28 setembro 2022

O Papa: ter intimidade com Jesus. Falar com Ele como a um amigo

 
 O Papa Francisco durante a Audiência Geral desta quartas feira (Vatican Media) 
 
Continuando as suas catequeses sobre o discernimento, na Audiência Geral, o Papa Francisco disse que "a oração é uma ajuda indispensável para o discernimento espiritual, sobretudo quando envolve os afetos, permitindo dirigir-nos a Deus com simplicidade e familiaridade, como se fala com um amigo. A oração verdadeira é familiaridade e confidência com Deus. Não é recitar uma oração como um papagaio, blá blá, não. A verdadeira oração é essa espontaneidade e afeto ao Senhor". 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"Os elementos do discernimento. A familiaridade com o Senhor" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (28/09), realizada na Praça de São Pedro. Prosseguindo as catequeses sobre o discernimento, o Santo Padre deteve-se no primeiro dos seus elementos constitutivos: a oração.

Familiaridade e confidência com Deus

A oração é uma ajuda indispensável para o discernimento espiritual, sobretudo quando envolve os afetos, permitindo dirigir-nos a Deus com simplicidade e familiaridade, como quando se fala com um amigo. É saber ir além dos pensamentos, entrar em intimidade com o Senhor, com uma espontaneidade afetuosa. O segredo da vida dos santos é a familiaridade e a confiança em Deus, que cresce neles e torna cada vez mais fácil reconhecer o que lhe agrada. A oração verdadeira é familiaridade e confidência com Deus. Não é recitar uma oração como um papagaio, blá blá, não. A verdadeira oração é essa espontaneidade e afeto ao Senhor. Esta familiaridade supera o medo ou a dúvida de que a sua vontade não é para o nosso bem, uma tentação que às vezes atravessa os nossos pensamentos, tornando o coração inquieto e incerto ou amargo também.

O Papa disse ainda que "o sinal de um encontro com o Senhor é a alegria". Quando eu faço uma oração, [...] encontro o Senhor e torno-me alegre. Cada um de nós torn-se alegre, uma coisa linda. Por outro lado, a tristeza ou o medo são sinais de distância de Deus: «Se quiseres entrar na vida, observa os mandamentos», diz Jesus ao jovem rico.

Esse jovem "tinha tomado a iniciativa de se encontrar com Jesus, mas vivia também muito dividido nos afetos; para ele as riquezas eram demasiado importantes. Jesus não o obriga a decidir, mas o texto observa que o jovem afasta-se de Jesus «triste». Quem se afasta do Senhor nunca se sente satisfeito, mesmo que tenha à sua disposição uma grande abundância de bens e possibilidades".

Discernir não é fácil

"Discernir não é fácil, porque as aparências enganam, mas a familiaridade com Deus pode dissipar delicadamente dúvidas e medos, tornando a nossa vida cada vez mais recetiva à sua «luz suave», de acordo com a bonita expressão do Beato John Henry Newman", sublinhou Francisco.

O Papa frisou que "os santos brilham com luz refletida, mostrando nos gestos simples do seu dia a presença amorosa de Deus, que torna possível o impossível. Diz-se que dois cônjuges que viveram juntos durante muito tempo, amando-se, acabam por se assemelharem um ao outro".

Algo análogo pode-se dizer da oração afetiva: de modo gradual, mas eficaz, torna-nos cada vez mais capazes de reconhecer o que conta por conaturalidade, como algo que brota das profundezas do nosso ser. Estar em oração não significa dizer palavras, palavras, não: estar em oração, abrir o coração a Jesus, aproximar-me de Jesus, deixar que Jesus entre no meu coração e me faça sentir a sua presença. E ali podemos discernir quando é Jesus e quando estamos com os nossos pensamentos, muitas vezes longe do que Jesus quer.

Rezar a oração do "oi"

Francisco convidou a pedir a graça de "viver uma relação de amizade com o Senhor, como um amigo fala com um amigo", e contou um caso sobre "um irmão religioso idoso que era porteiro de um colégio e sempre que podia aproximava-se da capela, olhava para o altar e dizia: 'Oi', porque tinha proximidade a Jesus. 'Oi, estou perto de Ti e Tu está perto de mim'." Segundo o Papa, "esta é a relação que devemos ter na oração: proximidade, proximidade afetiva, como irmãos, proximidade a Jesus. Um sorriso, um gesto simples e não dizer palavras que não chegam ao coração. Falar com Jesus como um amigo fala com outro amigo".

É uma graça que devemos pedir uns para os outros: ver Jesus como o nosso maior e fiel Amigo, que não chantageia, sobretudo que nunca nos abandona, nem sequer quando nos afastamos d'Ele. Ele permanece na porta do coração. Ele permanece em silêncio, permanece ao alcance do coração porque Ele é sempre fiel. Vamos em frente com esta oração. Digamos a oração do "oi", a oração para cumprimentar o Senhor com o coração, a oração de afeto, a oração de proximidade, com poucas palavras, mas com gestos e com boas obras.

VN

25 setembro 2022

Mianmar, Ucrânia e Camarões nas orações do Papa

 
 
Desde o início da guerra, Francisco fala com frequência sobre a martirizada população ucraniana. Neste domingo, acrescentou dois apelos por Mianmar e Camarões.
 

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

No final da missa celebrada em Matera, por ocasião do encerramento do Congresso Eucarístico nacional, o Papa rezou o Angelus com os fiéis presentes no estádio municipal da cidade. Antes da oração mariana, agradeceu pelo acolhimento recebido e a todos que organizaram e participaram do evento.

À Virgem Maria, Mulher eucarística, o Pontífice confiou o caminho da Igreja em Itália e invocou a sua materna intercessão pelos necessitados mais urgentes do mundo. De modo especial, citou Mianmar, Ucrânia e Camarões:

A respeito de Mianmar, recordou que há mais de dois anos o país sofre com graves confrontos armados e violências, que causaram muitas vítimas e deslocados. "Esta semana, chegou-me o grito de dor pela morte de crianças numa escola bombardeada. Parece que virou moda atacar escolas. Que o grito destes pequenos não permaneça inaudito! Estas tragédias não devem acontecer!", exortou.

