Então,
meu filho, este ano está a acabar. O que Me queres dizer sobre ele?
Oh,
Senhor, foi um ano complicado, com tantas coisas que não correram bem e
sobretudo esta pandemia. Mas houve coisas muito boas, sem dúvida!
Então
e nessas coisas que não correram tão bem, encontraste algo para a tua vida?
A
pandemia, Senhor, fez-me reflectir na nossa fragilidade, na nossa pequenez!
Afinal
um vírus, coisa tão ínfima, coloca em perigo a humanidade, o Homem, que se julga
tantas vezes invencível.
Mas
Eu estou sempre convosco, sabes bem!
Sim,
Senhor, eu sei e acredito firmemente que sim.
E
toda esta situação faz-me pensar, (e espero bem que os outros também assim
pensem), em como na nossa sociedade, apesar de tantas promessas de
solidariedade, afinal íamos/vamos ficando cada vez mais individualistas,
egoístas, “frios” nos sentimentos, e com as distâncias obrigatórias da
pandemia, percebemos agora como nos fazem falta os afectos, os abraços, os
sorrisos, (agora tapados por máscaras), enfim, os toques de amor entre nós.
É
verdade, meu filho, o homem só é feliz em comunidade, em comunhão de amor,
coMigo e com os outros e por isso precisa sempre de gestos, atitudes e
palavras.
Senhor,
neste novo ano que vai começar, afasta de nós esta pandemia, mas sobretudo,
afasta de nós o individualismo, o egoísmo, a indiferença, que tantas vezes
fazemos sentir aos outros, principalmente àqueles que mais necessitam, quer
materialmente, quer emocionalmente.
Para
isso, meu filho, voltai-vos para Mim, e «tomai sobre vós o meu jugo e aprendei
de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o
vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»* Enfim,
meu filho, procurai em tudo fazer a Minha vontade.
Obrigado,
Senhor, nas Tuas mãos entrego este novo ano, o meu e o de todos os homens.
Abraçar o Senhor
para abraçar a esperança: esta é a mensagem do Papa Francisco aos fiéis
de todo o mundo que, neste momento, se encontram no meio da tempestade
causada pela pandemia do coronavírus.
Silvonei José – Vatican News
Para o nosso Papa Francisco foi um ano muito intenso e é difícil
resumir um ano que foi atípico também para o nosso Pontíficie. Vamos
recordar então alguns momentos que creio resumam a intensidade de
trabalhos e atenções do nosso Santo Padre....Começamos pelo mês de
fevereiro com a publicação da Exortação Apostólica pós Sinodal Querida
Amazónia: Uma Exortação em forma de sonhos: assim é "Querida Amazónia", o
documento pós-sinodal do Papa Francisco referente ao Sínodo Amazónico
de outubro do ano passado. Primeiro o sonho social do Pontífice; uma
Igreja ao lado dos oprimidos. Francisco recorda que já Bento XVI tinha denunciado “a devastação ambiental da Amazónia”. Os povos originários,
afirma, sofrem uma “sujeição” tanto por parte dos poderes locais, como
dos poderes externos. Para o Papa, as operações económicas que
alimentam a devastação, assassinato e corrupção merecem o nome de
“injustiça e crime”. E com João Paulo II, reitera que a globalização não
deve tornar-se um novo colonialismo…. Ao sonho cultural é dedicado o
segundo capítulo da "Querida Amazónia". O Pontífice esclarece que
“promover a Amazónia” não significa “colonizá-la culturalmente”.
Para Francisco, é urgente “cuidar das raízes”....Depois o Sonho
ecológico: "Sonho com uma Amazónia que guarde zelosamente a sedutora
beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios
e as suas florestas." Enfim o Sonho eclesial: Inovação e
criatividade....A Exortação traz-nos muita esperança.....
Abraçar o Senhor para abraçar a esperança: esta é a mensagem do Papa
Francisco aos fiéis de todo o mundo que, neste momento, se encontram mo
meio da tempestade causada pela pandemia do coronavírus. No dia 27 de
março, diante da Praça de São Pedro completamente vazia, mas em
sintonia com milhões de pessoas através dos meios de comunicação, o
trecho escolhido para a oração foi a tempestade acalmada por Jesus,
extraído do Evangelho de Marcos....E foi esta passagem bíblica que
inspirou a homilia do
Santo Padre, que começa com o “entardecer…”. “Há semanas, disse, parece
que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e
cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio
ensurdecedor e de um vazio desolador… Vimo-nos amedrontados e
perdidos.” Estes mesmos sentimentos, porém, acrescentou o Papa, fizeram-nos entender que estamos todos no mesmo barco, “chamados a remar
juntos”. Neste mesmo barco, seja com os discípulos, seja connosco agora,
está Jesus. “A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a
descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os
nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades.”
Com a tempestade, afirmou o Papa, cai o nosso “ego” sempre preocupado
com a própria imagem e vem à tona a abençoada pertença comum que não
podemos ignorar: a pertença como irmãos...O Senhor então dirige-nos um
apelo, um apelo à fé. Chama.nos a viver este tempo de provação como um
tempo de decisão: o tempo de escolher o que conta e o que passa, de
separar aquilo que é necessário daquilo que não é. “O tempo de reajustar
a rota da vida rumo ao Senhor e aos outros.” .... Com a interdição das
celebrações eucarísticas com a presença dos fiéis nas igrejas teve
início a transmissão ao vivo da Missa na Casa de Santa Marta presidida
pelo Papa Francisco: exemplo de um notável esforço de comunicação
global. Para dar esperança em tempo de pandemia….
Neste período de pandemia e de confinamento dos católicos nas suas
casas, o tempo é da igreja doméstica. A Eucaristia é vivida em casa onde
se faz comunhão espiritual....Francisco criou o Fundo de Emergênciajunto
às Pontifícias Obras Missionárias (POM) para responder às necessidades
determinadas pela emergência de Covid-19 nas Igrejas dos territórios de
missão, e através deste fundo foi possível ajudar dioceses e paróquias
que passam por necessidades particulares....E uma das iniciativas para o
quarto Dia Mundial dos Pobres, em 15 de novembro, com a Missa celebrada
pelo Papa na Basílica de São Pedro na presença de cerca de uma centena
de pessoas foi a rede de solidariedade para levar alimentos, máscaras e
ajuda a milhares de famílias necessitadas…. E o Papa dedicou uma série
de reflexões na Audiência Geral às quartas-feiras sem a presença dos
fiéis ao pós Covid, centralizando as suas reflexões sobre a esperança e que
todos somos irmãos.... Num livro publicado nos meses passados Francisco disse que na sua vida teve três situações "Covid": a doença, a Alemanha
e Córdoba. Quando tinha 21 anos contraiu uma doença muito grave, e ai
teve a primeira experiência de limitação, dor e solidão. ….
Depois o período alemão em 1986, foi a "Covid do exílio". Foi um
exílio voluntário, porque foi para estudar a língua e procurar material
para concluir a minha tese, mas sentia-me como um peixe fora d'água...
