Caminho sinodal é caminho pascal
Caríssimos irmãos e especialmente os que hoje recebeis o diaconado: A pergunta que há pouco ouvimos a Jesus continua a ressoar fortemente: «- E vós, quem dizeis que eu sou?»
A pergunta permanece e exige-nos uma resposta constante. Poderemos até avaliar a realidade da nossa fé a partir daqui, da pergunta de Jesus e da resposta que lhe dermos. Ontem, hoje, amanhã, seja quando e onde for, ser cristão é responder como Pedro respondeu e aprender como depois aprendeu.
Responder como Pedro respondeu: «Tu és o Messias!». Reconheceu Jesus como o pleno cumpridor das antigas promessas: Havia de chegar o Messias, Cristo em grego, aquele que, ungido pelo Espírito divino, salvaria finalmente o seu povo, com especial menção dos pobres de todas as pobrezas, dos cegos de todas as cegueiras e dos cativos de todas as amarras.
Pedro confessou-o assim, porque o experimentava em relação a si mesmo, desde que Jesus o chamara na margem do lago. Entusiasmara-se com os milagres que aconteciam em torno de Jesus, com as suas palavras e gestos. Esperaria até que tudo fosse clamoroso e rápido, implantando um reino como nunca fora visto e sem oposição de monta.
Por isso, quando Jesus lhe anunciou de seguida o seu itinerário pascal, em que a ressurreição não se atingiria sem luta e sofrimento, Pedro não tardou em contestá-lo. Para ouvir uma severa reprimenda: «… não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens».
Podemos considerar este passo como ilustração evangélica do que ouvimos antes na Carta de Tiago: «a fé sem obras está completamente morta». É inegável que Pedro tinha fé, quando reconhecia Jesus como Messias. Mas só mais tarde aprenderia que o verdadeiro corolário de tal fé era aceitar a respetiva consequência, identificando-se com a Páscoa de Jesus e começar a ressuscitar também, quando morresse para si, em função de Deus e dos outros. Afirmar Jesus como Cristo é afirmar cristãmente a vida, pascalmente traduzida e operada, tanto na orientação geral das coisas como nos gestos concretos do mais corrente dia a dia.
Na família, na profissão, na Igreja, só poderá ser assim, para ser substantivamente cristão. No caminho sinodal que durante sete anos prosseguimos na diocese de Lisboa, acentuámos a proeminência da Palavra que é Cristo, da Liturgia que nos inclui na sua vida e da Caridade que o seu Espírito infunde nos nossos corações. Muitos encontros realizámos, indo mesmo além dos rostos e dos locais já conhecidos. Ficámos certamente mais convictos de que só em conjunto e com responsabilidade compartilhada podemos seguir a Cristo, que tanto anunciou o Reino como nos recriou em Igreja – único modo de aprendermos o que é o próprio Deus, uno e trino.
O Santo Padre convida-nos agora a aprofundar a realidade sinodal na generalidade das Igrejas locais e de toda a Igreja universal. Participaremos convictamente neste caminho, tanto mais que já o trilhamos aqui, de alguns anos a esta parte.
Também com a sinodalidade própria e peculiar da Igreja de Cristo. Igreja oferecida ao mundo, não para se acrescentar ao que este já tem, mas para dar a todas as coisas a finalização que alcançam com Cristo em Deus. As realidades temporais são-nos confiadas a todos, crentes e não crentes, para as administramos com a responsabilidade própria de qualquer ser humano, homem ou mulher, deste ou daquele povo e cultura, segundo princípios universais, como os da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Para tal não se requer um sínodo eclesial, mas que sejamos responsáveis e solidários com todos e para todos os seres humanos.
Um caminho de Igreja percorre-se entre os caminhos de toda a gente, mas a outro nível, como Jesus sempre o colocou. Pagava o tributo a César, como qualquer súbdito do Império, mas insistia em dar a Deus o que é de Deus (cf. Mt 22, 21); exigia justiça, mas não quis ser juiz de qualquer causa (cf. Lc 12, 14); sentia certamente a dor dos outros, como a dos que morreram na derrocada duma torre ou a dos galileus mortos por Pilatos, mas logo lembrava a morte mais decisiva de quem não se converte no coração (cf. Lc 13, 1-5); nem sequer reivindicou para si e os seus a exclusividade do bem (cf. Lc 9, 49-50).… O que Jesus oferece ao mundo é a sua resolução a partir de Deus, como o demonstrou na vitória final da cruz.
Assim mesmo, a relação Igreja – Mundo não é a redução da Igreja ao Mundo, mas a sinalização do que este há de ser finalmente, na Páscoa de Cristo e nossa. Isto mesmo aprofundamos conjuntamente, no caminho sinodal que é o da Igreja, conforme o Evangelho de há pouco: Jesus e os seus, caminhando até Cesareia de Filipe, para aí aprenderem como Jesus é o Cristo e o seguirem depois, renunciando a si mesmos e tomando a cruz que lhes coubesse. Com a sentença final, que é a chave da salvação, própria e alheia: «Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».
Patriarcado de Lisboa
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