31 março 2022

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS 22

 


 

Porque duvidas sempre ao fazeres o que te peço, servindo-me de outros?
Oh Senhor, porque sou orgulhoso, vaidoso e receio quando me pedem para falar, eu o faça para “dar nas vistas”, para ser elogiado, e então tenho medo de errar e sentir humilhação em relação aos outros, claro.

Mas, meu filho, se alguém te chama a falares em Igreja, a dar testemunho do que aprendeste, viveste e vives, não acreditas que sou Eu que te chamo a fazê-lo?
Sim, Senhor, quero acreditar nisso mesmo. Mas mesmo assim o meu ser orgulhoso tem medo de falhar, não por causa de Ti, mas por causa do que os outros diriam de mim. Perdoa, Senhor, esta minha constante fraqueza.

Não saberei Eu o que faço? Não saberei Eu como tu és e o que sentes? E, no entanto, chamo-te para o fazeres e se te chamo é porque estou contigo e te ajudo em cada um desses momentos.
Eu sei, Senhor, e depois de cada momento desses eu percebo que afinal me entreguei, me deixei conduzir, por Tua graça, claro, mas os momentos antes são tão angustiantes, Senhor.

Sabes, se não tivesses essa fraqueza, se não tivesses medo de falhar por causa dessa fraqueza, considerar-te-ias tão capaz, tão “perfeito”, que acharias não precisar de Mim, e, então sim, falharias por completo o que Eu te peço para fazer.
Reconheço isso, Senhor, e por isso mesmo me afadigo tanto na oração antes de falar, para Te pedir humildade e serviço, e que afastes de mim o orgulho e a vaidade.
Por isso Te peço, Senhor, deixa-me viver com esta fraqueza para que sempre e em todos os momentos eu perceba cada vez mais que sem Ti nada sou, nem posso.

Há fraquezas, meu filho, que ajudam a construir, que ajudam a reconhecer os limites de cada um, e, quando o próprio admite essas fraquezas, só uma coisa lhe resta, rezar e abandonar-se em Mim.
Obrigado, Senhor!

 


Monte Real, 31 de Março de 2022
Joaquim Mexia Alves 

 

JMJ Lisboa 2023: “Dias nas Dioceses” decorrem entre 26 e 31 de julho de 2023

 

 

"Para esta semana está a ser preparado um programa com cinco pilares: Acolhimento, descoberta, missão, cultura e envio", anunciou o COL da JMJ Lisboa 2023.

As comunidades católicas portuguesas vão acolher de 26 a 31 de julho de 2023 os “Dias nas Dioceses”, o encontro de jovens que decorre antes da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Lisboa, anunciou hoje o COL da JMJ Lisboa 2023. “Os jovens vão ter uma experiência eclesial de partilha de fé, do ser Igreja nas comunidades de acolhimento nos dias anteriores à JMJ Lisboa”, assinalam os responsáveis.

Durante seis dias, os participantes dos “Dias nas Dioceses” vão conhecer a Igreja local, “com as suas especificidades, as pessoas e a região”. “Para esta semana está a ser preparado um programa com cinco pilares: Acolhimento, descoberta, missão, cultura e envio. Os jovens vão ficar alojados preferencialmente em casas de famílias nas paróquias de acolhimento e em instalações públicas", indica a organização JMJ.
 

Os “Dias na Diocese” vão realizar-se nas dioceses do Algarve, Angra, Aveiro, Beja, Braga, Bragança-Miranda, Coimbra, Évora, Funchal, Guarda, Lamego, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco, Porto, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu. “As dioceses vão oferecer a sua identidade religiosa e cultural, através de uma proposta criativa da sua realidade. Os movimentos juvenis, como parte da Igreja e das dinâmicas diocesanas, também são chamados a estar presentes e a dar o seu contributo, nesta experiência de acolhimento e partilha”, precisa o comunicado.

O evento é apresentado como “um caminho de preparação para os peregrinos e para as comunidades anfitriãs para a vivência da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa”, que se realiza de 1 e 6 e agosto de 2023, e vai permitir o encontro de jovens de todo o mundo com o Papa.

A informação sobre os ‘Dias nas Dioceses’ pode ser pedida diretamente aos Comités Organizadores Diocesanos (COD) ou através do endereço eletrónico diasnadiocese@lisboa2023.org.

Ecclesia

Patriarcado de Lisboa

30 março 2022

Francisco: pare a crueldade selvagem da guerra.

 
 Um menino diante das ruínas de um prédio bombardeado em Donetsk 
 
No final da Audiência Geral, o Papa voltou a pedir o fim do conflito na Ucrânia, saudando em particular entre os aplausos da Sala Paulo VI, as crianças acolhidas por duas associações, nascidas após o desastre de Chernobyl, e pela Embaixada da Ucrânia junto da Santa Sé.
 

Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano

Após a catequese da Audiência Geral, o Papa Francisco dirigiu "uma saudação particularmente afetuosa", acompanhada de um longo aplauso, "às crianças ucranianas, acolhidas pela Fundação 'Ajude-as a viver', pela Associação 'Puer' e pela a Embaixada da Ucrânia junto da Santa Sé", acompanhando a saudação com uma nova condenação do horror que ensanguenta o Leste Europeu.

Com esta saudação às crianças, voltemos também a pensar nesta monstruosidade da guerra e renovemos as nossas orações para que esta crueldade selvagem que é a guerra pare.

"Nesta última etapa do caminho quaresmal", Francisco disse a seguir, "olhemos para a Cruz de Cristo, expressão máxima do amor de Deus, e esforcemo-nos por estar sempre perto dos que sofrem, dos que estão sozinhos, dos frágeis que sofrem violência e não têm quem os defenda".

Ao lado dos pequenos desde o desastre de Chernobyl

A associação “Puer” tem como missão a aplicação de medidas de apoio a situações sociais precárias, prestando especial atenção à proteção de menores em dificuldade. Uma história que se entrelaça com um evento dramático, ocorrido em 26 de abril de 1986, que levou à explosão de um reator na usina nuclear de Chernobyl. Desde então, graças a essa realidade, milhares de crianças foram acolhidas em áreas não contaminadas, provenientes sobretudo de Belarus, uma das nações mais afetadas pela radiação. A fundação "Ajude-as a viver" também foi animada pela inestimável contribuição de pessoas de boa vontade que espontaneamente começaram a trabalhar para ajudar as populações infantis afetadas pelo desastre nuclear de Chernobyl. Nos últimos dias, uma delegação desta fundação foi a países de fronteira com a Ucrânia para levar ajuda humanitária, incluindo alimentos, roupas, cobertores, sapatos e medicamentos.