Depois a permanência em Cordoba…A "Covid" de Córdoba foi uma verdadeira
purificação. Deu-me mais tolerância, compreensão, capacidade de
perdoar., escreveu.... Depois a publicação da Enciclica Fratelli
tutti....A mensagem da nova encíclica social do Papa Francisco: ninguém
se salva sozinho. A proposta de uma sociedade fraterna para não ser
dominada por guerra, ódio, violência, indiferença e novos muros….Estamos
circundados pelas “sombras de um mundo fechado”, mas há quem não se
rende ao avanço da escuridão e continua a sonhar, a ter esperança, a
sujar as mãos, comprometendo-se a criar fraternidade e amizade social.
Com a nova encíclica social “Fratelli tutti”, o Sucessor de Pedro mostra
o caminho concreto para reconhecer-se como irmãos e irmãs. A nova
encíclica apresenta-se como uma soma do magistério social de Francisco, e
reúne de forma sistemática as ideias oferecidas por pronunciamentos,
discursos e intervenções dos primeiros sete anos de pontificado....
No final de novembro o Colégio Cardinalício ganhou 13 novos membros,
oriundos de quatro continentes e de oito países..-e o anúncio: Papa
retoma viagens: anunciada visita ao Iraque em março de 2021... O Papa
conclui o ano com a convocação do "Ano de São José", nascido do seu
coração paternal, que deseja chegar ao coração de todos os católicos,
convidando cada um a conhecer melhor o pai adotivo do Senhor e a sua
importância no plano salvífico de Deus. E o último ato: o desafio
lançado pelo Papa Francisco, o Ano “Família Amoris laetitia”. Um ano
para repensar e valorizar a família e dar um novo impulso à aplicação
da Exortação Apostólica Amoris laetitia. O Ano “Família Amoris laetitia” começa justamente no aniversário de 5 anos da Exortação Apostólica do Papa Francisco, ou seja, em 19 de março de 2021.
Papa Francisco durante a Audiência Geral no pátio de S. Dãmaso
Em 2020, sem
viagens apostólicas e com poucas audiências gerais na presença dos
fiéis, Francisco acompanhou muitos fiéis e não fiéis de todo o mundo com
a missa em Santa Marta.
ANDREA TORNIELLI
O ano de 2020 do Papa Francisco, como o de cada um de nós, foi
profundamente marcado pela pandemia. Nenhuma viagem, poucas audiências
gerais com a presença contingente de pessoas no final do verão, depois
novamente interrompidas com a chegada da segunda onda de contágio,
celebrações públicas de forma reduzida com a participação de pequenos
grupos de fiéis. O que faltou foi o contacto diário com as pessoas,
contacto físico feito de abraços, apertos de mão, palavras sussurradas
com lágrimas nos olhos, bênçãos traçadas na cabeça, olhares que se
cruzam e se encontram. Francisco também, à sua maneira, teve que cumprir
a sua missão smart working, permanecendo em casa, conetando-se de forma
virtual, multiplicando os contactos telefônicos.
O ano do Papa Francisco foi marcado pelas palavras da Exortação Querida Amazónia,
que recolheu o discernimento do Sínodo de outubro de 2019 e foi
publicada na véspera do surto da pandemia: um forte chamamento a olhar o
que acontece naquela região esquecida. A indicação de caminhos concretos
para uma ecologia humana que leve em conta os pobres, para a
valorização das culturas e para uma Igreja missionária com um rosto
amazónico. Então, assim que a Covid-19 parecia conceder uma trégua, pelo
menos em Itália, Francisco retomou as audiências gerais com os fiéis
propondo-lhes um ciclo de catequeses sobre o futuro que queremos
construir após a pandemia. Por fim, em outubro passado, o presente de
uma nova encíclica, Fratelli tutti, que indicou a fraternidade e a
amizade social como resposta às sombras do ódio, da violência e do
egoísmo que às vezes parecem prevalecer no nosso mundo ferido não apenas
pelo coronavírus, mas pelas guerras, injustiça, pobreza e mudanças
climáticas.
O evento simbólico do ano apenas transcorrido, permaneceu, na memória
de todos, o de 27 de março, com a Statio Orbis, a súplica a Deus para
que intervenha e ajude a humanidade afetada pela pandemia: Francisco
sozinho, debaixo de chuva, na Praça de São Pedro desoladamente vazia como
nunca e ao mesmo tempo nunca tão cheia, graças a milhões e milhões de
pessoas conetadas em todo o mundo para rezar em silêncio. O Papa que
sobe lentamente os degraus largos para chegar ao adro e lembra-nos que
estamos todos no mesmo barco, incapazes de nos salvar sozinhos; o Papa
beija os pés do Crucifixo de São Marcelo, levado em procissão pelos
romanos contra a peste; o Papa que abençoa a cidade e o mundo com o
Santíssimo Sacramento enquanto no fundo ouvem-se as sirenes numa Roma
paralisada pelo confinamento.
Mas houve outro evento quotidiano, menos marcante e ainda mais
importante, que permitiu a Francisco acompanhar milhões de pessoas no
mundo durante a primeira parte deste 2020, no tempo do medo e da
desorientação. Foi a Missa diária celebrada na capela da Casa de Santa Marta, às 7 horas da manhã:
durante três meses o Sucessor de Pedro bateu suavemente nas portas das
nossas casas, convidou-nos a não ouvir grandes discursos ou longas
catequeses, mas antes de tudo a ouvir as palavras da Escritura,
comentadas com breves homilias espontâneas e seguidas, após a celebração
eucarística, de alguns minutos de adoração silenciosa diante do
Santíssimo. Toda a manhã, todo o meio-dia ou toda a tarde, dependendo do fuso
horário, muitas, muitas pessoas, mesmo não praticantes e não fiéis,
sintonizaram a rádio, TV, streaming, para ouvir a mensagem do Evangelho e
a voz do Bispo de Roma que se tornou o pároco do mundo.
E se as imagens do Papa sozinho na praça em 27 de março, comoveram,
emocionaram ainda mais as de muitos fiéis ajoelhados diante de uma tela
ou de um telemóvel durante a consagração, das Américas à Europa, na China
como na África. A sobriedade essencial destas celebrações, precedidas
por breves orações pelas categorias mais afetadas pela Covid-19, fez
companhia, ofereceu vislumbres de esperança, ajudou a rezar, fez-nos
todos sentir menos sozinhos, menos isolados, menos abandonados. A
proximidade ao povo de Deus, o acompanhamento realizado com aquelas
missas compartilhadas nas telas em todas as partes do mundo, deixaram
claro o que significa para o Papa, ser pastor da Igreja no mundo,
intercessor da humanidade ferida, testemunha do Evangelho que atua em
toda a família humana de muitas maneiras, muitas vezes imprevisíveis e
ocultas.
