27 agosto 2023

O Papa: Jesus está ao nosso lado, acompanha-nos nos caminhos mais difíceis

 
 
Jesus está vivo e acompanha-nos, está ao nosso lado, oferece-nos a sua Palavra e a sua graça, que nos iluminam e restauram no caminho: Ele, guia experiente e sábio, sente satisfação em acompanhar-nos nos caminhos mais difíceis e nas subidas mais inacessíveis: disse Francisco este 27 de agosto, no Angelus deste XXI Domingo do Tempo Comum
 

Raimundo de Lima – Vatican News

Jesus não quer ser um protagonista da história, mas do seu hoje, do meu hoje; não um profeta distante, Jesus quer ser o Deus próximo! Foi o que disse o Papa no Angelus neste Domingo, XXI do Tempo Comum, em que refletiu sobre o Evangelho do dia.

Quem sou eu para vós agora?

Na alocução que precedeu a oração mariana rezada com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, Francisco apresentou a pergunta que Jesus faz aos seus discípulos: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?"

Esta é uma pergunta que também podemos fazer : o que dizem as pessoas sobre Jesus? Em geral, coisas boas - ressaltou Francisco: muitos o veem como um grande mestre, como uma pessoa especial: boa, justa, coerente, corajosa... Mas isto é suficiente para entender quem é e, sobretudo, é suficiente para Jesus? Não.

De facto, prosseguiu o Pontífice, se Ele fosse apenas um personagem do passado - como as figuras mencionadas no Evangelho, João Batista, Moisés, Elias e os grandes profetas eram para as pessoas da época -, seria apenas uma bela lembrança de um tempo que se foi. E isso não agrada a Jesus. Por isso, seguidamente, o Senhor faz aos discípulos a pergunta decisiva: "Mas vós, quem dizeis que eu sou?" Quem sou eu para vós agora?

Jesus está vivo e acompanha-nos

Cristo não é uma lembrança do passado, mas o Deus do presente. Se fosse apenas um personagem histórico, imitá-lo hoje seria impossível: nós nos encontraríamos diante da grande vala do tempo e, sobretudo, diante do seu modelo, que é como uma montanha altíssima e inalcançável, querendo escalá-la, mas sem a capacidade e os meios necessários.

Em vez disso, ressaltou o Santo Padre, Jesus está vivo e acompanha-nos, está ao nosso lado, oferece-nos a sua Palavra e a sua graça, que nos iluminam e restauram no caminho: Ele, guia experiente e sábio, sente satisfação em acompanhar-nos nos caminhos mais difíceis e nas subidas mais inacessíveis.

Queridos irmãos e irmãs, na estrada da vida não estamos sozinhos, porque Cristo está connosco e ajuda-nos no nosso caminho, como fez com Pedro e os outros discípulos. É justamente Pedro, no Evangelho de hoje, que entende isto e, pela graça, reconhece em Jesus "o Cristo, o Filho do Deus vivo": não um personagem do passado, mas o Cristo, ou seja, o Messias, aquele que é esperado no presente; não um herói morto, mas o Filho do Deus vivo, feito homem e que veio compartilhar as alegrias e as fadigas do nosso caminho.

Estendamos a mão uns aos outros

Não desanimemos, portanto, se às vezes o cume da vida cristã parecer muito alto e o caminho muito íngreme. Olhemos para Jesus, que caminha ao nosso lado, que acolhe as nossas fragilidades, compartilha os nossos esforços e apoia seu braço firme e gentil nos nossos ombros fracos. Com Ele por perto, também nós estendamos a mão uns aos outros e renovemos a nossa confiança: com Jesus, o que sozinhos parece impossível não o é mais!

Hoje far-nos-á bem repetir a pergunta decisiva que sai de sua boca: "Vós quem dizeis que eu sou?". Por outras palavras: quem é Jesus para mim? Um grande personagem, um ponto de referência, um modelo inatingível? Ou o Filho Deus, que caminha ao meu lado, que pode levar-me vivo na minha vida, Ele é meu Senhor? Eu confio-me a Ele nos momentos de dificuldade? Cultivo sua presença por meio da Palavra e dos Sacramentos? Deixo-me guiar por Ele, junto com os meus irmãos e irmãs, na comunidade?

Maria, Mãe do caminho, ajude-nos a sentir teu Filho vivo e presente ao nosso lado, concluiu o Papa.

VN

25 agosto 2023

O Papa aos jovens russos: sejam artesãos da paz, no meio dos conflitos

 
O Papa em conexão com o 10º Encontro Nacional de Jovens Católicos em São Petersburgo, Rússia (Vatican Media)
 
Francisco falou nesta sexta-feira, 25 de agosto, através de conexão vídeo, na Jornada da juventude russa, que começou há três dias em São Petersburgo. Para os participantes reunidos na Basílica de Santa Catarina, na cidade russa, convidou-os a serem "semeadores de sementes de reconciliação, pequenas sementes que, neste inverno de guerra, não brotarão no solo congelado por enquanto, mas florescerão numa futura primavera"
 

Antonella Palermo – Vatican News

Quase 2.500 quilómetros em linha reta, mas isso não foi obstáculo para estar "um pouco juntos". Por pouco mais de uma hora, o Papa Francisco interagiu à distância com cerca de 400 jovens rapazes e moças que estão a participar no 10º encontro nacional de jovens católicos da Rússia, em São Petersburgo, até 27 de agosto. O Pontíficer ouviu deles dois testemunho, fez-lhes um discurso e respondeu espontaneamente (isto é, sem texto) a algumas perguntas, desde o papel da diplomacia nos conflitos até como viver as uniões matrimoniais apesar de pertencerem a diferentes confissões.

Encontrarem-se unidos sob o manto da Igreja universal

A preciosidade dessas jornadas, realizadas desde 2000 e organizadas este ano pela primeira vez em São Petersburgo, é grande, e o Papa alegra-se por isso. Acima de tudo, ele expressa a sua admiração ao saber que alguns participantes tiveram que viajar até mesmo 9.000 quilómetros para chegar lá: "Isto é lindo", disse ele, acrescentando que é um sinal da unidade da juventude da Rússia como um todo. De facto, encontram-se reunidos alí, participantes de 54 cidades da Federação, de Kaliningrado a Vladivostok, mas graças à tecnologia "podemos abraçar-nos no Espírito que nos é dado, como o abraço de Maria a Isabel", disse dom Paolo Pezzi, arcebispo da Mãe de Deus em Moscovo, na sua saudação introdutória. Este encontro é uma das poucas oportunidades de nos conhecermos, de compartilharmos testemunhos de fé; a comunicação com o Papa traz uma alegria especial, ressaltou ele no início, porque se pode experimentar não apenas a unidade dentro da Igreja local, mas também a unidade com a Igreja universal.

Substituam os medos pelos sonhos

Dirigindo-se aos jovens russos, depois de ouvir os dois testemunhos de Alexander e Varvara, o Papa retomou três ideias em torno do lema da JMJ de Lisboa, "Maria levantou-se e partiu apressadamente" (Lc 1,39), para que possam, disse, trabalhar mais sobre ele.

Desejo a vós, jovens russos, a vocação de serem artesãos da paz no meio de tantos conflitos e de tantas polarizações que vêm de todos os lados e que assolam o nosso mundo. Convido-vos a serem semeadores de sementes de reconciliação, pequenas sementes que, neste inverno de guerra, não brotarão no solo congelado por enquanto, mas florescerão numa futura primavera. Como eu disse em Lisboa: 'Tenham a coragem de substituir os medos por sonhos; substituam os medos por sonhos, não sejam administradores de medos, mas empreendedores de sonhos! Deem-se ao luxo de sonhar grande!

Francisco retomou o episódio do encontro entre Maria e Isabel. Lembrou que o Senhor chama pelo nome, antes dos talentos que temos, antes dos nossos méritos, "antes das nossas trevas e feridas". Lembrou dessas duas mulheres "tornando-se testemunhas do poder transformador de Deus", recordando a pressa de Maria em espalhar a sua alegria.

Quando Deus nos chama, não podemos ficar parados, devemo-nos levantar e com pressa, porque o mundo, o irmão, o sofredor, aquele que está ao lado e não conhece a esperança de Deus precisa recebê-la, precisa de receber a alegria de Deus. Levanto-me apressadamente para levar a alegria de Deus.