Infância negada

Pelo menos 144 crianças morreram na Ucrânia como resultado da guerra que eclodiu em 24 de fevereiro, relatam fontes ucranianas, sublinhando que quase metade das vítimas estão em Kiev. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), são pelo menos 4 milhões e 300 mil as crianças deslocadas: mais de 1 milhão e 800 mil chegaram aos países vizinhos como refugiadas e 2 milhões e 500 mil as crianças deslocadas internamente. "A guerra causou um dos mais rápidos deslocamentos em larga escala de crianças desde a Segunda Guerra Mundial", disse a diretora-geral do Unicef, Catherine Russell. "Este é um triste resultado que pode ter consequências duradouras para as gerações futuras".

VN

O Papa: a velhice é a primeira vítima da perda de sensibilidade

 

 O Papa Francisco durante a Audiência Geral  (Vatican Media) 
 

Durante a Audiência Geral, Francisco disse que "uma velhice que se exerceu na expectativa da visita de Deus não perderá a sua passagem: aliás, estará ainda mais pronta para a colher, terá mais sensibilidade para acolher o Senhor quando o Senhor passar. Lembramos que o comportamento de um cristão é estar atento às visitas do Senhor, porque o Senhor passa, na nossa vida, com as inspirações, com o convite para sermos melhores".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco continuou o seu ciclo de catequeses sobre a velhice, na Audiência Geral desta quarta-feira (30/03), realizada na Sala Paulo VI, que teve como tema "Fidelidade à visita de Deus para a geração futura".

Os idosos Simeão e Ana estiveram no centro da catequese do Pontífice. A razão de vida deles, "antes de se despedir deste mundo, é aguardar a visita de Deus. Simeão sabe, através de uma premonição do Espírito Santo, que não morrerá antes de ter visto o Messias. Ana vai ao templo todos os dias, dedicando-se ao seu serviço. Ambos reconhecem a presença do Senhor no Menino Jesus, que enche de consolação a sua longa espera e tranquiliza a sua despedida da vida. Esta é uma cena de um encontro com Jesus e de despedida".

"O que podemos aprender com estas duas figuras de idosos cheios de vitalidade espiritual?", perguntou o Papa. "Aprendemos que a fidelidade da espera aguça os sentidos. O Espírito Santo faz exatamente isso: ilumina os nossos sentidos, aguça os sentidos da alma, apesar dos limites e das feridas dos sentidos do corpo: um é mais cego, um mais surdo", disse Francisco.

A velhice debilita, de uma forma ou de outra, a sensibilidade do corpo. No entanto, uma velhice que se exerceu na expectativa da visita de Deus não perderá a sua passagem: aliás, estará ainda mais pronta para acolher, terá mais sensibilidade para acolher o Senhor quando o Senhor passar. Lembramos que o comportamento de um cristão é estar atento às visitas do Senhor, porque o Senhor passa, na nossa vida, com as inspirações, com o convite para sermos melhores. Santo Agostinho dizia: "Tenho medo de Deus quando ele passa" - "Mas por que tens medo?" - “Sim, tenho medo de não perceber e deixá-lo passar”. É o Espírito Santo que prepara os sentidos para entender quando o Senhor nos visita, como fez com Simeão e Ana.

Segundo o Papa, precisamos "de uma velhice dotada de sentidos espirituais vivos e capazes de reconhecer os sinais de Deus, ou seja, o Sinal de Deus, que é Jesus. Um sinal que nos põe sempre em crise. Jesus nos põe sempre em crise porque é «sinal de contradição», mas que nos enche de alegria. A crise não traz necessariamente tristeza, não: estar em crise enquanto se serve o Senhor dá-nos muitas vezes, paz e alegria". Portanto, o problema é a "anestesia dos sentidos espirituais, isto é rmau, uma síndrome generalizada numa sociedade que cultiva a ilusão da juventude eterna, e a sua caraterística mais perigosa consiste em ser quase inconsciente. Não se tem a consciência de estar anestesiado. E isto acontece! Aconteceu sempre e acontece nos nossos tempos. Os sentidos anestesiados, sem entender o que está a acontecer; os sentidos internos, os sentidos do Espírito para entender a presença de Deus ou a presença do mal, anestesiados, não distinguindo".

Segundo o Papa, "quando perdemos a sensibilidade do tacto ou do paladar, damo-nos conta imediatamente. A da alma, ao contrário, podemos ignorá-la por muito tempo". Tal sensibilidade "não se refere simplesmente ao pensamento de Deus ou da religião. A insensibilidade dos sentidos espirituais diz respeito à compaixão e à piedade, à vergonha e ao remorso, à fidelidade e à dedicação, à ternura e à honra, à responsabilidade própria e à dor pelo próximo".

É curioso: a insensibilidade não te faz entender a compaixão, não te faz entender a piedade, não te faz sentir vergonha ou remorso por teres feito uma coisa má. É assim. Os sentidos espirituais anestesiados confundem tudo e a pessoa não sente, espiritualmente, coisas deste tipo. E a velhice torna-se, por assim dizer, a primeira vítima desta perda de sensibilidade. Numa sociedade que exerce a sensibilidade sobretudo por prazer, só pode haver a perda de atenção pelos mais frágeis e prevalecer a competição dos vencedores. Assim, se  perde a sensibilidade. Certamente, a retórica da inclusão é a fórmula ritual de cada discurso politicamente correto. Mas ainda não traz uma verdadeira correção nas práticas da normal convivência: uma cultura da ternura social tem dificuldade em crescer. O espírito da fraternidade humana - que julguei necessário relançar com força - é como uma peça de vestiário descartada, para admirar, sim, mas... num museu.

Segundo o Papa, "na vida real podemos observar, com comovente gratidão, muitos jovens capazes de honrar até ao fundo esta fraternidade. Mas o problema é exatamente este: existe um descarte, um descarte culpado, entre o testemunho desta linfa vital da ternura social e o conformismo que obriga a juventude a contar a sua história de modo completamente diferente".

