O Fórum das Missões, que decorreu no passado Domingo, deu a conhecer experiências missionárias, dentro e fora de Portugal. A partir do tema da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 – ‘Maria levantou-se e partiu apressadamente’, os missionários destacaram o que os levou a partir e como o tema abre um “horizonte de esperança” aos desafios trazidos pela pandemia.
Desta vez, em formato online, pelo YouTube e Facebook, o diretor do Sector da Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa, padre Albino dos Anjos, dava o tiro de partida para mais um Fórum das Missões. A pandemia veio potenciar, desta forma, o encontro de missionários que, através de diferentes experiências de missão, partilham a urgência e o desafio de “partir”. “Todo o programa tem como objetivo desmembrar, em diversos registos, a ação missionária que nasce do ‘levantar’ e do ‘partir’”, começava por explicar, no início da transmissão, o sacerdote da Sociedade Missionária da Boa Nova. O tema da JMJ Lisboa 2023 foi também o pretexto para escutar – ou voltar a escutar – uma parte da intervenção do cardeal D. José Tolentino de Mendonça que, falando à delegação de jovens portugueses que receberam, no Vaticano, no passado mês de novembro, os símbolos da Jornada, “ofereceu-nos uma página belíssima sobre o mistério da visitação de Maria a sua prima Isabel”, sublinhou o diretor do Sector da Animação Missionária. “Encontramos ali pormenores muito interessantes que nos podem dar o sentido e a razão de sermos missionários e compreendermos que não se trata de uma mera visita, mas algo mais. Há um mistério que Maria leva em si e que Santa Isabel e São João Batista o sentem também a partir das suas próprias entranhas”, prosseguiu.
“Paixão pelo Evangelho”
Numa
transmissão que apresentou, na tarde do passado dia 31 de janeiro,
vídeos com testemunhos de vários missionários, foi também possível,
reunir, em direto, cinco participantes que, em Portugal, no Luxemburgo,
em Moçambique e no Sudão do Sul, responderam à pergunta: ‘O que te levou
a partir?’. Neste painel ‘Mission Talks’, moderado pelo padre
espiritano Hugo Ventura, a irmã Beta Almendra, a partir do Sudão do Sul,
foi a primeira a partilhar o que a fez sair da Ericeira e partir em
missão. “Foi esta paixão pelo Evangelho, de levar este Jesus Cristo a
outros. É esse o nosso carisma como missionárias Combonianas”, começou
por partilhar. Num trabalho dedicado “especialmente às mulheres e
jovens, que ainda são os mais abandonados” daquele país do norte de
África, a irmã Beta diz que encontrou “um país a querer crescer”. Apesar
de “alguns conflitos, há uma esperança muito grande em que a paz e a
reconciliação estejam em primeiro lugar”, sublinhou.
“Partir e partilhar”
Da
capital do Sudão do Sul, Juba, a conversa passou para Maputo, em
Moçambique, onde o padre Rui Ferreira, natural da Silveira, Torres
Vedras, assume, desde 2019, um trabalho como reitor e formador no
Seminário da Matola, instituição educativa da Sociedade Missionária da
Boa Nova – a que pertence. A ligação a este país começou enquanto
seminarista. “Logo em 2013, fui enviado para Moçambique, Diocese de
Pemba, e encontrei um novo modo de ser Igreja, mais simples, pobre,
constituída pelo povo, sofrida, mas alegre e leve”, conta este
missionário, que, desde esse período, ficou com o “desejo de voltar”. E
assim aconteceu, em 2018, já depois de ser ordenado sacerdote e num
contexto muito particular, que o levou a conhecer de perto a “situação
complexa” que se vive naquela região moçambicana, Cabo Delgado. “A
Igreja continua a fazer a sua parte, com o seu Bispo, com os
missionários... isso é algo belo e que nos faz ver a comunhão que é a
Igreja”, assegura este sacerdote, de 39 anos, que, aos 28, fez “uma
forte experiência de encontro com Cristo” que o levou a “partir e
partilhar”. “‘Dai de graça o que também recebeste de graça’ – nesse
sentido, aceitei-me tornar missionário para toda a vida, padre”,
partilhou.