Desde o início da guerra, a Ucrânia é lembrada sempre pelo Papa: "Maria, Rainha da Paz, conforte o povo ucraniano e obtenha aos líderes das Nações a força de vontade para encontrar imediatamente iniciativas eficazes que conduzam ao fim da guerra".

Por fim, Francisco uniu-se ao apelo dos Bispos de Camarões pela libertação de oito pessoas sequestradas na Diocese de Mamfe, entre os quais cinco sacerdotes e uma religiosa. "Rezo por eles e pelas populações da província eclesiástica de Bamenda: o Senhor doe paz aos corações e à vida social daquele querido país."

VN

Papa na cidade de Matera: quem adora a Deus não é escravo de ninguém

 
 Papa encerrou em Matera o Congresso Eucarístico Nacional 
 
Francisco encerrou o Congresso Eucarístico Nacional em Matera com a celebração da missa e a participação de milhares de fiéis. Comentando a parábola do pobre Lázaro, o Pontífice advertiu para a "religião do ter e do aparecer": "Só o Senhor é Deus e todo o resto é dom do seu amor".
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Na manhã deste domingo, o Papa Francisco foi à cidade de Matera, na região da Basilicata (sul da Itália), encerrar o 27º Congresso Eucarístico Nacional, que teve como tema "Voltemos ao sabor do pão - Por uma Igreja eucarística e sinodal".

A missa foi celebrada no Estádio Municipal “XXI de setembro”, com a participação de cerca de 12 mil fiéis, e a homilia do Pontífice foi centralizada no tema da Eucaristia de acordo com o Evangelho de hoje: a parábola do rico e do pobre Lázaro.

A primazia de Deus na Eucaristia

De um lado, a opulência e a ostentação da riqueza; do outro, um pobre que jaz à porta à espera de um miolo de pão para matar a sua fome. Para o Papa, esta contradição recorda-nos a primazia de Deus presente na Eucaristia.

O rico não está aberto à relação com Deus porque pensa somente em satisfazer as suas necessidades. Não tem um nome, só um adjetivo – rico – porque a identidade é dada pelos bens que possui. “Como é triste também hoje esta realidade, quando confundimos o que somos com o que temos”, afirmou Francisco.

“É a religião do ter e do aparecer, que com frequência domina o cenário deste mundo, mas no final deixa-nos com as mãos vazias.”

Ao contrário, o pobre tem um nome, Lázaro, que significa “Deus ajuda”, e mesmo na sua condição de pobreza, pode manter íntegra a sua dignidade porque vive na relação com Deus.

Eis, portanto, o desafio que a Eucaristia oferece à nossa vida: adorar a Deus e não a nós mesmos. Colocar Ele no centro e não a própria vaidade. Recordar que só o Senhor é Deus e todo o resto é dom do seu amor.

“Recordemo-nos disto: quem adora a Deus não se torna escravo de ninguém. É livre!”

Porque quando adoramos Jesus presente na Eucaristia recebemos um olhar novo sobre a nossa vida e o valor da vida não depende daquilo que consigo exibir. Sou um filho amado, abençoado por Deus. O Papa então convida a redescobrir a oração de adoração, pois esta liberta e restitui a a nossa dignidade de filhos.

Eucaristia, sacramento do amor

Mas além da primazia de Deus, a Eucaristia chama-noa ao amor dos irmãos. “Este Pão é, por excelência, o Sacramento do amor.” É Cristo que se oferece e se parte por nós e pede que façamos o mesmo com os irmãos.

O rico do Evangelho não cumpre esta tarefa. Só no fim da vida, quando o Senhor inverte as sortes, é que ele se dá conta de Lázaro, mas Abraão diz-he:  “há um grande abismo entre nós”. E foi o rico quem escavou este abismo durante a vida terrena e que permanece na vida eterna.

“O nosso futuro eterno depende desta vida presente”, advertiu Francisco, e é doloroso ver que esta parábola ainda se manifesta nos dias de hoje através das injustiças, das disparidades, da distribuição desigual dos recursos da terra, dos abusos dos poderosos contra os mais fracos. Todos os dias se escava um abismo que gera marginalização e que não nos pode deixar indiferentes.

“E hoje, então, juntos reconheçamos que a Eucaristia é profecia de um novo mundo, é a presença de Jesus que pede para nos comprometermos para que se realize uma efetiva conversão: da indiferença à compaixão, do desperdício à compartilha, do egoísmo ao amor, do individualismo à fraternidade.”

O sonho de uma Igreja eucarística

Assim sonhamos a Igreja, acrescentou o Papa: eucarística. Feita de mulheres e homens que se oferecem como pão para quem vive na solidão e na pobreza. Uma Igreja que se ajoelha diante da Eucaristia, mas sabe também curvar-se com compaixão diante das feridas de quem sofre. “Porque não existe um verdadeiro culto eucarístico sem compaixão pelos muitos ‘Lázaros’ que também hoje caminham ao nosso lado.”

Francisco conclui repetindo o tema do Congresso Eucarístico: Voltemos ao sabor do pão, porque só Jesus sacia a nossa fome e pode curar as injustiças que ainda se consomem no mundo.

“Voltemos a Jesus, adoremos Jesus, acolhamos Jesus. Porque Ele vence a morte e renova sempre a nossa vida.”

VN

21 setembro 2022

O Papa: Cazaquistão, um país exemplo de civilização e coragem

 
 
A catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, realizada na Praça São Pedro, foi dedicada à sua viagem ao Cazaquistão de 13 a 15 deste mês. O Papa destacou a vocação daquele país a ser um defensor da paz e da fraternidade no mundo e evidenciou as escolhas positivas feitas, como a recusa das armas nucleares. 
 

Vatican News

A viagem apostólica ao Cazaquistão foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (23/09), realizada na Praça São Pedro.

A viagem do Pontífice a esse "vasto país da Ásia Central", realizou-se de 13 a 15 deste mês, "por ocasião do sétimo Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais".   