"O que podemos fazer para preencher esta lacuna? Em que consiste concretamente a revelação que estimula a sensibilidade de Simeão e Ana? ", perguntou Francisco. "Consiste em reconhecer numa criança, que eles não geraram e que veem pela primeira vez, o sinal certo da visita de Deus. Eles aceitam que não são protagonistas, mas apenas testemunhas."

Segundo Francisco, "quando alguém aceita não ser protagonista, mas envolve-se como testemunha, vai tudo bem: aquele homem ou aquela mulher está a amadurecer bem", mas quando se tem o desejo de ser sempre protagonista, "este caminho, rumo à plenitude da velhice, nunca amadurecerá. A visita de Deus não se encarna na sua vida, não os põe em cena como salvadores: Deus não se encarna na sua geração, mas na geração vindoura".

Perdem o espírito, perdem a vontade de viver com maturidade e, como se costuma dizer, vivem superficialmente. É a grande geração dos superficiais, que não se permitem sentir as coisas com a sensibilidade do Espírito. Mas por que não se permitem? Em parte por preguiça, e em parte porque já não podem. É mau quando uma civilização perde a sensibilidade do Espírito. Pelo contrário, é maravilhoso quando encontramos idosos como Simeão e Ana que preservam essa sensibilidade do Espírito e são capazes de entender as diferentes situações, como estes dois entenderam a situação que estava diante deles que era a manifestação do Messias.

Nenhum ressentimento ou recriminação por isto. Ao contrário, grande emoção e grande consolação. A emoção e a consolação de poder ver e anunciar que a história da tua geração não se perde nem se desperdiça, precisamente graças a um acontecimento que se encarna e se manifesta na geração seguinte.

Só a velhice espiritual pode dar este testemunho, humilde e deslumbrante, tornando-o influente e exemplar para todos. A velhice que cultivou a sensibilidade da alma extingue toda a inveja entre as gerações, todo o ressentimento, toda a recriminação pelo advento de Deus na geração seguinte, que chega com a despedida da própria.

Segundo o Papa, "isto é o que acontece a um idoso aberto com um jovem aberto: despede-se da vida mas entrega, entre aspas, a sua vida à nova geração. E esta é aquela despedida de Simeão e Ana: "Agora posso ir em paz".

VN

28 março 2022

"O Papa fala de paz, mas..."

 

  Papa Francisco  (Vatican Media) - EDITORIAL 

  A técnica de minimizar as palavras de Francisco como apelos das circunstâncias

ANDREA TORNIELLI

"O Papa fala contra o rearmamento, mas... O Papa é o Papa, mas... O Papa só pode dizer o que ele diz, mas...". Há sempre um "mas" que em muitos comentários embaraçosos acompanha o inequívoco não à guerra pronunciado por Francisco, a fim de contextualizá-lo e enfraquecê-lo. Não sendo capaz de interpretar as palavras do Papa Francisco no sentido desejado, não sendo capaz de "dobrá-las" em apoio à corrida armamentista acelerada após a guerra de agressão desencadeada por Vladimir Putin contra a Ucrânia, então distancia-se discretamente dela, dizendo que sim, o Papa só pode dizer o que diz, mas por fim é a política que deve decidir. E a política dos governos ocidentais está a decidir aumentar os já muitos biliões a serem gastos em armas novas e cada vez mais sofisticadas. Biliões que não puderam ser encontrados para as famílias, para a saúde, para o trabalho, para a hospitalidade, para combater a pobreza e a fome.

A guerra é uma aventura sem retorno, Francisco repete nos passos dos seus predecessores imediatos, em particular S. João Paulo II. As palavras do Papa Wojtyla por ocasião das duas guerras no Iraque e da guerra nos Bálcãs também foram "contextualizadas" e "minimizadas", mesmo dentro da Igreja. O Papa, que no início do seu pontificado pediu para "não termos medo" ao abrir "as portas a Cristo", em 2003 suplicou em vão a três governantes ocidentais, com a intenção de derrubar o regime de Saddam Hussein, pedindo-lhes que não o atacassem. Quase vinte anos depois, quem pode negar que o grito contra a guerra daquele Pontífice não foi apenas profético, mas também imbuído de um profundo realismo político? Basta olhar para a ruína do Iraque atormentado, transformado por muito tempo no reservatório de todos os terrorismos, para compreender o quanto o olhar do santo Pontífice polaco era clarividente.

A mesma coisa está a acontecer hoje. Com o Papa que não se rende à inevitabilidade da guerra, ao túnel sem saída representado pela violência, à lógica perversa do rearmamento, à teoria da dissuasão que tem enchido o mundo com tantas armas nucleares capazes de aniquilar várias vezes a toda a humanidade.

"Fiquei envergonhado", disse Francisco nos últimos dias, "quando li que um grupo de Estados comprometeu-se a gastar dois por cento do PIB na compra de armas, como resposta ao que está a acontecer agora. Uma loucura! A verdadeira resposta não é mais armas, mais sanções, mais alianças político-militares, mas uma abordagem diferente, uma maneira diferente de governar o mundo agora globalizado - não mostrando os seus dentes, como agora -, uma maneira diferente de estabelecer relações internacionais. O modelo da cura já está em vigor, graças a Deus, mas infelizmente ainda é subserviente ao do poder económico-tecnocrático-militar".

O não à guerra de Francisco, um não radical e convicto, não tem nada a ver com a chamada neutralidade, nem pode ser apresentado como uma posição partidária ou motivada por cálculos político-diplomáticos. Nesta guerra, há os agressores e há os atacados. Há aqueles que atacaram e invadiram, matando civis indefesos, disfarçando hipocritamente o conflito sob o pretexto de uma "operação militar especial"; e há aqueles que se defendem com força, lutando pelas suas próprias terras. O Sucessor de Pedro disse isto muitas vezes em palavras muito claras, condenando sem “se” e sem “mas” a invasão e o martírio da Ucrânia que vem ocorrendo há mais de um mês. Isto não significa, entretanto, que ele "abençoa" a aceleração da corrida armamentista, que já começou há algum tempo, já que os países europeus aumentaram os seus gastos militares em 24,5% desde 2016: porque o Papa não é o "capelão do Ocidente" e porque ele repete que estar hoje no lado certo da história significa ser contra a guerra e procurar a paz, não deixando de fora nenhuma possibilidade de paz diplomática. Claro, o Catecismo da Igreja Católica contempla o direito à legítima defesa. A defesa impõe, entretanto, condições, especificando que o recurso às armas não deve causar mais males e desordens do que o mal a ser eliminado, e assinala que na avaliação desta condição, desempenha um papel muito importante "o poder dos meios modernos de destruição". Quem pode negar que a humanidade está hoje à beira do abismo precisamente por causa da escalada do conflito e do poder dos "meios modernos de destruição"?