O amor de Deus é para todos

O amor de Deus pode ser reconhecido pela sua hospitalidade: Deacolhe sempre, cria espaço para que todos possam encontrar um lugar, sacrifica-se pelo outro, está atento às necessidades do outro.

O Papa ressaltou que "o amor de Deus é para todos e a Igreja é de todos" e exortou a recordar o Evangelho onde se conta o convite do dono do banquete nas encruzilhadas para levar o Evangelho a todos: "Eis o que Jesus queria dizer: todos, todos, todos”.

A Igreja é uma mãe de coração aberto que sabe como acolher e receber, especialmente aqueles que precisam de mais cuidados. A Igreja é uma mãe amorosa, porque é o lar daqueles que são amados e daqueles que são chamados. Quantas feridas, quanto desespero podem ser curados onde alguém se sente acolhido. E a Igreja acolhe-nos. É por isso que sonho com uma Igreja onde ninguém esteja em excesso, onde ninguém seja extra. Por favor, que a Igreja não seja uma alfândega para selecionar quem entra e quem não entra. Não: todos, todos. A entrada é gratuita e, então, cada um ouve o convite de Jesus para segui-lo, para ver como está diante de Deus; e para esse caminho há os ensinamentos e os sacramentos.

Jovens e idosos abram-se uns aos outros

Também nesta circunstância, o Papa retomou a ideia que lhe é cara de diálogo entre jovens e idosos e a importância da transferência de experiência que deve ocorrer. Voltou ao encontro entre Maria e Isabel, que é o sonho. Convidou a sermos "construtores de pontes entre gerações, reconhecendo os sonhos" dos antecessores, dos avós. "A aliança entre gerações mantém viva a história e a cultura de um povo". Ele insistiu na importância de ser "um sinal de esperança, paz e alegria, como Maria". Imitando a humildade dela, "vocês também", disse ele, "podem mudar a história em que vivem".

Assim, os idosos sonham com a democracia e a unidade das nações, enquanto os jovens profetizam e são chamados a ser artesãos do meio ambiente e da paz. Isabel, com a sabedoria dos seus anos, era idosa; ela fortaleceu Maria, que era jovem e cheia de graça, guiada pelo Espírito.

VN

24 agosto 2023

A CORRIDA DA FÉ



Um destes dias vi na televisão, (naquelas passagens rápidas pelos diversos canais), uma prova de atletismo em que o último atleta vinha com um enorme atraso em relação aos outros, mas mesmo assim não desistiu de alcançar a meta.

Fiquei com aquela imagem no pensamento e reflecti sobre ela, sobre o que é poderia retirar dela para a minha vivência diária da Fé.

Muitas vezes me incomodam, (confesso que poderia dizer que quase me irritam, infelizmente), as pessoas que, apesar de fazerem formações e cursos em Igreja, permanecem num desconhecimento das “coisas” da Fé, continuando a viver “agarradas” a práticas ancestrais, a piedades ditas populares, sem darem, (julgo eu), o salto em frente para, (segundo as minhas certezas), poderem encontrar o caminho de Deus em Igreja.

Devo dizer que nada tenho contra práticas que sempre foram Tradição da Igreja, nem contra as piedades populares vividas com sinceridade e entrega.

Fiquei então a pensar nessas pessoas, cristãos como eu, e percebi, ou melhor, julgo perceber a analogia com a imagem do atleta que chega em último lugar, muito depois de os outros já terem chegado.

No fundo o que interessa é chegar à meta, (claro que o objectivo de uma prova de atletismo é vencer, mas não estou a escrever sobre essas provas), e, obviamente, dentro das regras da prova, ou seja, na mesma pista em que todos os outros correm e seguindo os mesmos regulamentos.

Ora na nossa “corrida” da Fé, a nossa “pista de corrida” é a Igreja e os nossos “regulamentos” são a Palavra de Deus e a Doutrina da Igreja.

E o que interessa nesta “corrida” da Fé é alcançar a meta, ou seja, o encontro pessoal com Cristo que nos leva à salvação.

Mas o mais interessante nesta “corrida” da Fé, é que o Cristo que queremos “alcançar”, “corre” connosco, “empurra-nos”, dá-nos a mão, e em todos os momentos da “corrida”, exorta-nos para não desistirmos.

E ainda melhor, porque Ele já “alcançou” a “meta” para nós, ou seja, já nos deu a salvação.
Nós “apenas” temos que a aceitar, vivendo a “corrida” da Fé na “pista” que é a Igreja, segundo os “regulamentos” que são a Palavra de Deus e a Doutrina da Igreja.

Assim percebe-se que aquele que vai em último, se não desistir, (como aquele atleta não desistiu), chega à “meta” também, ou seja, “alcança” a salvação como todos os outros.

Os mais “simples” fazem o seu caminho e eu muitas vezes julgo-os.
Mas não disse Jesus Cristo que o Reino dos Céus é das criancinhas e daqueles que se fazem como crianças?

Então, o que eu e todos nós que nos dizemos cristãos temos que fazer, é “correr” todos no mesmo sentido, sem nos preocuparmos em chegar primeiro, mas sim, e muito mais importante, nos ajudarmos uns aos outros a chegar à meta, nem que tenhamos de ficar para trás, para levar “aos ombros” os que mais se atrasam ou têm mais dificuldade em “correr”.

Se assim fizermos, seremos Igreja, sem dúvida, e Cristo que “corre” connosco, impulsiona-nos pelo Espírito Santo, até chegarmos aos braços de amor do Pai.



Monte Real, 24 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves
 

23 agosto 2023

O Papa: para anunciar não basta dar testemunho do bem, é preciso saber suportar o mal

 
 
Em vez do caminho da inculturação, tomou-se muitas vezes o percurso apressado do transplante e da imposição de modelos pré-constituídos, sem respeito pelas populações indígenas. A Virgem de Guadalupe, pelo contrário, aparece vestida com as roupas dos autóctones, fala na sua língua, acolhe e ama a cultura local: ela é Mãe e sob o seu manto cada filho encontra lugar: disse o Papa na audiência geral desta quarta-feira em que destacou a figura de São Juan Diego, mensageiro da Virgem de Guadalupe
 

Raimundo de Lima – Vatican News

Na audiência geral desta quarta-feira, 23 de agosto, numa Sala Paulo VI repleta de fiéis e peregrinos, o Papa retomou o percurso catequético sobre a paixão por evangelizar. Neste percurso para redescobrir a paixão pelo anúncio do Evangelho, na catequese que teve como título O anúncio na língua materna: são Juan Diego, mensageiro da Virgem de Guadalupe, Francisco lançou o seu olhar para as Américas.

Ali a evangelização tem uma fonte sempre viva: Guadalupe. É uma fonte viva. Os mexicanos alegram-se. Certamente o Evangelho já lá tinha chegado antes daquelas aparições, mas infelizmente foi acompanhado também por interesses mundanos. Em vez do caminho da inculturação, observou o Pontífice, tomou-se muitas vezes o percurso apressado do transplante e da imposição de modelos pré-constituídos - europeus, por exemplo -, sem respeito pelas populações indígenas. A Virgem de Guadalupe, pelo contrário, aparece vestida com as roupas dos autóctones, fala a sua língua, acolhe e ama a cultura local: Maria é Mãe e sob o seu manto cada filho encontra lugar.

Em Maria, Deus fez-se carne e, através de Maria, continua a encarnar-se na vida dos povos. Nossa Senhora, de facto, anuncia Deus na língua mais adequada, a língua materna. E também a nós Nossa Senhora fala-nos na língua materna, que nós entendemos muito bem, continuou o Santo Padre.

 

Um dos momentos da audiência geral desta quarta-feira, 23 de agosto (Vatican Midia)

 

As mães e as avós, as primeiras evangelizadoras

O Evangelho é transmitido na língua materna. E gostaria de dizer obrigado a tantas mães e avós que o transmitem aos seus filhos e netos: a fé passa com a vida, por isso as mães e as avós são as primeiras anunciadoras. Um aplauso às mães e avós! E o Evangelho comunica-se, como mostra Maria, na simplicidade: Nossa Senhora escolhe sempre os simples, na colina de Tepeyac, no México, como em Lourdes e em Fátima: falando-lhes, fala a cada um, numa linguagem adequada a todos, com uma linguagem compreensível, como a de Jesus.