Escutar e respeitar  

"A principal razão da viagem foi a participação no Congresso dos Líderes das religiões mundiais e tradicionais. Esta iniciativa realiza-se há vinte anos pelas Autoridades do país, que se apresenta ao mundo como lugar de encontro e de diálogo, neste caso a nível religioso e, portanto, como protagonista na promoção da paz e da fraternidade humana", frisou o Papa, ressaltando a importância de "colocar as religiões no centro do compromisso para a construção de um mundo onde nos escutamos e nos respeitamos na diversidade. Isto não é relativismo. É escutar e respeitar".     

O Papa recordou que "o Congresso debateu e aprovou a Declaração final, que se põe em continuidade com a que foi assinada em Abu Dhabi, em fevereiro de 2019, sobre a fraternidade humana.

Apraz-me interpretar este passo adiante como fruto de um percurso que vem de longe: naturalmente, penso no histórico Encontro inter-religioso a favor da paz, convocado por São João Paulo II em Assis, em 1986; muito criticado por pessoas que não tinham visão de futuro; penso no olhar clarividente de São João XXIII e de São Paulo VI; e também no das grandes almas de outras religiões - menciono apenas Mahatma Gandhi. Mas como deixar de recordar tantos mártires, homens e mulheres de todas as idades, línguas e nações, que pagaram com a vida a fidelidade ao Deus da paz e da fraternidade? Sabemos que os momentos solenes são importantes, mas depois é o compromisso diário, é o testemunho concreto que constrói um mundo melhor para todos.

Vocação do Cazaquistão a ser país do encontro

Além do Congresso, esta viagem deu ao Papa a oportunidade de se encontrar com as Autoridades do Cazaquistão e com a Igreja que vive naquela terra. "Depois de visitar o Senhor Presidente da República - a quem agradeço mais uma vez a gentileza - fomos à nova Sala de Concertos, onde pude falar com os Governantes, representantes da sociedade civil e o Corpo Diplomático", disse Francisco, acrescentando:

Sublinhei a vocação do Cazaquistão a ser país do encontro: com efeito, nele convivem cerca de cento e cinquenta grupos étnicos e falam-se mais de oitenta línguas. Esta vocação, que se deve às suas caraterísticas geográficas e à sua história foi acolhida e abraçada como um caminho, que merece ser encorajado e apoiado. Também formulei votos para que ela possa prosseguir a construção de uma democracia cada vez mais madura, capaz de responder eficazmente às necessidades da sociedade como um todo. É uma tarefa árdua, que leva tempo, mas já se deve reconhecer que o Cazaquistão fez escolhas muito positivas, como a de dizer “não” às armas nucleares e a de boas políticas energéticas e ambientais. Isso foi corajoso. Num momento em que esta trágica guerra nos faz ver que alguns pensam em armas nucleares, nessa loucura, este país desde o início diz "não" às armas nucleares.

A Cruz de Cristo permanece a âncora da salvação

O Papa recordou que os católicos são poucos no Cazaquistão, "mas esta condição, se for vivida com fé, pode trazer frutos evangélicos: primeiramente, a bem-aventurança da pequenez, de ser fermento, sal e luz, confiando unicamente no Senhor e não em alguma forma de importância humana". Segundo o Papa, "a escassez numérica convida a desenvolver relações com cristãos de outras denominações, e também a fraternidade com todos". "Portanto, pequeno rebanho, sim, mas aberto, não fechado, não defensivo, aberto e confiante na ação do Espírito Santo, que sopra livremente onde e como quer. Recordamos os mártires daquele Povo santo de Deus, porque sofreu décadas de opressão ateísta, homens e mulheres que sofreram tanto pela fé durante o longo período de perseguição. Foram assassinados, torturados, encarcerados por causa da fé ", disse ele.

Francisco recordou ainda a celebração Eucarística celebrada, em Nur-Sultan, na Praça da Expo de 2017, na Festa da Exaltação da Santa Cruz.

Isto faz-nos refletir: num mundo em que o progresso e o retrocesso se entrelaçam, a Cruz de Cristo permanece a âncora da salvação: sinal da esperança que não desilude porque está fundada no amor de Deus, misericordioso e fiel. A Ele dirige-se a nossa ação de graças por esta viagem, e a nossa oração a fim de que seja rica de frutos para o futuro do Cazaquistão e para a vida da Igreja peregrina naquela terra.

VN

18 setembro 2022

O Papa: o amor expressa-se por meio de ações de partilha

 Kiev, bombardeamento russo em Stoviansk (ANSA) 
 
No pós Angelus deste domingo, 18 de setembro, a dor do Santo Padre pela retomada dos combates entre o Azerbaijão e a Arménia, no Cáucaso. Francisco lembra que a paz é possível quando as armas se calam e o diálogo tem início. Ainda, a exortação a rezar pela Ucrânia e por toda a terra ensanguentada pela guerra. A oração e solidariedade do Santo Padre pelas populações da região italiana das Marcas, atingidas por violenta inundação
 

Raimundo de Lima – Vatican News

Após a oração do Angelus com os fiéis e peregrinos na Praça São Pedro neste XXV Domingo do Tempo Comum, o Papa Francisco manifestou mais uma vez a sua tristeza pelos combates entre o Azerbaijão e a Arménia, na região do Cáucaso, e exortou a rezar não somente pelo povo atormentado da Ucrânia, mas também pela paz em toda terra ensanguentada pela guerra:

"Sinto-me entristecido com os recentes combates entre o Azerbaijão e a Arménia. Manifesto a minha proximidade espiritual às famílias das vítimas e exorto as partes a respeitarem o cessar-fogo, com vista a um acordo de paz. Não esqueçamos: a paz é possível quando as armas são silenciadas e o diálogo tem início! E continuemos a rezar pelo atormentado povo ucraniano e pela paz em toda terra ensanguentada pela guerra."

A proximidade do Papa às vítimas da enchente nas Marcas 

Francisco voltou seu olhar também para a região italiana das Marcas, atingida nestes dias por uma trágica enchente que já provocou onze mortos e danos ingentes:

"Gostaria de assegurar as minhas orações pelo povo das Marcas atingido por uma violenta inundação. Rezo pelos mortos e as suas famílias, pelos feridos e por aqueles que sofreram danos graves. Que o Senhor dê força a essas comunidades!

