaqueu.

Zaqueu, recordou Francisco, era um publicano, ou seja, um daqueles judeus que cobravam impostos em nome dos dominadores romanos, e aproveitavam-se da sua posição. Por causa disso, era rico, odiado por todos e visto como um pecador.

 Angelus - Praça São Pedro

O Evangelho diz que "ele era pequeno em estatura" e por isso talvez também alude à sua baixeza interior, à sua vida medíocre e desonesta, com o olhar sempre dirigido para baixo. No entanto, Zaqueu quer ver Jesus. E para ver Jesus subiu a um sicômoro. "Ele subiu a um sicômoro: Zaqueu, o homem que dominava tudo, segue o caminho do ridículo para ver Jesus. Basta pensar no que aconteceria se, por exemplo, um tro da economia subisse a uma árvore para olhar para outra coisa: arrisca-se a ser zombado. E Zaqueu arriscou-se a ser chacoteado para ver Jesus, ele fez-se ridículo. 

“Zaqueu, na sua baixeza, sente a necessidade de procurar outro olhar, o de Cristo. Ele ainda não o conhece, mas está a esperar que alguém o liberte da sua condição, que o tire da lama em que se encontra. Isto é fundamental: Zaqueu ensina-nos que, na vida, nunca tudo está perdido Podemos abrir sempre espaço para o desejo de recomeçar, de partir novamente, de nos convertermos”.

Seguidamente o Papa destacou que decisivo é o olhar de Jesus. Ele foi enviado pelo Pai para procurar quem se perdeu; e quando chega a Jericó, passa precisamente ao lado da árvore onde está Zaqueu.

O Evangelho relata que "Jesus olhou para cima e lhe disse lhe: "Zaqueu, desce depressa, hoje devo ficar na tua casa" (v. 5).  O Papa disse que esta “é uma imagem muito bonita, porque se Jesus tem que olhar para cima, isso significa que ele está a olhar para Zaqueu de baixo. Esta é a história da salvação: Deus não nos olhou do alto para nos humilhar e julgar; pelo contrário, Ele abaixou-se ao ponto de lavar os nossos pés, olhando para baixo e restituindo-nos dignidade.

 Angelus  - Praça de São Pedro 

“Assim, o encontro de olhares entre Zaqueu e Jesus parece resumir toda a história da salvação: a humanidade com as suas misérias procura a redenção, mas antes de tudo Deus com a sua misericórdia procura a sua criatura para salvá-la”.

Francisco pediu então que nos recordemos que “o olhar de Deus nunca se detém no nosso passado cheio de erros, mas olha com infinita confiança para o que podemos tornarmo-bos”.

E se às vezes sentimo-nos pessoas de baixa estatura, não à altura dos desafios da vida, muito menos do Evangelho, atolados em problemas e pecados, Jesus olha-nos sempre com amor: como com Zaqueu, ele vem ao nosso encontro, chama-nos pelo nome e, o acolhemos, ele vem à nossa casa.

Então podemo-nos perguntar, disse Francisco: como olhamos para nós mesmos? Sentimo-nos inadequados e resignamo-nos, ou precisamente ali, quando nos sentimos desanimados, procuramos o encontro com Jesus? E depois: que olhar temos para com aqueles que erraram e estão a lutar para se levantarem do pó do seus erros? É um olhar de cima, que julga, despreza e exclui?

"Lembremos que só é permitido olhar uma pessoa de cima para baixo somente para ajudá-la a elevar-se: nada mais. Somente assim é admissível olhar para alguém de cima para baixo". 

“Mas nós cristãos devemos ter o olhar de Cristo, que abraça de baixo, que procura os perdidos, com compaixão. Este é, e deve ser sempre, o olhar da Igreja”.

O Papa concluiu rezando a Maria, para cuja humildade o Senhor olhou, pedindo-lhe o dom de um novo olhar sobre nós mesmos e sobre os outros.

VN

27 outubro 2022

A PRESENÇA!


 
Entrou na igreja com a curiosidade do costume.
Desde jovem que nada tinha a ver com a fé, nem sequer era assunto que minimamente lhe interessasse, mas gostava de visitar monumentos, sobretudo igrejas antigas, e ver as suas maravilhas.

Parou no corredor central e reparou que por cima do altar estava um “objecto” que parecia de ouro e prata e no seu interior tinha uma “rodela” branca.
Isso trazia-lhe alguma reminiscência de memória sem, contudo, conseguir identificar especificamente o que era.
Viu diversas pessoas na igreja sentadas, ajoelhadas ou de pé, mas o que lhe fez mais impressão foi o silêncio que se “sentia”, e que não era constrangedor nem incómodo, era um silêncio de … amor!
Sorriu interiormente quando pensou nesta coisa de um “silêncio de amor”.

Para não incomodar ninguém, sentou-se num banco disposto a ver dali os quadros, imagens, e outras peças de arte, que estavam na igreja, pois esse era o motivo principal da sua visita.

Passado pouco tempo percebeu que havia uma pergunta que não lhe saía da cabeça: O que é isto?
Obviamente a pergunta tinha a ver com o tal “objecto” que estava em cima do altar.
A pergunta era insistente e não lhe saía do pensamento.
Baixou a cabeça para ver se se conseguia concentrar na finalidade da sua visita, mas a única coisa que aconteceu foi que a pergunta que o “atormentava” mudou para: Quem é isto?
Caramba, pensou ele, “quem” já envolve pessoas ou pessoa, o que quererá isto dizer?

Sem perceber muito bem porquê, deu consigo de joelhos a olhar fixamente o tal “objecto” sobre o altar e para grande surpresa sua a pergunta agora era bem mais especifica: Quem és tu?
Não teve dúvidas que a pergunta era dirigida ao tal “objecto” e que era ele próprio que a fazia.