Refletindo sobre o testemunho de São Juan Diego, mensageiro da Virgem de Guadalupe, Francisco destacou que ele era uma pessoa humilde, um índio do povo: sobre ele pousou o olhar de Deus, que gosta de fazer milagres através dos mais pequeninos. Juan Diego entrou na fé já adulto e casado, observou o Papa.

Em dezembro de 1531, tinha cerca de 55 anos. Enquanto estava a caminho, vê numa altura a Mãe de Deus, que lhe chama com ternura «meu pequeno e amado filho Juanito». Depois envia-o ao Bispo para pedir que construa um templo no lugar onde ela tinha aparecido. Juan Diego, simples e disponível, vai com a generosidade do seu coração puro, mas tem de esperar muito tempo. Finalmente fala com o Bispo, que não acredita nele. E muitas vezes nós bispos... muitas vezes... Volta a encontrar Nossa Senhora, que o consola e pede-lhe que tente de novo. O índio volta ao Bispo e, com grande dificuldade, encontra-o, mas o Bispo, depois de o ouvir, despede-o e envia homens para o seguirem. Eis a fadiga, a prova do anúncio: não obstante o zelo, chegam os imprevistos, por vezes da própria Igreja.

 

Um dos momentos da audiência geral desta quarta-feira, 23 de agosto (Vatican Midia)

 

Um cristão faz o bem, mas suporta o mal

Para anunciar, com efeito, não basta dar testemunho do bem, é preciso saber suportar o mal. Não nos esqueçamos isto: é muito importante, para anunciar o Evangelho não basta testemunhar o bem, mas é preciso saber suportar o mal. Um cristão faz o bem, mas suporta o mal. Ambos caminham juntos, a vida é assim. Ainda hoje, em tantos lugares, inculturar o Evangelho e evangelizar as culturas exige perseverança e paciência, não temer os conflitos, não desanimar.

Juan Diego, desanimado, pede a Nossa Senhora que o dispense e que encarregue alguém mais estimado e capaz do que ele, mas é instado a perseverar. Francisco ressaltou que há sempre o risco de uma certa rendição no anúncio: uma coisa não corre bem e recua-se, desanimando e talvez refugiando-se nas próprias certezas, em pequenos grupos e nalgumas devoções intimistas. Nossa Senhora, pelo contrário, ao mesmo tempo que nos consola, faz-nos ir em frente e assim nos faz crescer, como uma boa mãe que, seguindo os passos do filho, o lança nos desafios do mundo.

O Bispo, que tinha dificuldade em acreditar, vendo a insistência do indígena, pede um sinal. Apesar de ser inverno, o indígena recolhe na sua “tilma” lindas flores que encontra no alto do Tepeyac. Diante do Bispo, ao abrir o manto onde trazia as flores, eis que aparece a imagem de Nossa Senhora, que conhecemos e veneramos até hoje.

 

Um dos momentos da audiência geral desta quarta-feira, 23 de agosto (Vatican Midia)

 

Nossa Senhora escuta os nossos prantos e cura as nossas penas

Juan Diego deixa tudo e, com a autorização do Bispo, dedica a sua vida ao santuário. Acolhe os peregrinos e evangeliza-os.

É o que acontece nos santuários marianos, meta de peregrinações e lugares de anúncio, onde todos se sentem em casa e experimentam a saudade, a nostalgia do Céu. Ali, a fé é acolhida de forma simples e genuína, popular, e Nossa Senhora, como disse a Juan Diego, escuta os nossos prantos e cura as nossas penas.

Precisamos de ir a estes oásis de consolação e de misericórdia - exortou, por fim, Francisco -, onde a fé se exprime numa linguagem materna; onde depositamos as fadigas da vida nos braços de Nossa Senhora e regressamos à vida com a paz no coração, talvez com a paz das crianças.

 

Na audiência geral, dois líderes espirituais da comunidade Yawanawa, na Amazónia, se encontram com o Papa (Vatican Media)

VN

22 agosto 2023

CONVERSAS NO CAMINHAR III



 
 
 Provocação - E a Igreja? O que é para ti a Igreja?

Reflexão - Queres que te responda com o conhecimento formal, ou queres que te responda com o coração, com o sentir, com o viver?


P - Claro que com a segunda forma, visto que a primeira já a sabemos definir com a Doutrina, com o Catecismo, com tudo que é ensinado pela própria Igreja.

R - A Igreja, de uma certa forma, é para mim, passe a imagem redutora, um ninho!
Num ninho os passaritos recém-nascidos estão protegidos, têm o calor de que necessitam, são alimentados, os pais tratam deles com todos os cuidados.
Mas depois de crescerem no ninho partem para os seus voos, primeiro incertos, (e os pais têm que os fazer regressar ao ninho), e depois mais ousados, levando-os para outras paragens, onde irão também fazer os seus ninhos. Sinto-me assim muitas vezes em Igreja e sendo Igreja.


P - Mas isso é muito redutor, porque os passaritos apenas crescem, mas digamos que em nada contribuem para o seu ninho a não ser com a sua presença nele.

R - Claro que sim, tens toda a razão. Mas eu falava-te da Igreja num sentimento de ternura, de carinho, de protecção, de mãe, enfim, mas também de envio e proclamação da Boa Nova.


P - É bonita essa imagem, sem dúvida, mas abarca toda a Igreja?

R - Claro que não. A Igreja é para mim muito mais do que isso.
É presença da paternidade de Deus, no Sacramento do Baptismo.
É presença viva de Jesus, muito especialmente no Sacramento da Eucaristia.
É presença constante do Espírito Santo, no Sacramento da Confirmação.
É presença do perdão de Deus, pelas mãos dos seus sacerdotes agindo “in persona Christi”, no Sacramento da Penitência.
É presença do poder de Deus, no Sacramento da Unção dos Doentes.
É presença do amor de Deus em tudo, mas muito especialmente no Sacramento do Matrimónio.
É presença da entrega total de Deus e a Deus, na dádiva do Sacramento da Ordem.


P - Esses são os sete Sacramentos da Igreja.

R - Sim, mas a Igreja vai para além deles. É uma comunidade que é família, família de Deus.
Se cada um daqueles que é Igreja, meditasse e vivesse de acordo com a imagem de São Paulo do Corpo Místico de Cristo, poderíamos perceber/viver a Igreja como a mais bela “organização” fundada por Deus e feita pelo Homem.
Com efeito, se o Homem vivesse o ser Igreja como pertencendo realmente ao Corpo de Cristo, como poderia o Homem não se preocupar com aqueles que sofrem e constituem o mesmo Corpo em Cristo, como nos ensina São Paulo?


P - Mas mesmo aqueles que não pertencem à Igreja, que não são baptizados ou que até rejeitam a Igreja?

R - Claro que sim! Deus não faz acepção de pessoas e as portas da Igreja estão abertas para todos como o coração de Cristo está aberto para todos.
Cristo não morreu apenas por aqueles que estão ou são Igreja. Cristo morreu pelo Homem.
Então a missão daqueles que são Igreja é chamar os que o não são a encontrarem o Cristo vivo, que deu a vida por todos e a todos quer salvar.
Ninguém pode descansar enquanto souber que alguém ainda não ouviu falar de Cristo ou que ainda não se quer encontrar com Ele.


P - Mas e se alguém não se quer encontrar com Cristo, se alguém O rejeita, mesmo?

R - Não nos compete julgar e muito menos condenar. Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para chegar até esses homens, com os nossos gestos, as palavras que Deus colocar em nós, o testemunho do amor de Deus em nós.
Devemos ser portadores em nós e connosco da alegria do encontro pessoal com Cristo e como esse encontro transforma a vida, como esse encontro se transforma em vida e “vida em abundância”.


P - Mas esse é um encontro real?