A guerra - disse o Papa Francisco no Angelus de 27 de março - não pode ser algo inevitável: não nos devemos acostumar à guerra! Ao invés disto, devemos converter a indignação de hoje no compromisso de amanhã. Porque, se sairmos disto como antes, todos seremos culpados de alguma forma. Diante do perigo da autodestruição, a humanidade entenda que chegou a hora de abolir a guerra, de apagá-la da história humana antes que ela apague o homem da história.

Há, portanto, a necessidade de levar a sério o grito, o apelo repetido pelo Papa: é um convite dirigido precisamente aos políticos para refletir sobre isto, para nos comprometermos com isto. Há necessidade de uma política forte e de diplomacia criativa, para procurar a paz, para não deixar pedra sobre pedra, para deter o vórtice perverso que em apenas algumas semanas está a diminuir a esperança de uma transição ecológica, está a dar nova energia ao grande negócio do comércio e do tráfico de armas. Um vento de guerra que volta ao passado na história e mergulha-nos de volta numa época que esperávamos ter sido definitivamente arquivada após a queda do Muro de Berlim.

Vatican News

27 março 2022

O Papa: abolir a guerra, antes que ela apague o homem da história

 
 Povoado de Krasylivk, na Ucrânia, depois de um bombardeamento 
 
O pensamento do Papa está sempre voltado para a Ucrânia: "É preciso repudiar a guerra, um lugar de morte onde pais e mães sepultam os seus filhos, onde os homens matam os seus irmãos sem sequer os terem visto, onde os poderosos decidem e os pobres morrem".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Após a oração mariana do Angelus, deste domingo (27/03), o Papa Francisco fez novamente um apelo à paz na Ucrânia.

Mais de um mês se passou desde o início da invasão da Ucrânia, desde o início desta guerra cruel e insensata que, como qualquer guerra, representa uma derrota para todos, para todos nós. É preciso repudiar a guerra, um lugar de morte onde pais e mães sepultam os seus filhos, onde homens matam os seus irmãos sem sequer os terem visto, onde os poderosos decidem e os pobres morrem.

A seguir, Francisco ressaltou que "a guerra não só destrói o presente, mas também o futuro de uma sociedade". "Li que desde o início da agressão contra a Ucrânia, uma em cada duas crianças foi deslocada do país. Isto significa destruir o futuro, causando traumas dramáticos nas crianças. Esta é a brutalidade da guerra, um ato bárbaro e sacrílego", frisou o Papa.

A guerra não pode ser algo inevitável: não devemos acostumarmo-nos à guerra! Pelo contrário, devemos converter a indignação de hoje no compromisso de amanhã. Porque, se sairmos dessa história como antes, todos seremos culpados de alguma forma. Diante do perigo da autodestruição, a humanidade entenda que chegou a hora de abolir a guerra, de apagá-la da história humana antes que ela apague o homem da história.

O Papa pediu "a todos os líderes políticos que reflitam sobre isto, que se comprometam com isto! E olhando para a Ucrânia martirizada, entender que cada dia de guerra torna a situação pior para todos". Por isso, Francisco renovou o seu apelo: "Chega, pare, calem-se as armas, que se negocie seriamente pela paz!" A seguir, convidou os fiéis a invocarem a Rainha da Paz, a quem foi consagrada a humanidade, especialmente a Rússia e a Ucrânia, rezando uma Ave-Maria.

Depois, o Pontífice saudou os romanos e peregrinos provenientes da Itália e outros países. Saudou os participantes da Maratoda de Roma, que este ano por iniciativa da Athletica Vaticana, vários atletas participaram nas iniciativas de solidariedade em prol das pessoas que na Cidade Eterna passam necessidade.

Por fim, Francisco recordou a Statio Orbis de dois há anos atrás. na Praça de São Pedro.

há dois anos atrás, desta praça, elevamos uma súplica pelo fim da pandemia. Hoje, a fizemos pelo fim da guerra na Ucrânia. Ao sair da praça, será oferecido a vód um livro gratuito, produzido pela Comissão Vaticana Covid-19 com o Dicastério para a Comunicação, a fim de convidar a rezar nos momentos de dificuldade, sem medo, tendo sempre fé no Senhor.

VN

Francisco: os pais aproximam-se de Deus que perdoa sempre com alegria

 
 
Deus não sabe perdoar sem festejar e acolhe sempre plenamente. No Angelus, o Papa Francisco exortou os fiéis a não caírem no erro de uma religião formada de deveres e proibições, e a aprenderem da ternura de Deus que não só acolhe novamente, mas alegra-se e faz festa pelo seu filho que voltou para casa.
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus deste domingo (27/03), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.  

A Liturgia deste domingo narra a Parábola do Filho Pródigo que "nos leva ao coração de Deus, que sempre perdoa com compaixão e ternura. Deus perdoa sempre, somos nós que nos cansamos de Lhe pedir perdão". Segundo Francisco, esta parábola "diz-nos que Deus é Pai, que não só acolhe novamente, mas alegra-se e celebra o seu filho, que voltou a casa depois de ter desperdiçado todos os seus bens. Nós somos esse filho, e é comovente pensar no quanto o Pai nos ama sempre e nos espera".

Rigidez em relação ao próximo

O Papa recordou que na "parábola há também o filho mais velho, que entra em crise diante desse Pai. E isso pode-nos colocar também em crise. De facto, dentro de nós há também esse filho e, pelo menos em parte, somos tentados a dar-lhe razão: ele cumpriu sempre o seu dever, não saiu de casa, por isso indigna-se ao ver o Pai abraçar novamente o irmão que tinha se tinha comportado mal. Ele protesta e diz: «Há tantos anos que te sirvo e nunca desobedeci às tuas ordens», mas para «este teu filho» fizeste-lh festa! Não te entendo. Esta é a indignação do filho mais velho".

