28 fevereiro 2022

O Papa: o diálogo inter-religioso é um caminho de fraternidade rumo à paz que Deus pede e abençoa

 
 O Papa Francisco durante o encontro com os representantes das Igrejas cristãs no Iraque 
 
Um ano após a sua histórica viagem apostólica ao Iraque, o Papa encontrou os representantes das Igrejas cristãs e incentivou-os a manterem viva a sua presença, exortando-os à unidade e ao diálogo com as outras religiões, que é um caminho cansativo, mas voltado para a paz.
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (28/02), no Vaticano, os representantes das Igrejas cristãs presentes no Iraque, por ocasião do primeiro aniversário de sua Viagem apostólica ao país.

"É com emoção e alegria que vos encontro aqui em Roma, representantes das diferentes Igrejas cristãs no Iraque, um ano após a visita, inesquecível para mim, ao vosso país", disse o Papa no seu discurso.

A seguir, Francisco disse aos representantes das Igrejas cristãs no Iraque que as suas terras "são terras de início: início das antigas civilizações do Médio Oriente, início da história da salvação, início da história da vocação de Abraão". "São também terras do início cristão: das primeiras missões, são terras de exilados", sublinhou ainda Francisco. "Mas muitos cristãos da sua região também foram obrigados ao exílio: as perseguições e guerras que se sucederam até aos dias de hoje obrigaram muitos deles a emigrar, levando para o Ocidente a luz do Oriente cristão. Que o sangue dos mártires do nosso tempo, pertencentes a diferentes tradições, mas unidos no mesmo sacrifício, seja uma semente de unidade entre os cristãos e um sinal de uma nova primavera da fé", frisou o Papa.

A propósito das relações fraternas entre as Igrejas, o Pontífice sublinhou os "muitos laços de colaboração no campo do cuidado pastoral, da formação e do serviço aos mais pobres". "Hoje existe uma comunhão arreigada entre os cristãos do país", sublinhou o Papa, incentivando-os "a prosseguir neste caminho, para que, através de iniciativas concretas, do diálogo constante e do amor fraterno, possam ser feitos progressos em direção à unidade plena. No meio de um povo que sofreu tanta divisão e discórdia, que os cristãos resplandeçam como um sinal profético de unidade na diversidade".

A seguir, Francisco disse "que não é possível imaginar o Iraque sem cristãos".

Esta convicção não se baseia apenas num fundamento religioso, mas em evidências sociais e culturais. O Iraque sem cristãos não seria mais o Iraque, porque os cristãos, junto com outros fiéis, contribuem fortemente para a identidade específica do país: um lugar onde a convivência, a tolerância e a aceitação recíproca floresceram desde os primeiros séculos; um lugar que tem a vocação de mostrar, no Médio Oriente e no mundo, a convivência pacífica das diferenças. Tudo deve ser tentado a fim de que os cristãos continuem a sentir que o Iraque é a sua casa, e que são cidadãos plenos, chamados a dar a sua contribuição à terra onde sempre viveram.

O Papa exortou os representantes das Igrejas cristãs presentes no Iraque a estarem próximos dos fiéis que lhes foram confiados, "testemunhando com o exemplo e com a conduta de vida evangélica a proximidade e a ternura de Jesus Bom Pastor". Os cristãos iraquianos, "que desde os tempos apostólicos vivem com outras religiões, têm outra vocação essencial: comprometer-se para que as religiões estejam ao serviço da fraternidade", disse Francisco, acrescentando:

Vocês sabem bem que o diálogo inter-religioso não é uma questão de pura cortesia. Não, vai além. Não é uma questão de negociação ou diplomacia. Não, vai além. É um caminho de fraternidade rumo à paz, um caminho muitas vezes cansativo, mas que, sobretudo nestes tempos, Deus pede e abençoa. É um percurso que precisa de paciência e compreensão. Mas faz-nos crescer como cristãos, porque exige abertura de coração e o compromisso de ser, concretamente, agentes de paz.

