31 outubro 2020

Cardeal Parolin à COMECE: os cristãos sejam a alma da Europa

Bandeiras da Comunidade Europeia
 
Um discurso amplo e articulado do cardeal secretário de Estado na quarta-feira, 28 de outubro, na sessão plenária da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia, que abrange o papel das Igrejas dentro da União e as áreas prioritárias de colaboração com as instituições para dar um verdadeiro testemunho cristão

Gabriela Ceraso/ Raimundo de Lima – Vatican News

O cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, falou de forma virtual, na quarta-feira (28/10), à Assembleia Plenária da Comissão dos Episcopados da União Europeia na ocasião especial do 40º aniversário de sua fundação, fazendo-se porta-voz, em primeiro lugar, da saudação e bênção do Papa, que para a ocasião expressou seu pensamento em uma Carta dirigida ao próprio secretário de Estado.

A Igreja, os Papas e a integração europeia

O discurso insere-se no quadro atual, “tempos incertos e difíceis, nos quais muitos países foram e continuam a ser duramente atingidos pela pandemia e ainda não se entrevê como sair desta crise sanitária, económica e social”. Nesta situação, a Igreja na Europa é chamada a cumprir a sua missão com maior zelo e a dar a sua contribuição, oferecendo uma mensagem de fé, unidade, solidariedade e esperança.

Recordando a origem do processo de integração europeia em 1950 com a declaração de Robert Schuman, e o início de um projeto de unidade supranacional, uma garantia de paz e a superação dos nacionalismos que tanto tinham dilacerado a Europa, o cardeal enfatiza o constante apoio dado pela Igreja ao processo de integração, desde a época de Pio XII, até à proclamação por São Paulo VI e São João Paulo II dos Santos Padroeiros da Europa, até às visitas ao Parlamento Europeu de São João Paulo II, em 11 de outubro de 1988, e do Papa Francisco, em 25 de novembro de 2014, com o qual – observa – a proximidade da Igreja à Europa intensificou-se ainda mais. Francisco, “o primeiro Pontífice não europeu em mais de mil anos”.

O papel do COMECE e CCEE na União Europeia

Um sinal importante dentro da Europa, segundo o cardeal, são instituições como a COMECE, a Comissão dos Episcopados da União Europeia, que data de 3 de março de 1980, como “um reconhecimento da necessidade de abertura mútua e colaboração fraterna das Igrejas na Europa, entre si e com as instituições europeias”, para promover e proteger o bem comum, à luz da alegria do Evangelho de Cristo”.

Se a abordagem da Santa Sé às instituições europeias é de natureza puramente diplomática, recorda o cardeal Parolin, a perspetiva complexa e preciosa do trabalho da COMECE é, ao invés, “a de acompanhar o processo político da União Europeia em áreas de interesse para a Igreja e de comunicar as opiniões e visões dos Episcopados a respeito do processo de integração europeia”. Igualmente importante é o papel do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE), composto pelos Presidentes de todas as Conferências Episcopais, um papel mais pastoral, mas igualmente necessário.

A visão europeia do Papa Francisco

O encontro com a Plenária que acaba de se concluir é, portanto, uma ocasião importante para falar a toda a Europa sobre os desafios presentes: é a voz da Igreja à qual se acrescenta a do Papa. Aí, o cardeal volta ao conteúdo da Carta que o Papa lhe dirigiu há alguns dias, tendo em vista esta circunstância.

“Parece-me que – afirma o secretário de Estado – a intenção da missiva do Papa é sobretudo a de continuar uma reflexão sobre o futuro da Europa”, um continente que lhe está no peito sobretudo devido ao papel central que desempenhou na história da humanidade. Como sempre, a reflexão do Papa Francisco não pretende dar indicações pontuais sobre os passos a serem dados, mas sugerir uma “trajetória ideal” e os elementos fundamentais sobre os quais refletir a fim de que quem puder, aja.

“Ninguém se salva sozinho”

Na perspectiva do Papa Francisco nunca há conceitos abstratos, mas há sempre pessoas, centrais no debate sobre a Europa porque, diz o cardeal, “uma Europa que perdesse de vista a pessoa, e a consciência de que todo o ser humano está inserido num tecido social, só pode ser reduzida a um conjunto de procedimentos burocráticos e estéreis” e isto é ainda mais necessário agora que estamos diante de uma pandemia que não conhece fronteiras e procedimentos.

A pessoa, portanto, não como sujeito de direito, mas na sua concretude de sentimentos, esperanças e laços. Como o Papa já disse várias vezes, o risco hoje é que o conceito de liberdade seja mal compreendido, “interpretando-o como se fosse o dever de estar sozinho, livre de todos os laços, e consequentemente constrói-se uma sociedade sem sentido de pertença”.

E a pandemia ainda mais hoje, convida-nos a mudar os estilos de vida e redescobrir a “identidade comunitária”, a única sobre a qual construir, “a única capaz de superar as divisões e as contradições”. E nisto, observa o cardeal Parolin, a COMECE assim como o CCEE, os episcopados e os bispos individualmente considerados, têm um papel fundamental a desempenhar: viver e afirmar a comunhão eclesial, a pertença a uma única comunidade, para assegurar que “as diferenças óbvias dos povos não sejam o pretexto para aumentar as divergências, mas sim para reconhecer a riqueza do nosso continente”.

As diretrizes do testemunho cristão na Europa

Também hoje, portanto, o testemunho cristão é o “tecido conectivo” da Europa e o Papa na sua Carta traça as diretrizes deste testemunho através dos seus quatro “sonhos”. “Sonho – diz – com uma Europa que seja amiga da pessoa e das pessoas (...), que seja uma família e uma comunidade, (...) solidária e generosa, (...) salutarmente laica”. “Uma Europa que é amiga da pessoa e das pessoas é, acima de tudo, uma Europa – aponta o cardeal Parolin – que ama a pessoa na sua verdade e na sua integridade e, sobretudo, que respeita a sua dignidade transcendente”.

Isto ajuda, enfatiza o purpurado, a interpretar e avaliar as propostas legislativas que estão a ser elaboradas e a orientar aqueles com responsabilidades políticas. “Entre estes princípios e valores, é particularmente importante o reconhecimento da dignidade sagrada e inviolável de toda a vida humana, desde a sua conceção até ao seu fim natural, ao qual é fundamental associar a defesa e a promoção da família, verdadeira célula da sociedade, fundada na união estável de um homem e de uma mulher.”

VN

30 outubro 2020

Semana dos Seminários - “As comunidades vão moldando o padre que havemos de ser”

 


Por ocasião da Semana dos Seminários (1 a 8 de novembro), o Jornal VOZ DA VERDADE apresenta duas experiências de trabalho pastoral de seminaristas nas comunidades cristãs. Pedro Sousa e António Ribeiro de Matos, do Seminário dos Olivais, falam dos seus percursos formativos que foram sendo “marcados” pelas comunidades onde estão, e por onde passaram, e que os ajudam a definir o que serão como padres.

