14 fevereiro 2021

Papa no Angelus: como Jesus, ter a coragem de "transgredir" por amor

 
 2021.02.14 - Angelus 
 
Ao comentar a cura do leproso, Francisco convidou os fiéis a "transgredirem" com o Evangelho: violar os nossos egoísmos para nos "contaminarmos" com a dor e o sofrimento do outro.

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Com os fiéis na Praça de S. Pedro pelo segundo domingo consecutivo, o Papa Francisco rezou o Angelus num domingo de sol e muito frio em Roma.

Antes da oração mariana, o Pontífice comentou o Evangelho deste VI Domingo do Tempo Comum, que narra a cura de Jesus a um leproso. Neste episódio contido em Marcos, Francisco identificou duas “transgressões”: o leproso que se aproxima de Jesus e Jesus que, movido por compaixão, o toca para curá-lo.

A primeira transgressão é a do leproso: naquele tempo, eram considerados impuros e eram excluídos da vida social, não podiam por exemplo entrar na sinagoga. A doença era considerada um castigo divino, mas, em Jesus, ele pode ver outra face de Deus: não o Deus que castiga, mas o Pai da compaixão e do amor, que nos liberta do pecado e jamais nos exclui da sua misericórdia. “A atitude de Jesus o atrai, leva-o a sair de si mesmo e a confiar a Ele a sua história dolorosa”, comentou Francisco.

Um aplauso aos confessores misericordiosos

“Permitam-me aqui um pensamento a muitos bons sacerdotes confessores que têm esta atitude: atrair as pessoas que se sentem aniquiladas pelos seus pecados, mas com ternura a compaixão... Confessores que não estão com o chicote nas mãos, mas recebem, ouvem e dizem que Deus é bom, que Deus perdoa sempre, que jamais se cansa de perdoar.”

Ao dizer estas palavras, o Pontífice pediu um aplauso - também ele aplaudindo - a todos os confessores misericordiosos.

A segunda transgressão é a de Jesus: enquanto a Lei proibia tocar nos leprosos, Ele comove-se, estende a mão e toca-o para o curar. Não se limita às palavras, mas toca-o. Tocar com amor significa estabelecer uma relação, entrar em comunhão, envolver-se na vida do outro ao ponto de partilhar inclusive as suas feridas. Com este gesto, Jesus mostra que Deus não é indiferente, não mantém a “distância de segurança”; pelo contrário, aproxima-se com compaixão e toca a nossa vida para curá-la.

“É o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura. A transgressão de Deus: é um grande transgressor neste sentido.”

Hoje, lamentou o Papa, muitas pessoas ainda sofrem com esta doença e outras que vêm acompanhadas de preconceitos sociais e até mesmo religiosos. Mas ninguém está imune a experimentar feridas, falências, sofrimentos, egoísmos que nos fecham a Deus e aos outros.

Deus "contamina-se com a nossa humanidade ferida

Diante de tudo isto, destaca Francisco, Jesus anuncia que Deus não é uma ideia ou uma doutrina abstrata, mas Aquele que se “contamina” com a nossa humanidade ferida e não tem medo de entrar em contacto com as nossas chagas.

“Mas padre, o que está a dizer? Que Deus contamina-se? Não o digo eu, mas S. Paulo: fez-se pecado. Ele que não é pecador, que não pode pecar, fez-se pecado. Veja como Deus se contaminou para se aproximar de nós, para ter compaixão e para fazer compreender a sua ternura. Proximidade, compaixão e ternura”

Costumes sociais, reputação e egoísmos levam-nos muitas vezes a disfarçar a nossa dor e impedir que nos envolvamos nos sofrimentos alheios.

Ao invés, Francisco convidou os fiéis a pedirem ao Senhor a graça de viver estas duas “transgressões” do Evangelho.

“Aquela do leproso, para que tenhamos a coragem de sair do nosso isolamento e, em vez de permanecermos ali com pena de nós mesmos ou chorando as nossas falências, ir até Jesus assim como somos. E depois a transgressão de Jesus: um amor que leva a ir além das convenções, que faz superar os preconceitos e o medo de nos envolvermos na vida do outro. Aprendemos a ser transgressores como estes dois: como o leproso e como Jesus." 

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VN

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