VN

O Papa: devemos usar os bens deste mundo para cuidar dos mais fracos

 

"Para herdar a vida eterna não é necessário acumular os bens deste mundo, mas o que conta é a caridade que teremos vivido nas nossas relações fraternas. Eis então o convite de Jesus: não usai os bens deste mundo somente para vós mesmos e o vosso egoísmo, mas servi-vos deles para gerar amizades, para criar boas relações, para agir em caridade, para promover a fraternidade e para exercer o cuidado com os mais fracos": disse o Papa no Angelus deste XXV Domingo do Tempo Comum

"Somos chamados a ser criativos em fazer o bem, com a prudência e a astúcia do Evangelho, usando os bens deste mundo - não apenas os bens materiais, mas todos os dons que recebemos do Senhor - não para nos enriquecer, mas para gerar amor fraterno e amizade social."

Foi o que disse o Papa no Angelus, ao meio-dia deste domingo, 18 de setembro, XXV Domingo do Tempo Comum. Na alocução que precedeu a oração mariana, Francisco ateve-se à página do Evangelho do dia (Lc 16,1-13), que traz a parábola do administrador infiel, uma parábola um pouco difícil de entender, disse o Santo Padre.

Jesus conta uma história de corrupção: um administrador desonesto, que rouba e depois, descoberto pelo seu senhor, age com astúcia para sair dessa situação. Nós nos perguntamos: em que consiste essa esperteza e o que quer Jesus dizer-nos?

 Angelus de 18.09.22 (Vatican Media )

Os filhos deste mundo são mais espertos que os filhos da luz

Pela história, continua o Papa, vemos que este administrador acaba em apuros porque aproveitou-se dos bens do seu senhor; agora ele terá que prestar contas e perderá o seu emprego. Mas ele não desiste, não se resigna ao seu destino e não se faz de vítima; pelo contrário, age imediatamente com astúcia, procura uma solução, é audacioso. Jesus parte desta história para nos lançar uma primeira provocação:

"Os filhos deste mundo - diz ele - para com os seus iguais são mais espertos do que os filhos da luz." Ou seja, acontece que aqueles que se movem na escuridão, de acordo com certos critérios mundanos, sabem como sair dos problemas, sabem ser mais espertos que os outros; por outro lado, os discípulos de Jesus, isto é, nós, às vezes estamos a dormir, ou somos ingénuos, não sabemos como tomar a iniciativa para procurar sair das dificuldades. Penso em momentos de crise pessoal, social, mas também eclesial: às vezes deixamo-nos vencer pelo desânimo, ou caímos em lamentações e vitimizações.

 

 Angelus de 18.09.22 (Vatican Media) 
 

Também nós podemos ser sagazes segundo o Evangelho

Em vez disso - diz Jesus -, também poderíamos ser sagazes segundo o Evangelho, estar acordados e atentos para discernir a realidade, ser criativos para procurar boas soluções, para nós mesmos e para os outros.

Francisco precisou que há também outro ensinamento que Jesus nos oferece. Pois, em que consiste a esperteza do administrador? Ele decide dar um desconto para aqueles que estão endividados, e assim faz amizade com eles, esperando que sejam capazes de ajudá-lo quando o senhor o expulsará. Primeiro acumulava as riquezas para si mesmo, agora ele usa-as para fazer amigos que podem ajudá-lo no futuro. Jesus, então, oferece-nos um ensinamento sobre o uso dos bens:

"Fazei amigos da riqueza desonesta, para que, quando ela vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas" (v. 9). Ou seja, para herdar a vida eterna não é necessário acumular os bens deste mundo, mas o que conta é a caridade que tivermos vivido nas nossas relações fraternas. Eis então o convite de Jesus: não useis os bens deste mundo somente para vós mesmos e o vosso egoísmo, mas servi-vos deles para gerar amizades, para criar boas relações, para agir em caridade, para promover a fraternidade e para exercer o cuidado com os mais fracos.

Somos chamados a ser criativos em fazer o bem

Também no mundo de hoje existem histórias de corrupção como aquela que o Evangelho nos conta, observou o Papa, condutas desonestas, políticas iníquas, egoísmos que dominam as escolhas de indivíduos e das instituições, e muitas outras situações obscuras.

Mas nós cristãos não podemos desencorajar-nos ou, pior ainda, deixar as coisas passar, permanecer indiferentes. Pelo contrário, somos chamados a ser criativos em fazer o bem, com a prudência e a astúcia do Evangelho, usando os bens deste mundo - não apenas os bens materiais, mas todos os dons que recebemos do Senhor - não para nos enriquecer, mas para gerar amor fraterno e amizade social.

VN

15 setembro 2022

Papa: em nome de Deus e pela humanidade, não a armamentos, sim pela paz!

 

 

No último discurso no Cazaquistão, que concluiu o VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais, Francisco comentou a Declaração Final do evento. Um documento que enaltece que a liberdade religiosa é um direito concreto e que o diálogo inter-religioso é um caminho urgente, insubstituível, necessário e sem retorno. Ainda segundo o Papa, é preciso que os "líderes mundiais cessem conflitos e derramamentos de sangue", empenhando-se "pela paz, não pelos armamentos!".

 

Andressa Collet - Vatican News

O último compromisso do Papa Francisco no Cazaquistão foi no Palácio da Independência, em Nursultan, nesta quinta-feira (15), quando foi feita a leitura da “Declaração Final” de conclusão do VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais. Na ocasião, o Pontífice fez o último discurso da sua viagem apostólica.

Um exemplo de futuro

E começou agradecendo por "caminharem juntos" durante esta visita ao país, através da riqueza de crenças e culturas da população, "testemunha de tantos sofrimentos passados", mas que oferece um exemplo de futuro com "a multirreligiosidade e multiculturalidade extraordinária". E tudo vivido "sob o signo do diálogo, ainda mais precioso neste período tão difícil sobre o qual grava, para além da pandemia, a loucura insensata da guerra", comentou o Pontífice.

“Há demasiados ódios e divisões, demasiada falta de diálogo e compreensão do outro: isto, no mundo globalizado, é ainda mais perigoso e escandaloso. Não podemos avançar assim, ora unidos ora separados, ora interligados ora dilacerados por demasiadas desigualdades. Obrigado, pois, pelos esforços que visam a paz e a unidade.”