R - Claro que é um encontro real!
A realidade nem sempre é mensurável, nem sempre é visível aos olhos humanos, nem sempre é palpável, mas é sempre sentida, reconhecida e vivida.
Quando desejamos e temos esse encontro pessoal com Jesus Cristo tudo se transforma, pois Ele sente-se próximo, mais, sente-se em nós, (e nos outros), tudo toma a dimensão verdadeira da criação de Deus, e assim, a nossa relação deixa de ser uma relação distante ou rotineira, para passar a ser uma relação constante, em que O sentimos em tudo, em todos e por isso, O reconhecemos no amor e na entrega.
Mais ainda, nessa relação pessoal com Cristo, abrem-se os “olhos do coração”, os “olhos do ser”, e assim podemos ver Jesus Cristo na Eucaristia e dEle nos podemos alimentar inteiramente por Sua graça.


P - E o que fazer para ter essa relação pessoal com Jesus Cristo?

R - Ah, se houvesse fórmulas, preceitos, normas, regras! Se houvesse um manual, um compêndio, um qualquer código! Mas não há!
Para além de tudo o que sabemos da perseverança na oração, da resistência à tentação e ao pecado, da vivência em Igreja, da presença viva de Jesus Cristo nos Sacramentos e na Palavra, da nossa vontade de fazer a Sua vontade, há “apenas” a nossa entrega, confiante, esperançosa e sobretudo a abertura permanente ao Espírito Santo que nos revela Jesus Cristo e o Pai se por Ele nos deixarmos iluminar e conduzir.


P - E depois?

R - Depois é um caminhar, ou mais do que um caminhar, é um viver e amar para melhor conhecer, e conhecendo melhor, amar ainda mais.
Uma relação entre pessoas torna-se cada vez mais forte à medida que as pessoas se conhecem, conhecem melhor os desejos e vontades do outro, à medida que cada vez mais dialogam de tal modo que muitas vezes no silêncio entre ambos se conseguem escutar um ao outro e perceber o que ambos querem dizer, nada dizendo.
Ora se entre nós, humanos assim é, quanto mais numa relação com Jesus Cristo, com Deus, que sendo perfeito nos quer aproximar da perfeição e por isso torna mais perfeita essa relação de tal modo que a relação em si, se torna vida para aquele que se aproxima de Cristo.
E nesta relação pessoal com Jesus Cristo, podemos dizer que “metade” do caminho está sempre feito, porque Ele nos conhece melhor do que nós nos conhecemos e, portanto, o nosso “contributo” para essa relação é sempre e cada vez mais, não darmo-nos a conhecer, mas sim querer conhecê-lO sempre e cada vez mais.


P - Parece que nos afastámos da conversa inicial que era afinal sobre a Igreja.

R - Sim, pode parecer que sim, mas a verdade é que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, a cabeça da Igreja é Cristo, o centro da Igreja é Cristo e só em Cristo a Igreja vive e é o que Cristo quer que Ela seja.
Assim, só nesta relação pessoal com Cristo, somos verdadeiramente Igreja, ou seja, a Igreja deixa de ser algo fora de nós ou uma questão de pertença, para passar a ser o nosso próprio ser, para passar a ser a relação de amor com Deus e com os homens, com Cristo, por Cristo e em Cristo.




Marinha Grande, 22 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves
 

20 agosto 2023

O Papa: “quem ama sabe mudar, deixa-se mover e comove-se"

 Papa Francisco - Angelus  (Vatican Media) 
 

O Papa Francisco rezou o Angelus deste domingo na Praça de São Pedro, repleta de fiéis e peregrinos de todas as partes do mundo, apesar do forte calor europeu. Comentou o episódio evangélico da mulher cananeia.
 

Silvonei José - Vatican News

"Quem ama não permanece nas próprias posições, mas deixa-se mover e comover; sabe como mudar os seus programas. O amor é criativo. E nós, cristãos, se quisermos imitar Cristo, somos convidados à disponibilidade da mudança”. Foi o que disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo na Praça de São Pedro, repleta de fiéis e peregrinos de todas as partes do mundo, apesar do forte calor europeu. Na sua alocução comentou o episódio evangélico da mulher cananeia.

Como faz bem nos nossos relacionamentos, - disse Francisco - mas também na vida de fé, ser dócil, realmente ouvir, ser carinhoso em nome da compaixão e do bem dos outros, como Jesus fez com a mulher cananeia. “A docilidade para mudar".

A este respeito, o Pontífice enfatizou: "aqui está a concretude da fé, que não é uma etiqueta religiosa, mas um relacionamento pessoal com o Senhor. Quantas vezes caímos na tentação de confundir a fé com uma etiqueta. A fé da mulher cananeia não é feita de etiqueta teológica, mas de insistência; não de palavras, mas de oração. E Deus não resiste quando se reza a ele".

 Angelus Praça São Pedro 

Vemos que Jesus muda a sua atitude, - disse o Papa - e o que o faz mudar é a força da fé da mulher. Francisco detém-se então brevemente em dois aspetos: a mudança de Jesus e a fé da mulher.

A mudança de Jesus. Ele estava a diriginr a sua pregação ao povo eleito; depois, o Espírito Santo levaria a Igreja até os confins da terra. Mas aqui, poderíamos dizer, ocorre uma antecipação, pela qual, no episódio da mulher cananeia, a universalidade da obra de Deus já se manifesta.

E nós, cristãos, se quisermos imitar Cristo, somos convidados a estar prontos para a mudança.

Vejamos então a fé da mulher, que o Senhor elogia, dizendo que é "grande". Para os discípulos, apenas a insistência dela parece grande; em vez disso, Jesus vê a fé. Se pensarmos bem,  - disse ainda o Papa - aquela mulher estrangeira provavelmente sabia pouco, ou quase nada, sobre as leis e os preceitos religiosos de Israel. Em que, então, consiste a sua fé? Ela não é rica de conceitos, mas de factos: a mulher cananeia aproxima-se, prostra-se, insiste, mantém um diálogo íntimo com Jesus, supera todos os obstáculos para falar com ele. 

"À luz de tudo isto, podemo-nos fazer algumas perguntas", acrescentou Francisco. Começando com a mudança de Jesus: sou capaz de mudar de opinião? Sou capaz de ser compreensivo e compassivo ou permaneço rígido nas minhas posições? E a partir da fé da mulher, disse ainda o Papa: como está a minha fé? Ela limita-se a conceitos e palavras, ou é realmente vivida, com a oração e as ações? Sei dialogar com o Senhor, insistir com Ele, ou contento-me em recitar alguma fórmula bonita?".

“Que Nossa Senhora nos torne disponíveis ao bem e concretos na fé", finalizou o Papa. 
 
VN

15 agosto 2023

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA (2023)


 
 
 
 
Meu querido Filho, manda-me ir ter contigo.

Mas porquê, Mãe, não estás bem na terra junto dos filhos todos que te dei?

Estou, meu Filho, bem o sabes, mas queria estar mais junto de Ti, aí no Céu, para Te pedir constantemente por eles.

Mas, Mãe, sabes bem que Eu dei tudo por eles, até a minha vida.

Eu sei, meu Filho, e também eles sabem, mas nem todos, infelizmente, e mesmo aqueles que sabem, muitos não acreditam verdadeiramente.

E achas tu, minha Mãe, que estando no Céu os podes guiar melhor?

Se eles me souberem junto de Ti, percebem que, mesmo sendo humanamente frágeis como eu era, podem sempre dizer sim, e com esse sim juntarem-se a Ti no paraíso.

Queres o melhor para todos eles, não é Mãe?

Meu Filho, só Tu é que sabes o que é melhor para todos eles, mas o meu coração de mãe, que Tu tão bem conheces, é assim, quer os todos junto de Ti, porque só em Ti encontram a verdadeira vida que Tu mesmo lhes deste.

Olha, Mãe, e se quando estiveres junto de Mim Eu te enviar para os visitares e lhes falares, tu vais?

Ó, meu Filho, quando Eu disse sim ao Pai, disse-o a Ti e ao Espírito Santo e disse-o para toda a vida, naquele tempo e na eternidade, por isso o que quiseres que eu faça envia-me a fazer, e eu apenas Te responderei: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra».

Então, Mãe, vem!
Entrega-te nas asas dos anjos e vem para junto de Mim, por toda a eternidade sem fim!