O trabalho pastoral durante o percurso em seminário é uma realidade sempre dinâmica e ajustada à formação de cada seminarista. Em paróquias, ou até na animação do Pré-Seminário, os rapazes são desafiados a procurarem, nessas experiências, um enriquecimento para a sua formação. É nas comunidades cristãs que a formação mais teórica, apreendida no seminário, se começa a concretizar. “Se no seminário ouço muita coisa sobre o que é a vida cristã, aqui consigo sentir no terreno. Isso está a dar-me critérios para que, mais tarde, ao exercer a minha vida sacerdotal, possa perceber o que Deus pede, em cada momento, a cada pessoa. De alguma forma, ganho agora a grelha de leitura do que virá a seguir”, partilha, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o seminarista Pedro Sousa, atualmente no 5.º ano e a realizar o seu trabalho pastoral nas paróquias de São Julião do Tojal, Santo Antão do Tojal, Fanhões e Bucelas. 
Durante a semana, o seminário é a sua casa. Ao sábado de manhã, Pedro Sousa chega à paróquia de Bucelas onde acompanha um grupo de adolescentes do ‘Say Yes’. “Depois, tenho a oportunidade de ir almoçar à casa paroquial, o que é bom para pôr a minha semana ao corrente do pároco, padre Tiago Neto, e do vigário paroquial, padre Binoy”, sublinha. À tarde, acompanha os escuteiros e também um grupo de jovens. No Domingo de manhã, o tempo é para a Missa e, nos próximos tempos, a tarde está prevista ser ocupada com uma formação que vai decorrer em cada uma das paróquias. O regresso ao Seminário dos Olivais dá-se ao final da tarde. 

“Uma experiência de crescimento”
Para este seminarista da paróquia de Tires – que tem também um irmão gémeo no seminário –, esta rotina nem sempre foi assim, especialmente durante os últimos dois anos de formação, onde desenvolveu o seu trabalho pastoral como animador do Pré-Seminário. No primeiro ano, Pedro acompanhou os rapazes entre o 7.º e 8.º anos. “Preparava o fim-de-semana para eles, com uma experiência de diversão, mas também catequética”, explica. No segundo ano de trabalho pastoral, foi-lhe confiado o acompanhamento dos rapazes do 10.º e 11.º anos. “Aí, encontrei rapazes que já põem a questão da vocação de uma forma mais madura e até desafiei alguns, ao apresentar o seminário como caminho – sabendo, claro, que o desafio vem dos padres, mas surge através da nossa colaboração”, descreve, sublinhando que “ao contrário das paróquias onde se colabora com a realidade que já lá existe, no Pré-Seminário os seminaristas quase que criam a realidade”.


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Com um percurso formativo díspar de Pedro Sousa, o seminarista António Ribeiro de Matos cumpre, atualmente, o seu trabalho pastoral, quase em ‘full time’, na paróquia do Parque das Nações, em Lisboa. Com o 6.º ano de seminário já completo, António está agora num “estágio pastoral mais intensivo”, até à sua ordenação presbiteral. “No ano anterior, vinha à sexta-feira e voltava no Domingo ao seminário. Neste ano, estou a tempo inteiro, tirando a noite de terça-feira, e o dia de quarta-feira, que são passados no seminário. “Regresso à paróquia na quarta-feira à noite, depois do encontro da vida comunitária do seminário”, explica. No Parque das Nações, a missão “é muito trabalhar em equipa, com o prior, o padre Paulo, com toda a realidade paroquial, todos os agentes da pastoral, estar presente nos escuteiros, ir acompanhando a catequese e os grupos de preparação para o Crisma. É muito o dar apoio, estar presente e ir tocando as diferentes realidades”, descreve este aluno do Seminário dos Olivais que, a partir das diferentes experiências de trabalho pastoral, destaca a “gradualidade na transição entre o seminário e a vida pastoral”.

Tocar a “diversidade da Igreja”
Antes de realizar o trabalho pastoral no Parque das Nações, António Ribeiro de Matos esteve na paróquia de Benfica, durante dois anos, apenas ao fim-de-semana e, mais tarde, na paróquia da Ramada, apenas durante poucos meses, até à sua saída do seminário. Em Benfica, procurou acompanhar, essencialmente, o grupo de jovens e a catequese; na Ramada, acompanhou o agrupamento de escuteiros e um grupo de leitores. “Destas duas experiências posso destacar o poder contactar com as pessoas, o contacto com a realidade paroquial e pastoral, o sermos chamados a fazer caminho com as realidades que nos são oferecidas e o poder tocar a diversidade da Igreja. É a mesma Igreja em Benfica, no Parque das Nações ou na Ramada, mas com realidades muito diversas”, sublinha este seminarista, da paróquia do Santo Condestável, em Lisboa.


  • Leia a reportagem completa na edição do dia 1 de novembro do Jornal VOZ DA VERDADE, disponível nas paróquias ou em sua casa.

 

29 outubro 2020

Atentado em Nice: o Papa reza pelas vítimas e para que cesse a violência

No fundo a Catedral de Notre-Dame de Nice
 
O ataque foi perpetrado dentro da Basílica de Notre-Dame na cidade situada no sul de França. Três pessoas morreram. Uma delas foi decapitada. Há também feridos.

Vatican News

Três pessoas morreram, em Nice, sul da França, num ataque perpetrado na manhã desta quinta-feira (29/10), na Basílica de Notre-Dame dessa cidade. Uma das vítimas foi decapitada.

Em relação ao recente atentado perpetrado na Basílica de Nice, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, afirma num comunicado:

“É um momento de dor, num tempo de confusão. Terrorismo e violência nunca podem ser aceites. O ataque de hoje semeou morte num lugar de amor e consolação, como a casa do Senhor. O Papa está informado da situação e está próximo da comunidade católica de luto. Ele reza pelas vítimas e seus entes queridos, para que cesse a violência, para que as pessoas voltem a olharem-se como irmãos e não como inimigos, para que o amado povo francês possa reagir unido ao mal com o bem.”

O prefeito de Nice, Cristian Estrosi, declarou tratar-se de um ataque terrorista. O ministro do interior francês, Gerald Darmanin, afirmou que a Polícia está a conduzir uma operação de segurança. Fontes da imprensa dizem que um homem foi preso. O ataque perpetrado com uma faca ocorreu esta manhã, por volta das 9h, na Catedral situada no centro de Nice, na avenida Jean-Medecin.

O primeiro-ministro francês, Jean Castex, deixou apressadamente a Assembleia Nacional, onde deveria apresentar as novas medidas introduzidas para combater a pandemia de coronavírus. Ele deverá participar na reunião de crise organizada no Ministério do Interior pelo ministro Gerald Darmarin em decorrência do ataque.

Oração e a proximidade dos bispos da França

O presidente da Conferência Episcopal Francesa, dom Éric de Moulins-Beaufort, imediatamente expressou os seus sentimentos à Diocese de Nice e ao seu pastor, através do tuíte: “A minha oração muito especial pelo povo diocesano de Nice e pelo bispo dom Marceau. Que eles saibam como se sustentarem nesta prova e apoiarem aqueles que são provados na sua carne.” Rezando pelas vítimas e lembrando a proximidade da Solenidade de Todos os Santos, acrescentou: “No domingo, de Todos os Santos, ouviremos o Senhor: Bem-aventurados os que promovem a paz, eles serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados vós que spis perseguidos pelo meu bem. Pois grande é a vossa recompensa no céu”.

O pároco: fomos avisados ​​do risco

“Tínhamos sido avisados ​​há dois ou três dias que havia o risco de outros ataques com o aproximar-se da Solenidade de Todos os Santos, porque alguns faziam a ligação entre a comemoração cristã dos mortos e o facto de aumentar o número de mortos.” Foi o que disse o pároco de Nice-Centre, Gli Florini, entrevistado pela BFM-TV após o atentado contra a catedral de Notre-Dame. “Estávamos atentos, mas não pensávamos que fosse acontecer desta maneira”, acrescentou.