Destas palavras surge o problema do filho mais velho. No seu relacionamento com o Pai, ele baseia tudo na pura observância dos comandos, no sentido do dever. Este também pode ser o nosso problema, o nosso problema connosco e com Deus: perder de vista o facto de que Ele é Pai e viver uma religião distante, formada de proibições e deveres. E a consequência desta distância é a rigidez em relação ao próximo, que não é mais visto como um irmão. Na parábola, de facto, o filho mais velho não diz ao Pai, meu irmão, mas seu filho, como se dissesse: não é meu irmão. E no final é ele quem corre o risco de ser deixado fora de casa. Na verdade, diz o texto, "ele não queria entrar", por causa do outro.

Então, o Pai sai para suplicá-lo: "Filho, estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu". "Ele tenta fazê-lo entender que para ele cada filho é toda a sua vida. Os pais sabem disso bem, pois aproximam -se muito do sentimento de Deus. É bonito o que diz um pai num romance: «Quando me tornei pai, entendi Deus»", frisou o Papa.

Procurar quem está distante

Segundo Francisco, "neste ponto da parábola, o Pai abre o coração ao seu filho mais velho e expressa-lhe duas necessidades, que não são ordens, mas necessidades do coração: "Era preciso festejar e alegrar-nos, porque aquele seu irmão estava morto, e tornou a viver». Vejamos se também nós temos nos nossos corações as duas necessidades do Pai: festejar e alegrarmo-nos".

Primeiro, festejar, ou seja, mostrar a nossa proximidade a quem se arrepende ou está a caminho, a quem está em crise ou está distante. Porque é preciso fazer assim? Porque isto ajudará a superar o medo e o desânimo que podem surgir da lembrança dos próprios pecados. Quem errou, muitas vezes sente-se repreendido pelo seu próprio coração; distância, indiferença e palavras duras não ajudam. Portanto, segundo o Pai, é necessário oferecer-lhe um acolhimento caloroso que o encoraje a seguir em frente. Nós fazemos isto? Procuramos quem está distante, desejamos fazer festa com ele? Quanto bem pode ser feito por um coração aberto, uma escuta verdadeira, um sorriso transparente; fazer festa, não fazer sentir desconfortável! O pai poderia ter dito: tudo bem filho, volta para casa, volta a trabalhar, vá para o teu quarto, acalme-te e começa trabalhar e isto teria sido um bom perdão. Mas não! Deus não pode perdoar sem festejar! E o pai festeja. Sente a alegria pelo seu filho que voltou.

Então, de acordo com o Pai, é preciso alegrarmo-nos. Segundo o Papa, "quem tem o coração sintonizado com Deus alegra-se ao ver o arrependimento de uma pessoa, por mais graves que tenham sido os seus erros. Não se mantém firme nos erros, não aponta o dedo para o mal, mas alegra-se com o bem, porque o bem do outro também é o meu!" "E nós, sabemos ver os outros assim? Sabemos alegrarmo-nis pelos outros?", perguntou Francisco, que a seguir, contou uma história, inventada, sobre o tema do Filho Pródigo, que mostra o coração do pai. Um jovem que queria voltar para casa, mas tinha medo que o pai o rejeitasse, que não o perdoasse. Então, um amigo aconselhou-o a escrever uma carta ao seu pai, dizendo que sentia muito e que gostaria de voltar, mas não tinha a certeza se o pai ficaria feliz. Portanto, se o pai quisesse recebê-lo, deveria colocar um lenço branco na janela. "Ele colocou-se a caminho e quando estava perto da casa, quando o caminho fez uma curva, ele encontrou-se diante de casa. E o que viu? Não um lenço, mas vários lenços brancos nas janelas, em tudo! Assim, o Pai recebe-nos com plenitude, com alegria. Este é o nosso Pai", concluiu o Papa, pedindo à Virgem Maria para que "nos ensine a acolher a misericórdia de Deus, para que se torne a luz na qual, olhar o nosso próximo".

VN

25 março 2022

O Papa a Nossa Senhora: que cesse esta "guerra cruel e insensata que ameaça o mundo"

 
 Celebração Penitencial 
 
Francisco presidiu a celebração penitencial na Basílica de São Pedro, no final da qual recitou a oração de Consagração da humanidade a Nossa Senhora, em particular a Rússia e a Ucrânia. As Igrejas no mundo unidas ao Papa.
 

Vatican News

O Papa Francisco presidiu a Celebração da Penitência com o Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria, na Basílica de São Pedro, na tarde desta sexta-feira (25/03), Solenidade da Anunciação do Senhor.

O Anjo Gabriel toma a palavra por três vezes para se dirigir à Virgem Maria. "A primeira vez, quando a saúda com estas palavras: «Alegra-Te, ó cheia de graça: o Senhor está contigo». O motivo para rejubilar, o motivo da alegria, é desvendado em poucas palavras: o Senhor está contigo", disse o Papa em sua homilia.

Segundo Francisco, "muitas vezes pensamos que a Confissão consiste em ir de cabeça inclinada ao encontro de Deus. Mas voltar para o Senhor não é primariamente obra nossa; é Ele que nos vem visitar, cumular da sua graça, alegrar com o seu júbilo. Confessar-se é dar ao Pai a alegria de nos levantar de novo. No centro daquilo que vamos viver, não estão os nossos pecados, mas o seu perdão".

Restituamos à graça o primado e peçamos o dom de compreender que a Reconciliação consiste antes de tudo, não num passo nosso para Deus, mas no seu abraço que nos envolve, deslumbra, comove. É o Senhor que entra em nossa casa, como na de Maria em Nazaré, e traz um deslumbramento e uma alegria antes desconhecidos. Como primeiro plano foquemos a perspectiva em Deus: voltaremos a gostar da Confissão. Precisamos dela, porque cada renascimento interior, cada viragem espiritual começa daqui, do perdão de Deus. Não negligenciemos a Reconciliação, mas voltemos a descobri-la como o sacramento da alegria. Sem qualquer rigidez, sem criar obstáculos nem incómodos; portas abertas à misericórdia!