A liberdade religiosa é um direito concreto

O Papa então lembrou o lema da viagem, Mensageiros da paz e da unidade: "está no plural, porque o caminho é comum". Um caminho comum que tem sido abraçado desde o início da história do Congresso, em 2003, até à Declaração Final deste ano, que "afirma que o extremismo, o radicalismo, o terrorismo e qualquer outro incentivo ao ódio, à hostilidade, à violência e à guerra", disse o Pontífice, "nada têm a ver com o autêntico espírito religioso e devem ser rejeitados nos termos mais decididos que for possível; condenados, sem «se» nem «mas»". Além disso, acrescentou ele, o respeito mútuo deve ser essencial, "independentemente da sua pertença religiosa, étnica ou social":

"Há de ser sempre e em toda parte tutelado quem deseja exprimir, de modo legítimo, o próprio credo. Contudo, ainda hoje quantas pessoas são perseguidas e discriminadas pela sua fé! Pedimos veementemente aos governos e às competentes organizações internacionais que assistam os grupos religiosos e as comunidades étnicas que sofreram violações dos seus direitos humanos e liberdades fundamentais, e violências da parte de extremistas e terroristas, inclusive em consequência de guerras e conflitos militares. É preciso sobretudo empenharmo-nos para que a liberdade religiosa seja, não um conceito abstrato, mas um direito concreto."

O diálogo inter-religioso é caminho sem retorno

Por isso a Igreja Católica, disse o Pontífice, "crê também na unidade da família humana. Crê que «os homens constituem todos uma só comunidade» (Conc. Ecum. Vat. II, Decl. Nostra aetate, 1)". Assim, desde o início do Congresso, a Santa Sé, especialmente através do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, participou ativamente no evento e vai continuar a fazê-lo:

“O caminho do diálogo inter-religioso é um caminho comum de paz e para a paz, e, como tal, é necessário e sem retorno. O diálogo inter-religioso já não é apenas uma oportunidade, mas um serviço urgente e insubstituível à humanidade, para louvor e glória do Criador de todos.”

Um "caminho comum", insistiu sempre o Papa no discurso, ao reiterar um ponto de convergência enaltecido já por João Paulo II quando visitou o Cazaquistão há 21 anos e tratou do caminho comum do homem e da Igreja:

"Hoje quero afirmar que o homem é também o caminho de todas as religiões. Sim, o ser humano concreto, debilitado pela pandemia, prostrado pela guerra, ferido pela indiferença! O homem, criatura frágil e maravilhosa, que, «sem o Criador, obscurece-se» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. past Gaudium et spes, 36) e, sem os outros, não subsiste!"

A paz, a mulher e os jovens

O Papa, assim, deu seguimento ao discurso destacando o espírito que permeia a Declaração Final do Congresso através de três palavras: paz, mulher e jovens. A primeira, disse Francisco, além de urgente "é a síntese de tudo, a expressão dum grito do coração, o sonho e a meta do nosso caminho: a paz! Beybitşilik, mir, peace!":

“A Declaração exorta os líderes mundiais a cessarem conflitos em todo o la e derramamentos de sangue e a abandonarem retóricas agressivas e destrutivas. Pedimos-vos, em nome de Deus e para o bem da humanidade: empenhai-vos pela paz, não pelos armamentos! Só servindo a paz é que permanecerá grande na história o vosso nome.”

E, se falta a paz, acrescentou o Papa, "é porque falta atenção, ternura e capacidade de gerar vida". Dessa forma, a mulher "é caminho para a paz" e por isso precisa de ter a dignidade defendida a condição social melhorada: "quantas opções de morte seriam evitadas se estivessem precisamente as mulheres no centro das decisões! Empenhemo-nos para que sejam mais respeitadas, reconhecidas e envolvidas".

Finalmente, e na conclusão do discurso, o Papa falou sobre a terceira palavra: os jovens, que são "os mensageiros de paz e de unidade de hoje e de amanhã". Na mão deles, "coloquemos oportunidades de instrução, não armas de destruição! E escutemo-los, sem medo de nos deixar interpelar por eles. Sobretudo construamos um mundo pensando neles!"

VN

Papa deixa o Cazaquistão: Deus abençoe a vocação do país para a paz e a unidade

 
 
No encontro com bispos, sacerdotes, diáconos, pessoas consagradas, seminaristas e agentes pastorais, o Papa encorajou a construir “uma Igreja mais habitada pela alegria do Ressuscitado, que rejeite medos e lamentos, que não se deixe endurecer por dogmatismos e moralismos”. O encontro foi realizado na manhã desta quinta-feira (15) na Catedral Mãe de Deus do Perpétuo Socorro de Nur-Sultan.
 

Jane Nogara - Vatican News

No terceiro dia da sua viagem ao Cazaquistão, depois do encontro com os membros da Companhia de Jesus, o Papa Francisco encontrou os bispos, sacerdotes, diáconos, pessoas consagradas, seminaristas e agentes pastorais na Catedral Mãe de Deus do Perpétuo Socorro de Nur-Sultan. Na sua saudação inicial o Papa disse estar feliz por encontrar a Conferência Episcopal da Ásia Central e ver uma Igreja feita de muitos rostos, histórias e tradições diferentes, e todas unidos por uma única fé em Cristo Jesus. Acrescentando que a beleza da Igreja está nisto: “em sermos uma única família, na qual ninguém é estrangeiro.

“Repito: ninguém é estrangeiro na Igreja, somos um único Povo santo de Deus, rico de tantos povos!”

"E a força do nosso povo sacerdotal e santo está precisamente em fazer da diversidade uma riqueza através da partilha daquilo que somos e temos; a nossa pequenez multiplica-se, se a partilharmos”. Citando a passagem da Palavra de Deus de São Paulo que diz, 'o mistério de Deus foi revelado a todos os povos', o Papa disse: “Todo o homem pode ter acesso a Deus, porque – como explica o Apóstolo – todos os povos ‘são admitidos à mesma herança, membros do mesmo corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho’".