Marinha Grande, 15 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves
 

Papa no Angelus: como Maria, sirvo o próximo sem queixas e louvando a Deus?

 
  Francisco na oração mariana do Angelus deste dia 15 de agosto  
 
Neste 15 de agosto, de Solenidade da Assunção da Virgem Maria, Francisco refletiu sobre "o serviço e o louvor", inspirando-se em Nossa Senhora quando visitou a prima Isabel: "que nossa Mãe, Assunta ao Céu, nos ajude a subir cada dia mais alto por meio do serviço e do louvor", disse o Papa na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus. 
 

Andressa Collet - Vatican News

“Hoje, Solenidade da Assunção da Virgem Maria, contemplamos a sua ascensão em corpo e alma à glória do Céu.”

Neste 15 de agosto, como bem indicou o Papa Francisco na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus, a Igreja celebra o mistério da Assunção ao Céu da Mãe de Jesus, festa litúrgica. O facto dela ter sido elevada ao céu é motivo de júbilo, alegria e esperança para nós.

O caminho compartilhado por Jesus e Maria

E o Evangelho do dia (Lc 1:39), como comentou o Pontífice, motiva-nos a refletir sobre a grandeza do "alegre cântico do Magnificat", proclamado quando Nossa Senhora se colocou como servidora para ajudar a sua prima Isabel após "subir" por uma região montanhosa. Um caminho de "serviço ao próximo e louvor a Deus" de Maria, que o evangelista Lucas também narra sobre a vida de Cristo em direção a Jerusalém, "lugar da doação de si mesmo na cruz":

“Jesus e Maria, em suma, percorrem a mesma estrada: duas vidas que sobem em direção do alto, glorificando a Deus e servindo aos irmãos; duas vidas que vencem a morte e ressuscitam; duas vidas cujos segredos são o serviço e o louvor.”

O serviço ao próximo e o louvor a Deus

O Papa Francisco, então, procurou deter-se nesses dois aspetos: do serviço e do louvor. No primeiro o Pontífice descreveu como sendo "o amor que eleva a vida", já que quando nos abaixamos para servir alguém é que acabamo-nos elevando. Uma tarefa que "não é fácil" e não o foi nem mesmo para Nossa Senhora, bem lembrou o Papa, porque mesmo grávida chegou a viajar quase 150 Km até Nazaré na casa de Isabel.

"Ajudar custa! Nós também experimentamos isso, na fadiga, na paciência e nas preocupações que o cuidado com os outros acarreta. Pensemos, por exemplo, nos quilómetros que muitas pessoas percorrem todos os dias para ir e voltar do trabalho e realizar tarefas em prol do próximo; pensemos nos sacrifícios de tempo e sono para cuidar de um recém-nascido ou de uma pessoa idosa; e no compromisso de servir aqueles que não têm como retribuir, na Igreja como no voluntariado. É fadigoso, mas é subir em direção do alto, é ganhar o céu!"

"Mas o serviço corre o risco de ser estéril sem o louvor a Deus", afirmou Francisco. Basta observar a atitude de Maria que, mesmo cansada da viagem, louvou ao Senhor com o "cântico de júbilo" proclamando o Magnificat (cf. Lc 1,46-55). Louvor também expresso do ventre de Isabel, recordou o Papa:

"O louvor aumenta a alegria. O louvor é como uma escada: eleva os corações. O louvor eleva o espírito e supera a tentação de se abater. Como é bom louvar a Deus todos os dias, e também os outros! Como é bom viver de gratidão e de bênção em vez de lamentações e queixas, levantar o olhar em direção ao alto ao contário de ficar de mau humor!"

Assim o Papa orientou-nos para discernir sobre o melhor caminho a ser tomado, a exemplo de Maria que se colocou como servidora e, amando a Deus, sabia como louvá-Lo, reconhecendo e proclamando a Sua grandeza. Conseguimos inspirar-nos diariamente na Mãe de Jesus?

“Vamo-nos interrogar: vivo o meu trabalho eas minhas ocupações diárias mum espírito de serviço? Dedico-me a alguém gratuitamente, sem procurcar benefícios imediatos? Em suma, faço do serviço o 'trampolim' da minha vida? E pensando no louvor: sei, como Maria, exultar  Deus (cf. Lc 1:47)? Eu rezo abençoando o Senhor? E, depois de louvá-lo, espalho a sua alegria entre as pessoas que encontro? Que nossa Mãe, Assunta ao Céu, nos ajude a subir cada dia mais alto por meio do serviço e do louvor.”

VN

13 agosto 2023

Papa no Angelus: Confiemos em Jesus, o único que pode salvar-nos das tempestades da vida

 
 
Francisco rezou o Angelus com milhares de fiéis na Praça de São Pedro, encorajando-os a entregarem o "leme do barco da vida" a Jesus, o único que pode salvar-nos das tempestades.
 

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Eu entrego o lemo da minha vida a Jesus? Foi a pergunta que o Papa Francisco fez aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro para o Angelus dominical.

O Pontífice comentou o Evangelho do XIX Domingo do Tempo Comum, que narra um prodígio "especial" de Jesus: Ele, de noite, caminha sobre as águas do lago da Galileia ao encontro dos discípulos que estão a realizar a travessia de barco.

Por trás desse caminhar sobre as águas há uma mensagem não imediata a ser compreendida, explicou o Papa. Naquele tempo, com efeito, as grandes extensões de água eram consideradas moradas de forças malignas não domináveis pelo homem; especialmente se agitadas pela tempestade, os abismos eram símbolo do caos e evocavam as obscuridades dos ínferos.

Ao encontrarem-se bem no meio do lago, no escuro, os discípulos sentiram medo de se afundarem, de serem aspirados pelo mal. Eis então que chega Jesus, caminhando sobre as águas, ou seja, sobre aquelas forças do mal, e diz aos seus: «Coragem, sou eu, não tenhais medo!».

"Eis o sentido do gesto: as potências malignas, que nos assustam e não conseguimos dominar, com Jesus são imediatamente redimensionadas. Ele, caminhando sobre as águas, quer dizer-nos: 'Não tenham medo, eu domino os vossos inimigos'. Bela mensagem, domino os vossos inimigos, não as pessoas! Não são elas os inimigos, mas a morte, o pecado, o diabo: estes são inimigos das pessoas, os nossos inimigos. E Jesus espezinha esses inimigos por nós."

Francisco ressaltou que hoje, Cristo repete a cada um de nós: “Coragem, sou eu, não tenham medo!”. Coragem, ou seja, porque estou aqui, porque não estás mais sozinho nas águas agitadas da vida. Aos depararmo-nos em mar aberto e à mercê de ventos contrários, acrescentou o Papa, devemos fazer duas coisas que os discípulos fazem no Evangelho: eles invocam e acolhem Jesus.

Invocar e acolher Jesus

Na narração, Pedro caminha brevemente sobre as águas em direção a Jesus, mas depois assusta-se, afunda e grita: «Senhor, salva-me!».

"É bela esta oração, com a qual se expressa a certeza de que o Senhor pode salvar-mos, que Ele vence o nosso mal e os nossos medos, disse ainda o Papa, convidando os fiéis a repeti-la todos juntos três vezes: "Senhor, salva-me!".

Depois, os discípulos acolhem Jesus no barco. Diz o texto que, assim que entrou a bordo, «o vento acalmou-se». O Senhor sabe que o barco da vida, assim como o barco da Igreja, está ameaçado por ventos contrários e que o mar no qual navegamos está com frequência agitado.

Ele não nos preserva da fadiga de navegar, pelo contrário – destaca o Evangelho – impulsiona os seus a partir: isto é, convida-nos a enfrentar as dificuldades, para que também essas se tornem locais de salvação, ocasiões para encontrá-Lo. Ele, com efeito, nos nossos momentos de escuridão vem ao nosso encontro, pedindo para ser acolhido, assim como naquela noite no lago.

“Perguntemo-nos então: nos medos, nas dificuldades, como me comporto? Vou em frente sozinho, com as minhas forças, ou invoco o Senhor com confiança? E como vai a minha fé? Creio que Cristo é mais forte do que as ondas e os ventos contrários? Mas sobretudo: navego com Ele? Eu acolho-o, dou-lhe lugar no barco da minha vida, nunca só, sempre com Jesus, confio o leme a Jesus? Que Maria, mãe de Jesus, estrela do mar, nos ajude a procurar, nas travessias obscuras, a luz de Jesus.”