A segunda vez que o Anjo fala a Maria, perturbada com a saudação recebida, é para Lhe dizer: «Não temas». Segundo Francisco, "na Sagrada Escritura, quando Deus aparece, gosta de dirigir estas duas palavras a quem O acolhe: não temas. Deste modo transmite-nos uma mensagem clara e reconfortante: sempre que a vida se abre a Deus, o medo deixa de ter-nos como reféns. A Virgem Maria nos acompanha: Ela mesma deixou a sua perturbação em Deus. O anúncio do Anjo dava-Lhe razões sérias para não temer. Propunha-Lhe algo de inimaginável, que estava para além das suas forças e, sozinha, não poderia levá-lo para diante: haveria muitas dificuldades, problemas com a lei mosaica, com José, com as pessoas da sua terra e do seu povo. Mas Maria não levanta objeções. Basta-Lhe aquele não temas, basta-Lhe a garantia de Deus. Agarra-Se a Ele, como queremos nós fazer esta noite. Porque muitas vezes fazemos o contrário: partimos das nossas certezas e, só quando as perdemos, é que vamos ter com Deus. Nossa Senhora ensina-nos o contrário: partir de Deus, com a confiança de que, assim, tudo o mais nos será dado. Convida-nos a ir à fonte, ao Senhor, que é o remédio radical contra o medo e os perigos da existência".

Nestes dias, notícias e imagens de morte continuam entrando dentro de nossas casas, enquanto as bombas destroem as casas de muitos dos nossos irmãos e irmãs ucranianos inermes. A guerra brutal, que se abateu sobre tantos e que a todos faz sofrer, provoca em cada um medo e consternação. Notamos dentro de nós uma sensação de impotência e inadequação. Precisamos ouvir dizer-nos: «não temas». Mas não bastam as garantias humanas, é necessária a presença de Deus, a certeza do perdão divino, o único que apaga o mal, desativa o rancor, restitui a paz ao coração. Voltemos a Deus, ao seu perdão.

Pela terceira vez, o Anjo retoma a palavra, para dizer a Nossa Senhora: «O Espírito Santo virá sobre Ti». "É assim que Deus intervém na história: dando o seu próprio Espírito. Porque nas coisas que contam, não bastam as nossas forças. Por nós sozinhos somos incapazes de resolver as contradições da história ou mesmo as do nosso coração. Precisamos da força sapiente e suave de Deus, que é o Espírito Santo. Precisamos do Espírito de amor, que dissolve o ódio, apaga o rancor, extingue a ganância, desperta-nos da indiferença. Precisamos do amor de Deus, porque o nosso amor é precário e insuficiente. Pedimos tantas coisas ao Senhor, mas muitas vezes esquecemo-nos de Lhe pedir o que é mais importante e que Ele nos deseja dar: o Espírito Santo, a força para amar", frisou o Papa.

Segundo Francisco, "se quisermos que mude o mundo, tem de mudar primeiro o nosso coração. Para o conseguirmos, deixemos hoje que Nossa Senhora nos leve pela mão. Olhemos para o seu Imaculado Coração, onde Deus descansou, para o único Coração de criatura humana sem sombras. Ela é «cheia de graça» e, portanto, vazia de pecado: n’Ela não há vestígios de mal e, assim, com Ela Deus pôde iniciar uma história nova de salvação e de paz. Naquele ponto, a história deu uma virada. Deus mudou a história, batendo à porta do Coração de Maria".

E hoje também nós, renovados pelo perdão de Deus, batemos à porta daquele Coração. Em união com os Bispos e os fiéis do mundo inteiro, desejo solenemente levar ao Imaculado Coração de Maria tudo o que estamos vivendo: renovar-Lhe a consagração da Igreja e da humanidade inteira e consagrar-Lhe de modo particular o povo ucraniano e o povo russo, que, com afeto filial, a veneram como Mãe. Não se trata duma fórmula mágica, mas dum ato espiritual. É o gesto da entrega plena dos filhos que, na tribulação desta guerra cruel e insensata que ameaça o mundo, recorrem à Mãe, lançando no seu Coração medo e sofrimento, entregando-se a si mesmos. É colocar naquele Coração límpido, incontaminado, onde Deus se espelha, os bens preciosos da fraternidade e da paz, tudo o temos e somos, para que seja Ela – a Mãe que o Senhor nos deu – a proteger-nos e guardar-nos.

Dos lábios de Maria brotou a frase mais bela que o Anjo pudesse referir a Deus: «Faça-se em Mim segundo a tua palavra». "Esta aceitação por parte de Nossa Senhora não é uma aceitação passiva nem resignada, mas o desejo vivo de aderir a Deus, que tem «desígnios de paz e não de desgraça». É a participação mais íntima no seu plano de paz para o mundo. Consagramo-nos a Maria para entrar neste plano, para nos colocarmos à inteira disposição dos desígnios de Deus. A Mãe de Deus, depois de ter dito o seu sim, empreendeu uma longa viagem subindo até uma região montanhosa para visitar a prima grávida. Hoje, que Ela tome pela mão o nosso caminho e o guie, através das veredas íngremes e cansativas da fraternidade e do diálogo, pela senda da paz", concluiu o Papa.

A oração do ato de consagração

Ao final da da liturgia penitencial na Basílica de São Pedro, o Papa pronuncia a seguinte oração para consagrar e confiar a humanidade, e especialmente a Rússia e a Ucrânia, ao Imaculado Coração de Maria:

"Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, recorremos a Vós nesta hora de tribulação. Vós sois Mãe, amais-nos e conheceis-nos: de quanto temos no coração, nada Vos é oculto. Mãe de misericórdia, muitas vezes experimentamos a vossa ternura providente, a vossa presença que faz voltar a paz, porque sempre nos guiais para Jesus, Príncipe da paz.

Mas perdemos o caminho da paz. Esquecemos a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras mundiais. Descuidamos os compromissos assumidos como Comunidade das Nações e estamos a atraiçoar os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens. Adoecemos de ganância, fechamo-nos em interesses nacionalistas, deixamo-nos ressequir pela indiferença e paralisar pelo egoísmo. Preferimos ignorar Deus, conviver com as nossas falsidades, alimentar a agressividade, suprimir vidas e acumular armas, esquecendo-nos que somos guardiões do nosso próximo e da própria casa comum. Dilaceramos com a guerra o jardim da Terra, ferimos com o pecado o coração do nosso Pai, que nos quer irmãos e irmãs. Tornamo-nos indiferentes a todos e a tudo, exceto a nós mesmos. E, com vergonha, dizemos: perdoai-nos, Senhor!