Herança e promessa

Seguidmente disse que gostaria de sublinhar duas palavras usadas por São Paulo: “Herança e promessa: a herança do passado é a nossa memória, a promessa do Evangelho é o futuro de Deus que vem ao nosso encontro: uma Igreja que caminha na história entre memória e futuro".

Memória e futuro

“Em primeiro lugar, a memória. Se hoje neste vasto país, multicultural e multirreligioso, podemos ver comunidades cristãs vibrantes e um sentido religioso que permeia a vida da população, deve-se sobretudo à rica história que vos precedeu”. Recomendando: “No caminho espiritual e eclesial, não devemos perder a lembrança de quantos nos anunciaram a fé, porque fazer memória ajuda-nos a desenvolver o espírito de contemplação pelas maravilhas que Deus operou na história, mesmo no meio das fadigas da vida e das fragilidades pessoais e comunitárias”. Porém, adverte Francisco: “Mas tenhamos cuidado! Não se trata de olhar para trás com nostalgia”.

“Quando se volta para fazer memória, o olhar cristão pretende abrir-nos à estupefação perante o mistério de Deus, enchendo o nosso coração de louvor e gratidão por tudo o que realizou o Senhor”

Sem memória, não há estupefação do Mistério

“É esta memória viva de Jesus que nos enche de maravilha – continuou Francisco - e nos faz tirar sobretudo do Memorial eucarístico a força de amor que nos impele. É o nosso tesouro. Por isso, sem memória, não há estupefação. Se perdemos a memória viva, então a fé, as devoções e as atividades pastorais correm o risco de esmorecer, sendo como fogos de palha que acendem imediatamente mas depressa se apagam”. Concluindo o seu pensamento sobre a memória ainda acrescenta: “A fé não é uma bela exposição de coisas do passado, mas um evento sempre atual, o encontro com Cristo que acontece aqui e agora na vida. Por isso não se comunica apenas com a repetição das coisas de sempre, mas transmitindo a novidade do Evangelho. Assim a fé permanece viva e tem futuro”.

Futuro

“E vemos aparecer aqui a segunda palavra: futuro”. Continua Francisco: “a memória do passado não nos fecha em nós mesmos, mas abre-nos à promessa do Evangelho. Jesus garantiu-nos que estaria sempre connosco”. “Apesar das nossas fraquezas, Ele não Se cansa de estar connosco, construindo juntamente connosco o futuro da sua e nossa Igreja”.

Ser pequenos

O Papa fala também dos desafios da fé ao dizer que num país vasto como o Cazaquistão poder-se-iam sentir “pequenos” e inadequados. Contudo, encoraja, “o Evangelho diz que ser pequeno, pobre em espírito, é uma bem-aventurança, a primeira bem-aventurança”. E afirma seguidamente: “há uma graça escondida no facto de se constituir uma pequena Igreja, um pequeno rebanho; em vez de exibir as nossas forças, os nossos números, as nossas estruturas e todas as outras formas de relevância humana, deixamo-nos guiar pelo Senhor e colocamo-nos, com humildade, ao lado das pessoas”.

“Ricos de nada e pobres de tudo, caminhamos com simplicidade, próximo das irmãs e irmãos do nosso povo, levando às situações da vida a alegria do Evangelho”

Ponderando o aspeto da pequenez o Pontífice afirma ainda: “Ser pequeno lembra-nos que não somos autossuficientes: que precisamos de Deus, mas também dos outros, de todos eles: das irmãs e irmãos doutras confissões, de quem professa um credo religioso diferente do nosso, de todos os homens e mulheres animados de boa vontade”.

Comunidade aberta ao futuro de Deus

E desejou que a comunidade eclesial do Cazaquistão seja sempre “uma comunidade aberta ao futuro de Deus, abrasada pelo fogo do Espírito: viva, esperançosa, disponível para as novidades d’Ele e sinais dos tempos, animados pela lógica evangélica da semente que frutifica no amor humilde e fecundo”. “Deste modo – continuou o Papa - abre caminho não só para nós, mas realiza-se também para os outros, a promessa de vida e de bênção que Deus Pai derrama sobre nós por meio de Jesus. E realiza-se sempre que vivemos a fraternidade entre nós, que cuidamos dos pobres e de quem está ferido na vida, sempre que testemunhamos a justiça e a verdade nas relações humanas e sociais, dizendo ‘não’ à corrupção e à falsidade”. Desejando ainda que “as comunidades cristãs, em particular o Seminário, sejam ‘escolas de sinceridade’: não ambientes rígidos e formais, mas ginásios de treino para a verdade, a abertura e a partilha”. Concluindo este ponto disse ainda:

“A abertura, a alegria e a partilha são os sinais da Igreja primitiva; mas são também os sinais da Igreja do futuro. Sonhemos e, com a graça de Deus, construamos uma Igreja mais habitada pela alegria do Ressuscitado, que rejeite medos e lamentos, que não se deixe endurecer por dogmatismos e moralismos”

VN

14 setembro 2022

A preocupação do Papa com o Cáucaso: que prevaleçam o confronto pacífico e a concórdia

 

  Consequências do conflito na região do Cáucaso  (AFP or licensors)  
 

Não nos habituemos à guerra, escolhamos o diálogo, única estrada para alcançar a paz." Estas foram as palavras do Santo Padre aos fiéis que participaram na celebração eucarística no grande espaço da EXPO Grounds, em Nur-Sultan, no Cazaquistão, e ao mundo inteiro abalado pelo conflito na Ucrânia e também pelos recentes confrontos entre Arménia e Azerbaijão.

  

Gabriella Ceraso – Vatican News

No final da missa celebrada na Praça da Expo, em Nur-Sultan, no Cazaquistão, nesta quarta-feira (14/09), o Papa Francisco saudou e agradeceu calorosamente o povo do país.

"Irmãos e irmãs", "autoridades civis e religiosas" do país e depois idosos, doentes, crianças e jovens: na Festa da Exaltação da Santa Cruz, o Papa recordou a todos, unidos, como "Povo Santo de Deus", e mais uma vez reforçou o compromisso do Cazaquistão de "promover o diálogo", um compromisso que - segundo ele - "transforma-se numa invocação da paz, da paz da qual o nosso mundo está sedento".