NOTA:Se está a utilizar o seu TELEMÓVEL, o acesso ao VIDEO
contido nesta página, apenas será possível se seguir as instruções indicadas AQUI
A emergência de
saúde mundial da Covid-19 interrompeu as viagens internacionais este
ano, mas o Pontífice sempre se manteve próximo aos fiéis graças à força
da oração.
Isabella Piro/Mariangela Jaguraba – Vatican News
Domingo, 8 de março de 2020: a linha divisória que separa o “antes” e o “depois” passa por esta data. É o dia do primeiro Angelus
do Papa Francisco recitado, ao vivo em áudio-vídeo, da Biblioteca do
Palácio Apostólico. O confinamento imposto pela pandemia da Covid-19 é
iminente. “É um pouco estranha esta oração do Angelus de hoje, com o
Papa 'engaiolado' na Biblioteca, mas vejo-vos, estou próximo a vós”,
disse Francisco, no início da transmissão. Depois, no final, um fora de
programa: o Papa vai à janela do Palácio Apostólico para abençoar a
Praça de São Pedro. Ainda não se sabe, mas aquela praça, ao longo dos
meses, ficará vazia e silenciosa; será preenchida com a oração do
Pontífice e as esperanças do mundo. É ali, que debaixo de chuva,
Francisco preside, na noite de 27 de março, sexta-feira da Quaresma, o Momento extraordinário de oração em tempos de pandemia
para convidar a humanidade a não ter medo e a confiar-se ao Senhor:
“Temos uma esperança: na sua cruz fomos curados e abraçados para que
nada e ninguém nos separe de seu amor redentor”, disse ele.
Audiências Gerais: oração, cura e Bem-aventuranças
A oração e a emergência de saúde também retornam nas catequeses das
Audiências Gerais de 2020: na primeira, o Papa dedica todo um ciclo que
começa em 6 de maio
e recomeça em 7 de outubro. A partir do mês e agosto, o Pontífice
reflete sobre o tema “Curar o mundo”, lembrando em particular, na quarta-feira 19,
a importância do acesso universal à vacina. Um terceiro ciclo de
catequeses, de janeiro até ao final de abril, foi dedicado às
Bem-Aventuranças. Até 31 de dezembro próximo, serão um total de 46
audiências gerais, este ano, e 58 as vezes em que o Papa rezará o
Angelus e o Regina Coeli, encontrando a ocasião para lançar numerosos
apelos pela paz. Prevalece, porém, a exortação de 19 de julho:
“Renovo o apelo por um cessar-fogo global e imediato, que permita a paz
e a segurança indispensáveis para fornecer a assistência humanitária
necessária.” De 9 de março a 18 de maio, as igrejas em Itália foram
proibidas de celebrar com a presença do povo e o Pontífice autorizou a
transmissão áudio-vídeo ao vivo da missa por ele presidida todas as
manhãs às 7h na Casa Santa Marta. A última transmissão ao vivo
realizou-se da Basílica Vaticana na manhã de 18 de maio, centenário do nascimento de São João Paulo II.
“Fratelli tutti” e “Querida Amazônia”
2020 foi também o ano da terceira Encíclica do Papa Francisco: em 4 de outubro, foi publicada a “Fratelli tutti”,
na qual o Pontífice indica a fraternidade e a amizade social como vias
primárias para construir um mundo melhor. Antes, em 12 de fevereiro, foi
divulgada a Exortação Apostólica “Querida Amazónia”, fruto do Sínodo
Especial para a Região Pan-amazónica, realizado em outubro de 2019. O
texto representa o desejo de Francisco de uma Igreja com rosto amazónico
e traça novos caminhos de evangelização e de cuidado do meio ambiente.
Não por acaso, este ano também se celebra o quinto aniversário da
segunda Encíclica do Papa Francisco, “Laudato si”, celebrada, em 18 de
junho, com o documento “A caminho para cuidar da Casa comum”, preparado
pela Mesa Inter-dicasterial da Santa Sé sobre ecologia integral e
destinado a interpelar todo o ristão a uma relação saudável com a
Criação. Em 24 de maio, foi lançado um especial “Ano da Laudato si'”, e
em 12 de dezembro, o Papa Francisco enviou uma mensagem em vídeo aos
participantes da “High Level Virtual Climate Ambition Summit” (Cúpula
Virtual de Alto Nível sobre Ambição Climática), conferência de vídeo
climática da ONU para reiterar o compromisso do Vaticano de reduzir a
zero as emissões de gases de efeito estufa antes de 2050.
O Ano Especial para a Família "Amoris Laetitia"
Entre as Cartas Apostólicas de 2020, destaca-se a “Patris corde”,
divulgada em 8 de dezembro, há 150 anos da declaração de São José como
Patrono da Igreja Católica feita pelo Beato Pio IX. Para a ocasião, foi
anunciado pela Penitenciaria Apostólica um especial “Ano de São José”,
que se concluirá em 8 de dezembro de 2021. No Angelus de 27 de dezembro,
Francisco anunciou que em 19 de março de 2021 será inaugurado o Ano
“Família Amoris Laetitia” que se concluirá em 26 de junho de 2022, com o
10º Encontro Mundial das Famílias, programado para Roma. O ano que se
aproxima do fim também contou com algumas celebrações especiais
presididas pelo Pontífice: em 26 de janeiro, na Basílica Vaticana,
realizou-se a Missa do primeiro Domingo da Palavra de Deus, instituído
pelo Papa em 2019. Na noite de 10 de abril, a Praça de São Pedro foi o
cenário da Via-Sacra, escrita pelos detidos na prisão “Due Palazzi”, em
Pádua. No final do rito, o Papa não faz nenhum discurso, mas o seu
silêncio orante foi mais forte do que qualquer palavra. O mesmo
silêncio, cheio de fé, o acompanharia, meses depois, na Praça de
Espanha, em Roma: no amanhecer de 8 de dezembro, Solenidade da Imaculada
Conceição, o Papa deteve-se em oração aos pés da imagem da Virgem.
A Urbi et Orbi da Páscoa e Cabo Delgado no mapa do mundo
Em 12 de abril, Páscoa da Ressurreição, a Basílica Vaticana estava
vazia: o Papa presidiu a Missa na presença de poucas pessoas e
pronunciou a Urbi et Orbi diante do Altar da Confissão. Naquele dia, o
drama de Cabo Delgado, Moçambique, chegou à atenção internacional.
Dentre dos vários apelos à paz que Francisco lança na sua Mensagem à
cidade e ao mundo, há também uma para a província situada no norte do
país africano, cenário há três anos de conflito violento. Naquele
momento, é como se o Papa colocasse Cabo Delgado no mapa do mundo. No
dia 22 de novembro, Solenidade de Cristo Rei, a Basílica Vaticana também
recebeu a cerimónia de entrega da Cruz e do Ícone Mariano, símbolos da
Jornada Mundial da Juventude,um entre os jovens do Panamá, país anfitrião
da JMJ 2019, e os jovens de Lisboa, cidade que sediará o evento em
2023. Para a ocasião, o Papa estabeleceu que a celebração diocesana da
JMJ seja transferida do Domingo de Ramos para o Domingo de Cristo Rei.