VN

09 agosto 2023

Papa: a JMJ mostra que é possível um mundo de irmãos, sem ódio e sem armas

 
 

O coração do Papa carrega muita gratidão a Deus pelo que foi visto e vivido em Portugal durante a 37ª JMJ, ocasião para também encontrar autoridades e Igreja local, além de uma breve peregrinação a Fátima: "enquanto na Ucrânia e e noutros lugares combate-se, e em certas salas escondidas planea-se a guerra, a JMJ mostra que outro mundo é possível". A mensagem dos jovens foi clara, disse Francisco: "será que os 'grandes da terra' a ouvirão?" "Quem tem ouvidos, ouça! Quem tem olhos, veja!"

 

Andressa Collet - Vatican News

Esta quarta-feira, 9 de agosto, marca a retomada das Audiências Gerais após a pausa de verão e também o retorno do Papa Francisco de Portugal. Até o último domingo (6), o Pontífice esteve no país por ocasião da 37ª Jornada Mundial da Juventude, ocasião para também encontrar as autoridades e a Igreja local, além de fazer uma breve peregrinação a Fátima.

Como de costume ao voltar de uma viagem apostólica, o Papa procurou partilhar com os fiéis da Sala Paulo VI a experiência de fé vivida no seio da juventude do mundo inteiro, em Lisboa. O evento foi sentido por todos como um presente de Deus, disse Francisco, já que aconteceu após a pandemia, um período que particularmente afetou o comportamento dos jovens. Com esta Jornada Mundial da Juventude, continuou Francisco, "Deus deu um 'empurrão' no sentido oposto", marcando "um novo início da grande peregrinação dos jovens em nome de Jesus".

A exemplo de Maria, colocar-se a serviço

E não é por acaso que isso aconteceu em Lisboa, recordou o Pontífice, "cidade voltada para o oceano, cidade-símbolo das grandes explorações marítimas". A JMJ de Lisboa foi um "movimento de corações e passos dos jovens de várias partes do mundo ao encontro de Jesus", nos caminhos do Evangelho e tomando como modelo a Virgem Maria. No momento mais crítico para ela, "levantou-Se e partiu apressadamente" (Lc 1,39). "Gosto muito de invocar Nossa Senhora neste aspeto: a Nossa Senhora 'apressada', que faz sempre as coisas com pressa, nunca nos deixa à espera, porque Ela é a mãe de todos", disse ainda o Papa.

“Maria, hoje, no terceiro milénio, guia a peregrinação dos jovens no seguimento de Jesus.”

"Como já tinha feito há um século justamente em Portugal, em Fátima, quando se dirigiu a três crianças, confiando-lhes uma mensagem de fé e esperança para a Igreja e para o mundo. Por isso, na JMJ, voltei a Fátima, ao local da aparição, e junto com alguns jovens doentes rezei para que Deus curasse o mundo das doenças da alma: o orgulho, a mentira, a inimizade, a violência. São doenças da alma e o mundo está doente com essas doenças. E renovamos a nossa consagração, a da Europa e a do mundo ao Imaculado Coração de Maria. Rezei pela paz porque há muitas guerras em todas as partes do mundo, muitas."

Nem férias e nem turismo, mas encontro com Cristo

Em Lisboa e na região metropolitana que acolheram os eventos oficiais, o Papa Francisco deparou-se sempre com multidões de jovens entusiastas e provenientes do mundo inteiro. Dos anos de preparação à JMJ, eles apresentavam-se prontos a partilhar as experiências vividas no âmbito local paroquial e a receber o chamamento de Deus, cada um ao seu modo:

"Não eram férias, uma viagem turística, nem mesmo um evento espiritual por si só; a JMJ é um encontro com Cristo vivo por intermédio da Igreja. Os jovens vão ao encontro de Cristo; é verdade que onde há jovens há alegria, há um pouco de tudo isto! A minha visita a Portugal, por ocasião da JMJ, beneficiou do ambiente festivo desta onda de jovens", reforçou Francisco.

Outro mundo é possível: quem tem ouvidos, ouça!

O coração do Papa carrega muita gratidão a Deus pelo que foi visto e vivido em Portugal neste início de agosto. Um pensamento especial ele também tem pela Igreja local que, em retribuição ao grande esforço feito para a organização e o acolhimento, deve receber "novas energias para lançar novamente as suas redes com paixão apostólica". Os jovens em Portugal já dão hoje uma mensagem clara ao mundo:

"Enquanto na Ucrânia e noutros lugares do mundo combate-se, e enquanto em certas salas escondidas planea-se a guerra, a JMJ mostrou a todos que outro mundo é possível: um mundo de irmãos e irmãs, onde as bandeiras de todos os povos tremulam juntas, uma ao lado da outra, sem ódio, sem medo, sem fechamentos, sem armas! A mensagem dos jovens foi clara: será que os 'grandes da terra' a ouvirão? É uma parábola para o nosso tempo, e ainda hoje Jesus diz: 'Quem tem ouvidos, ouça! Quem tem olhos, veja!' Esperamos que o mundo inteiro ouça esta Jornada da Juventude e veja esta beleza dos jovens indo adiante."

VN

NO RESCALDO DA JMJ










Seguiam os dois de mão dada no autocarro de volta à sua terra, ainda com um sorriso “meio tolo” nos seus rostos.

O João olhou para a Isabel com aquele olhar de quem ama um amor sempre novo e disse:
Gostei tanto de estar ali com tanta malta como nós e com o Papa!

A Isabel olhou para ele enternecida, apertou-lhe ainda mais a mão e respondeu:
Também eu, João, também eu!

Fez-se um silêncio entre os dois, apesar do barulho feito por tantos jovens naquele autocarro e deixaram-se ficar assim, de mãos dadas, olhando um para o outro com uma felicidade que não sabiam perceber … ainda.

A Isabel cortou o silêncio para dizer:
E agora? Agora o que vamos fazer?

O João olhou-a e respondeu:
Sei lá! Se calhar temos que perceber bem o que o Papa nos disse! Ele disse para não termos medo, mas isso já Jesus dizia naquele tempo, há muito tempo.

E tu tens medo?
Perguntou a Isabel.

Não sei bem, disse o João, acho que tenho algum receio do futuro, mas de Deus sinto que não tenho medo.

É como eu! Sinto que Deus nos ama, que Jesus está connosco, mas quando olho para a frente tenho um pouco de medo do que aí possa vir.

O João pensou um pouco e disse:
Sabes, eu acho que o Papa queria dizer que não devíamos ter medo de ser cristãos, de ser católicos, de ser Igreja, porque se o formos verdadeiramente, Jesus está connosco e nada de verdadeiramente importante nos há-de faltar.

A Isabel riu-se com vontade e respondeu:
Não te conhecia esses “dotes” de fé!

E acrescentou:
Estou a brincar, mas a verdade é que a mim também me tocaram aqueles dias, aquelas celebrações, sobretudo a presença de unidade, de amor, que só Deus pode fazer sentir em tanta gente.

Mais uma vez o silêncio tomou conta deles apesar do “tumulto” que tantos jovens faziam no autocarro.

E agora, João?
Perguntou a Isabel, retomando a conversa interrompida.

O João olhou para ela, apertou a mão com força e disse:
Só podemos ter duas atitudes. Ou continuamos assim, a fazer as nossas vidas tipo um poucochinho em Igreja ou assumimos a fé que nos foi dada, e vivemo-la com a força que nos vem de Deus.

A Isabel tomando coragem, respondeu-lhe:
Mal puder, quando chegarmos, vou-me confessar e recomeçar a partir daí.

O João anuiu e disse que ela não iria só porque essa era também a sua intenção.

De mãos dadas em silêncio, mais uma vez, viveram aquele momento como algo que começava verdadeiramente nas suas vidas.

Quase ao mesmo tempo, olhando um para o outro perguntaram-se:
E o todos, todos, todos?