Duas semanas atrás, a morte de Samuel Paty

O ataque foi perpetrado num momento em que a França ainda está em choque com a decapitação de Samuel Paty, o professor morto em 16 de outubro por ter falado aos alunos sobre as caricaturas de Charlie Hebdo retratando o profeta Maomé. Além disso, a tensão aumentou nas últimas horas depois que Charlie Hebdo publicou novas caricaturas contra o presidente turco Erdogan e depois das declarações do presidente francês, Emmanuel Macron.

O massacre de 2016

Retorna à mente o massacre perpetrado em Nice às 22h30 do dia 14 de julho de 2016, que ceifou a vida de 84 pessoas. Um homem, dirigindo um caminhão, acelerou voluntariamente contra a multidão que participada nas festividades por ocasião do Dia da Bastilha, feriado nacional francês, na avenida Promenade des Anglais. O veículo percorreu 1.847 metros, durante os quais o motorista atirava de forma selvagem, forçando a zona de pedestres e ziguezagueando, causando um número elevado de vítimas. A estimativa dos feridos foi posteriormente atualizada para duzentos, cinquenta dos quais se encontravam em estado muito grave. O agressor foi ligeiramente desacelerado pela intervenção de um homem, que tentou colocar-se do lado do veículo com a sua lambreta. Depois de tentar imobilizar o motorista, procurando pular para dentro da cabine do caminhão, acabando por caiu no chão. O agressor foi morto por tiros da Polícia, disparados contra a cabine do motorista e o caminhão parou por volta das 22h50.

VN

28 outubro 2020

O Papa na Audiência Geral: Jesus não é um Deus distante, reza sempre connosco

 


“Jesus, homem de oração” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Sala Paulo VI. Antes de iniciar a leitura do texto, o Santo Padre pediu desculpa aos fiéis por não se aproximar deles para saudá-los como faz habitualmente, devidoi às precauções que temos de ter “diante dessa senhora que se chama Covid e nos faz tanto mal”, disse o Pontífice.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a oração na Audiência Geral desta quarta-feira (28/10). “Jesus, homem de oração” foi o tema deste encontro semanal, realizado na Sala Paulo VI.

Antes de iniciar a leitura do texto, o Santo Padre pediu desculpa aos fiéis por não se aproximar deles para saudá-los como faz habitualmente, devido às precauções que temos de ter “diante dessa senhora que se chama Covid e nos faz tanto mal”, disse o Pontífice.

Jesus reza com os pecadores

Francisco recordou que o início da missão pública de Jesus começou com o batismo no Rio Jordão e que os Evangelistas narram o “modo como todo o povo se reuniu em oração, e especificam que este encontro teve um claro caráter penitencial". "As pessoas iam a João Batista para serem batizadas, para o perdão dos pecados. Há um caráter penitencial, de conversão”, disse ainda o Papa.

“O primeiro ato público de Jesus é a sua participação numa oração comum do povo, uma oração ao povo que procura o batismo, uma prece penitencial, na qual todos se reconhecem pecadores. João Batista opôs-se, dizendo: «Sou eu que devo ser batizado por ti e Tu vens a mim!» Mas Jesus insiste: o seu é um ato que obedece à vontade do Pai, um ato de solidariedade para com a nossa condição humana". E o Papa acrescentou:

Ele reza com os pecadores do povo de Deus. Coloquemos isto na cabeça: Jesus é justo, não é pecador. Ele quis vir até nós, pecadores. Ele reza connosco. Quando nós rezamos Ele está a rezar connosco. Ele está connosco porque está no céu a rezar por nós. Jesus reza sempre com o seu povo, reza sempre connosco. Sempre. Nós nunca rezamos sozinhos, rezamos sempre com Jesus. Ele não permanece na margem oposta do rio, para marcar a sua diversidade e distância do povo desobediente, mas mergulha os seus pés nas mesmas águas de purificação. Ele age como um pecador. E esta é a grandeza de Deus que enviou o seu Filho, aniquilou-se e apareceu como um pecador.

Jesus não é um Deus distante

Segundo Francisco, "Jesus não é um Deus distante, e não o pode ser. A encarnação revelou-o de forma completa e humanamente impensável. Assim, ao inaugurar a sua missão, Jesus coloca-se à frente de um povo de penitentes, como se estivesse encarregado de abrir uma brecha pela qual todos nós, depois d'Ele, devemos ter a coragem de passar. Mas a estrada, o caminho é difícil, mas ele vai abrindo o caminho".

“Naquele dia, nas margens do rio Jordão, encontra-se toda a humanidade, com os seus anseios de oração não expressos. Há sobretudo o povo dos pecadores: aqueles que pensavam que não podiam ser amados por Deus, aqueles que não se atreviam a ir além do limiar do templo, aqueles que não rezavam porque não se sentiam dignos. Jesus veio para todos, até para eles e começa precisamente por se unir a eles. É o primeiro da fila”, frisou o Papa.

"O Evangelho de Lucas destaca sobretudo a atmosfera de oração em que o batismo de Jesus teve lugar: «Quando todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando Ele a orar, o céu abriu-se». Rezando, Jesus abre a porta do céu, e daquela brecha desce o Espírito Santo. No turbilhão da vida e do mundo que chegará a condená-lo, até nas experiências mais duras e tristes que deverá suportar, inclusive quando experimenta que não tem onde reclinar a cabeça, até quando o ódio e a perseguição se desencadeiam à sua volta, Jesus nunca está sem o amparo de uma morada: habita eternamente no Pai."

A grandeza da oração de Jesus

“Eis a grandeza única da oração de Jesus: o Espírito Santo apodera-se da sua pessoa e a voz do Pai atesta que Ele é o amado, o Filho em quem se reflete plenamente. Esta prece de Jesus, que nas margens do Rio Jordão é totalmente pessoal, e assim será ao longo da sua vida terrena, no Pentecostes tornar-se-á, pela graça, a oração de todos os batizados em Cristo. Ele obteve este dom para nós e convida-nos a rezar como Ele rezou”, disse ainda o Papa, acrescentando:

Por esta razão, se numa noite de oração nos sentirmos fracos e vazios, se nos parecer que a vida tem sido completamente inútil, nesse momento devemos implorar que a prece de Jesus se torne também nossa. Eu não posso rezar hoje, não sei o que fazer, não sou digno, ou digna. Naquele momento Jesus, que a tua oração seja a minha. Confiar que ele reze por nós. Naquele momento ele está diante do pai a rezar por nós. É o intercessor. Mostra ao Pai as suas chagas por nós. Confiamos nisso e se confiamos, então ouviremos uma voz do céu, mais alta do que a voz que se eleva da nossa ignomínia, sussurrando palavras de ternura: “Tu és o amado de Deus, tu és filho, tu és a alegria do Pai que está nos céus”. 

“Para nós, para cada um de nós, ressoa a palavra do Pai: ainda se fôssemos rejeitados por todos, pecadores da pior espécie. Jesus não desceu às águas do Jordão para si mesmo, mas por todos nós.”

"Todo o povo de Deus que se aproximava do Jordão para rezar, pedir perdão, fazer o batismo de penitência. Abriu os céus, como Moisés abriu as águas do mar Vermelho, para que todos nós pudéssemos passar atrás dele. Jesus ofereceu-nos a sua própria oração, que é o seu diálogo de amor com o Pai. Ele concedeu-nos como uma semente da Trindade, que quer criar raízes no nosso coração. Acolhemo-la! Acolhamos este dom, o dom da oração. Sempre com Ele e não erraremos”, concluiu o Papa. 