As reformas nos campos judiciário e económico
Do ponto de vista das reformas, no ano que está a chegar ao fim,
Francisco assinou vários documentos: em março, promulgou a lei CCCLI
sobre o sistema judiciário do Estado da Cidade do Vaticano, que
substituiu a que estava em vigor desde 1987, dando maior independência
aos magistrados. No dia 1 de junho, foi a vez do Motu proprio “Normas sobre
transparência, controle e concorrência dos contratos públicos da Santa
Sé e da Cidade do Vaticano”, seguido, em 5 de dezembro, pelo novo
Estatuto da Autoridade de Informação Financeira, que se torna a
Autoridade de Supervisão e Informação Financeira. Por fim, em 28 de
dezembro, com o Motu proprio “Sobre algumas competências em matéria
económico-financeira”, a gestão de fundos e imóveis da Secretaria de
Estado, incluindo o Óbolo de São Pedro, foi transferida para a APSA. Ao
mesmo tempo, foi reforçado o papel de controle da Secretaria para a
Economia que terá a função de Secretaria Papal para assuntos económicos e
financeiros. Também significativa foi, em 22 de outubro, a renovação
por dois anos do Acordo Provisório entre a Santa Sé e a República
Popular da China, assinada em Pequim em 2018 e relativa à nomeação dos
bispos. A prorrogação foi seguida, em 24 de novembro, pela nomeação de
um novo prelado, dom Thomas Chen Tianhao, que guiará a Diocese de
Qingdao.
Relatório McCarrick e a proximidade do Papa às vítimas de abusos
Também em novembro, na terça-feira 10, foi publicado o “Relatório
sobre o conhecimento institucional e o processo de decisão da Santa Sé
em relação ao ex-cardeal Theodore Edgar McCarrick”. Reconhecido como
responsável pelo abuso sexual de menores e demitido do estado clerical
em 2019, o ex-purpurado é objeto de um extenso dossiê que a Secretaria
de Estado está a laborar a mando do Papa. O próprio Pontífice fala
sobre isto na Audiência Geral em 11 de novembro: “Ontem foi publicado o
Relatório sobre o doloroso caso do ex-cardeal Theodore McCarrick. Renovo
a minha proximidade às vítimas de todos os abusos e o compromisso da
Igreja de desarreigar este mal”, disse ele. No final de 2020, a
composição do Colégio Cardinalício muda: em 28 de novembro, no sétimo
Consistório de seu Pontificado, Francisco criou 13 novos cardeais,
chamando-os para o novo cargo das periferias do mundo: países como
Brunei e Ruanda passam a fazer parte da “geografia” do Colégio
Cardinalício pela primeira vez.
Viagens em Itália
Além disto, 2020 é o ano sem nenhuma viagem internacional do Papa,
que viaja apenas em Itália. Em 23 de fevereiro, foi a Bari para o
Encontro de reflexão e espiritualidade “Mediterrâneo, fronteira de paz”.
Ali, o Pontífice invocou a paz e a fraternidade, porque a guerra “é uma
loucura à qual não podemos resignar. Nunca”. Em 3 de outubro,
Francisco foi a Assis, em visita particular, e ali, no túmulo do Santo
Pobrezinho, assinou a Encíclica “Fratelli tutti”, que seria lançada no
dia seguinte.
Videomensagens, sinal de proximidade aos fiéis
Durante estes 12 meses, o Pontífice gravou numerosas vídeomensagens, entre as quais as de 25 de setembro e 10 de dezembro. Na primeira,
Francisco dirige-se à 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas e lança um
forte apelo à Comunidade internacional para que ponha fim à corrida aos
armamentos, proteja os direitos dos migrantes e repense os sistemas
económicos e financeiros. Ele também condenou fortemente o aborto como
“serviço essencial” humanitário. A segunda mensagem em vídeo foi
dirigida aos participantes no encontro promovido on-line pelo Dicastério
para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, sobre a crise na
Síria e no Iraque. “Devemos fazer com que a presença cristã, nestas
terras, continue a ser o que sempre foi: um sinal de paz, progresso,
desenvolvimento e reconciliação.”
Anúncio da viagem ao Iraque, ponte para o futuro
E foi o Iraque que projetou o Pontificado de Francisco para 2021: em 7
de dezembro, foi anunciada a viagem do Papa ao solo iraquiano de 5 a 8
de março próximo. Uma visita que Francisco deseja fortemente, tanto que
manifestou a intenção de realizá-la em junho de 2019, na audiência aos
participantes do Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais
(Roaco). Um sinal nessa direção veio em 25 de janeiro de 2020, quando o
Pontífice recebeu no Vaticano Barham Salih, presidente do Iraque.
Portanto, cabe a este país construir uma ponte entre um ano que termina e
outro que chega, prenúncio de novas esperanças.
Passado o Natal, (no entender
de alguns), o presépio ainda lá continua, mas provavelmente passamos por ele e
já nem o olhamos, quanto mais reflectirmos sobre ele, sobre o Nascimento do Salvador.
Parece que o deixamos sair do
nosso coração, (onde devia ter nascido e continuar a nascer todos os dias), e
partir para o Egipto, isto é, para um sítio onde não “incomode”, não nos “obrigue”
a mudar nada.
Sabemos que lá está, mas não
influi na nossa vida.
«E Jesus crescia em sabedoria,
em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.» Lc 2, 52
E se o Nascimento de Jesus fosse
também para cada um de nós ocasião para crescermos em “sabedoria”, conhecendo
melhor as coisas de Deus, em “estatura”, da nossa fé, e em “graça”, lutando
cada vez mais contra o pecado e vivendo mais e mais o amor?
«Depois desceu com eles,
voltou para Nazaré e era-lhes submisso.» Lc 2, 51
Para isso será então
necessário “descermos” do nosso eu, “voltarmos” a ser Igreja, e sermos
submissos à vontade de Deus.
Então o Natal será sempre presente
na nossa vida, o presépio será uma constante dos nossos dias, porque o Menino “regressará
dos nossos egiptos” para morar entre nós, para morar em nós.
Então sim, o Natal será sempre
que o Homem … o deixar ser Natal!
Angelus com o Papa na Biblioteca Apostólica
(Vatican Media)
A intenção do
Pontífice ao anunciar este Ano especial é “prosseguir o percurso
sinodal” que levou à publicação do documento. Com efeito, Amoris
laetitia é fruto da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos,
realizada de 4-25 de outubro de 2015 sobre o tema “A vocação e a missão
da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.
