09 agosto 2023

NO RESCALDO DA JMJ










Seguiam os dois de mão dada no autocarro de volta à sua terra, ainda com um sorriso “meio tolo” nos seus rostos.

O João olhou para a Isabel com aquele olhar de quem ama um amor sempre novo e disse:
Gostei tanto de estar ali com tanta malta como nós e com o Papa!

A Isabel olhou para ele enternecida, apertou-lhe ainda mais a mão e respondeu:
Também eu, João, também eu!

Fez-se um silêncio entre os dois, apesar do barulho feito por tantos jovens naquele autocarro e deixaram-se ficar assim, de mãos dadas, olhando um para o outro com uma felicidade que não sabiam perceber … ainda.

A Isabel cortou o silêncio para dizer:
E agora? Agora o que vamos fazer?

O João olhou-a e respondeu:
Sei lá! Se calhar temos que perceber bem o que o Papa nos disse! Ele disse para não termos medo, mas isso já Jesus dizia naquele tempo, há muito tempo.

E tu tens medo?
Perguntou a Isabel.

Não sei bem, disse o João, acho que tenho algum receio do futuro, mas de Deus sinto que não tenho medo.

É como eu! Sinto que Deus nos ama, que Jesus está connosco, mas quando olho para a frente tenho um pouco de medo do que aí possa vir.

O João pensou um pouco e disse:
Sabes, eu acho que o Papa queria dizer que não devíamos ter medo de ser cristãos, de ser católicos, de ser Igreja, porque se o formos verdadeiramente, Jesus está connosco e nada de verdadeiramente importante nos há-de faltar.

A Isabel riu-se com vontade e respondeu:
Não te conhecia esses “dotes” de fé!

E acrescentou:
Estou a brincar, mas a verdade é que a mim também me tocaram aqueles dias, aquelas celebrações, sobretudo a presença de unidade, de amor, que só Deus pode fazer sentir em tanta gente.

Mais uma vez o silêncio tomou conta deles apesar do “tumulto” que tantos jovens faziam no autocarro.

E agora, João?
Perguntou a Isabel, retomando a conversa interrompida.

O João olhou para ela, apertou a mão com força e disse:
Só podemos ter duas atitudes. Ou continuamos assim, a fazer as nossas vidas tipo um poucochinho em Igreja ou assumimos a fé que nos foi dada, e vivemo-la com a força que nos vem de Deus.

A Isabel tomando coragem, respondeu-lhe:
Mal puder, quando chegarmos, vou-me confessar e recomeçar a partir daí.

O João anuiu e disse que ela não iria só porque essa era também a sua intenção.

De mãos dadas em silêncio, mais uma vez, viveram aquele momento como algo que começava verdadeiramente nas suas vidas.

Quase ao mesmo tempo, olhando um para o outro perguntaram-se:
E o todos, todos, todos?

Ah, João, temos que acolher aqueles que não vivem como nós, ou melhor, que não pensam como nós, que têm outras maneiras de sentir a vida, desde a espiritualidade até mesmo ao sexo, e acolhê-los, fazendo-os sentir que a Igreja é de todos.

Sim, Isabel, é verdade, mas temos que mostrar com as nossas vidas que Jesus chama todos, mas que depois compete a cada um aceitar o chamamento de Cristo com tudo o que esse caminho contém.

Meu querido João, a nós compete-nos tão só mostrar com as nossas vidas e o nosso proceder que Deus a todos ama por igual e a todos chama para Ele, depois cada um perante esse chamamento responde conforme a sua vontade, porque Deus nada impõe, “apenas” ensina como viver e “apenas” ama!

Sabes, Isabel, acho que o nosso amor vem de Deus e se Deus nos ama e nos faz amar um ao outro, temos que nos servir desse amor para amar também os outros e ajudá-los a encontrarem o mesmo amor com que nós amamos e que, afinal, é o amor de Deus em nós.

Deram um beijo, reclinaram-se nos assentos do autocarro e ficaram a olhar para um “nada” que afinal estava repleto de Deus.



Marinha Grande, 9 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves
 

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