Fechou então os olhos e deixou de se incomodar com a pergunta que continuava, no entanto, bem presente na sua cabeça e curiosamente parecia-lhe, também, no coração.
Perdeu a noção do tempo e quando reabriu os olhos reparou que um sacerdote estava a retirar o tal “objecto” e a guardá-lo, (nesse momento lembrou-se do nome), no sacrário.
Estranhamente apeteceu-lhe pedir para que o deixasse um pouco mais de tempo sobre o altar.

As pessoas começaram a sair da igreja, mas ele sentado, com a cabeça entre as mãos, de olhos fechados, ia deixando passar o tempo.
Sentiu um toque no seu ombro, abriu os olhos, e viu o sacerdote que, sorrindo, lhe perguntou se estava bem e se precisava de alguma coisa.
Ouvi-o perguntar se ele se queria confessar, ao que ele admirado perguntou - confessar? - e seguidamente o sacerdote disse que talvez quisesse apenas conversar.

Disse que sim e o sacerdote sentou-se a seu lado perguntando sobre o que quereria conversar.
Naquele momento ele pensou que não tinha nada para dizer, mas a verdade é que começou a contar a sua vida, como em criança tinha sido obrigado a frequentar a catequese e tinha ido a algumas Missas, e como se tinha afastado totalmente de Deus e da Igreja, mas o que mais o espantava é que à medida que falava, a memória trazia-lhe nitidamente tudo o que tinha aprendido nessa altura e teve repentinamente a resposta à sua pergunta “quem és tu?” que surgiu muito claramente num nome, Jesus!

O sacerdote ouvia-o atentamente com uma cara que parecia estar reflectir profundamente em tudo o que ele dizia, mas ele olhando para o relógio percebeu que tinha um compromisso importante e deveria sair dali quanto antes.
Disse então ao sacerdote que tinha de ir embora mas perguntou se poderia voltar noutro dia para continuarem a conversa.
O sacerdote, com um sorriso, respondeu-lhe que sim, que ele estava sempre por ali, por isso que ele estivesse à vontade e o procurasse quando regressasse à igreja.

Uma paz muito grande envolveu-o.

Levantou-se, agradeceu, e à saída reparou que o sacerdote se tinha ido ajoelhar frente ao sacrário.

O sacerdote ajoelhado frente ao sacrário com lágrimas nos olhos rezava:
Oh, Jesus, como Tu fazes tudo tão bem.
Sabes bem que me ando a debater com estes sentimentos de dúvida, de angústia, de querer abandonar a Igreja, envergonhado com o que se passa, de já quase não acreditar nos sacramentos, e então chamaste este homem, este irmão perdido da fé, para me fazeres perceber que estás realmente aqui presente e que tocas as vidas daqueles que de Ti se aproximam.
Obrigado, Jesus, pela paz que me estás a dar, pela certeza que renasce em mim de Te querer servir servindo em Igreja, obrigado pelo amor que derramas em mim.
E perdoa-me, Senhor, por ter duvidado.
Como Tomé, só Te posso dizer: Meu Senhor e meu Deus.



Marinha Grande, 27 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves
 

Sínodo: no Documento da etapa continental, a voz dos últimos e dos "excluídos"

 
 
 Fieis na Praça de S, Pedro (Ansa) 
 
Publicado o texto que será a base para os trabalhos e "quadro de referência" da segunda etapa do caminho sinodal lançado pelo Papa em 2021. Para compô-la, as sínteses vindas das Igrejas dos cinco continentes após consulta aos fiéis e outros. A questão do papel da mulher, o acolhimento de pessoas Lgbtq, o escândalo dos abusos, os desafios do racismo e do tribalismo, o drama das guerras e da violência, a defesa da vida frágil são centrais
 

Salvatore Cernuzio – Vatican News

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Há os pobres e os indígenas, famílias, divorciados casados novamente e pais solteiros, pessoas Lgbtq e mulheres que se sentem "excluídas". Há as vítimas de abusos, tráfico ou racismo. Há sacerdotes, ex-sacerdotes e leigos, cristãos e aqueles ‘distantes’ da Igreja, aqueles que querem reformas sobre o sacerdócio e o papel feminino, e aqueles que "não se sentem à vontade para acompanhar os desenvolvimentos litúrgicos do Concílio Vaticano II". Há aqueles que vivem em países de martírio, aqueles que lidam diariamente com violências e conflitos, aqueles que lutam contra a bruxaria e o tribalismo. Em resumo, há toda a humanidade, com as suas feridas e medos, as suas imperfeições e instâncias, nas aproximadamente 45 páginas que compõem o Documento para a etapa continental.

As sínteses das Igrejas do mundo

Trata-se do Documento que servirá de base para os trabalhos da segunda etapa do caminho sinodal lançado pelo Papa Francisco em outubro de 2021 com a consulta ao povo de Deus. Precisamente durante esta primeira etapa, os fiéis - e não apenas - de todas as dioceses em todos os cantos do mundo estiveram envolvidos num processo de "escuta e discernimento". E os resultados das reuniões, convocações, diálogos e iniciativas inovadoras - acima de tudo, o dos Sínodos digitais - foram enviados em síntese à Secretaria Geral do Sínodo, agora todos reunidos num único documento: o "Documento de trabalho para a Etapa Continental".

Um "quadro de referência"

Desenvolvido simultaneamente em dois idiomas (italiano e inglês), o texto - explica o Dicastério - "pretende permitir o diálogo entre as Igrejas locais e entre a Igreja local e a Igreja Universal". Não um resumo, não um documento magisterial, portanto, nem uma mera crónica de experiências locais, muito menos "uma análise sociológica ou um roteiro com metas ou objetivos a serem alcançados": "É um documento de trabalho que procura trazer à tona as vozes do Povo de Deus, com as suas intuições, as suas perguntas, as suas discordâncias". Os especialistas que se reuniram entre o final de setembro e o início de outubro em Frascati, nas proximidades de Roma, para redigir o texto falam de "um quadro de referência" para as Igrejas locais e as Conferências episcopais com vista à terceira e última etapa, a universal, com a Assembleia dos Bispos a ser realizada em Roma em outubro de 2023 e, novamente, em 2024, como recentemente anunciado pelo Papa.