Na miséria do pecado, das nossas fadigas e fragilidades, no mistério de iniquidade do mal e da guerra, Vós, Mãe Santa, lembrai-nos que Deus não nos abandona, mas continua a olhar-nos com amor, desejoso de nos perdoar e levantar novamente. Foi Ele que Vos deu a nós e colocou no vosso Imaculado Coração um refúgio para a Igreja e para a humanidade. Por bondade divina, estais connosco e conduzis-nos com ternura mesmo nos transes mais apertados da história.

Por isso recorremos a Vós, batemos à porta do vosso Coração, nós os vossos queridos filhos que não Vos cansais de visitar em todo o tempo e convidar à conversão. Nesta hora escura, vinde socorrer-nos e consolar-nos. Repeti a cada um de nós: «Não estou porventura aqui Eu, que sou tua mãe?» Vós sabeis como desfazer os emaranhados do nosso coração e desatar os nós do nosso tempo. Repomos a nossa confiança em Vós. Temos a certeza de que Vós, especialmente no momento da prova, não desprezais as nossas súplicas e vindes em nosso auxílio.

Assim fizestes em Caná da Galileia, quando apressastes a hora da intervenção de Jesus e introduzistes no mundo o seu primeiro sinal. Quando a festa se mudara em tristeza, dissestes-Lhe: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3). Ó Mãe, repeti-o mais uma vez a Deus, porque hoje esgotamos o vinho da esperança, desvaneceu-se a alegria, diluiu-se a fraternidade. Perdemos a humanidade, malbaratamos a paz. Tornamo-nos capazes de toda a violência e destruição. Temos necessidade urgente da vossa intervenção materna.

Por isso acolhei, ó Mãe, esta nossa súplica:

Vós, estrela do mar, não nos deixeis naufragar na tempestade da guerra;

Vós, arca da nova aliança, inspirai projetos e caminhos de reconciliação;

Vós, «terra do Céu», trazei de volta ao mundo a concórdia de Deus;

Apagai o ódio, acalmai a vingança, ensinai-nos o perdão;

Libertai-nos da guerra, preservai o mundo da ameaça nuclear;

Rainha do Rosário, despertai em nós a necessidade de rezar e amar;

Rainha da família humana, mostrai aos povos o caminho da fraternidade;

Rainha da paz, alcançai a paz para o mundo.

O vosso pranto, ó Mãe, comova os nossos corações endurecidos. As lágrimas, que por nós derramastes, façam reflorescer este vale que o nosso ódio secou. E, enquanto o rumor das armas não se cala, que a vossa oração nos predisponha para a paz. As vossas mãos maternas acariciem quantos sofrem e fogem sob o peso das bombas. O vosso abraço materno console quantos são obrigados a deixar as suas casas e o seu país. Que o vosso doloroso Coração nos mova à compaixão e estimule a abrir as portas e cuidar da humanidade ferida e descartada.

 Santa Mãe de Deus, enquanto estáveis ao pé da cruz, Jesus, ao ver o discípulo junto de Vós, disse-Vos: «Eis o teu filho!» (Jo 19, 26). Assim Vos confiou cada um de nós. Depois disse ao discípulo, a cada um de nós: «Eis a tua mãe!» (19, 27). Mãe, agora queremos acolher-Vos na nossa vida e na nossa história. Nesta hora, a humanidade, exausta e transtornada, está ao pé da cruz convosco. E tem necessidade de se confiar a Vós, de se consagrar a Cristo por vosso intermédio. O povo ucraniano e o povo russo, que Vos veneram com amor, recorrem a Vós, enquanto o vosso Coração palpita por eles e por todos os povos ceifados pela guerra, a fome, a injustiça e a miséria.

Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa, solenemente confiamos e consagramos ao vosso Imaculado Coração nós mesmos, a Igreja e a humanidade inteira, de modo especial a Rússia e a Ucrânia. Acolhei este nosso ato que realizamos com confiança e amor, fazei que cesse a guerra, providenciai ao mundo a paz. O sim que brotou do vosso Coração abriu as portas da história ao Príncipe da Paz; confiamos que mais uma vez, por meio do vosso Coração, virá a paz. Assim a Vós consagramos o futuro da família humana inteira, as necessidades e os anseios dos povos, as angústias e as esperanças do mundo.

Por vosso intermédio, derrame-se sobre a Terra a Misericórdia divina e o doce palpitar da paz volte a marcar as nossas jornadas. Mulher do sim, sobre Quem desceu o Espírito Santo, trazei de volta ao nosso meio a harmonia de Deus. Dessedentai a aridez do nosso coração, Vós que «sois fonte viva de esperança». Tecestes a humanidade para Jesus, fazei de nós artesãos de comunhão. Caminhastes pelas nossas estradas, guiai-nos pelas sendas da paz. 

Amen."

VN

Consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria

 

Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria
 

25 de março, às 16h00, na Capelinha das Aparições

A Rússia e a Ucrânia vão ser consagradas ao Imaculado Coração de Maria a 25 de março, a pedido do Papa Francisco. O Santo Padre fará a consagração durante a Celebração da Penitência que presidirá às 17h00 (hora de Roma), na Basílica de S- Pedro. Em Fátima, na condição de Legado Pontifício, estará o cardeal Konrad Krajewski, Esmoler Apostólico, que fará o ato de consagração na Capelinha das Aparições, também às 16h00, durante a Oração do Terço, acompanhado dos bispos portugueses.

Para mais informação:
  
 
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Texto Oficial da Consagração da Rússia e da Ucrânia e da Humanidade ao Imaculado Coração de Maria
 
 
Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe,
recorremos a Vós nesta hora de tribulação.
Vós sois Mãe, amais-nos e conheceis-nos:
de quanto temos no coração,
nada Vos é oculto. 
 
Mãe de misericórdia,
muitas vezes experimentamos
a vossa ternura providente,
a vossa presença que faz voltar a paz,
porque sempre nos guiais para Jesus, Príncipe da paz. 
 
Mas perdemos o caminho da paz.
Esquecemos a lição
das tragédias do século passado,
o sacrifício de milhões de mortos
nas guerras mundiais. 
 