VN

27 outubro 2020

O Papa: sonho uma “Europa-comunidade”, solidária, amiga das pessoas

 
Bandeira da Europa
 
Numa carta ao Cardeal Parolin pelos 50 anos de colaboração entre a Santa Sé e as instituições europeias, Francisco revive a história e os valores do continente, esperando uma mudança de fraternidade num período de grandes incertezas e risco de desvios individualistas. Não há necessidade de olhar "para o álbum de recordações", mas para o futuro que pode ser "oferecido ao mundo".

Alessandro De Carolis – Vatican News

Quatro sonhos - porque séculos de civilização não esgotaram o seu ímpeto propulsor - apoiados por uma única convicção substancial: não pode haver uma Europa autêntica sem os pilares sobre os quais foi projetada desde a primeira intuição, ou seja, um espaço de povos unidos pela solidariedade, depois de ter sido um trágico cenário de guerra e muros. A carta de Francisco ao Cardeal Pietro Parolin é uma espécie de carta aberta ao Velho Continente, na qual a sua visão - ideal e ao mesmo tempo ancorada no realismo da era do vírus - é enriquecida pelos sonhos de dois ilustres predecessores, Robert Schuman, um dos pais fundadores da Europa, e São João Paulo II, que defendia vigorosamente as suas raízes cristãs.

A encruzilhada: divisões ou fraternidade

A ocasião que inspira a longa carta de Francisco é a comemoração de vários aniversários e eventos relacionados aos quais o Secretário de Estado participaria, desde os 50 anos de colaboração entre a Santa Sé e as instituições europeias, até os 40 anos do nascimento da Comece, a Comissão dos Episcopados das Comunidades Europeias. Dois aniversários dentro do quadro mais amplo dos 70 anos da Declaração Schuman, com os quais a Europa renunciava às divisões da guerra. E são precisamente as divisões que hoje são possíveis, num momento histórico que exige, em vez disso, compacidade, que levam o Papa a repetir um conceito muito sentido. “A pandemia – escreve - é como uma encruzilhada que obriga a tomar uma opção: ou prosseguimos pelo caminho embocado no último decénio que aparece animado pela tentação da autonomia, esperando-nos mal-entendidos, contraposições e conflitos cada vez maiores; ou redescobrimos o ‘caminho da fraternidade’”.

“Europa, sê tu mesma”

A crise da Covid, observa Francisco, colocou em evidência tudo isto: “não só a tentação de proceder sozinhos, procurando soluções unilaterais para um problema que ultrapassa as fronteiras dos Estados”, enquanto que desde as suas origens a Europa pós-bélica “nasce da consciência de que, juntos e unidos, somos mais fortes, que - como afirmou na Evangelium gaudium – ‘a unidade é superior ao conflito’ e que a solidariedade pode ser ‘um estilo de construção da história’”. No coração de Francisco ressoa o eco do que João Paulo II falou em 9 de novembro de 1982 de Santiago de Compostela, no final da sua peregrinação a Espanha.

Raízes profundas

A famosa frase "Europa volta a encontrar-te. Sê tu mesma" é reinterpretada por Francisco com energia semelhante e então, escreve, para a Europa "eu gostaria de dizer: tu, que foste uma forja de ideais ao longo dos séculos e agora pareces perder o teu ímpeto, não te detenhas a olhar para o teu passado como um álbum de recordações. Com o tempo, até as mais belas recordações se atenuam, e acabamos por deixar de as lembrar”. “Europa, volta a encontrar-te! Volta a encontrar os teus ideais, que têm raízes profundas. Sê tu mesma! Não tenhas medo da tua história milenária, que é uma janela para o futuro mais do que para o passado”. E portanto “não tenhas medo da tua necessidade de verdade” que provém desde a Grécia antiga, da “tua necessidade de justiça que se desenvolveu a partir do direito romano” e, “da tua necessidade de eternidade, enriquecida pelo encontro com a tradição judaico-cristã”.

Europa, uma família

A partir destes valores, Francisco fala de quatro visões. "Eu sonho então – sublinha rm primeiro lugar - com uma Europa que seja amiga da pessoa e das pessoas. Uma terra onde a dignidade de cada pessoa seja respeitada, onde a pessoa seja um valor em si mesma e não o objeto de um cálculo económico ou uma mercadoria". Uma Europa com esta sensibilidade é portanto, para o Papa, uma terra que "tutela a vida", o trabalho, a educação, a cultura, que sabe proteger "os que são mais frágeis e mais fracos, especialmente os idosos, os doentes que precisam de tratamentos caros e os deficientes". E como consequência natural de certa forma esta primeira visão leva à segunda, que faz Francisco dizer: "Sonho com uma Europa que seja uma família e uma comunidade", noutras palavras, uma "família de povos" capaz de "viver em unidade, valorizando as diferenças, a partir da fundamental entre homem e mulher". E aqui Francisco resume o sonho falando de "comunidade europeia", solidária e fraterna, o oposto de uma terra dividida em "realidades solitárias e independentes", que facilmente será "incapaz de enfrentar os desafios do futuro".

A Europa que abre os olhos e as portas

O terceiro sonho do Papa é o de "uma Europa solidária e generosa", um "lugar acolhedor e hospitaleiro, onde a caridade - que é a virtude cristã suprema - vença todas as formas de indiferença e egoísmo". E como, observa ele, "estar solidário significa estar próximo", isto "para a Europa significa concretamente estar disponível, próximo e desejosa de apoiar, através da cooperação internacional, os outros continentes, penso - diz o Papa - especialmente em África", para se resolverem os conflitos em curso. E também para com os migrantes, não apenas assistidos nas suas necessidades imediatas, mas acompanhados ao longo do caminho para a integração. Em resumo, Francisco insiste "numa Europa que seja uma 'comunidade solidária'", a única capaz de "enfrentar este desafio de maneira frutífera, enquanto - evidencia - toda a solução parcial já mostrou ser inadequada".

Além de confessionalismos e laicismos

E depois o quarto sonho, que o Papa expressa desta forma: "Uma Europa saudosamente laica, na qual Deus e César apareçam distintos, mas não contrapostos". O que para Francisco significa uma terra "aberta à transcendência, onde a pessoa crente se sinta livre para professar publicamente a fé e propor o seu ponto de vista à sociedade". Uma Europa pela qual , o Papa reconhece que “se acabaram os tempos do confessionalismo, mas também – assim o esperamos – dum certo laicismo que fecha as portas aos outros e sobretudo a Deus,  pois é evidente que uma cultura ou um sistema político que não respeite a abertura à transcendência, não respeita adequadamente a pessoa humana".

Um futuro a ser escrito

As últimas considerações são para a "grande responsabilidade" dos cristãos em animar a mudança em todas as áreas "em que vivem e trabalham" e para confiar a "querida Europa" aos seus santos padroeiros, Bento, Cirilo e Metódio, Brígida, Catarina e Teresa Benedita da Cruz. Na "certeza - que Francisco cultiva - de que a Europa ainda tem muito a dar ao mundo".

VN

26 outubro 2020

D. Daniel Henriques desafia as famílias a transmitirem valores “humanos e cristãos”

 

 

A Semana Nacional da Educação Cristã teve como tema ‘Fortalecer e apoiar a Família, Igreja Doméstica’

D. Daniel Batalha Henriques presidiu, neste Domingo, à eucaristia de encerramento da Semana Nacional da Educação Cristã, desafiando as famílias a participar na transmissão de valores “humanos e cristãos”. “Apelo a que, conscientes da beleza e do tesouro que em vós reside e a vós é confiado, vos esforceis por contribuir para que os vossos filhos e netos sejam agentes transformadores deste mundo que habitamos”, disse na sua homilia o vogal da Comissão Episcopal da Educação Cristã, numa celebração transmitida em direto, na TVI, a partir da Paróquia de São Pedro, em Peniche.