Ninguém excluído

Em detalhes, o Documento observa "uma série de tensões" que o caminho sinodal trouxe à superfície: nada a temer, mas algo a articular a fim de "explorá-las como fonte de energia sem que se tornem destrutivas". A primeira é "a escuta como abertura para o acolhimento a partir de um desejo de inclusão radical". Ninguém excluído" é, de faco, um dos conceitos-chave do texto.

De facto, as sínteses mostram que muitas comunidades compreenderam a sinodalidade como "um convite para ouvir aqueles que se sentem exilados da Igreja". Há muitos que se sentem "ofuscados, negligenciados, incompreendidos", antes de tudo "mulheres e jovens que não sentem que os seus dons e capacidades são reconhecidos". Ser escutado seriamente foi, portanto, uma experiência "transformadora".

Acolhimento aos homossexuais

Entre aqueles que pedem um diálogo mais incisivo e um espaço mais acolhedor estão, por exemplo, os ex-padres que deixaram o ministério para se casarem, mas especialmente aqueles que "por várias razões sentem uma tensão entre pertencer à Igreja e as suas próprias relações afetivas". Portanto, divorciados casados novamente, pais solteiros, pessoas que vivem num casamento polígamo, pessoas Lgbtq. "As pessoas pedem que a Igreja seja um refúgio para os feridos e subjugados, não uma instituição para os perfeitos", lê-se numa contribuição dos EUA. Enquanto do Lesoto vem o chamamento ao discernimento por parte da Igreja universal: "Há um novo fenómeno na Igreja que é uma novidade absoluta no Lesoto: as relações entre pessoas do mesmo sexo. Esta novidade é perturbadora para os católicos e para aqueles que as consideram um pecado. Surpreendentemente, há católicos no Lesoto que começaram a praticar este comportamento e esperam que a Igreja os acolha a eles e à sua maneira de se comportarem. Este é um desafio problemático para a Igreja porque estas pessoas sentem-se excluídas".

Pontos em comum e divergências

Apesar das diferenças culturais, podem ser vistas semelhanças substanciais entre os continentes em relação àqueles percebidos como "excluídos" na sociedade e na comunidade cristã. Por outro lado, há um pluralismo de posições, inclusive dentro do mesmo continente ou país. "Temas como o ensino da Igreja sobre aborto, contraceção, ordenação das mulheres, sacerdotes casados, celibato, divórcio e recasamento, a possibilidade de receber a comunhão, homossexualidade e pessoas Lgbtq foram levantados em todas as Dioceses, tanto rurais como urbanas. Diferentes pontos de vista surgiram e não é possível formular uma posição definitiva da comunidade sobre nenhuma dessas questões", afirmam os da África do Sul.

A voz dos pobres

Numerosas sínteses expressam o pesar e a preocupação de que nem sempre e não em todos os lugares a Igreja foi capaz de "alcançar efetivamente os pobres nas periferias e em lugares remotos". Pobres entendidos não apenas como indigentes, mas também os idosos solitários, indígenas, migrantes, crianças de rua, alcoólatras e viciados em drogas, vítimas do tráfico de pessoas, sobreviventes de abuso, prisioneiros, grupos que sofrem discriminação e violência por causa de raça, etnia, género, sexualidade. As suas vozes aparecem com mais frequência porque são relatadas por outros. E quando aparecem nas sínteses, esses rostos e nomes "invocam solidariedade, diálogo, acompanhamento e acolhida".

A crise dos abusos

Muitas Igrejas locais relatam que estão a enfrentar um contexto cultural marcado por um declínio na credibilidade e confiança devido à crise dos abusos de membros do clero. "Uma ferida aberta, que continua a infligir dor às vítimas e sobreviventes, às suas famílias e às suas comunidades", lê-se no Documento, que cita uma contribuição da Austrália afirmando: "Há um forte senso de urgência para reconhecer o horror e os danos causados, e para aumentar os esforços a fim de proteger as pessoas vulneráveis, reparar os danos causados à autoridade moral da Igreja e reconstruir a confiança". Uma cuidadosa e dolorosa reflexão sobre o mal dos abusos levou muitos grupos sinodais a pedir "uma mudança cultural" na Igreja, com vista a uma maior transparência e responsabilidade.

Participação e reconhecimento das mulheres

O apelo para "uma conversão da cultura" da Igreja está ligado à possibilidade de estabelecer "novas práticas, estruturas e hábitos". Isto diz respeito, em primeiro lugar, ao papel da mulher e à sua vocação "a participar plenamente na vida da Igreja". É um ponto crítico que está presente, de diferentes formas, em todos os contextos culturais e diz respeito à participação e ao reconhecimento das leigas como das religiosas. De facto, de todos os continentes vem o chamamento para que "as mulheres católicas sejam primeiramente valorizadas como batizadas e membros do Povo de Deus com igual dignidade". Quase unanimemente a afirmação de que muitas mulheres "sentem tristeza porque muitas vezes as suas vidas não são bem compreendidas" e as "suas contribuições e carismas nem sempre são valorizados". A síntese da Terra Santa é indicativa a este respeito: "Numa Igreja onde quase todos os tomadores de decisão são homens, há poucos espaços onde as mulheres possam fazer ouvir as suas vozes. No entanto, elas são a espinha dorsal das comunidades eclesiais, tanto porque representam a maioria dos membros praticantes como porque estão entre os membros mais ativos da Igreja". A Igreja, portanto, afirma o Documento, enfrenta dois desafios relacionados: "As mulheres continuam a ser a maioria daqueles que frequentam a liturgia e participam nas atividades, os homens uma minoria; no entanto, a maioria das funções de tomada de decisão e de governo é ocupada por homens. É claro que a Igreja deve encontrar maneiras de atrair os homens para uma pertença mais ativa da Igreja e permitir que as mulheres participem mais plenamente a todos os níveis da vida da Igreja".