Jackson Erpen e Bianca Fraccalvieri - Vatican News
No Angelus deste domingo, 27, dia em que a Igreja celebra a
Sagrada Família, o Papa Francisco anunciou a convocação de um “Ano
especial dedicado à Família Amoris laetitia”, que será inaugurado em 19
de março de 2021, dia de São José e quinto aniversário de publicação da
Exortação Apostólica. O encerramento está marcado para junho de
2022. Será "um ano de reflexão" e uma oportunidade para "aprofundar os
conteúdos do documento":
“Estas reflexões serão colocados à disposição das comunidades
eclesiais e das famílias para acompanhá-las no seu caminho. Desde agora,
convido todos a aderir às iniciativas que serão promovidas ao longo do
ano e coordenadas pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a
Vida. Confiemos à Sagrada Família de Nazaré, em particular à São José,
esposo e pai solícito, este caminho com as famílias de todo o mundo.”
Família de Nazaré, modelo para todas as família do mundo
O Angelus deste domingo, também foi rezado na Biblioteca do Palácio Apostólico, pois como Francisco havia explicado no Angelus na
festa de Santo Estêvão, “devemos fazer assim, para evitar que as
pessoas venham para a Praça” e assim colaborar com as disposições dadas
pelas Autoridades, “para ajudar todos a escapar desta pandemia.”
Dirigindo-se a quem o acompanhava pelos meios de comunicação, o Papa
chamou a atenção para o facto de que “o Filho de Deus quis ter
necessidade, como todas as crianças, do calor de uma família”, e
precisamente por isso, “porque é a família de Jesus, a de Nazaré é a
família modelo, em que todas as famílias do mundo podem encontrar o seu
ponto de referência seguro e uma inspiração segura. Em Nazaré brotou a
primavera da vida humana do Filho de Deus, no momento em que Ele foi
concebido pela ação do Espírito Santo no seio virginal de Maria.”
Família evangeliza com exemplo de vida
Jesus passou a sua infância com alegria na Casa de Nazaré,
envolvido “pela solicitude maternal de Maria e pela solicitude de José,
em quem Jesus pôde ver a ternura de Deus”.
Ao imitar a Sagrada Família, somos chamados a redescobrir o valor
educativo do núcleo familiar: isto requer que seja fundado no amor que regenera sempre as relações, abrindo horizontes de esperança. Em família poder-se-á experimentar uma comunhão sincera quando ela é casa de
oração, quando os afetos são sérios, profundos, puros, quando o perdão
prevalece sobre a discórdia, quando a dureza quotidiana do viver é
amenizada pela ternura recíproca e pela serena adesão à vontade de Deus.
Desta forma, a família abre-se à alegria que Deus dá a todos aqueles
que sabem dar com alegria. Ao mesmo tempo, encontra energia espiritual
para se abrir ao exterior, aos outros, ao serviço dos irmãos, à
colaboração para a construção de um mundo sempre novo e melhor; capaz,
por isso, de ser portadora de estímulos positivos; a família evangeliza
com o exemplo de vida.
“Em família poder-se-á experimentar uma comunhão sincera quando ela
é casa de oração, quando os afetos são profundos e puros, quando o
perdão prevalece sobre a discórdia, quando a dureza quotidiana do viver é
amenizada pela ternura recíproca e pela serena adesão à vontade de
Deus.”
Dá licença, perdão, obrigado
O Papa recordou que nas famílias existem problemas, que às vezes se
briga, “mas somos humanos, somos fracos, e todos temos às vezes este
facto de que brigamos em família”. Mas a recomendação, já feita noutras
oportunidades, é que não se acabe o dia sem fazer as pazes, pois “a
guerra fria no dia seguinte é muito perigosa”. E lembrou as três
palavras fundamentais para que o ambiente em família seja bom: dá
licença, perdão, obrigado. “Não serrm invasivos”, agradecer sempre, pois
“a gratidão é o sangue da alma nobre”, e depois pedir perdão, das três, a
palavra mais difícil de dizer.
Famílias, fermento de uma nova humanidade
E o exemplo de evangelizar com a família, continuou então Francisco, é
o chamamento que nos é feito pela festa de hoje, que nos repropõe o ideal
de amor conjugal e familiar, assim como foi enfatizado na Exortação
Apostólica Amoris laetitia.
Ao concluir, o Papa pediu à Virgem Maria, que”faça com
que as famílias de todo o mundo fiquem cada vez mais fascinadas pelo
ideal evangélico da Sagrada Família, para assim se tornar fermento de
nova humanidade e de uma nova solidariedade concreta e universal.”
A oração de Francisco pelas famílias marcadas pelas feridas da incompreensão e da divisão.
Após rezar o Angelus, ao saudar as famílias, grupos e fiéis
que acompanham pelos meios de comunicação, o Santo Padre dirigiu o seu
pensamento em particular “às famílias que nos últimos meses perderam um
familiar ou foram provadas pelas consequências da pandemia. Penso também
nos médicos, enfermeiras e todo o pessoal de saúde cujo grande empenho
na linha de frente do combate à propagação do vírus teve repercussões
significativas na vida familiar”.
O Papa também confiou ao Senhor “todas as famílias, especialmente as
mais provadas pelas dificuldades da vida e pelas feridas da
incompreensão e da divisão. O Senhor, nascido em Belém, conceda a todos a
serenidade e a força para caminharem unidos no caminho do bem”.
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No Angelus na
festa de Santo Estêvão, o Papa Francisco deu destaque aos gestos que
mudam a história, mesmo os pequenos, pois abrem as portas para a luz de
Jesus.
Jackson Erpen – Vatican News
“Santo Estêvão, enquanto recebia as pedras do ódio, retribuía com
palavras de perdão. Assim mudou a história. Também nós podemos em cada
dia transformar o mal em bem”.
No Angelus na festa de Santo Estêvão, o Papa Francisco propôs
como modelo o testemunho do primeiro mártir do cristianismo, enfatizando
que “gestos de amor mudam a história, mesmo aqueles pequenos”, e que
“Deus guia a história pela coragem humilde de quem reza, ama e perdoa.”
Com a Praça de São Pedro praticamente deserta devido às medidas adotadas
pelo governo italiano neste período festivo, para conter o contágio do
coronavírus, a oração do Angelus neste sábado foi rezada na Biblioteca do Palácio Apostólico, e não da janela do apartamento pontifício.
A testemunha reflete a luz de Jesus
Dirigindo-se a quem o acompanhava pelos meios de comunicação, o
Pontífice começou por falar de Santo Estêvão, como a “testemunha de
Jesus”, “que brilha na escuridão", explicando:
As testemunhas brilham com a luz de Jesus, não têm luz própria.
Também a Igreja não tem luz própria. Por isso os antigos Padres chamavam
a Igreja de "o mistério da lua". Como a lua não tem luz prórpia, as
testemunhas não têm luz própria, são capazes de pegar na luz de Jesus e
refleti-la. Estêvão é falsamente acusado e brutalmente apedrejado, mas
na escuridão do ódio, que havia naquele tormento da lapidação, faz
resplandecer a luz de Jesus: reza pelos seus assassinos e perdo-á-los, como
Jesus na Cruz. É o primeiro mártir, isto é, a primeira testemunha, o
primeiro de uma lista de irmãos e irmãs que, até hoje, continuam a
iluminar nas trevas: pessoas que respondem ao mal com o bem, que não
cedem à violência e à mentira, mas quebram a espiral do ódio com a
mansidão do amor.