Não nos habituemos à guerra

O olhar do Papa amplia-se para "muitos lugares martirizados pela guerra", como a "querida Ucrânia". O Papa falou ao mundo e às consciências, impelindo a procurar realmente a paz, a não ceder ao mal ou acostumar-se com ele.

Não nos habituemos à guerra, não nos resignemos à sua inevitabilidade. Socorramos quem sofre e insistamos para que se tente verdadeiramente alcançar a paz.

Paz, o único caminho

Depois, o Papa fez as seguintes perguntas:

Que terá ainda de acontecer? Quantos mortos teremos ainda de contar antes das contraposições cederem o passo ao diálogo para bem das pessoas, dos povos e da humanidade? A única saída é a paz, e a única estrada para se chegar lá é o diálogo.

Além da Ucrânia, o Papa também manifestou preocupação pelo que está a acontecer no Cáucaso entre o Azerbaijão e a Arménia em relação à disputada região de Nagorno-Karabakh que se proclamou independente em 1991, após um conflito entre os dois países. Até ao momento, já quase cem soldados morreram entre Baku e Yerevan nos confrontos fronteiriços que começaram na última terça-feira (13/09) de manhã e até agora congelados, pelo menos em parte, num cessar-fogo acordado sob forte pressão da Comunidade Internacional.

O Papa também está informado e acompanha estas novas tensões, daí seu apelo:

Soube com preocupação que nestas horas surgiram novos focos de tensão na região do Cáucaso. Continuamos a rezar para que nesses territórios o confronto pacífico e a concórdia possam prevaleçer sobre as disputas. Que o mundo aprenda a construir a paz, limitando a corrida armamentista e convertendo as enormes despesas de guerra em apoio concreto às populações.

Então, obrigado a todos os colaboradores da paz:

Obrigado a todos que acreditam nisto, obrigado a vós e a todos os que são mensageiros da paz e da unidade!

VN

12 setembro 2022

O Papa: pagar impostos é uma forma de partilhar as riquezas

 
 O Papa com os participantes da assembleia pública de Confindustria  (Vatican Media) 
 
Na audiência à Confindustria, o Papa convida os empresários a criarem empregos para os jovens, recorda as mulheres que são despedidas por causa da gravidez e os imigrantes. 
 

Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (12/09), na Sala Paulo VI, no Vaticano, os participantes da assembleia pública da Confindustria, Confederação Geral da Indústria Italiana.

No seu discurso, o Papa recordou que este tempo não é um tempo fácil para os empresários, para todos e que o mundo dos negócios também está a sofrer muito.

A pandemia pôs à prova as atividades produtivas, todo o sistema económico foi ferido. E agora acrescenta-se a guerra na Ucrânia com a crise energética resultante. Nestas crises também sofre o bom empreendedor, que tem a responsabilidade da sua empresa, dos empregos, que sente sobre si as incertezas e riscos. No mercado há empresários "mercenários" e empresários semelhantes ao bom pastor, que sofrem o mesmo sofrimento que os seus trabalhadores, que não fogem diante dos muitos lobos que giram em torno. As pessoas sabem reconhecer bons empresários. Vimos isso recentemente, com a morte de Alberto Balocco: toda a comunidade empresarial e civil triste, expressaram estima e gratidão.

A seguir, o Papa recordou que a Igreja, desde o início, acolheu "os comerciantes, precursores dos empresários modernos". Citou a Parábola do Bom Samaritano em que ele antecipa o dinheiro ao dono da pensão para hospedar o homem ferido encontrado pela estrada, e os trinta denários de Judas, aqueles pelos quais o apóstolo vende Cristo. "Ontem, como hoje, o mesmo dinheiro pode ser usado para trair e vender um amigo ou para salvar uma vítima", disse o Papa.

Vemos isto todos os dias, quando o dinheiro de Judas e os do Bom Samaritano convivem nos mesmos mercados, nas mesmas bolsas de valores, nas mesmas praças. A economia cresce e torna-se humana quando o dinheiro dos samaritanos se torna mais numeroso do que o de Judas.

A seguir, o Papa recordou que "na realidade é possível ser comerciante, empresário e um seguidor de Cristo, um habitante do seu Reino. A pergunta então é: quais são as condições para que um empresário possa entrar no Reino dos Céus?" Francisco deu algumas indicações aos empresários.

A primeira é partilhar. A riqueza, por um lado, ajuda muito na vida; mas também é verdade que muitas vezes a complica: não só porque pode tornar-se um ídolo e um patrão implacável que consome toda a sua vida dia após dia. Também a complica porque a riqueza exige responsabilidade: uma vez que eu tenho bens, eu tenho a responsabilidade de fazê-los frutificar, não desperdiçá-los, usá-los para o bem comum.

Impostos não são uma usurpação

Uma forma de partilhar é a "filantropia", ou seja, "doar à comunidade de várias formas", disse o Papa, agradecendo àqueles que ofereceram apoio concreto ao povo ucraniano, especialmente às crianças deslocadas para que possam ir à escola. "Muito importante é aquela forma de partilhar que no mundo moderno e nas democracias são os impostos e taxas, uma forma de partilha muitas vezes não entendida", disse ainda Francisco.

O pacto fiscal está no centro do pacto social. Os impostos também são uma forma de partilhar a riqueza, para que se torne bens comuns, bens públicos: escola, saúde, direitos, cuidados, ciência, cultura e património.

Criar empregos para jovens

Outra forma de partilhar é a "criação de trabalho": "Trabalho para todos, especialmente para os jovens", disse o Papa aos empresários.  Vocês precisam dos jovens, "porque empresas sem jovens perdem inovação, energia e entusiasmo".

Ao contratar pessoas vocês já estão a distribuir os vossos bens, já estão a criar riqueza partilhada. Cada novo emprego criado é uma fatia de riqueza partilhada de maneira dinâmica.

Apoio às famílias e taxas de natalidade

As novas tecnologias correm o risco de nos fazer esquecer esta grande verdade, mas "se o novo capitalismo cria riqueza sem criar empregos, essa grande boa função da riqueza entra em crise", alertou o Pontífice. O Papa retornou ao tema da queda da taxa de natalidade, uma questão que "combinada com o rápido envelhecimento da população, está a agravar a situação dos empresários, mas também da economia em geral".