A semana nacional teve como tema, este ano, ‘Fortalecer e apoiar a Família, Igreja Doméstica’, tendo em atenção “os constrangimentos sentidos devido à atual Pandemia”. “Que a educação cristã seja um bem no qual acreditais e que desejais fomentar, razões para a requererdes, seja na escola, através da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, seja na Paróquia, através da catequese ou dos grupos juvenis. Não a abandoneis à arbitrariedade de critérios alheios”, pediu D. Daniel Henriques às famílias católicas.

O Bispo Auxiliar de Lisboa convidou pais e avós a serem “participantes ativos” no trabalho de educadores cristãos, nas escolas e nas paróquias. “Partilhai a vossa experiência de vida, de fé e de amor, para que, todos juntos, como Igreja, aprendamos a ser ‘hospital de campanha’, nesta expressão tão forte do Papa Francisco, acolhendo a Cristo e aos irmãos na vida de todos os dias”, acrescentou.

O responsável agradeceu também aos educadores cristãos o seu papel na transmissão da fé, em contexto catequético, e na formação para os valores do evangelho para uma sociedade mais justa e fraterna. “Gostaria de agradecer o trabalho que se recria e desenvolve nas paróquias, nas escolas e nos colégios católicos por todos os educadores cristãos. Educar é sempre um enorme desafio. Propor valores altos e perenes, enraizados no Evangelho, é tarefa que a muitos envolve e só com e nas comunidades pode ser realizada”, declarou o vogal da Comissão Episcopal pela área da educação.

“O Senhor oferece-nos a oportunidade de repensar e reforçar o nosso compromisso diante da tarefa fundamental de educar as novas gerações no ‘agora de Deus’, com o coração, a mente e as mãos enraizadas na Esperança de um futuro mais humanizado”.

D. Daniel Henriques apresentou uma reflexão sobre a passagem do Evangelho lida neste Domingo, 25 de outubro: “Não é possível separar o Amor a Deus e o Amor aos irmãos sem estarmos a negar a nossa própria identidade cristã”. “A Palavra de Deus fala de um amor que vai muito além de vagos sentimentos e emoções que nos fazem estremecer. É um amor que convoca a nossa vontade, o nosso coração, a nossa alma, as nossas forças”, acrescentou, numa intervenção divulgada pelo portal do Secretariado Nacional da Educação Cristã, ‘Educris’. O responsável católico destacou a importância de entender este mandamento de Jesus como um “amor em ação, abnegado de si, debruçado sobre as feridas do irmão”.

 
Texto: Ecclesia
Foto: Educris

Patriarcado de Lisboa

A emoção nas palavras dos futuros novos cardeais

 

Consistório de 5 de outubro de 2019

Surpresa e sentimento de responsabilidade renovado. É o que emerge nas primeiras palavras de alguns dos religiosos e prelados contactados pelo Vatican News após serem nomeados pelo Papa, no domingo 25 de outubro como futuros cardeais. Os novos cardeais serão criados no Consistório de 28 de novembro.

Vatican News

Pura surpresa a de Monsenhor Enrico Feroci que soube da futura nomeação como cardeal enquanto estava na sacristia pouco antes de celebrar a missa das 12h30. "Interpretei como um gesto do Papa, não para mim pessoalmente, mas para todos os sacerdotes de Roma”. Mons. Enrico Feroci é pároco no Santuário de Santa Maria do Divino Amor nos arredores de Roma, no bairro Castel de Leva. “Sempre se diz que o presbítero é aquele que dá as suas mãos ao bispo para tocar o Corpo de Cristo que é o Povo de Deus. Assim, o Papa Francisco quis agradecer às mãos de muitos sacerdotes. Acho que é assim, estou a interpretar porque não creio que, como pessoa, eu possa merecer este reconhecimento”. Continuar a ser o que sempre foi até agora é o desejo de Monsenhor Feroci, sempre aservir o povo de Deus. "Ainda não falei e agradeci ao Papa Francisco e espero poder fazê-lo em breve. Eu sou um pároco de Roma, acredito que continuarei a ser o pároco da paróquia do Divino Amor". O futuro cardeal nasceu em 27 de agosto de 1940 em Pizzoli.

Dom Silvano Tomasi: responsabilidade e trabalho para a Igreja

Entre os 13 futuros cardeais nomeados pelo Papa, está Dom Silvano Maria Tomasi, ex-Núncio Apostólico e ex-Observador Permanente da Santa Sé junto à ONU e instituições especializadas em Genebra: a Organização Mundial do Comércio e Organização Internacional para as Migrações. Dom Tomasi expressa a surpresa com que recebeu a decisão do Papa Francisco e também a alegria ao pensar que poderia ser um reconhecimento do compromisso, não só seu, mas da comunidade da qual fazia parte. E então, o futuro cardeal destaca que receber este tipo de anúncio sugere uma renovada assunção de responsabilidade para continuar a contribuir para o bem da Igreja. Dom Silvano Tomasi, completou 80 anos em 12 de outubro passado.

Frei Mauro Gambetti: confio a São Francisco

"Brincadeira de Papa". Foram as primeiras palavras pronunciadas pelo Frei Mauro Gambetti poucos minutos após o anúncio de sua nomeação pelo Papa Francisco no Angelus.  "Recebo com gratidão e alegria esta notícia com espírito de obediência à Igreja e de serviço à humanidade  num momento tão difícil para todos nós". Confio a São Francisco a minha viagem e faço minhas as suas palavras de fraternidade. Um presente que partilharei com todos os filhos de Deus num caminho de amor e compaixão para com o próximo nosso irmão". O futuro cardeal é o Guardião da Comunidade franciscana de Assis e nasceu em 27 de outubro de 1965.

Dom Wilton Gregory: trabalhar mais perto do Papa

Enquanto que Dom Wilton Gregory, arcebispo de Washington divulgou a seguinte declaração ao saber da sua nomeação: "Com um coração muito grato e humilde, agradeço ao Papa Francisco por esta nomeação que me permitirá trabalhar mais de perto do Papa para o cuidado da Igreja de Cristo". Dom Gregory é arcebispo de Washington desde maio de 2019, e será o primeiro afro-americano a ser elevado ao Colégio dos Cardeais. Natural de Chicago, o futuro cardeal completa 73 anos em 7 de dezembro.

VN

25 outubro 2020

Papa no Angelus: o amor ao próximo é chamado também, caridade fraterna

Angelus  (Vatican Media)

No angelus deste domingo Francisco disse que "enquanto houver um irmão ou irmã a quem fechamos os nossos corações, ainda estaremos distantes de ser discípulos, como Jesus nos pede".

Silvonei José - Vatican News

"Aquele que não ama o seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus que não vê". São palavras do Papa Francisco que, na oração do Angelus deste domingo, começou com o Evangelho de Mateus 22, 34-40. Quando um doutor da Lei pergunta a Jesus - disse o Papa - qual é "o grande mandamento", ou seja, o mandamento principal de toda a Lei divina, Jesus responde: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente". E acrescenta imediatamente: "O segundo é semelhante a este: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo".

A resposta de Jesus retoma e une dois preceitos fundamentais que Deus deu ao seu povo através de Moisés. A fé não consiste em uma “obediência forçada”, disse Francisco. Jesus estabelece dois fundamentos essenciais para os crentes de todos os tempos.

