O Papa Francisco não presidiu a missa da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, devido a uma dolorosa ciatalgia. A homilia preparada pelo Santo Padre foi lida pelo cardeal Pietro Parolin que presidiu a celebração eucarística na Basílica Vaticana.
Mundo poluído pelo dizer e pensar mal dos outros
O primeiro verbo é “abençoar”. “No livro dos Números, o Senhor
pede aos ministros sagrados que abençoem o seu povo. Também hoje é
importante que os sacerdotes abençoem incansavelmente o Povo de Deus, e
que todos os fiéis sejam também portadores de bênção e abençoem. O
Senhor sabe que precisamos de ser abençoados: a primeira coisa que Ele fez
depois da criação foi bendizer – dizer bem –, declarar boa cada
coisa. Com o Filho de Deus, não recebemos apenas palavras de bênção,
mas a bênção em pessoa: Jesus é a bênção do Pai. N’Ele – diz São Paulo
–, o Pai nos abençoa-nos «com toda a espécie de bênçãos». Sempre que abrimos
o coração a Jesus, entra na nossa vida a bênção de Deus”, ressalta
Francisco.
O Filho de Deus é “o Bendito por natureza que vem a nós através da sua Mãe, a bendita por graça. Maria traz-nos, assim, a bênção de Deus. Ao dar espaço a Maria, não só ficamos abençoados, mas aprendemos também a abençoar. Com efeito, Nossa Senhora ensina que a bênção recebe-se para a dar. Ela, a bendita, foi uma bênção para todas as pessoas que encontrou: para Isabel, para os esposos em Caná, para os Apóstolos no Cenáculo”.
Peçamos à Mãe de Deus a graça de sermos jubilosos portadores da bênção de Deus para os outros, como Ela o é para nós.
As mulheres sabem tecer os fios da vida
O segundo verbo é nascer. “São Paulo destaca o facto de o Filho de Deus ter «nascido de uma mulher». Em poucas palavras, diz-nos uma coisa maravilhosa: o Senhor nasceu como nós. Não apareceu adulto, mas criança; não veio ao mundo por si só, mas de uma mulher, depois de nove meses no ventre materno onde se deixou tecer a humanidade. Ela não é apenas a ponte entre nós e Deus; é mais: é o caminho que Deus percorreu para chegar até nós e é o caminho que nós devemos percorrer para chegar até Ele”, sublinha o Papa.
Através de Maria, encontramos Deus como Ele quer: na ternura, na intimidade, na carne. Sim, porque Jesus não é uma ideia abstrata; é concreto, encarnado, nasceu de uma mulher e cresceu pacientemente. As mulheres conhecem este concretismo paciente: nós, homens, muitas vezes somos abstratos e queremos uma coisa imediatamente, ao passo que as mulheres são concretas e sabem tecer, com paciência, os fios da vida. Quantas mulheres, quantas mães fazem assim nascer e renascer a vida, dando futuro ao mundo!
“Não estamos no mundo para morrer, mas para gerar vida. E a santa Mãe de Deus nos ensina que o primeiro passo para dar vida àquilo que nos rodeia é amá-lo dentro de nós”, ressalta o Papa. “Diz o Evangelho de hoje que Ela «conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração».”
Será um bom ano se cuidarmos dos outros
Do coração nasce o bem: como é importante manter limpo o coração, guardar a vida interior, a oração! Como é importante educar o coração para o cuidado, para cuidar das pessoas e das coisas. Tudo começa daqui, de cuidarmos dos outros, do mundo, da criação. Pouco aproveita conhecer muitas pessoas e muitas coisas, se não cuidarmos delas.
O terceiro verbo é encontrar. O Papa sublinha que “o Evangelho diz que os pastores «encontraram Maria, José e o menino». Não encontraram sinais prodigiosos e espetaculares, mas uma simples família. Lá, porém, encontraram verdadeiramente Deus, que é imensidão na pequenez, fortaleza na ternura. Mas, como conseguiram os pastores encontrar este sinal tão pouco cintilante? Foram chamados por um anjo. Também nós, não teríamos encontrado Deus, se não fôssemos chamados pela graça. Não podíamos imaginar um Deus assim, que nasce de mulher e revoluciona a história com a ternura. Descobrimos que o seu perdão faz renascer, a sua consolação acende a esperança, a sua presença dá-nos uma alegria irreprimível. Na verdade, não se encontra o Senhor de uma vez por todas: Ele tem de ser encontrado todos os dias”.
Encontrar tempo para Deus e para o próximo
“O que somos chamados a encontrar no início do ano? Seria bom encontrar tempo para alguém. O tempo é a riqueza que todos temos, mas somos ciumentos a seu respeito porque queremos usá-la só para nós”, ressalta o Papa.
Se encontrarmos tempo para doar, acabaremos maravilhados e felizes, como os pastores. Nossa Senhora, que trouxe Deus ao tempo, nos ajude a doar o nosso tempo.
O Santo Padre conclui a sua homilia, consagrando este novo ano à Santa Mãe de Deus que sabe cuidar de nós e pedindo-lhe para abençoar “o nosso tempo e ensinar-nos a encontrar tempo para Deus e para os outros”.
VN
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