Discriminação contra pessoas com deficiência

As pessoas com deficiências também falam da falta de participação e reconhecimento: "As formas de discriminação enumeradas - falta de escuta, violação do direito de escolher onde e com quem viver, negação dos sacramentos, acusação de bruxaria, abusos - e outras, descrevem a cultura de rejeição das pessoas com deficiências. Elas não surgem por acaso, mas têm em comum a mesma raiz: a ideia de que a vida das pessoas com deficiência vale menos do que a dos outros".

Testemunhos de perseguição e martírio

Proeminente no Documento é o testemunho de fé vivido até o martírio em alguns países, onde os cristãos, especialmente os jovens, enfrentam "o desafio da conversão forçada sistemática a outras religiões". Há muitas sínteses que enfatizam "a insegurança e a violência com as quais as minorias cristãs perseguidas têm de lutar". Fala-se de fanatismos, massacres ou mesmo - afirma a Igreja maronita - "formas de incitação sectária e étnica" que degeneram em conflitos armados e políticos, que tornam a vida de tantos fiéis ao redor do mundo particularmente dolorosa. Mesmo nestas "situações de fragilidade", no entanto, as comunidades cristãs "foram capazes de acolher o convite que lhes foi dirigido a construir experiências de sinodalidade e a refletir sobre o que significa caminhar juntas".

Defesa da vida "frágil"

Igualmente proeminente é o compromisso do povo de Deus com a defesa da vida frágil e ameaçada em todas as suas fases. Por exemplo, para a Igreja greco-católica ucraniana, faz parte da sinodalidade "prestar atenção especial às mulheres que decidem fazer um aborto devido ao medo da pobreza material e da rejeição das suas famílias na Ucrânia; promover o trabalho educacional entre as mulheres que são chamadas a fazer uma escolha responsável quando estão a passar por um momento difícil nas suas vidas, com o objetivo de preservar e proteger a vida dos nascituros e impedir o uso do aborto".

VN

26 outubro 2022

O Papa: enfrentar "a desolação com abertura e consciência" para sair revigorado

 
  Papa Francisco durante a Audiência Geral, na Praça São Pedro  (VATICAN MEDIA Divisione Foto) 
 
"O discernimento incide sobre as ações e as ações têm uma conotação afetiva, que deve ser reconhecida, porque Deus fala ao coração", disse Francisco, na catequese da Audiência Geral, abordando "a primeira modalidade afetiva, objeto do discernimento: a desolação". 
 

Mariangelal Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o discernimento, na Audiência Geral, desta quarta-feira (26/10), realizada na Praça São Pedro.

"O discernimento incide sobre as ações e as ações têm uma conotação afetiva, que deve ser reconhecida, porque Deus fala ao coração", disse o Papa, abordando "a primeira modalidade afetiva, objeto do discernimento: a desolação".

"Acredito que, de certa forma, todos nós já vivemos a experiência da desolação. O problema é como poder lê-la, pois também ela tem algo importante para nos dizer, e se tivermos pressa de nos livrar dela, correremos o risco de a perder", sublinhou Francisco, ressaltando que ninguém gosta "de se sentir desolado, triste. Todos gostaríamos de uma vida sempre jubilosa, alegre e realizada". "Com efeito, a mudança de uma vida orientada para o vício pode começar a partir de uma situação de tristeza, de remorso pelo que se fez.  "Remorso" é a consciência que morde, que não dá paz", disse ainda o Papa, acrescentando:

É importante aprender a ler a tristeza. No nosso tempo, ela é considerada sobretudo negativamente, como um mal a evitar custe o que custar, e ao contrário pode ser um indispensável sinal de alarme para a vida, convidando-nos a explorar paisagens mais ricas e férteis que a fugacidade e a evasão não permitem. S. Tomás define a tristeza como uma dor da alma: como os nervos para o corpo, ela desperta a atenção diante de um possível perigo, ou de um bem ignorado. Por isso, é indispensável para a nossa saúde, protege-nos para não nos ferirmos a nós mesmos e aos outros. Seria muito mais grave e perigoso não ter este sentimento.

Segundo o Papa, "para quem tem o desejo de praticar o bem, a tristeza é um obstáculo com que o tentador quer desencorajar-nos. Neste caso, deve-se agir de maneira exatamente contrária ao que é sugerido, determinado a continuar o que se tinha proposto cumprir". "Pensemos no trabalho, no estudo, na oração, num compromisso assumido: se os deixássemos, assim que sentíssemos tédio ou tristeza, nunca realizaríamos nada. Também esta é uma experiência comum à vida espiritual: o caminho para o bem, recorda o Evangelho, é estreito e íngreme, requer um combate, uma vitória de si mesmo. Para quem quer servir o Senhor, é importante não nos deixarmos enganar pela desolação", sublinhou Francisco.

Infelizmente, alguns decidem abandonar a vida de oração, ou a escolha feita, o matrimónio ou a vida religiosa, impelidos pela desolação, sem primeiro fazer uma pausa para considerar este estado de espírito, e sobretudo sem a ajuda de um guia. Uma regra sábia diz para não fazer mudanças quando se está desolado. O tempo seguinte, e não o humor do momento, mostrará a bondade ou não das nossas escolhas.

No Evangelho, "Jesus afasta as tentações com uma atitude de firme determinação. As situações de provação advêm-lhe de várias partes, mas sempre, encontrando n'Ele esta firmeza decidida a cumprir a vontade do Pai, esmorecem e deixam de impedir o caminho".

Se soubermos atravessar a solidão e a desolação com abertura e consciência, poderemos sair revigorados sob os aspetos humano e espiritual. Nenhuma provação está fora do nosso alcance. Nenhuma provação está além do que podemos fazer. Mas, não fugir das provações. S- Paulo lembra que ninguém é tentado para além das próprias possibilidades, pois o Senhor nunca nos abandona e, tendo Ele perto, poderemos vencer todas as tentações. Se não as vencermos hoje, levantar-nos-emos novamente, caminhemos e as venceremos amanhã.