Descuidamos os compromissos assumidos
como Comunidade das Nações
e estamos a atraiçoar
os sonhos de paz dos povos
e as esperanças dos jovens. 
 
Adoecemos de ganância, 
fechamo-nos em interesses nacionalistas,
deixamo-nos ressequir pela indiferença
e paralisar pelo egoísmo. 
 
Preferimos ignorar Deus,
conviver com as nossas falsidades,
alimentar a agressividade,
suprimir vidas e acumular armas,
esquecendo-nos que somos guardiões
do nosso próximo e da própria casa comum. 
 
Dilaceramos com a guerra
o jardim da Terra,
ferimos com o pecado
o coração do nosso Pai,
que nos quer irmãos e irmãs.
Tornamo-nos indiferentes a todos e a tudo, exceto a nós mesmos. 
 
E, com vergonha, dizemos:
perdoai-nos, Senhor!
Na miséria do pecado,
das nossas fadigas e fragilidades,
no mistério de iniquidade do mal e da guerra, 
 
Vós, Mãe Santa,
lembrai-nos que Deus não nos abandona,
mas continua a olhar-nos com amor,
desejoso de nos perdoar
e levantar novamente. 
 
Foi Ele que Vos deu a nós
e colocou no vosso Imaculado Coração
um refúgio para a Igreja e para a humanidade. 
 
Por bondade divina,
estais connosco e conduzis-nos com ternura
mesmo nos transes
mais apertados da história. 
 
Por isso recorremos a Vós,
batemos à porta do vosso Coração,
nós os vossos queridos filhos
que não Vos cansais
de visitar em todo o tempo e convidar à conversão. 
 
Nesta hora escura,
vinde socorrer-nos e consolar-nos.
Repeti a cada um de nós:
«Não estou porventura aqui Eu,
que sou tua mãe?» 
 
Vós sabeis como desfazer os emaranhados do nosso coração
e desatar os nós do nosso tempo.
Repomos a nossa confiança em Vós. 
 
Temos a certeza de que Vós,
especialmente no momento da prova,
não desprezais as nossas súplicas
e vindes em nosso auxílio. 
 
Assim fizestes em Caná da Galileia,
quando apressastes
a hora da intervenção de Jesus
e introduzistes no mundo o seu primeiro sinal. 
 
Quando a festa se mudara em tristeza,
dissestes-Lhe: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3). 
 
Ó Mãe, repeti-o mais uma vez a Deus,
porque hoje esgotamos o vinho da esperança,
desvaneceu-se a alegria,
diluiu-se a fraternidade. 
 
Perdemos a humanidade,
malbaratamos a paz. 
 
Tornamo-nos capazes
de toda a violência e destruição.
Temos necessidade urgente
da vossa intervenção materna. 
 
Por isso acolhei, ó Mãe,
esta nossa súplica: 
 
Vós, Estrela do mar,
não nos deixeis naufragar
na tempestade da guerra; 
 
Vós, arca da nova aliança,
inspirai projetos e caminhos de reconciliação;
Vós, «terra do Céu»,
trazei de volta ao mundo
a concórdia de Deus; 
 
Apagai o ódio,
acalmai a vingança,
ensinai-nos o perdão; 
 
Libertai-nos da guerra,
preservai o mundo da ameaça nuclear;
Rainha do Rosário,
despertai em nós
a necessidade de rezar e amar; 
 
Rainha da família humana,
mostrai aos povos
o caminho da fraternidade; 
 
Rainha da paz,
alcançai a paz para o mundo.
O vosso pranto, ó Mãe,
comova os nossos corações endurecidos. 
 
As lágrimas, que por nós derramastes,
façam reflorescer este vale
que o nosso ódio secou. 
 
E, enquanto o rumor das armas não se cala,
que a vossa oração
nos predisponha para a paz. 
 
As vossas mãos maternas
acariciem quantos sofrem
e fogem sob o peso das bombas. 
 
O vosso abraço materno
console quantos são obrigados
a deixar as suas casas e o seu país. 
 
Que o vosso doloroso Coração
nos mova à compaixão
e estimule a abrir as portas
e cuidar da humanidade
ferida e descartada. 
 
Santa Mãe de Deus,
enquanto estáveis ao pé da cruz,
Jesus, ao ver o discípulo junto de Vós, disse-Vos:
«Eis o teu filho!» (Jo 19, 26). 
 
Assim Vos confiou cada um de nós.
Depois disse ao discípulo,
a cada um de nós:
«Eis a tua mãe!» (19, 27). 
 
Mãe, agora queremos acolher-Vos
na nossa vida e na nossa história. 
 
Nesta hora, a humanidade,
exausta e transtornada,
está ao pé da cruz convosco. 
 
E tem necessidade de se confiar a Vós,
de se consagrar a Cristo por vosso intermédio. 
 
O povo ucraniano e o povo russo,
que Vos veneram com amor,
recorrem a Vós,
enquanto o vosso Coração
palpita por eles
e por todos os povos ceifados pela guerra,
a fome, a injustiça e a miséria. 
 
Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa,
solenemente confiamos
e consagramos ao vosso Imaculado Coração
nós mesmos,
a Igreja e a humanidade inteira,
de modo especial a Rússia e a Ucrânia. 
 
Acolhei este nosso ato
que realizamos com confiança e amor,
fazei que cesse a guerra,
providenciai ao mundo a paz. 
 
O sim que brotou do vosso Coração
abriu as portas da história ao Príncipe da Paz;
confiamos que mais uma vez,
por meio do vosso Coração, virá a paz. 
 
Assim a Vós consagramos
o futuro da família humana inteira,
as necessidades e os anseios dos povos,
as angústias e as esperanças do mundo. 
 
Por vosso intermédio,
derrame-se sobre a Terra
a Misericórdia divina
e o doce palpitar da paz
volte a marcar as nossas jornadas. 
 
Mulher do sim,
sobre Quem desceu o Espírito Santo,
trazei de volta ao nosso meio
a harmonia de Deus. 
 
Dessedentai a aridez do nosso coração,
Vós que «sois fonte viva de esperança».
Tecestes a humanidade para Jesus,
fazei de nós artesãos de comunhão. 
 
Caminhastes pelas nossas estradas,
guiai-nos pelas sendas da paz.
 
Ámen.