O primeiro é que a vida moral e religiosa não pode ser reduzida a uma obediência ansiosa e forçada, mas deve ter como princípio o amor. O segundo é que o amor deve tender junto e inseparavelmente para Deus e para o próximo. Esta é uma das principais novidades do ensinamento de Jesus e nos faz compreender que não é verdadeiro amor a Deus o que não se expressa no amor ao próximo; e, da mesma forma, não é amor verdadeiro ao próximo o que não se baseia no relacionamento com Deus. E o amor ao próximo, que também é chamado de caridade fraterna, é feito de proximidade, de escuta, de partilha, de cuidado com os outros.

No angelus deste domingo Francisco disse que "enquanto houver um irmão ou irmã a quem fechamos os nossos corações, ainda estaremos distantes de ser discípulos, como Jesus nos pede".

Silvonei José - Vatican News

"Aquele que não ama o seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus que não vê". São palavras do Papa Francisco que, na oração do Angelus deste domingo, começou com o Evangelho de Mateus 22, 34-40. Quando um doutor da Lei pergunta a Jesus - disse o Papa - qual é "o grande mandamento", ou seja, o mandamento principal de toda a Lei divina, Jesus responde: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente". E acrescenta imediatamente: "O segundo é semelhante a este: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo".

A resposta de Jesus retoma e une dois preceitos fundamentais que Deus deu ao seu povo através de Moisés. A fé não consiste em uma “obediência forçada”, disse Francisco. Jesus estabelece dois fundamentos essenciais para os crentes de todos os tempos.

O primeiro é que a vida moral e religiosa não pode ser reduzida a uma obediência ansiosa e forçada, mas deve ter como princípio o amor. O segundo é que o amor deve tender junto e inseparavelmente para Deus e para o próximo. Esta é uma das principais novidades do ensinamento de Jesus e nos faz compreender que não é verdadeiro amor a Deus o que não se expressa no amor ao próximo; e, da mesma forma, não é amor verdadeiro ao próximo o que não se baseia no relacionamento com Deus. E o amor ao próximo, que também é chamado de caridade fraterna, é feito de proximidade, de escuta, de partilha, de cuidado com os outros.

Comunhão que é dom a ser invocado todos os dias, mas também um compromisso pessoal para que a nossa vida não se deixe escravizar pelos ídolos do mundo. E a verificação do nosso caminho de conversão e santidade está sempre no amor ao nosso próximo. Enquanto houver um irmão ou irmã a quem fechamos os nossos corações, ainda estaremos distantes de ser discípulos, como Jesus nos pede. Mas a Sua divina misericórdia não nos permite desanimar, pelo contrário, Ele nos chama a recomeçar todos os dias para viver de forma coerente o Evangelho.

O Papa concluiu pedindo a intercessão de Maria Santíssima para que abra os nossos corações para acolher o "grande mandamento", o duplo mandamento do amor, que resume toda a lei de Deus e da qual depende a nossa salvação.

 


VN

24 outubro 2020

O Papa ao Marianum: o mundo sem mães não tem futuro

Papa encontra membros da Pontifícia Faculdade Teológica "Marianum"  (Vatican Media)

Ao receber os professores e alunos da Pontifícia Faculdade Teológica "Marianum", de Roma, Francisco recordou que "os tempos em que vivemos são os tempos de Maria": mãe que regenera a vida e mulher que cuida do povo de Deus. "Quantas mulheres - afirma o Papa - não recebem a dignidade que lhes é devida".

Benedetta Capelli, Silvonei José - Vatican News

"Ir à escola de Maria é ir a uma escola de fé e de vida": Francisco nesta frase encerra o sentido e a perspectiva da pesquisa da Pontifícia Faculdade Teológica "Marianum", de Roma, confiada aos Servos de Maria e nos 70 anos de sua fundação. A mariologia a ser vivida precisamente no estilo mariano, colaborando com outros institutos, permanecendo atentos aos "sinais dos tempos marianos", por vezes purificando a piedade popular, levando "à cultura, também através da arte e da poesia, a beleza que humaniza e infunde esperança".

O coração da mãe

No pensamento de Francisco emergem dois conceitos fortes sobre Maria, como mãe e como mulher. Recordando que "vivemos no tempo do Concílio Vaticano II", a mariologia - sublinha o Papa - ptocurou força na Lumen Gentium e partindo dali, nos "tempos de Maria", é necessário redescobrir "as maravilhas" de Nossa Senhora "indo até ao coração do seu mistério".

Mãe, "a melhor das mães", capaz de tornar "a Igreja e o mundo mais fraternos". "A Igreja - afirma Francisco - precisa de redescobrir o seu coração materno, que bate pela unidade; mas também precisa da nossa Terra, para voltar a ser a casa de todos os seus filhos", "onde todos somos irmãos, onde há lugar para cada descartado das nossas sociedades".

Precisamos da maternidade, de quem gera e regenera a vida com ternura, porque só o dom, o cuidado e a partilha mantêm a família humana unida. Pensemos no mundo sem as mães: não têm futuro: as vantagens, os lucros, por si só, não dão um futuro, na verdade, por vezes aumentam as desigualdades e as injustiças. As mães, em vez disso, fazem com que cada filho se sinta em casa e dão esperança.

A mulher da dignidade

Do Novo Testamento ao Evangelho, Maria "é a mulher, a nova Eva, que de Caná ao Calvário intervém para a nossa salvação. "Ela é a mulher vestida de sol que cuida dos descendentes de Jesus". Uma mãe que torna família a Igreja, uma mulher "que faz de nós um povo". Francisco insiste na piedade popular que diz respeito a Nossa Senhora e exorta a mariologia a segui-la com atenção, promovendo-a e por vezes purificando-a. Convida a estarmos atentos aos "sinais dos tempos marianos":

Entre estes, há precisamente o papel da mulher: essencial para a história da salvação, e não pode deixar de ser essencial para a Igreja e para o mundo. Mas quantas mulheres não recebem a dignidade que lhes é devida! A mulher, que trouxe Deus ao mundo, deve poder levar os seus dons para a história. Precisamos da sua criatividade e estilo. A teologia tem necessidade, para que não seja abstrata e conceitual, mas delicada, narrativa, vital.

A Mariologia é chamada "a procurar espaços mais dignos para a mulher na Igreja, começando pela comum dignidade batismal”

Instituição fraterna

O Marianum, recorda o Papa, é uma "instituição fraterna" chamada a alargar horizontes, superando o medo de "abrir-se" e de pensar em perder a sua própria especificidade. Colocar-se em jogo, afirma Francisco, significa dar vida como fazem as mães.

E Maria é mãe que ensina a arte do encontro e do caminhar juntos. É bonito então que, como numa grande família, no Marianum convirjam diferentes tradições teológicas e espirituais, que façam o  diálogo ecuménico e inter-religioso também.

VN

23 outubro 2020

Legalização da eutanásia será “uma mensagem errada para toda a sociedade portuguesa”

 

 

O Cardeal-Patriarca de Lisboa referiu hoje que a legalização da eutanásia será “uma mensagem errada para toda a sociedade portuguesa”, porque não procura “acompanhar as pessoas onde elas mais precisam de ser acompanhadas”. Em declarações à Ecclesia e Renascença antes da cerimónia de tomada de posse da reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil, para um novo mandato, D. Manuel Clemente sublinhou ainda que a realização de um referendo sobre o tema – possibilidade rejeitada, hoje, pela Assembleia da República – seria “uma oportunidade para reflexão e ponderação mais forte, mais serena sobre o assunto, que é grave”. “Tudo aquilo que diz respeito à vida, da conceção à morte natural, é básico para a nossa convivência social”, acrescentou o Cardeal-Patriarca.
Nestas declarações aos jornalistas, D. Manuel Clemente referiu ainda que, se Presidente da República é a “última instância” em termos de decisão sobre a legislação em causa, a nível da sociedade “agora é a altura da consciência”.