Ah, João, temos que acolher aqueles que não vivem como nós, ou melhor, que não pensam como nós, que têm outras maneiras de sentir a vida, desde a espiritualidade até mesmo ao sexo, e acolhê-los, fazendo-os sentir que a Igreja é de todos.

Sim, Isabel, é verdade, mas temos que mostrar com as nossas vidas que Jesus chama todos, mas que depois compete a cada um aceitar o chamamento de Cristo com tudo o que esse caminho contém.

Meu querido João, a nós compete-nos tão só mostrar com as nossas vidas e o nosso proceder que Deus a todos ama por igual e a todos chama para Ele, depois cada um perante esse chamamento responde conforme a sua vontade, porque Deus nada impõe, “apenas” ensina como viver e “apenas” ama!

Sabes, Isabel, acho que o nosso amor vem de Deus e se Deus nos ama e nos faz amar um ao outro, temos que nos servir desse amor para amar também os outros e ajudá-los a encontrarem o mesmo amor com que nós amamos e que, afinal, é o amor de Deus em nós.

Deram um beijo, reclinaram-se nos assentos do autocarro e ficaram a olhar para um “nada” que afinal estava repleto de Deus.



Marinha Grande, 9 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves
 

06 agosto 2023

JMJ 2023 - O Papa: em Fátima rezei pela paz sem publicidade | Videos da Jornada | Fotos | Notícias


 
No voo de regresso de Lisboa, Francisco explicou aos jornalistas por qual motivo escolheu rezar em silêncio no santuário e deixar de lado os discursos preparados aos jovens e falar com eles de forma mais eficaz. Reafirmou a "tolerância zero" em relação aos abusos contra menores. Explicou os motivos da viagem a Marselha e repetiu que a Igreja está aberta a todos, mesmo para aqueles que não podem receber alguns sacramentos. E mais: “A minha saúde está bem”
 

Vatican News

“Boa noite e muito obrigado por esta experiência. Hoje, há um aniversário. Parabéns, depois chegará o bolo!” 

Estas foram as primeiras palavras dirigidas aos jornalistas presentes no voo papal de regresso a Roma na tradicional conferência de imprensa no avião. O aniversário anunciado pelo Pontífice era o de Rita Cruz.

A primeira pergunta foi feita pela veterana das viagens pontifícias, Aura Miguel, da Rádio Renascença.

Santidade, antes de tudo obrigado pela sua visita a Portugal. Todos já a consideravam um sucesso. Todos muito contentes. Obrigado por ter vindo. Encontrei um alto chefe da polícia, que me disse nunca ter visto uma multidão assim obediente e pacífica. Foi belíssimo. A minha pergunta diz respeito a Fátima. Nós sabemos que o senhor foi ali e rezou em silêncio na capelinha. Porém, havia uma grande expetativa, no local justamente onde Nossa Senhora fez um pedido para rezar pelo fim da guerra (e estamos em guerra neste momento infelizmente) de uma renovação da parte do Santo Padre, publicamente, de uma oração pela paz. Os olhos de todo o mundo estavam fixados sobre o senhor ontem pela manhã, em Fátima. Por que não o fez?

Rezei, rezei. Rezei a Nossa Senhora e rezei pela paz. Não fiz propaganda. Mas rezei. E devemos continuamente repetir esta oração pela paz. Ela, na Primeira Guerra Mundial, tinha pedido isto. E eu, desta vez, pedi isto a Nossa Senhora. Rezei. Não fiz publicidade.

Pergunta 2 - Joao Francesco Gomez - Observador

Em fevereiro deste ano, foi publicado um relatório sobre a realidade dos abusos em Portugal, quase 5000 crianças foram vítimas nas últimas décadas. E eu pergunto: o senhor foi informado sobre este relatório entregue aos bispos? O Que pensa que deveria acontecer com os bispos que sabiam dos casos de abusos e não os comunicaram às autoridades?

Como sabem, de modo muito reservado, recebi um grupo de pessoas que foram abusadas. Como sempre faço nestes casos, dialogamos sobre esta peste, esta peste terrível. Na Igreja, seguia-se mais ou menos a mesma conduta que se segue atualmente nas famílias e nos bairros... encobre-se. Pensemos que 42% dos abusos acontecem nas famílias ou nos bairros. Ainda devemos amadurecer e ajudar a descobrir essas coisas. Desde o escândalo de Boston, a Igreja consciencializou-se de que não podia seguir caminhos aleatórios, mas deveria segurar-se o “touro pelo chifre”. há dois anos e meio atrás, houve uma reunião dos presidentes das Conferências Episcopais, onde foram fornecidas também estatísticas oficiais sobre os abusos. E é grave, a situação é muito grave. Na Igreja, há uma frase que estamos a usar continuamente: tolerância zero, tolerância zero. E os pastores, que de alguma maneira não assumiram a sua responsabilidade, devem arcar com esta irresponsabilidade. O mundo dos abusos é muito duro e, por isso, exorto a serem muito abertos sobre tudo isto. O que me perguntaram como está indo o processo na Igreja portuguesa, está indo bem. Está indo bem e com serenidade procura-se a seriedade nos casos de abusos. Os números, às vezes, revelam-se exagerados, um pouco pelos comentários que gostamos sempre de fazer, mas a realidade é que está a ir bem e isto dá-me certa tranquilidade. Gostaria de tocar num ponto e gostaria de pedir a colaboração de vós, jornalistas. Vocês têm um telefone hoje? Um telefone. Bem, em qualquer um desses telefones, a pagamento ou com uma senha, se tem acesso a abuso sexual contra menores. Isto entra nas nossas casas e o abuso sexual contra menores é filmado ao vivo. Onde é filmado? Quem são os responsáveis? Esta é uma das pragas mais graves, ao lado de todo o mundo (...) mas quero sublinhar isto porque, às vezes, não nos damos conta de que as coisas são assim tão radicais. Quando se usa uma criança para fazer espetáculo de um abuso, chama-se a atenção. O abuso é como "comer" a vítima, não é?, ou pior, amachucá-la e deixá-la viva. Conversar com pessoas abusadas é uma experiência muito dolorosa, o que também me faz bem, não porque me agrada ouvir, mas porque ajuda-me a assumir esse drama. Ou seja, para a sua pergunta eu diria o que disse: o processo está a andar bem, estou informado de como estão as coisas. As notícias podem ter ampliado a situação, mas as coisas estão a andar bem a esse respeito. Mas também, com isto, digo-vos, de alguma forma, ajudem, ajudem para que todos os tipos de abusos possam ser resolvidos, o abuso sexual, mas não é o único. Existem também outros tipos de abuso que clamam aos céus: o abuso do trabalho infantil, o abuso do trabalho com crianças e é usado; o abuso das mulheres, certo? Ainda hoje, em muitos países, fazem-se cirurgias nas meninas: retira-se-lhes o clitóris, e isto é hoje, e faz-se com uma navalha, e adeus... Crueldade... E o abuso do trabalho, isto é, dentro do abuso sexual, que é grave, e tudo isto: existe uma cultura do abuso que a humanidade deve rever e converter.

Pergunta 3 - Jean-Marie Guénois - LE FIGARO 

Santo Padre, como está a sua saúde, como prossegue a convalescença? O senhor não leu ou leu somente pequenos trechos de cinco discursos. É sem precedentes nas viagens: por quê? Teve problema nos olhos, cansaço? Textos demasiados longos? Como se sente? E se me permite uma pequena pergunta sobre a França. O senhor irá a Marselha, mas nunca visita a França. A população não entende, talvez muito pequena ou o senhor tem algo contra a França? 