JMJ evoca “história missionária” do país
Já
em território nacional, mais concretamente no Sobral de Monte Agraço,
Ana Catarina André, coordenadora do Gabinete de Comunicação da JMJ
Lisboa 2023, testemunhou como foi sendo possível, ao longo da sua vida
profissional, perceber que também através do seu trabalho era chamada à
missão. “Lembro-me que, no início da minha carreira, então com 21 anos,
ao refletir sobre esta ligação entre missão e trabalho não percebia o
que estava ali em causa”, começou por partilhar esta leiga. “À medida
que o tempo ia passando, e através de outras experiências que tive na
Igreja, fui percebendo que era ao pôr a render esses dons que Deus me
tinha dado que também estava a fazer missão”, assegurou esta
profissional no painel ‘Mission Talks’. Agora, perante a Jornada Mundial
da Juventude, “o desafio é muito maior”, assume. “Coordenar a
comunicação da jornada em tudo o que ela tem, desde os canais que
utiliza para comunicar com os jovens, com as famílias, até àquilo que é
um pensamento estruturado sobre o que se quer comunicar e a cada
momento, é um grande desafio, mas acho que, no fundo, tem tudo a ver com
este tema [Maria levantou-se e partiu apressadamente], que é uma grande
bênção para Lisboa” e que lembra a “história missionária” do povo
português, considerou. “O tema também convida o mundo todo a este
movimento, à ação, à transformação e, neste contexto tão difícil e
adverso, abre-nos um horizonte de esperança que nos pode ajudar a
caminhar até 2023”, reforçou.
Para Andreia Araújo, a cidade de Pemba, em Moçambique, é, neste momento, a sua terra de missão, para onde foi enviada em julho do ano passado. Segundo a jovem natural da Arquidiocese de Braga, esta missão resulta de uma pareceria entre a diocese portuguesa e a congénere moçambicana. “Todos os anos, a Arquidiocese de Braga compromete-se a enviar uma equipa missionária para gerir a paróquia de Ócua, que tem 96 comunidades, divididas por 17 zonas”, começa por explicar Andreia, lamentando o facto de ainda aguardar pela presença de um sacerdote e de outra leiga que continuam a aguardar o visto de entrada naquele país. Porém, e apesar de contar com a ajuda temporária de uma equipa local, Andreia não limita o seu testemunhou dos últimos meses de missão. “Quem chega aqui, é deslumbrado pela simplicidade das pessoas, pelo amor que elas colocam em tudo. Realmente, podemos perceber que pequenos gestos, a nossa presença, o nosso ser e o nosso estar fazem uma grande diferença”, assegurou.
Antes e agora
Já com 12 anos passados desde a sua missão como leiga missionária, Joana Pedro, atualmente a residir no Luxemburgo, partilhou, no ‘Mission Talks’, o desafio que sente, nos dias de hoje, para responder com a mesma “naturalidade” com que respondeu, em 2008, aos desafios para fazer missão. “Naquela altura, fui para Itoculo, no norte de Moçambique, onde estive um ano com os missionários espiritanos”, começou por referir. “Foi natural partir naquela altura, mas, por vezes, não é tão natural continuar a partir constantemente, na nossa vida, enquanto leigos, e encontrar novas formas e sítios de partir. É um bocado isso que tenho tentado fazer, desde 2008, e muito marcado por aquele ano em Moçambique”, acrescentou esta leiga, que revelou ter alterado a sua carreira profissional depois desta experiência missionária. “Estava na área de Engenharia do Ambiente, liguei-a com Direitos Humanos e fui estudar Desenvolvimento Internacional”, revelou Joana que, depois da sua experiência missionária, voltou, em trabalho, a Moçambique, viveu na África do Sul e, atualmente, reside no Luxemburgo onde trabalha nas áreas para que estudou.
“Missionários da caridade”
Depois
das partilhas que contaram também com as perguntas de algumas das
centenas de pessoas que assistiram à transmissão em direto do Fórum das
Missões 2021, a partir das redes sociais do Patriarcado de Lisboa e do
Sector da Animação Missionária, o programa contou ainda com um concerto
de várias famílias missionárias ligadas aos Missionários da Consolata.
A
encerrar a iniciativa, na oração de Vésperas que foi transmitida em
direto, a partir do Seminário dos Olivais, o Bispo Auxiliar de Lisboa D.
Daniel Henriques evocou os “missionários da caridade” que, sobretudo
neste tempo de pandemia, “estão à beira da cama dos enfermos, dos
doentes, no serviço da caridade a cuidar dos mais pobres”. “Debruçando-se
sobre as chagas dos irmãos, anunciam, sobretudo com as suas ações, o
Evangelho da salvação”, afirmou o prelado, que acompanha a Animação
Missionária no Patriarcado de Lisboa.
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