No “pior momento”
Após a notícia da rejeição da iniciativa popular de referendo sobre a eutanásia, no Parlamento, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lamentou o desfecho do processo, classificando este como o “pior momento” para legislar sobre o tema, por causa da pandemia. “A Assembleia da República acaba de reprovar a possibilidade de um referendo sobre a despenalização da eutanásia, referendo solicitado por uma petição com cerca de noventa e cinco mil assinaturas. É de lamentar esta decisão que, na prática, aprova a lei que despenaliza a eutanásia, embora o processo legislativo ainda não esteja finalizado”, refere a nota divulgada pelo Secretariado Geral da CEP. “Achamos ainda ter sido o pior momento para se tomar esta decisão, atendendo à gravíssima situação de pandemia que a todos atinge de modo tão dramático e, de modo particular, os mais idosos”, acrescenta o texto da CEP, referindo ainda que “o que faz falta é dizer e agir na atitude de quem afirma: ‘Se o sofrimento se torna tão dramático e insuportável, vamos estar a teu lado e ajudar-te a encontrar razões e meios para viver’”.

 

Com Ecclesia
foto: Arquivo do Jornal Voz da Verdade

Patriarcado de Lisboa

Entrevista à autora do logotipo da JMJ Lisboa 2023

 
 

“Não havia nada que fizesse tanto sentido quanto o cruzar da dimensão profissional e espiritual”

Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, a autora do logotipo da JMJ Lisboa 2023, Beatriz Roque Antunes, fala de como decorreu o processo de criação da proposta e projeta a responsabilidade que a dimensão mundial do logotipo poderá trazer para o seu percurso profissional e caminhada de fé.

Como decorreu o caminho de inspiração e de construção do logotipo?
Fui acompanhando o que a minha irmã e os amigos foram construindo para o concurso do hino. Eles também foram fazendo um trabalho de musicar várias coisas e eu fui vendo o que eles foram construindo e trabalhando do ponto de vista espiritual. Foi isso que me motivou a fazer o meu caminho. Depois, a passagem que inspira esta Jornada Mundial da Juventude [‘Maria levantou-se e partiu apressadamente’ – Lc 1, 39] é uma passagem que já me dizia alguma coisa, porque foi a mesma passagem que tive quando fui, há cerca de 3 anos, chefe de oração da Missão País na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Nessa altura, já tinha feito todo um percurso de redescoberta da figura de Maria, até porque eu não tinha uma fé muito mariana. A minha relação com Deus passava mais pelo Espírito Santo ou pela figura de Jesus do que pela própria figura de Maria que, se calhar, me intimidava um pouco mais... Era uma figura com a qual não tinha tanta relação. Foi essa passagem, esse desafio espiritual, que me fez redescobrir a figura de Maria e construir uma relação com Ela. Portanto, quando soube que a Jornada Mundial da Juventude ia ter o mesmo tema, vi que fazia todo o sentido. 

Quanto tempo demorou o processo de criação?
Demorou duas a três semanas, porque só comecei a trabalhar graficamente na semana antes da entrega do logotipo. Pus uma semana de férias para o efeito, porque sabia que tinha de me dedicar inteiramente ao projeto. As semanas anteriores foram mais de trabalho espiritual e de ir pensando e conceptualizando, mas ainda sem começar a trabalhar o que havia de ser graficamente o logotipo.

Como foi receber a notícia e como reagiram a família e os amigos?
Foi um processo complicado, com muitos altos e baixos. Quando terminei e entreguei a proposta, queria muito ganhar e achava que estava espetacular, estava muito orgulhosa do que fiz, mas, depois, comecei a cair na realidade e pensei que, se calhar, não era possível, talvez fosse pensar demasiado e precisava de moderar as expectativas, porque poderia não ganhar, até porque o concurso era internacional e, há, certamente, muita gente com muito talento… Pensei: ‘Não vai acontecer’, mas queria muito!
Soube em fevereiro que tinha vencido o concurso, quando estava previsto o lançamento para março, e, assim, não seria tanto tempo de sigilo… Entretanto, com a pandemia, já não foi divulgado em março e ficou sem data, até agora. Não pude contar nem aos meus amigos, nem ao resto da minha família. Foi complicado, porque tinha o meu avô doente, que faleceu na semana passada, e gostaria de lhe ter contado, mas não aconteceu… Ele agora já sabe e a minha família toda e os amigos também. Estão todos muito contentes.

Que importância este logotipo poderá ter para a sua caminhada espiritual e para o percurso profissional?
Tenho muita expectativa de que venha a ser importante para o meu percurso profissional, mas ainda não sei… Acho que a dimensão é muito grande, chegará a muita gente e terá muita visibilidade. Nunca fiz, nem terei oportunidade de fazer, um trabalho que chegue assim a tanta gente. E isso é fantástico. Espero que daí venham desafios positivos!
Do ponto de vista espiritual, este desafio fazia todo o sentido. Não havia nada que fizesse tanto sentido quanto este cruzar de duas dimensões: a minha dimensão profissional – aquilo que acredito que é o meu dom, o que faço no dia-a-dia –, com a dimensão espiritual – aquilo que é a minha vida na Igreja, porque é a minha vida de fé. Portanto, faz todo o sentido e tem uma importância muito grande.

 

fotos por JMJ Lisboa 2023

  • Leia a reportagem completa na edição do dia 25 de outubro do Jornal VOZ DA VERDADE, disponível nas paróquias ou em sua casa.

 Patriarcado de Lisboa

Francisco: ecologia integral - é necessária uma profunda conversão interior

Encontro de Focolarinos «Novos caminhos para a ecologia integral: 5 anos depois da Laudato si»
 
Mensagem do Papa aos participantes do Encontro Internacional EcoOne, iniciativa ecológica do Movimento dos Focolares. O Papa chama a atenção para "a necessidade urgente de um novo paradigma socioeconómico mais inclusivo".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco enviou uma mensagem, nesta sexta-feira (23/10) aos participantes do Encontro Internacional EcoOne, iniciativa ecológica do Movimento dos Focolares, que se realiza em Castel Gandolfo, nas proximidades de Roma, até 25 de outubro, no âmbito do Ano Especial dedicado ao quinto aniversário da Carta Encíclica Laudato si’. 

O encontro envolve uma rede de professores, académicos, pesquisadores e profissionais das ciências ambientais e tem como tema «Novos caminhos para a ecologia integral: cinco anos depois da Laudato si’». O objetivo do evento é examinar o impacto desse documento no mundo contemporâneo, analisando o papel que indivíduos e organismos sociais podem desempenhar no cuidado da Casa comum.

Tudo está interligado

No início de seu discurso, Francisco agradeceu a EcoOne e aos representantes do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e do Movimento Católico Global pelo Clima, que colaboraram para tornar possível este evento que “analisa uma visão relacional da humanidade e do cuidado do nosso mundo a partir de uma variedade de perspetivas: ética, científica, social e teológica”.

“Recordando a convicção de Chiara Lubich de que o mundo criado traz em si mesmo um carisma de unidade, confio que a sua perspectiva possa guiar o seu trabalho no reconhecimento de que «tudo está interligado» e que «se exige uma preocupação pelo meio ambiente, unida ao amor sincero pelos seres humanos e a um compromisso constante com os problemas da sociedade»”, ressalta o Papa no texto.