“Estas testemunhas iluminam a aurora de Deus nas noites do mundo.”
“Mas - pergunta Francisco - como se tornam uma testemunha?”. “Imitando
Jesus, pegando luz de Jesus", responde. "Este é o caminho para todo
o cristão: imitar Jesus, pegar na luz de Jesus. Santo Estêvão dá-nos o
exemplo (...). Ele tenta imitar o Senhor todos os dias e o faz até ao
final: como Jesus, é capturado, condenado e morto fora da cidade e, como
Jesus, reza e perdoa. Enquanto está a ser apedrejado, diz: «Senhor, não
lhes leves em conta este pecado». Estêvão é testemunha porque imita
Jesus”.
Testemunho de Estêvão, semente da conversão de Paulo
O Papa observa então, que diante da maldade difusa no mundo, poderiam
surgir questionamentos sobre a serventia destes testemunhos de bondade:
“Que serventia tem rezar e perdoar? Somente para dar um belo exemplo?”:
Não, há muito mais. Descobrimos isto por um detalhe. Entre aqueles
por quem Estêvão rezava e perdoava, havia, diz o texto, "um jovem,
chamado Saulo" que "aprovava a sua morte". Pouco depois, por graça de
Deus, Saulo converte-se, recebe a luz de Jesus, aceita-a, converte-se e torna-se Paulo, o maior missionário da história. Paulo nasce
precisamente da graça de Deus, mas por meio do perdão de Estevão, por
meio do testemunho de Estêvão. Eis a semente da sua conversão. É a prova
de que os gestos de amor mudam a história: mesmo aqueles pequenos,
escondidos, quotidianos.
“Porque Deus guia a história pela coragem humilde de quem reza,
ama e perdoa. Tantos santos escondidos, os santos da porta ao lado,
testemunhos escondidos de vida, com pequenos gestos de amor mudam a
vida”
Pequenos gestos que deixam a luz de Jesus entrar e mudam a história
Ser testemunhas de Jesus, vale também para nós ressalta o Papa:
O Senhor deseja que façamos da vida uma obra extraordinária por
meio de gestos ordinários, os gestos de cada dia. Ali onde vivemos, em
família, no trabalho, onde quer que seja, somos chamados a ser
testemunhas de Jesus, ainda que apenas dando a luz de um sorriso, luz
que não é nossa, é de Jesus e mesmo somente fugindo das sombras das bisbilhotices e mexericos. E depois, quando vemos algo não está certo, em vez de criticar, falar pelas costas e reclamar, rezemos por quem
errou e por aquela situação difícil. E quando surge uma discussão em
casa, em vez de tentar prevalecer, procuremos desarmar; e recomeçar em casa vez, perdoando quem ofendeu. Pequenas coisas, mas mudam a história, porque abrem a porta, abrem a janela para a luz de Jesus.
“Santo Estêvão, enquanto recebia as pedras do ódio, retribuía com palavras de perdão. Assim mudou a história.”
Também nós podemos em cada dia transformar o mal em bem, como sugere
um belo provérbio que diz: "Faça como a palmeira: atiram pedras a
ela deixa cair tâmaras".
Oração pelos cristãos perseguidos, em maior número do que nos primeiros tempos
O Pontífice concluiu a sua reflexão, pedindo orações por todos aqueles que sofrem pela fé professada em Jesus:
Rezemos hoje por aqueles que sofrem a perseguição por causa do nome
de Jesus. São muitos, infelizmente. São mais do que nos primeiros tempos
da Igreja. Confiemos à Nossa Senhora estes nossos irmãos e irmãs, que
respondem à opressão com a mansidão e, como verdadeiras testemunhas de
Jesus, vencem o mal com o bem.
(Transcrição das palavras proferidas na mensagem emitida na TV e na Rádio)
Muito Boa Noite. Muito obrigado pela oportunidade que me dão de desejar a todos um Santo e Feliz Natal! Este
Natal é especial, com a pandemia que ainda temos por diante e que a
tantos atinge de forma direta e indireta. Deixo uma especial saudação a
todos aqueles que estão na primeira linha do combate a esta pandemia, no
sistema de saúde, nas famílias e em tantas outras instâncias onde se
procura responder a tão grande desafio. Este
Natal também nos obriga a restrições especiais na maneira de o celebrar
e de o festejar. Mas, talvez isso também nos possa chamar a atenção
para o que é essencial nesta data, para que seja verdadeiramente uma
comemoração do que aconteceu há dois mil anos. Isso é importante porque,
como sabemos, poucos acontecimentos na história da humanidade tiveram
tanto reflexo e tanta repercussão na própria sociedade e na cultura onde
este anúncio chegou. De tal maneira, que muitas outras manifestações de
tipo cultural – no sentido genérico do termo –, com festejos e
expressões públicas de alegria, se foram juntando ao longo dos séculos.
E, ultimamente, até muito potenciadas, o que se compreende porque esta
também é uma ocasião de as famílias se encontrarem, de os amigos se
reverem ou, pelo menos, comunicarem mais proximamente. Como
referi anteriormente, as circunstâncias deste ano podem-nos levar a
concentrar a atenção naquilo que originou toda esta comemoração
natalícia e que cada presépio nos lembra, ou seja, o nascimento de
Alguém. “Natal” significa nascimento e, efetivamente, assim aconteceu
quando nasceu Jesus. Nasceu menino, como todos nós nascemos, acompanhado
por sua mãe, Nossa Senhora, pelo seu pai adotivo, São José, por aqueles
pastores que acorreram e, mais tarde, por aqueles magos do Oriente.
