Na Missa deste Domingo, o Cardeal-Patriarca de Lisboa apelou à defesa da vida, desde a “conceção à morte natural”, e garantiu a “proximidade de todos os sacerdotes” neste tempo de suspensão das celebrações litúrgicas comunitárias. “Como só a caridade explica esta atuação, a eficácia não será menor, poderá mesmo ser maior”, garantiu.
Na
paróquia do Parque das Nações, o Cardeal-Patriarca de Lisboa lembrou os
que estão na linha da frente no combate à pandemia, em particular os
profissionais de saúde, e apelou à defesa da vida. “Porque o direito à
vida é realmente inviolável – como diz a nossa Constituição –, temos que
estar com todos, sobretudo com aqueles que mais sofrem, para criarmos
uma sociedade que seja verdadeiramente paliativa, que quer dizer ‘que
envolve’, ‘que protege’, que não deixe ninguém só. E que, nem em termos
de comportamento ou em termos legais se faça o contrário e se entre numa
rampa deslizante que nos levaria muito mal e muito longe – no sentido
mais negativo do termo. Estejamos onde Jesus está, em todas as
fronteiras da vida de uma convivência completa”, exortou D. Manuel
Clemente, deixando o apelo para que “ninguém desista de viver porque nós
nunca desistiremos de conviver”. “Assim, o Reino de Deus acontece e
completa-se em cada ato de caridade porque a caridade nunca acabará”,
reforçou.
“Valor mais alto”
Segundo
o Cardeal-Patriarca, é precisamente o “valor mais alto a defender, o
valor primeiríssimo de tudo, o valor da vida” que também está na origem
da suspensão das Missas com a presença de fiéis. Através da transmissão
da celebração pela TVI, D. Manuel Clemente afirmou que os cristãos
“acreditam no Deus da Vida e, por isso mesmo, a vida tem que ser
defendida em todas as circunstâncias, muito especialmente agora em que
somos tão atacados por esta terrível pandemia, com esta grande expansão
de contágios que temos que estancar o melhor que pudermos e soubermos,
para assim apoiarmos todos aqueles que estão na primeira linha de
combate e que levam por diante esta luta”.
A realidade do Reino de Deus
Na
homilia da celebração, o Cardeal-Patriarca refletiu sobre as palavras
de Jesus, proferidas no Evangelho da celebração – ‘Cumpriu-se o tempo e
está próximo o reino de Deus’ –, para mostrar que o Reino de Deus
acontece, hoje, na adesão a Jesus. “Se quisermos saber o que é o Reino
que Jesus afirma, olhemos para Jesus, (...) para a sua atenção a tudo e a
todos, e nas mais diversas circunstâncias, em todo o leque da
existência de cada um, da conceção à morte natural. É assim que Deus
reina neste mundo. Não é uma realidade política, não é uma realidade de
qualquer outra ordem que não seja esta que acontece nos corações e que
depois se manifesta nas vidas e nos comportamentos renovados”,
assegurou.
Tempo completo
De
seguida, D. Manuel Clemente questionou os fiéis sobre “como é que o
Reino acontece e o tempo se completa” e afirmou que esta Palavra – neste
Domingo especialmente dedicado à Palavra de Deus – “é para agora e nas
atuais circunstâncias tão difíceis que atravessamos, onde tanta gente
morre, trata e cuida daqueles que pode tratar, alargando ao máximo a sua
disponibilidade e capacidade”. O tempo completa-se agora “porque é
vivido plenamente, solidariamente, numa solidariedade total, fazendo ou
deixando de fazer conforme o interesse e o bem dos outros”, afirmou o
Cardeal-Patriarca, concretizando em alguns exemplos. “Aí mesmo, na vossa
casa, onde agora há um cuidado para quem precisa de cuidado, onde pode
haver um telefonema para quem esteja só e precise de uma voz amiga, onde
pode haver uma transmissão telemática para estarmos com os outros, onde
pode haver um momento de boa vontade reforçada para que aquele irmão ou
irmã que esteja triste fique alegre, onde pode haver um gesto de boa
vontade... Aí, o Reino acontece e o tempo completa-se. É um tempo
completo porque a caridade nunca acabará”, afirmou. “Quando acontece
isto em todos os patamares da vida social e política, então o Reino
acontece porque as coisas de Jesus continuam a acontecer e as coisas de
Jesus são coisas finais, tempos completos e vidas realizadas. Estejamos
deste lado e não deixemos que ninguém desista de viver porque nós nunca
desistiremos de conviver, de estar com os outros”, apelou D. Manuel
Clemente.
Proximidade
No
final da celebração, o Cardeal-Patriarca dirigiu-se a quem assistia à
transmissão, em direto, na TVI, para assegurar a proximidade de “todos
os sacerdotes deste país” que, “embora não podendo celebrar com o povo”,
“celebram pelo povo”. “E como só a caridade explica esta atuação, neste
momento tão difícil para nós, a eficácia não será menor, poderá mesmo
ser maior”, prosseguiu. “Mesmo aqueles que, nas suas casas, comungam
espiritualmente, não comungam menos realmente, porque é assim que
comungam com Cristo para que o bem de todos seja garantido”, afirmou D.
Manuel Clemente, assegurando que “a oração da Igreja e a presença dos
crentes” é já uma realidade visível “em todas as frentes da luta contra
esta pandemia”. “O Reino de Deus começa onde Cristo está e onde Cristo,
na vida dos cristãos, agora se desdobra em tantas orações e atuações que
realmente salvam”, frisou.
Patriarcado de Lisboa
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