"Mas não permanecer morto, digamos assim, não permanecer derrotado por um momento de tristeza, de desolação: vai em frente. Que o Senhor vos abençoe neste caminho, corajoso, da vida espiritual, que está sempre a caminho", concluiu o Papa.

VN

23 outubro 2022

O Papa é o primeiro inscrito na JMJ Lisboa 2023

 
 Momento em que o Papa se inscreveu na Jornada Mundial da Juverntude 
 
O objetivo principal das Jornadas é recolocar no centro da fé e da vida de cada jovem a pessoa de Jesus, para que Ele se torne o seu ponto de referência constante e seja também a verdadeira luz de todas as iniciativas e todo compromisso educativo para com as novas gerações. É o "refrão" de cada Jornada Mundial. (São João Paulo II)
 

Laura Lo Monaco - Cidade do Vaticano

Ao lado de três jovens portugueses (as duas jovens estudam em Roma), o Papa fez a sua inscrição na JMJ Lisboa 2023 pela internet através de um tablet após o Angelus deste domingo, dia 23 de outubro. Com um click, Francisco garantiu a sua presença no maior evento jovem do mundo, que está marcado para ser realizado entre os dias 1 e 6 de agosto de 2023 na cidade de Lisboa, capital portuguesa:

Abrem-se hoje as inscrições para a 37ª Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar em Lisboa em agosto de 2023. Convidei dois jovens portugueses para estarem aqui comigo enquanto também me inscrevo como peregrino (clique no tablet). Eu inscrevi-me! Queridos jovens, convido-vos a participar neste encontro no qual, depois de um longo período de distanciamento e isolamento, redescobriremos a alegria do abraço fraterno entre os povos e entre as gerações, do qual temos tanta necessidade.

«Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39) foi a citação bíblica escolhida pelo Papa Francisco como lema da Jornada Mundial da Juventude 2023. A JMJ se consolidou como uma grande peregrinação, uma festa da juventude, uma expressão da Igreja universal e um momento forte de evangelização do mundo juvenil.

O evento reúnirá jovens do mundo inteiro e foi instituído pelo Papa João Paulo II:

“O evento visa promover o encontro dos jovens com o Papa e ser um momento de renovação da fé.”

Na Carta enviada ao cardeal Eduardo Francisco Pironio por ocasião do Seminário de Estudos sobre as Jornadas Mundiais da Juventude realizado em Czestochowa, em maio de 1996, o Papa Wojtyla escreveu:  

O objetivo principal das Jornadas é recolocar no centro da fé e da vida de cada jovem a pessoa de Jesus, para que Ele se torne o seu ponto de referência constante e seja também a verdadeira luz de todas as iniciativas e todo compromisso educativo para com as novas gerações. É o "refrão" de cada Jornada Mundial. 

A JMJ teve a sua primeira edição em Roma no ano de 1986 e realiza-se em cada 3 anos, já tendo passado por mais de 20 cidades em 3 continentes diferentes. Procurando o protagonismo jovem, a Jornada Mundial da Juventude também procura a promoção da paz, a união e a fraternidade entre os povos e as nações de todo o mundo.

No ato simbólico de domingo, o Papa Francisco deu início ao período de inscrição da JMJ. Todas as informações sobre a JMJ Lisboa 2023, podem ser acessadas através do site: https://www.lisboa2023.org/pt/.

VN

Papa no Angelus: onde há muito eu, há pouco Deus

 
 
"Para subir em direção a Ele é preciso descer dentro de nós mesmos: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre as nossas fragilidades e pobrezas. De facto, na humildade tornamo-nos capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que somos, os limites e as feridas, os pecados e as misérias que pesam no nosso coração, e de invocar a sua misericórdia para que nos cure e nos levante."
 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

"Quanto mais descemos com humildade, mais Deus nos faz subir em direção ao alto."

"Subir e descer", dois verbos presentes na passagem de Lucas (Lc 18,9-14) do Evangelho da liturgia deste domingo inspiraram a reflexão do Papa Francisco antes de rezar o Angelus neste XXX Domingo do Tempo Comum. De facto, a" parábola está entre dois movimentos". De um lado o fariseu, "um homem religioso", e de outro o cobrador de impostos, o publicano, "um pecador declarado".

Subir, necessidade do coração de ir ao encontro do Senhor

Aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, o Papa começou por explicar que os dois sobem ao templo para rezar, "mas somente o publicano eleva-se verdadeiramente a Deus, porque com humildade desce à verdade de si mesmo e apresenta-se tal como é, sem máscaras, com a sua pobreza". Ou seja, o primeiro movimento é "subir". E explica:

De facto, o texto começa por dizer: "Dois homens subiram ao Templo para rezar". Este aspeto evoca tantos episódios da Bíblia, onde para encontrar o Senhor sobe-se ao monte da sua presença: Abraão sobe ao monte para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os mandamentos; Jesus sobe ao monte, onde é transfigurado. Subir, portanto, expressa a necessidade do coração de separar-se de uma vida plana para ir ao encontro do Senhor, libertar-nos do próprio eu; de elevarmo-nos das planícies do nosso eu para subir em direção a Deus; de recolher o que vivemos no vale para levá-lo diante do Senhor. Isto é subir, e quando nós rezamos, subimos.

Quanto mais descemos, mais Deus nos faz subir ao alto

Mas - observou Francisco - para viver o encontro com Deus e sermos transformados pela oração, para nos elevarmos a Ele, precisamos do segundo movimento, descer:

Para subir em direção a Ele é preciso descer dentro de nós mesmos: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre as nossas fragilidades e pobrezas interiores. De facto, na humildade tornamo-nos capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que realmente somos, os limites e as feridas, os pecados e as misérias que pesam no nosso coração, e de invocar a sua misericórdia para que nos cure, nos cure e nos levante. Será Ele a levantar-nos, não nós. Quanto mais descemos com humildade, mais Deus nos faz subir em direção ao alto.