Francisco chama a atenção para a “necessidade urgente de um novo paradigma socioeconómico mais inclusivo que reflita a verdade de que somos «uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos». Esta solidariedade recíproca e com o mundo que nos rodeia, requer uma vontade firme de desenvolver e implementar medidas concretas que favoreçam a dignidade de toda a pessoa nas suas relações humanas, familiares e do trabalho, combatendo ao mesmo tempo as causas estruturais da pobreza e empenhando-se por proteger o ambiente natural”.

Profunda conversão interior 

Segundo o Pontífice, “para alcançar uma ecologia integral, é necessária uma profunda conversão interior quer a nível pessoal quer comunitário”.

Lembrando os grandes desafios que temos de enfrentar neste momento, como as mudanças climáticas, a necessidade de um desenvolvimento sustentável e a contribuição que a religião pode dar para a superação da crise ambiental, Francisco afirma que “é essencial romper com a lógica da exploração e do egoísmo e promover a prática de um estilo de vida sóbrio, simples e humilde”.

O Papa espera que esta iniciativa ecológica dos Focolarinos possa “cultivar uma corresponsabilidade de uns pelos outros como filhos de Deus e um renovado compromisso de bons administradores do seu dom da criação”, e conduzir a “novos caminhos que levem a uma ecologia integral em prol do bem comum da família humana e do mundo”.

VN

22 outubro 2020

Pastoral Familiar - Patriarcado propõe webinars sobre ‘Família e Educação’

 


Refletir e aprofundar o tema ‘Família e Educação’ é o objetivo dos quatro webinars [videoconferência com intuito educacional] gratuitos que a Pastoral da Família do Patriarcado de Lisboa está a organizar, para decorrerem nas duas primeiras quintas-feiras de novembro e de dezembro, sempre às 21h30. Dirigida a pais, filhos e educadores, esta iniciativa é composta pelo Módulo 1, sobre ‘Pais e Filhos’, que decorre dias 5 e 12 de novembro, com ‘Educar para quê?’ e ‘Serão os pais competentes para educar?’, e o Módulo 2, ‘Pais e Escola’, a 3 e 10 de dezembro, será sobre ‘O valor dos adultos para as crianças e jovens’ e ‘Liberdade de Educação’. Em cada webinar, além da palestra haverá uma mesa redonda. 

 

Patriarcado de Lisboa

Renovado por dois anos o Acordo Provisório entre a Santa Sé e a China

O anúncio foi dado nesta quinta-feira (22) pela Sala de Imprensa da Santa Sé. As razões do acordo foram publicadas num artigo do L'Osservatore Romano: "o início foi positivo, graças à boa comunicação e colaboração entre as partes".

VATICAN NEWS

O Acordo Provisório entre a Santa Sé e a República Popular da China sobre a nomeação de bispos foi prorrogado "por mais dois anos". Este foi o anúncio numa declaração emitida pela Sala de Imprensa da Santa Sé nesta quinta-feira (22), dia em que deveria expirar o prazo: "A Santa Sé, acreditando que o início da aplicação do Acordo mencionado - de valor eclesial e pastoral fundamental - foi positivo, graças à boa comunicação e colaboração entre as Partes no assunto acordado, e está intencionada em continuar o diálogo aberto e construtivo para promover a vida da Igreja Católica e o bem do povo chinês”.

O comunicado é acompanhado por um longo artigo do jornal L'Osservatore Romano, no qual são explicadas as razões desta escolha. "As duas Partes - lê-se no artigo - avaliaram vários aspecos de sua aplicação, e concordaram, através da troca oficial de Notas Verbais, em prorrogar a sua validade por mais dois anos, até 22 de outubro de 2022". O objetivo principal do Acordo "é apoiar e promover a proclamação do Evangelho" na China "reconstituindo a unidade plena e visível da Igreja". A questão da nomeação de bispos e da unidade dos bispos com o Sucessor de Pedro "é de vital importância para a vida da Igreja, tanto a nível local como universal".

Precisamente este elemento "inspirou as negociações e foi de referência na elaboração do texto do Acordo", para assegurar "pouco a pouco tanto em relação à unidade de fé e comunhão entre os bispos, como, sobre o serviço integral a favor da comunidade católica na China". Atualmente, pela primeira vez, em muitas décadas, todos os bispos da China estão em comunhão com o bispo de Roma e, graças à implementação do Acordo, não haverá mais ordenações ilegítimas". O artigo explica que com o Acordo "não foram tratadas todas as questões ou situações em aberto que ainda suscitam preocupação para a Igreja", mas "exclusivamente o tema das nomeações episcopais".

Citando o recente discurso do Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin na conferência do PIME em Milão, o artigo lembra que "surgiram alguns mal-entendidos". Muitos deles surgiram da atribuição ao Acordo "de objetivos que ele não tem" ou de ligá-lo "a questões políticas que não têm nada a ver com o próprio Acordo". A assinatura em Pequim em setembro de 2018 "foi o ponto de chegada de um longo caminho", mas "foi também e acima de tudo, o ponto de partida para acordos mais amplos e mais previdentes". O Acordo Provisório, cujo texto, "dado o seu caráter experimental, foi consensualmente mantido confidencial, é o resultado de um diálogo aberto e construtivo".

Esta "atitude de diálogo, alimentada pelo respeito e pela amizade, é fortemente desejada e promovida" pelo Papa Francisco, que "está bem consciente das feridas trazidas à comunhão da Igreja no passado, e após anos de longas negociações, iniciadas e continuadas pelos seus antecessores e numa indubitável continuidade de pensamento com eles, restabeleceu a plena comunhão com os bispos chineses ordenados sem mandato pontifício e autorizou a assinatura do Acordo sobre a nomeação dos bispos, cujo projeto já tinha sido aprovado pelo Papa Bento XVI".

“Por parte de alguns setores da política internacional - lê-se ainda no artigo - foi feita uma tentativa de analisar o trabalho da Santa Sé, principalmente de acordo com uma hermenêutica geopolítica. Porém, no caso da estipulação do Acordo Provisório para a Santa Sé esta é uma questão profundamente eclesiológica". Além disto, "há a plena consciência" de que este diálogo "favorece uma procura mais frutífera do bem comum em benefício de toda a comunidade internacional".

Quanto aos resultados alcançados até agora, foram nomeados dois novos bispos, "enquanto vários outros processos para novas nomeações episcopais" estão em andamento. Embora, "estatisticamente, possa não parecer um grande resultado, ele representa, entretanto, um bom começo, na esperança de alcançar progressivamente outros objetivos positivos". Mesmo porque a emergência sanitária causada pela pandemia afetou os contactos entre as duas partes e a aplicação do Acordo.

"A aplicação do Acordo, com a participação efetiva é cada vez mais ativa do Episcopado chinês, está a ter, portanto, grande importância para a vida da Igreja Católica na China e, como resultado, para a Igreja universal. Neste contexto, existe também o objetivo pastoral da Santa Sé, de ajudar os católicos chineses, há muito divididos, a dar sinais de reconciliação, de colaboração e de unidade para uma proclamação renovada e mais eficaz do Evangelho na China".

"Devemos reconhecer - conclui o artigo - que ainda existem muitas situações de grande sofrimento. A Santa Sé está profundamente consciente disso, leva isso em conta e não deixa de chamar a atenção do governo chinês para encorajar um exercício mais frutífero da liberdade religiosa. O caminho ainda é longo e com muitas dificuldades". A Santa Sé espera que o Acordo Provisório e a prorrogação "contribuam para a solução das questões de interesse comum ainda em aberto, com particular referência à vida das comunidades católicas na China, assim como para a promoção de um horizonte internacional de paz, num momento em que vivemos numerosas tensões em nível mundial".   

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