Eram gente que procurava e quem procura, encontra (cf Mt 7, 8). Não eram
muitos, mas foi isso exatamente o que aconteceu, segundo os relatos dos
Evangelhos. É importante retomarmos esta originalidade do Natal para
que ele não se perca entre tantas outras comemorações que, na roda do
ano, vão surgindo com esta ou aquela motivação e que poderiam, de alguma
maneira, diluir o significado do Natal. Eu
creio que este significado autêntico do que aconteceu em Belém e que
nós celebramos a cada 25 de dezembro também responde à atual situação
que a pandemia nos trouxe, com tantas consequências, não só no campo da
saúde, com a sobrecarga do nosso sistema para responder a um desafio tão
grande, mas em todo o lado: no emprego, na escola, no desporto, na
cultura... São circunstâncias tão especiais que agora nos tocam. Mas,
porque é que o que aconteceu verdadeiramente no Natal nos dá uma luz,
uma perspetiva, uma pista, para respondermos a esta situação? Porque,
para nós, crentes – e também para muitos outros, através de uma
convicção que ultrapassa as fronteiras confessionais –, o que ali
aconteceu, sendo, aparentemente, tão pouco (é um menino que nasce, num
sítio tão pobre, como era uma gruta, como era um presépio) mas que
ganhou toda esta repercussão, mostra-nos o modo divino de ser e
acontecer neste mundo. Chamamos
àquela família – porque está envolvida nesta realidade – uma “Sagrada
Família”. “Sagrado” já nos transporta para Deus e para as coisas que, a
partir de Deus, acontecem. Mas, para crentes e não crentes, esta
realidade diz-nos que para respondermos a grandes desafios, temos que
começar pelas pequenas coisas. É do pouco que se vai ao muito, é do
perto que se vai ao longe, é do pequeno que se vai ao grande. Foi
exatamente o que aconteceu, ao contrário de muitas outras coisas que, na
altura, como depois, nos enchem os olhos e os ouvidos de notícias, mais
ou menos espaventosas, que depois se diluem. Com o correr dos séculos,
duraram o que duraram. O que ali aconteceu, naquela gruta, naquele
presépio, tão pequeno que era, teve tal força que se impôs, como se
impõe agora, com uma mensagem que nós não sentimos antiga, sentimo-la de
agora. Colhemos então esta
lição, em cada família, em cada estabelecimento de saúde, em cada lugar
de ensino, em cada mundo empresarial, em cada comunidade, seja onde
for: para respondermos a grandes desafios, comecemos por aquilo que é
mais pequeno e que é mais próximo, em cada pessoa que se apresenta, em
cada problema que temos que enfrentar. Não nos deixemos alienar por
aquilo que não podemos fazer e respondamos, desde já, como acreditamos
que Deus nos respondeu: no Menino que nasce, em tudo aquilo que é mais
concreto, mais simples e mais imediato. Porque é exatamente essa a porta
que se abre. A porta para o futuro está em cada presente. E o Natal
diz-nos isso mesmo: é a maneira convicta, sincera como nós respondemos
ao problema de quem está diante de nós. E pode ser na nossa casa ou em
qualquer outro local onde passemos o dia. Responde-se exatamente aí e,
assim, abre-se uma porta para o futuro. Assim aconteceu há dois mil anos
e essa porta nunca mais se fechou. O
Papa Francisco, no ano passado, por esta altura, dirigiu-nos uma
mensagem (Carta Apostólica ‘Admirabile Signum’ [Sinal admirável]) muito
bela acerca disto mesmo, ou seja, da atenção ao presépio e ao primeiro
acontecer do Natal de Cristo neste mundo. Este ano, mandou-nos outra
mensagem (Carta Apostólica ‘Patris Corde’ [com coração de pai]), também
muito bela, acerca de São José, aquele José que adotou aquela criança e
tomou conta de sua mãe, num mistério que o ultrapassava infinitamente,
mas ao qual dedicou toda a vida. É isto que somos chamos a fazer também:
imitar José, acolhendo a vida com toda a surpresa com que ela aparece
e, depois, servindo-a, na vida deste Jesus continuado que a cada um de
nos se apresenta. Comecemos na casa de cada um. Um Santo e Feliz Natal para todos!
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De novo em Natal, para um Natal sempre novo.
Assim podemos dizer e assim deve ser, hoje também. Hoje, quando as
condições sanitárias nos obrigam a grandes cuidados e nos restringem as
habituais convivências. Hoje, quando tantas famílias se preocupam com
algum membro atingido pela pandemia e tantos profissionais da saúde se
desdobram no tratamento de doentes. Hoje, quando os responsáveis dos
vários setores se mantém vigilantes e ativos para que a vida de todos se
mantenha segura e sustentável. Hoje, quando ainda há tanto a fazer para
que a ninguém falte abrigo, alimentação e trabalho. Hoje, quando os
nossos idosos não podem receber as visitas dos seus e tantos cuidadores
se desvelam para não lhes faltar o conforto. Hoje, quando por esse mundo
além e aquém se multiplicam refugiados e emigrantes forçados, que têm
inegável direito a ser acolhidos e respeitados em qualquer lugar onde
cheguem. Não consta que São José tenha encontrado dificuldades de maior,
quando se refugiou no Egito, com o Menino e Sua Mãe. Hoje,
da parte de Deus, é seguramente Natal. Da nossa parte há de sê-lo
também, no que a cada um lhe caiba e no que a todos compete. Da parte de
Deus, como em Belém de Judá há dois milénios, aconteceu com tal força
própria que acabou por se repercutir na cultura e na sensibilidade
humanas, com inegável persuasão e até para além da confessionalidade
estrita. Mesmo quando não o
celebram liturgicamente, mesmo quando as circunstâncias parecem
contradizê-lo, mesmo quando não o nomeiam expressamente, homens e
mulheres do mundo inteiro, crianças, adultos ou idosos, esperam o
“Natal”, buscam-lhe os sinais e adivinham-lhe a necessidade, ainda como
esperança. Desejam que “seja Natal todos os dias”, aspiram à paz que
anuncia, descontentam-se por não ser assim, finalmente e já. O
Natal de Cristo tornou-se lição universal e este dia é o seu exame para
todos. - Como nos classificaremos este ano, depois das dificuldades
enfrentadas, pessoal, social e até eclesialmente falando? Positiva é
certamente a nota relativa à vontade de responder às incidências da
pandemia, por entidades públicas e particulares. Vontade de responder
que foi geral e muitas vezes abnegada, aumentando o esforço e superando
lacunas, também por parte de paróquias e instituições religiosas. Mas é
essa boa vontade, solidária, competente e criativa, que permitirá
aumentar ainda mais a classificação geral das provas natalícias de ano
para ano. Se a lição do
Natal se tornou tão forte e duradoura, tal se deve essencialmente ao
facto de ser divina, surpreendentemente divina. As lições que a
humanidade pretende dar-se só por si, valem o que valem, por vezes
muito, mas sempre de menos. Nunca conseguem ir além do humano,
demasiadamente humano, mesmo que se destinem a todos, ou a todos se
queiram impor. Nas sucessivas
formas culturais e civilizacionais, marcam-se inícios, apogeus e
declínios. Nunca se volta exatamente ao ponto de partida, porque algo se
acumulou entretanto, como experiência convivida e alguma inovação
alcançada. Mas nunca basta e somam-se interrupções e atrasos. Por vezes
apresentam-se como “progressos civilizacionais” autênticos retrocessos
humanitários, como no que diz respeito à integralidade da vida humana,
quando deixa de ser legalmente protegida em todo o seu devir e não se
usam os recursos que o progresso científico nos oferece para o fazer, de
forma positiva e generalizada, até ao termo natural de cada um. A
lição do Natal é divina, porque ninguém o imaginava do modo como
realmente foi. Desde que a humanidade ganhou consciência de si,
manifestou vontade em ter alguma ciência da divindade, plural ou
singular. Mas dificilmente saiu de si própria, transpondo-se para o
além, agigantando a sua pequenez, procurando segurança algures. Dos
primeiros traços que deixou, nas paredes de grutas ou construções
pré-históricas, aos grandes edifícios dos primeiros e últimos impérios,
ressalta sempre e sobretudo a projeção humana além de si – hesitante,
situada e finalmente impossível. Mas «o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. E nós vimos a sua glória…».