O risco de cair na "soberba espiritual"

Com efeito - acrescentou - o publicano da parábola "fica humildemente à distância, não se envergonha, pede perdão e o Senhor levanta-o". O fariseu, por outro lado, "exalta-se, seguro de si mesmo, convencido de estar bem: de pé, começa a falar ao Senhor apenas de si mesmo, começa a louvar a si mesmo, a listar todas as boas obras religiosas que faz e despreza os outros. Diz: "Não como aquele ali":

Por que a soberba espiritual faz isto - “Mas padre, por que nos fala sobre a soberba espiritual? - Mas todos nós corremos o perigo de cair nisto: leva-te a acreditar-te bom e a julgar os outros e isso é a soberba espiritual: "Eu estou bem, sou melhor que os outros, ele é isto, aquele é aquilo…". E assim, sem perceber, adoras a ti mesmo e apagas o teu Deus. É uma subida que volta para ti mesmo. Esta é a oração sem humildade.

O Papa então chamou a atenção para o facto de que "o fariseu e o publicano têm muito a ver connosco", convidando a olharmos para nós mesmos:

Verifiquemos se em nós, como no fariseu, existe "a íntima presunção de ser justos" que nos leva a desprezar os outros. Acontece, por exemplo, quando procuramos elogios e  fazemos sempre uma lista dos nossos méritos e das nossas boas obras, quando nos preocupamos mais em parecer do que em ser, quando nos deixamos aprisionar pelo narcisismo e pelo exibicionismo. Vigiemos , irmãos e irmãs, o nosso narcisismo e exibicionismo, baseados na vanglória, que levam também nós cristãos, nós sacerdotes, nós bispos a ter sempre uma palavra nos lábios. Qual palavra? "Eu, eu ,eu": "eu fiz isto, eu escrevi aquilo, eu tinha dito, eu tinha entendido antes de vós", e assim por diante. Onde há muito eu, há pouco Deus.

Francisco recordou que no seu país, essas pessoas são chamadas de "eu-comigo-para mim-somente eu", ilustrando com o exemplo de um sacerdote que era muito "centrado em si mesmo", e para brincar, as pessoas diziam que quando ele fazia a incensação, fazia ao contrário, pois incensava a si mesmo, "se auto incensava."

Peçamos a intercessão de Maria Santíssima - disse ao concluir - a humilde serva do Senhor, imagem viva daquilo que o Senhor ama realizar, derrubando os poderosos de seus tronos e elevando os últimos.

VN

22 outubro 2022

O CAMINHO

 

 
Caminhava rapidamente pelo caminho, cabeça levantada e os olhos fixos na meta almejada, sem se querer distrair com mais nada que não fosse a sua caminhada.

De repente uma pedra no caminho, (que não viu por levar os olhos fixos na meta a alcançar), fê-lo tropeçar e cair no chão.
Magoou-se um pouco, sujou as roupas, mas levantou-se rapidamente e prosseguiu a caminhada.

Num instante recomeçou o passo apressado e os seus olhos fixaram-se ainda mais no fim do caminho.
Pareceu-lhe ouvir umas vozes a seu lado que lhe diziam para ter cuidado, mas não quis parar nem dar atenção a essas vozes, pois só a caminhada e o atingir a meta era importante para ele.
O problema é que subitamente lhe faltou o chão e ele caiu com alguma violência num buraco do caminho que tinha alguma profundidade.
No fundo do buraco deteve-se um pouco para recuperar da queda, e depois com grande esforço, conseguiu sair do buraco e voltar ao caminho.

Esperou um pouco para perceber se estava bem e recomeçou a andar no mesmo passo apressado em que tinha vindo até então e sempre com o olhar fixo no seu destino.
Novamente lhe pareceu ouvir umas vozes que lhe diziam para se preparar, mas como tal não fazia sentido e ele achava que não precisava de ninguém, fechou os olhos para se concentrar e continuou a caminhar.

Sentiu então que algo não estava bem e, quando abriu os olhos, encontrou-se cercado por uma escuridão imensa, por umas trevas que não o deixavam ver nada, nem sequer o caminho que pisava.
Parou e disse interiormente, no meio daquelas trevas, que percebia e reconhecia agora que se devia ter preparado melhor, que devia ter trazido coisas importantes, como uma luz, pois realmente há dia e noite e sem luz é impossível caminhar.
Estava tão arrependido!

“Afundou” os olhos na escuridão e pareceu-lhe ver ao longe uma ténue claridade.
Começou a caminhar com todo o cuidado, tacteando o caminho passo a passo, e apercebeu-se que a claridade ia aumentando, de tal modo que passado mais algum tempo já estava o caminho novamente iluminado e, portanto, possível de prosseguir.

Mas não recomeçou imediatamente a caminhada.
Sentou-se no chão e decidiu reflectir sobre o caminho que tinha feito até aquele momento.

Em primeiro lugar lembrou-se do velho ditado que diz que a “pressa é má conselheira”, percebendo que é melhor caminhar com calma e seguro, do que freneticamente e sem segurança.
Recordou-se da pedra onde tinha tropeçado e imediatamente reconheceu que, não olhando para o caminho e com os olhos fixos apenas na meta, não era possível ver os obstáculos que o caminho tinha.

Reflectiu então sobre a queda no buraco reconhecendo que uma das razões era a mesma pela qual tinha tropeçado, mas também que devia ter dado ouvido às vozes que lhe diziam para ter cuidado.
Se o tivesse feito, provavelmente não teria caído no buraco.

Por fim deteve-se a pensar na escuridão, nas trevas que o tinham envolvido e foi obrigado a reconhecer que, mais uma vez, não tinha dado atenção às vozes que lhe diziam para se preparar, percebendo que para fazer o caminho é sempre preciso uma preparação para o enfrentar.

Levantou-se do chão e foi então que reparou que à sua volta estavam muitos como ele, que caminhavam o mesmo caminho e lhe estendiam os braços e diziam para caminharem todos juntos.
Ao princípio teve a reacção de pensar, como sempre, que era capaz sozinho, mas depois percebeu que caminhando com todos, todos se ajudariam a levantar se tropeçassem e caíssem, que seria bem mais fácil saírem dos buracos em que caíssem, e reparou também que muitos deles tinham luzes e que as partilhavam com os que não tinham.

