12 dezembro 2020

O Ano de São José: um presente para toda a Igreja

 
 Até ao dia 8 de dezembro de 2021, a Igreja vive o Ano dedicado a São José 

 
A convocação do "Ano de São José" nasce do coração paternal de Francisco, que deseja chegar ao coração de todos os católicos, convidando cada um a conhecer melhor o pai adotivo do Senhor e a sua importância no plano salvífico de Deus.

Bruno Franguelli, sj

Na comemoração dos 150 anos da proclamação de São José como guardião universal da Igreja, pelo Papa Pio IX, o Papa Francisco acaba de dar um grande presente à Igreja, o “Ano de São José” através da Carta Apostólica Patris Corde “Coração de Pai”. Esta Carta, como o próprio título sugere, é cheia de afeto. Nasce do coração paternal de Francisco, que deseja, por meio dela, chegar ao coração de todos os católicos, convidando cada um a conhecer melhor o pai adotivo do Senhor e a sua importância no plano salvífico de Deus.

A Tradição Cristã manteve sempre uma especial atenção à importância do sim de Maria, mas nem sempre reconheceu com a mesma consciência a importância do sim de José, o carpinteiro de Nazaré, a quem Maria estava prometida em casamento. Foi crucial a aceitação de José para que o plano da Salvação de Deus pudesse ser realizado. A Sagrada Escritura não esconde as dificuldades pessoais que São José precisou de enfrentar ao receber o anúncio de que a sua futura esposa, sem ter contacto com homem algum, estava grávida.

O Evangelho dá a José o título de justo (Mt 1,19), termo raríssimo e concedido a pouquíssimos personagens na Sagrada Escritura. Justamente porque equivale â palavra santo que, no Antigo Testamento, é um atributo reservado somente a Deus (Ecle 7,20). Isto revela muito sobre a integridade, os valores e a santidade da vida de José. Era um homem fiel a Lei, observador dos mandamentos e preceitos da Torah. Por isso, com a sua obediência a Deus, escuta a voz do anjo e não teme em aceitar Maria como esposa e assumir o Filho de Deus como o seu próprio filho.

A vida de São José e de Maria não será nada fácil. Terão de enfrentar as dificuldades das mais diversas. Eram pobres. O termo que conceitua a profissão de José em grego é tekton que não significa simplesmente carpinteiro, mas aquele que constrói, uma espécie de artesão. José, na verdade era um artista. Ganhava pouco e, como muitos pais de família, viveu a angústia de não poder dar conforto e segurança aos seus. Esta tristeza José sentiu na pele, principalmente quando viu a sua esposa a dar à luz em lugar paupérrimo, no frio e na miséria. Sabemos que as dificuldades de José não terminaram na gruta de Belém. Imediatamente após o nascimento de Jesus, obedeceu ao anjo e conduziu a sua família ao Egipto para proteger o recém-nascido das ambições perversas de Herodes. Assim, tornaram-se migrantes. Podemos imaginar o pobre José, a procurar um emprego, tentando oferecer o mínimo para a sua família em terras estrangeiras do Egito.

O Papa Francisco, lembra na sua Carta Patris Corde, tantos pais que, infelizmente, não conseguem oferecer nem mesmo o básico aos seus filhos. José retorna a Nazaré e lá, ensina o menino Jesus a trabalhar, a entender a dura realidade da vida, será um pai presente. A carta do Papa também traz uma belíssima constatação. O facto de Jesus ser tão respitador para com as mulheres, homem de oração e próximo dos mais sofredores, pode-nos revelar tanto da figura do pai que teve, com quem aprendeu tudo isto. Às vezes imaginamos Jesus como se já tivesse nascido pronto. Mas, na verdade, a própria Escritura revela que Jesus teve de aprender gradualmente. O episódio do encontro de Jesus aos doze anos no Templo de Jerusalém revela-nos que ele retornou a Nazaré e era obediente ao Pai e á Mãe. E ainda nos revela que ele crescia em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52). Assim, José, a partir da sua própria obediência a Deus, e na escuta atenta de Deus, cria o filho. Obediência que se dá no acolhimento, no acompanhamento.

José é um pai presente. O papa recorda a carência que temos de esposos e pais como José. Ele não compreendeu tudo. Ele acolheu tudo. José não se impôs na vida do filho, mas acompanhou Jesus na escolha do seu próprio caminho. E assim, a figura de São José oculta-se e não temos mais informações sobre ele na Bíblia. Mas o pouco que temos já nos é suficiente para reconhecer a sua importância ímpar na vida de Jesus e no plano da Salvação. O Papa Pio IX, então, ao declarar São José, patrono universal da Igreja, estava a dizer que assim como o guardião da família de Nazaré foi capaz de proteger o Filho de Deus, também segue a  proteger a Igreja que é extensão do Corpo Místico de Cristo.

A missão de José no escondimento e na missão oculta, tem tanto a dizer aos homens de hoje. O Papa Francisco recorda tantos homens e mulheres que, de maneira especial, durante a pandemia, arriscam as suas vidas para cuidar e proteger as pessoas vítimas desta enfermidade. A Carta Apostólica Patris Corde e o Ano de São José são um convite a cada um de nós para conhecer e imitar aquele homem justo e santo, que mesmo sem compreender tudo, acolheu tudo.

Salve, guardião do Redentor
e esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.

Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós
e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amém.

VN

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