Neste magnífico hino das origens cristãs, está a lição do Natal
plenamente enunciada, colocando-nos a atenção, a contemplação e a
devoção no exclusivo ponto onde devem estar, isto é, na irredutível
iniciativa divina. Não seremos
nós a dizer Deus, é Deus que unicamente se diz. Podemos concluir que
razoavelmente é assim e sem alternativa capaz. Mas a iniciativa foi sua e
em pleno contraste com qualquer construção humana, por mais intelectual
e bem propositada que fosse. Deus
verbaliza-se, diz-se naquele Menino único onde cabem todas as idades,
ligando a fragilidade da carne à realidade absoluta d’Aquele que a
assume e ressuscita. Não deixará de ser “carne”, sentindo e sofrendo, do
presépio à cruz, mas sanando-a pela constante ligação a Deus Pai, no
Espírito que compartilham e nos inclui também. Esta
autorrevelação de Deus, dito em Jesus, seu Verbo incarnado, aconteceu
ali, naquele tempo e lugar. Mas, exatamente por ser divina, irrompe por
todo o espaço e tempo, preenchendo toda a “carne” da humanidade que
sente e que sofre, que ri e que chora, que oferece ou implora. Deixemo-nos
surpreender pela constante e inesgotável lição do Natal. Este é o
presépio a que devemos acorrer como os pastores, gente pobre e
disponível; ou depois os magos, gente desinstalada e à procura. Com
todas as figurações que o seu dia-a-dia nos trouxer, aí mesmo e só aí
“veremos a sua glória”. Santo
Ireneu, no segundo século cristão, escreveu que «a glória de Deus é o
homem vivo e a vida do homem é a visão de Deus». Felicíssima síntese e
arco perfeito, de Deus para o homem e do homem para Deus, como no Natal
se admira e contempla. Na humanidade renascida do Verbo incarnado está a
glória de Deus, a plena manifestação do seu poder, que é o seu amor
criador. Não o perdendo nunca,
da vista e do coração, viveremos também e plenamente. Com o salmista
cantaremos: «Em Vós Senhor está a fonte da vida. Na vossa luz veremos a
luz» (Sl 36, 10)!
Ao conceder a
bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo), o Papa Francisco
rezou pelas populações mais atingidas pela crise ecológica, social e
económica agravada pela pandemia. No continente americano, um dos mais
afetados pelo coronavírus, pediu o fim da corrupção e da insegurança, e
citou o Chile e a Venezuela.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
No dia de Natal, o Papa Francisco concedeu a tradicional bênção Urbi et Orbi, desta vez não da sacada central da Basílica de São Pedro, mas a poucos metros do local, na Sala das Bênçãos.
A Praça de São Pedro não está fechada, mas as pessoas não podem circular devido ao lockdown decretado pelo governo italiano nos dias de festas.
Como sempre, a bênção é antecedida por uma longa mensagem em que o
Pontífice apresenta os seus votos de Feliz Natal a todos os países e regiões que
vivem períodos conturbados.
Fraternidade mais necessária do que nunca
Desta vez, a mensagem teve como fio condutor a última Encíclica publicada pelo Papa Francisco, “Fratelli tutti”.
“O nascimento é sempre fonte de esperança, é vida que desabrocha, é
promessa de futuro. E este Menino – Jesus – «nasceu para nós»: um «nós»
sem fronteiras, sem privilégios nem exclusões.”
Graças a este Ele, todos podemos dirigir-nos a Deus e chamá-lo de
«Pai». Assim, todos podemos ser realmente irmãos: “de continentes
diversos, de qualquer língua e cultura, com as nossas identidades e
diferenças, mas todos irmãos e irmãs”.
Neste momento histórico marcado pela crise ecológica e por graves
desequilíbrios económicos e sociais, agravados pela pandemia, o Papa
considera a fraternidade como valor mais necessário do que nunca. Não
uma fraternidade feita de ideais abstratos mas baseada no amor real,
capaz de compadecer-me dos sofrimentos alheios, mesmo que o outro não
seja da minha família, da minha etnia, da minha religião.
Vacina para todos
O primeiro pensamento do Papa foi para as pessoas mais frágeis, os doentes
e quantos neste tempo se encontram desempregados ou em graves
dificuldades pelas consequências económicas da pandemia, “bem como as
mulheres que nestes meses de confinamento sofreram violências
domésticas”.
Francisco renovou o seu apelo aos governantes para que a todos seja garantido o acesso às vacinas e aos tratamentos.
“No Natal, celebramos a luz de Cristo que vem hoje ao mundo e Ele
vem para todos: não só para alguns. Hoje, neste tempo de escuridão e
incertezas pela pandemia, aparecem várias luzes de esperança, como a
descoberta das vacinas.”
A dor da guerra
O Papa fez um apelo também em prol de tantas crianças que em todo o
mundo, especialmente na Síria, Iraque e Iémen, ainda pagam o alto preço
da guerra.
A Síria foi novamente citada junto aos países que no Oriente Médio e
no Mediterrâneo oriental sofrem com tensões, como o Iraque, em
particular os yazidis, a Líbia, Israel, Palestina e o Líbano.
O Pontífice mencionou ainda Nagorno-Karabakh, bem como as regiões
orientais da Ucrânia. Na África, o apelo de paz foi feito em prol de
Burkina Faso, Mali, Níger e Etiópia.
O Papa dirigiu um pensamento especial aos habitantes da região de
Cabo Delgado, no norte de Moçambique, vítimas da violência do terrorismo
internacional. Sudão do Sul, Nigéria e Camarões também foram exortados a
continuar pelo caminho da fraternidade e do diálogo.
Esperança para o continente americano
Quanto à América, Francisco fez votos de esperança, já que o
continente foi particularmente afetado pelo coronavírus, “que exacerbou
os inúmeros sofrimentos que o oprimem, muitas vezes agravados pelas
consequências da corrupção e do narcotráfico”.
Nomeadamente, citou o Chile, para que supere as recentes tensões sociais, e a Venezuela, para que ponha fim ao sofrimento.
Na Ásia, pediu a proteção de Deus às populações flageladas por
calamidades naturais, sobretudo nas Filipinas e Vietnam, e não se esqueceu
do povo Rohingya: “Jesus, nascido pobre entre os pobres, leve esperança
às suas tribulações”.
Redescobrir a família como berço de vida
Queridos irmãos e irmãs, concluiu Francisco, “resignar-se à violência
e à injustiça significaria recusar a alegria e a esperança do Natal”.
“Neste dia de festa, dirijo uma saudação particular a todas as
pessoas que não se deixam subjugar pelas circunstâncias adversas, mas
esforçam-se por levar esperança, consolação e ajuda, socorrendo quem
sofre e acompanhando quem está sozinho.”
Por fim, o último pensamento do Papa foi paea as famílias que hoje não
se podem reunir. “Para todos, seja o Natal a ocasião propícia para
redescobrirem a família como berço de vida e de fé. Feliz Natal para
todos!”