Sentiu-se bem naquela companhia e partiu novamente, agora acompanhado pelos outros e no ritmo que os mais lentos tinham, para poderem ir todos unidos.

Sorriu e pensou para si mesmo: Estou no bom caminho!

Pois é, Deus chama-nos a fazer o caminho para Ele, mas quer que o façamos em paz e tranquilidade.
Deus quer que olhemos para Ele, mas também que olhemos para o mundo e para o chão que pisamos, porque é neste chão que vivemos por enquanto.
Se olharmos para o mundo em que vivemos podemos evitar muitas vezes as “pedras de tropeço” que o mundo nos apresenta.
E o caminho que Deus nos propõe, Ele mesmo nos diz que tem armadilhas do inimigo, os buracos em que de quando em vez caímos, mas que se ouvirmos a Sua voz e a voz daqueles que Ele coloca ao nosso lado, poderemos evitar esses buracos.
E, claro, há sempre momentos em que as trevas, nesta caminhada para Deus, nos querem envolver, por isso nos devemos preparar para o caminho de Deus, servindo-nos de tudo o que Ele nos deixou, sobretudo a Palavra de Deus e os Sacramentos que são a Luz que nos ilumina e vence as trevas.
Ah, e depois o caminho de Deus é um caminho individual, mas também colectivo, porque Ele serve-se dos outros que nos acompanham para nos ajudar a caminhar, como nos chama também a estar sempre prontos para ajudar aqueles que precisam de nós para caminhar.
Por isso a Igreja é o caminho seguro!

Percebamos também que se Deus é nossa “meta”, embora Ele esteja no fim à nossa espera, também está sempre, ao mesmo tempo, connosco a caminhar o caminho que Ele mesmo nos dá.

Por isso caminhemos sem medo porque a Luz já venceu as trevas!

 
Marinha Grande, 22 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves

19 outubro 2022

Solidariedade de Francisco com a Ucrânia e Nigéria atingida por enchentes

 
 Uma localidade da Nigéria, atingida pela enchente 
 
No final da Audiência Geral, o Papa lembrou mais uma vez os horrores do conflito no Leste Europeu e as violentas chuvas que continuam a assolar a Nigéria, uma "calamidade devastadora", entre as piores dos últimos dez anos, com centenas de mortos, desaparecidos e mais de um milhão de deslocados.
 

Tiziana Campisi – Vatican News

No final da Audiência Geral desta quarta-feira (19/10), na Praça de São Pedro, o Papa recordou mais uma vez a Ucrânia e as terríveis consequências da guerra que a está a devastar. Pouco antes de concluir, Francisco falou sobre o país do Leste Europeu, onde o bombardeamrnto da Rússia continua.

Rezemos pela Ucrânia: rezemos pelas coisas más que estão a acontecer lá, as torturas, os mortos, a destruição.

Até ao momento, a Organização Mundial da Saúde confirmou 623 ataques à saúde no país e desde o início da guerra 428 crianças morreram e 815 ficaram feridas. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que os ataques contra infraestruturas civis que a Rússia está a realizar na Ucrânia são atos de "puro terror" e "crimes de guerra" sob o direito internacional. "Apoiaremos a Ucrânia pelo tempo que for necessário e protegeremos os europeus", acrescentou.

O convite a rezar pela Nigéria

Ao saudar os grupos de língua inglesa, o Papa falou sobre a situação vivida na Nigéria, atingida por chuvas violentas que causaram uma das piores enchentes dos últimos dez anos. Francisco lembrou que as inundações causaram "muitas mortes, muitos desaparecidos e danos enormes". Fala-se de 603 vítimas que o Papa recomendou a Deus.

Rezemos por aqueles que perderam a vida e por todas as pessoas provadas por uma calamidade tão devastadora.

Nestes dias continua a chover em 33 dos 36 Estados da Nigéria e milhares de pessoas foram evacuadas das suas casas submersas. Contam-se mais de um milhão e 300 mil deslocados. A preocupação do Papa é também com eles, para que a ajuda necessária seja assegurada.

Que a esses nossos irmãos e irmãs não faltem a nossa solidariedade e o apoio da Comunidade internacional.

Uma religiosa italiana missionária no povoado de Igbedor, irmã Enza Guccione, disse ao Vatican News que "nunca houve enchentes como esta". As chuvas destruíram mais de 330 mil hectares de terra e danificaram estradas e infraestruturas vitais para a economia nacional.

VN

O Papa: reler a própria vida faz-nos descobrir "os pequenos milagres" que Deus faz por nós

 
 
Na catequese da Audiência Geral, Francisco convidou a ler a própria história que significa também reconhecer a presença de elementos “tóxicos”. Ler a própria vida para ver "as coisas que não são boas e também as coisas boas que Deus semeia em nós."
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o discernimento na Audiência Geral, desta quarta-feira (19/10), realizada na Praça São Pedro.

Neste encontro semanal com os fiéis, o Papa meditou "sobre outro ingrediente indispensável para o discernimento: a própria história de vida".

Reconhecer a presença de elementos “tóxicos”

"A nossa vida é o “livro” mais precioso que nos foi confiado, um livro que muitos infelizmente não leem, ou o fazem demasiado tarde, antes de morrer. No entanto, é nesse livro que se encontra aquilo que se procura inutilmente por outros caminhos", frisou o Pontífice, ressaltando que Santo Agostinho compreendeu isso, "relendo a sua vida, observando nela os passos silenciosos e discretos, mas incisivos, da presença do Senhor. No final deste percurso, notará com admiração: «Tu estavas dentro de mim, e eu fora. Lá, eu procurava-te. Deformado, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo». Daqui deriva o seu convite a cultivar a vida interior, para encontrar o que se procura: «Volta para ti mesmo. No homem interior habita a verdade»".