Chega de mulheres grávidas mandadas embora

"Sobre isto, devemos trabalhar para sair o mais rápido possível do inverno demográfico em que vive a Itália e outros países. É um inverno demográfico mau, que vai contra nós e impede-nos de crescer", disse o Papa. "Hoje, ter um filho é uma questão, eu diria, patriótica, também para levar o país adiante". O Pontífice destacou outro problema sério:

Às vezes, uma mulher que trabalha aqui ou trabalha além, tem medo de engravidar, porque há uma realidade (eu não digo entre vós, mas há uma realidade): assim que a barriga começa aparecer, elas são mandadas embora. "Não, não, você não pode engravidar." Por favor, este é um problema das mulheres que trabalham. É preciso estudá-lo, ver como fazer com que uma mulher grávida possa continuar, tanto com o filho que espera, como com o trabalho.

A exploração dos migrantes é uma injustiça

Francisco ressaltou "o papel positivo que as empresas desempenham na realidade da migração, favorecendo a integração construtiva e valorizando as capacidades indispensáveis para a sobrevivência da empresa no contexto atual". Reiterou e convidou a dizer fortemente "não" a "todas as formas de exploração das pessoas e negligência na sua segurança".  "O migrante deve ser acolhido, acompanhado, apoiado e integrado. Se é usado apenas como trabalhador braçal é uma grande injustiça que fere o país", concluiu o Papa.

VN

11 setembro 2022

Papa: deixarmo-nos inquietar por quem se afastou, como Deus que sofre quando nos afastamos

 
 
"Recordemo-nos: Deus espera-nos sempre de braços abertos, qualquer que seja a situação da vida em que nos perdemos. Como diz um Salmo, ele não adormece, ele vela sempre  por nós."
 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Um Deus com coração de pai e mãe, que sofre quando nos distanciamos dele, quando nos perdemos, mas que continuamente vela por nós, espera o nosso retorno para nos ter nos seus braços.

Jesus a fazer a refeição com os pecadores: escândalo para fariseus e escribas, ao mesmo tempo a revelação de que Deus "não exclui ninguém, deseja todos no seu banquete, porque ama a todos como filhos". 

Três parábolas da misericórdia que resumem o coração do Evangelho: Deus é Pai e vem à nossa procura sempre que nos perdemos.

"Inquietação pela falta"

Inspirado no Evangelho de Lucas da liturgia do dia, o Papa convidou os milhares de peregrinos e turistas reunidos na Praça de São Pedro para o Angelus dominical - a também a nós -, a prestar atenção na "inquietação pela falta", aspeto comum aos protagonistas das parábolas: um pastor que procura a ovelha perdida, uma mulher que encontra a moeda perdida e o pai do filho pródigo.

Os três - explicou Francisco - fizessem-se alguns cálculos, poderiam ficar tranquilos: "ao pastor falta uma ovelha, mas tem outras noventa e nove; à mulher uma moeda, mas tem outras nove; e também o Pai tem outro filho, obediente, a quem se dedicar. Por que pensar no outro que se foi, para viver uma vida desregrada?" Mas nos seus corações, "existe uma inquietação por aquilo que falta: a ovelha, a moeda, o filho que se foi embora."

“Quem ama preocupa-se com aqueles que faltam, sente saudades de quem está ausente, procura quem se perdeu, espera por quem se afastou. Porque quer que ninguém se perca.”

Deus sofre quando nos distanciamos d'Ele

Irmãos e irmãs - disse o Papa - Deus é assim:

Ele não fica "tranquilo" se nos afastamos d'Ele, ele sofre, treme no seu íntimo; e sai à nossa procura, até que nos traga de volta nos seus braços. O Senhor não calcula as perdas e os riscos, tem um coração de pai e de mãe, e sofre com a falta dos filhos amados. "Mas por que sofre se este filho é um desgraçado, foi-se embora?" Sofre, sofre. Deus sofre com a nossa distância e, quando nos perdemos, espera o nosso retorno. Recordemo-nos: Deus sempre espera-nos sempre, Deus esp-nos sempre de braços abertos, qualquer que seja a situação de vida em que nos perdemos. Como diz um Salmo, ele não adormece, ele vela sempre por nós.

Rezar e ter compaixão por quem se afastou

Como costuma fazer nas suas reflexões, o Papa faz o convite para olharmos para nós mesmos e nos perguntarmos:

Imitamos o Senhor nisto, ou seja, temos a inquietação pela falta? Temos saudades de quem está ausente, dos que se afastaram da vida cristã? Carregamos essa inquietação interior ou permanecemos calmos e imperturbáveis ​​entre nós? Noutras palavras, quem falta nas nossas comunidades, realmente faz-nos falta ou fazemos de conta e não toca o coração? Quem falta na minha vida, realmente faz falta? Ou estamos bem entre nós, tranquilos  e felizes nos nossos grupos -"não, vou a um grupo apostólico, muito bom...-, sem nutrir compaixão por quem está distante? Não se trata somente de estar “aberto aos outros”, é Evangelho! O pastor da parábola não disse: "Já tenho noventa e nove ovelhas, quem me faz ir procurar a perdida, a perder tempo?" Ao invés disso Ele, foi.

Neste sentido, a exortação a fazermos uma reflexão sobre as nossas relações:

Eu rezo por quem não acredita, por quem está longe, por quem está amargurado? Atraímos os distantes pelo estilo de Deus, este estilo de Deus que é proximidade, compaixão e ternura? O Pai pede que estejamos atentos aos filhos que mais lhe fazem falta. Pensemos em alguém que conhecemos, que está ao nosso lado e que talvez nunca tenham ouvido alguém dizer: “Sabe? Tu és importante para Deus”. "Mas, por favor, eu estou em situação irregular, fiz isto errado, mais aquilo...". Tu és importante para Deus: dizer isto. Tu não o procuras, mas Ele procura-te.

Deixarmo-nos inquietar

Deixemo-nos inquietar, que sejamos homens e mulheres de coração inquieto, deixemo-nos inquietar por estas interrogações e rezemos a Nossa Senhora, mãe que não se cansa de nos procurar e de cuidar de nós, seus filhos.

VN