A minha saúde vai bem. Os pontos foram tirados, levo uma vida normal, uso uma faixa por dois ou três meses para evitar uma (...incompreensível..) até que os músculos estarão mais fortes. A vista. Naquela paróquia, cortei o discurso porque havia uma luz na frente e não conseguia ler, vinha a luz e por isso cortei. Algumas pessoas, através do Matteo, perguntaram por que abreviei as homilias que vocês têm. Quando falo, não as homilias académicas, procuro fazê-lo de maneira mais clara. Quando falo, procuro sempre a comunicação. Vocês viram que mesmo na homilia académica, alguma brincadeira, alguma risada faço para controlar a comunicação. Com os jovens, os discursos longos tinham o essencial da mensagem, o essencial da mensagem, e eu agia ali segundo sentia a comunicação. Vocês viram que fiz algumas perguntas e logo o eco me indicava para onde ia a coisa, se estava errado ou não. Os jovens não mantêm muito tempo de atenção. Imagine que se você faz um discurso claro com uma ideia, uma imagem, um afeto, podem acompanhar por oito minutos. Entre parêntesis, na Evangelii Gaudium, a primeira exortação que fiz, escrevi um longo, longo capítulo sobre a homilia. Porque aqui está um pároco (referindo-se ao Pe. Benito Giorgetta, pároco de Termoli, ndr), que sabe que as homilias às vezes são uma tortura, uma tortura, que falam blá, bl[a, e as pessoas… Em alguma cidadezinha, não sei se em Termoli,  os homens saem para fumar e voltam. A Igreja deve-se converter neste aspeto da homilia: breve, clara, com uma mensagem clara e afetuosa. Por isso, eu controlo como vai com os jovens e os faço dizer. Mas eu abreviei porque interessa-me a ideia com os jovens. E passemos à França. Fui a Estrasburgo, irei a Marselha, mas a França não. Há um problema que me preocupa, que é o problema Mediterrâneo. Por isso, vou a França. É criminoso a exploração dos migrantes. Aqui na Europa não, porque somos mais cultos, mas nos lager do norte da África… eu recomendo uma leitura. Há um pequeno livro, pequeno, que escreveu um migrante que para ir da Guiné à Espanha levou creio três anos porque foi capturado, torturado, escravizado. Os migrantes naqueles lagers do norte: é terrível. Neste momento – na semana passada – a associação Mediterranea Saving Human estava a fazer um trabalho para resgatar os migrantes que estavam no deserto entre a Tunísia e a Líbia, porque os tinham abandonado ali para morrer. Aquele livro de chama “Hermanito” - em italiano “Fratellino” (Irmãozinho) – mas lê-se em duas horas, vale a pena. Leiam e verão o drama dos migrantes ao aventurarem-se. Os bispos do Mediterrâneo farão este encontro, também com algum político, para refletir seriamente sobre o drama dos migrantes. O Mediterrâneo é um cemitério, mas não é o maior cemitério. O maior cemitério é o norte da África. É terrível isto, leiam. Vou a Marselha por isto. Na semana passada, o presidente Macron disse ter intenção de ir a Marselha e estarei ali um dia e meio: chegarei à tarde e terei o dia seguinte inteiro. 

(O senhor não tem nada contra a França – afirma Matteo Bruni, repetindo a pergunta):

Não. Não, a respeito disto é uma política. Estou a visitar os pequenos países europeus. Os grandes países, Espanha, França, Inglaterra, deixo para depois, no final. Mas como opção comecei pela Albânia e assim os menores. Não há nada. A França, duas cidades: Estrasburgo e Marselha.

Pergunta 4 - Emma Elisabeth Hirschbeck - ARD ROMA

O Santo Padre em Lisboa disse-nos que na Igreja há lugar para todos, todos, todos. A Igreja está aberta a todos, mas ao mesmo tempo nem todos têm os mesmos direitos, oportunidades, no sentido de que, por exemplo, mulheres e homossexuais não podem receber todos os sacramentos. Santo Padre, como explica esta incoerência entre uma Igreja aberta e uma Igreja que não é igual para todos? Obrigada.

Você faz-me uma pergunta sobre dois pontos de vista diferentes. A Igreja é aberta a todos, depois existem leis que regulam a vida dentro da Igreja. Alguém que está dentro está de acordo com a legislação, o que você diz é uma simplificação: “Não pode receber os sacramentos”. Isso não significa que a Igreja seja fechada, cada um encontra Deus pelo próprio caminho dentro da Igreja, e a Igreja é mãe e guia cada um pelo seu caminho. Por isso não gosto de dizer: venham todos, mas tu, este, mais o outro... Todos, cada um na oração, no diálogo interior, no diálogo pastoral, procura uma forma de seguir em frente. Para isso, fazer uma pergunta: por que os homossexuais não… Todos! E o Senhor é claro: doentes. Saudáveis, velhos e jovens, feios e bonitos… bons e maus! Há como um olhar que não entende essa inserção da Igreja como mãe e pensa nela como uma espécie de empresa que para entrar tem que fazer isso, fazer desta forma e não de outra... Outra coisa é a ministerialidade da Igreja, que é o modo para levar em frente o rebanho e uma das coisas importantes é a paciência, na ministerialidade: acompanhar as pessoas passo a passo no seu caminho de amadurecimento. Cada um de nós tem esta experiência: que a Igreja mãe nos acompanhou e nos acompanha no seu próprio caminho de amadurecimento. Não gosto da redução, isso não é eclesial, isso é gnóstico. É como uma heresia gnóstica que está um pouco na moda hoje. Um certo gnosticismo que reduz a realidade eclesial e isso não ajuda. A Igreja é mãe, acolhe todos, e cada um faz o próprio caminho dentro da igreja, sem publicidade, e isso é muito importante. Obrigado pela coragem de fazer esta pergunta. Obrigado.

O Papa deseja partilhar uma opinião sobre a JMJ, fala Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé 

Como vivi a JMJ. Esta é a quarta que vivo. A primeira foi no Rio de Janeiro, que era monumental, a la brasileña, bela. A segunda em Cracóvia, a terceira no Panamá, esta é a quarta. Esta é a mais numerosa. Os dados concretos, verdadeiros, eram mais de um milhão. Antes ainda, na vigília à noite calculava-se um milhão e quatrocentos e um milhões e seiscentos mil. Impressionante a quantidade. Bem preparada! Esta é aquela em que eu vi melhor preparada.

E os jovens são uma surpresa. Os jovens são jovens. Aprontam, a vida é assim. Mas procuram seguir em frente. E eles são o futuro. A questão é acompanhá-los. O problema é saber acompanhar. E é que não se separem das raízes. Por isso insisto tanto no diálogo entre velhos e jovens, os avós com os netos. Esse diálogo é importante, mais importante do que o diálogo entre pais e filhos. Os avós, as raízes. Depois, os jovens são religiosos, eles procuram fé, não artificial. …eles procuram um encontro com Jesus e isso não é fácil... Alguns dizem, mas os jovens nem sempre seguem uma vida segundo a moral. Mas quem de nós não cometeu um erro moral na própria vida? Todos! Com qualquer dos mandamentos. Cada um de nós tem as próprias quedas na própria história. A vida é assim. Mas o Senhor espera-nos sempre porque é misericordioso , é pai. E a misericórdia supera tudo......Isso queria dizer sobre a JMJ.

Pergunta 6 - Justin Scott Clellan – CNS

Falando de JMJ. Ouvimos nestes dias alguns testemunhos de jovens que lutaram pela saúde mental, com a depressão. O senhor já lutou com isso? E se alguém decidir cometer suicídio, o que  diria à família dessa pessoa que sofre com o ensinamento católico sobre o suicídio, pensando que tenha ido para o inferno?

Hoje o suicídio juvenil é importante, importante em número. A mídia não fala tanto, porque não é informado às médias. Fiquei – não a confissão, não – em diálogo com os jovens, porque aproveitei para dialogar. Um bravo jovem disse-me: posso-lhe fazer uma pergunta? O que o senhor pensa sobre o suicídio? Ele não falava a nossa língua, mas eu entendi bem e começamos a conversar sobre o suicídio. E no final ele disse-me: obrigado, porque o ano passado estava indeciso se cometia ou não. Tantos jovens angustiados, deprimidos, mas não só psicologicamente... depois em alguns países que são muito, muito exigentes na universidade, os jovens que não conseguem formar-se ou encontrar aquele trabalho suicidam-se, porque sentem uma vergonha muito grande. Não digo que seja uma coisa de todos os dias, mas é um problema, um problema atual, uma coisa que acontece.

Bruni: Obrigado Sua Santidade pelas suas respostas

O Papa: obrigado a vós pelo que fizeram e não se esqueças hein… 'Hermanito', 'Fratellino', o livro do migrante. Obrigado!

VN

 

 

Live - JMJ Lisboa 2023

 

 

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