Muitas vezes, também nós vivemos a experiência de Agostinho, de nos encontrarmos presos em pensamentos que nos afastam de nós mesmos, mensagens estereotipadas que nos ferem: “Nada valho”, “tudo acontece de mau comigo”, “nunca farei nada de bom”, e assim por diante. Ler a própria história significa também reconhecer a presença destes elementos “tóxicos”, para depois ampliar a trama da nossa narração, aprendendo a observar outras coisas, tornando-a mais rica, mais respeitadora da complexidade, conseguindo até captar os modos discretos como Deus age na nossa vida.

Ler a própria vida

A seguir, o Papa disse que certa vez conheceu "uma pessoa em que as pessoas que a conheciam diziam merecer o Prêmio Nobel da negatividade", pois "tudo era mau e ela  colocava-se sempre para baixo". "Era uma pessoa amarga, mas tinha muitas qualidades. Então, essa pessoa encontrou outra pessoa que a ajudou bem, e toda a veem que ela reclamava de alguma coisa, a outra dizia: "Mas agora, para compensar, diga algo bom sobre si". E ela respondeu: "Sim, eu também tenho essa qualidade", e pouco a pouco isso a ajudou a seguir em frente, a ler bem a sua vida, tanto as coisas más como as coisas boas", sublinhou Francisco.

“Ler a própria vida, e assim ver as coisas que não são boas e também as boas que Deus semeia em nós.”

Segundo o Papa, "a narração das vicissitudes da nossa vida permite também compreender matizes e detalhes importantes, que podem revelar-se ajudas valiosas até então ocultas. Uma leitura, um serviço, um encontro, à primeira vista considerados de pouca importância, sucessivamente transmitem uma paz interior, transmitem a alegria de viver e sugerem outras iniciativas de bem. Determo-nos e reconhecer isto é indispensável para o discernimento, é uma obra de recolha daquelas pérolas preciosas e escondidas que o Senhor disseminou no nosso terreno".

Quem caminha circularmente nunca vai para a frente

"O bem está sempre escondido, porque o bem tem pudor e esconde-se: o bem fica escondido; é silencioso, requer uma escavação lenta e contínua, pois o estilo de Deus é discreto, não se impõe; é como o ar que respiramos, não o vemos, mas faz-nos viver, e só nos damos conta dele quando nos falta", disse ainda Francisco.

O Papa sublinhou que "habituarmo-nos a reler a própria vida educa o olhar, aguça-o, permite notar os pequenos milagres que o bom Deus realiza para nós todos os dias".

Quando prestamos atenção, observamos outros rumos possíveis que revigoram o gosto interior, a paz e a criatividade. Acima de tudo, torna-nos mais livres dos estereótipos tóxicos. Diz-se sabiamente que o homem que não conhece o seu passado está condenado a repeti-lo. É curioso, não é? Se não conhecemos o caminho feito, o passado, repetimos sempre o mesmo, somos circulares. A pessoa que caminha circularmente nunca vai para a frente, não tem caminho. É como o cachorro que morde o rabo, vai sempre assim, e repete as coisas.

A importância da vida dos santos

Segundo o Papa, "a vida dos santos é uma ajuda preciosa para reconhecer o estilo de Deus na própria vida: permite familiarizarmo-nos com o seu modo de agir. O comportamento de alguns santos interpela-nos, mostrando novos significados e oportunidades. Foi o que aconteceu, por exemplo, a Santo Inácio de Loyola. Quando descreve a descoberta fundamental da sua vida, acrescenta uma importante observação: «Por experiência, deduziu que alguns pensamentos o deixaram triste e outros, alegre; e pouco a pouco aprendeu a conhecer a diversidade dos espíritos que nele se agitavam»".

Francisco disse que "o discernimento é a leitura narrativa das consolações e desolações que experimentamos ao longo da nossa vida. É o coração que nos fala de Deus, e nós devemos aprender a compreender a sua linguagem". "Perguntemo-nos, no final do dia, por exemplo: o que aconteceu hoje no meu coração? Alguns pensam que fazer este exame de consciência é prestar contas dos pecados feitos. Cometemos muitos, não é? Não, mas se perguntar: o que aconteceu dentro de mim? O que me alegrou? O que me entristeceu? E assim aprender a discernir o que acontece dentro de nós", concluiu.

VN

18 outubro 2022

JMJ Lisboa 2023 anuncia Planos de Inscrição

 

 

O Comité Organizador Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 acaba de anunciar as diversas modalidades de pacotes para que os peregrinos possam usufruir de um conjunto de serviços organizados pelo COL durante uma semana ou no período escolhido.

De realçar que o acesso a todas as iniciativas da JMJ Lisboa é de acesso gratuito, nomeadamente a Missa de Abertura, Acolhimento do Papa, Via-Sacra, Vigília com o Santo Padre e Missa de Envio, entre outros.

Com o objetivo de ajudar os peregrinos a terem acesso a um conjunto de serviços de forma organizada como o alojamento, alimentação, seguro de acidentes pessoais, transporte e o kit do peregrino, o COL disponibilizou diversos pacotes de acordo com o tempo de estadia do peregrino. Os valores dos pacotes vão desde 50 euros a 235 euros, mediante a opção escolhida. Os peregrinos poderão estender a sua estadia por mais um dia, por mais 20 euros.

Duarte Ricciardi, secretário-executivo do COL da JMJ Lisboa 2023, reforça que “o acesso à JMJ é sempre gratuito para todas as pessoas”. “À semelhança do que acontece em todas as Jornadas, o COL organiza e disponibiliza opções de pacotes para que os peregrinos se possam inscrever e aceder a um conjunto de serviços, como alojamento, alimentação, transporte e segurança e o kit do peregrino”, sublinhou.

 

Mais informação sobre as diferentes modalidades dos Pacotes Peregrino para a JMJ Lisboa 2023 pode ser consultada aqui e a informação geral aqui.

  • As inscrições para a JMJ Lisboa 2023 vão abrir até ao final do mês de outubro e serão feitas através do site www.lisboa2023.org.

Patriarcado de Lisboa