Segundo Francisco, "o diálogo é também o melhor antídoto contra o extremismo, que é um perigo para os adeptos de todas as religiões e uma séria ameaça à paz. No entanto, devemos trabalhar para erradicar as causas profundas do fundamentalismo, desses extremismos que se enraízam mais facilmente em contextos de pobreza material, cultural e educacional, e são alimentados por situações de injustiça e precariedade, como as deixadas pelas guerras. E quantas guerras, quantos conflitos, quantas interferências nocivas afetaram o seu país" que "precisa de um desenvolvimento autónomo e coeso, sem ser prejudicado por interesses externos, como infelizmente tem acontecido com demasiada frequência". O Iraque "tem a sua própria dignidade, a sua própria liberdade, e não pode ser reduzido a um campo de guerra", concluiu o Papa, exortando a não desanimar: "Enquanto muitos, em vários níveis, ameaçam a paz, não desviemos os nossos olhos de Jesus, Príncipe da Paz, e não nos cansemos de invocar o eu Espírito, artífice da unidade".

VN

Não abandonemos os ucranianos

 
Uma mulher que foge da invasão russa da Ucrânia com uma criança no campo de refugiados de Przemysl  
 
Após a invasão russa, muitos ucranianos sentiram-se abandonados. Mas além da guerra, a solidariedade com o povo ucraniano explodiu na Europa e em redor do mundo. O Papa promoveu um dia para estar perto do sofrimento dos ucranianos: "Deus está do lado dos construtores de paz, não com aqueles que usam a violência"
 

Sergio Centofanti

Muitos ucranianos sentiram-se abandonados nestes dias dramáticos. Eles não querem ouvir falar sobre o "preço do gás", porque sentem-se vendidos. Eles sabem que uma intervenção externa poderia desencadear um conflito muito maior, devastador para o mundo. O presidente da Belarus, Lukashenko disse que até mesmo as sanções poderiam levar Putin para a guerra nuclear. Um cenário no qual nem queremos pensar.

Mas diante do ataque russo e das terríveis ameaças, a solidariedade está a crescer. A invasão de um país livre uniu a Europa como nunca antes. A Europa, tão dividida em tantas questões, nunca esteve tão unida como está hoje: está ao lado do povo ucraniano. Os países vizinhos abriram as suas fronteiras para os refugiados: Polónia, Hungria, Roménia e Eslováquia, abriram os seus braços. Outros países estão prontos para hospedar os exilados. Manifestações e iniciativas de paz e solidariedade com a Ucrânia estão a ocorrer na Europa e noutros continentes.

As comunidades cristãs, paróquias, associações e Cáritas mobilizaram-se para enviar ajuda humanitária de todas as maneiras possíveis. O Presidente Zelenskyi disse que o povo ucraniano sente o apoio do Papa. No Angelus, (27/02) Francisco reiterou o apelo ao silêncio das armas, disse que "Deus está do lado dos construtores de paz, não com aqueles que usam a violência" e que "as pessoas comuns querem a paz". Há tanta solidariedade diante das imagens de crianças, mulheres e idosos, que estão a fugir a pé ou estão fechados em abrigos para rezar com rostos consternados ou estão ao lado dos mortos. Agora espera-se acordos entre as partes..

Há tanta proximidade com os ucranianos. Um povo que quer a paz e sofreu tanto. Nos anos 1930, Stalin fê-los passar fome porque resistiram às políticas soviéticas: vários milhões de ucranianos morreram de fome. É um extermínio pouco conhecido, o Holomodor, a aniquilação de um povo pela fome.

Muitos russos têm vergonha da invasão. A média pró-governamental chama-a de uma "operação militar" ou uma intervenção de "libertação" ou "desnazificação". Há muitos russos que acreditam nisto. Porém muitos outros estão a manifestar-se pela paz, contra o ataque. Houve muitas detenções. Apoiemos os russos que são pela paz. Apoiemos os soldados russos que não querem atirar a ucranianos, talvez com as mãos vazias na frente de um tanque. Ajudemos os russos que acreditam nesta guerra, a entender onde está o mal. Mas acima de tudo, não abandonemos os ucranianos.

VN

27 fevereiro 2022

Ucrânia: Jovens reúnem-se, em Vigília, para rezar pela paz

 

 

O Comité Organizador Diocesano de Lisboa da JMJ / Serviço da Juventude e a Pastoral Universitária estão a organizar uma Vigília de Oração pela Paz esta segunda-feira, 28 de fevereiro, às 21h30, na Igreja de São Domingos, na Baixa de Lisboa.
Esta iniciativa vai contar com a presença do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e estarão representados vários movimentos juvenis.
A organização convida à participação de todos. “Como nos diz o Papa Francisco: ‘Não deixemos de rezar, pelo contrário, supliquemos ainda mais intensamente a Deus’”, recordam os responsáveis.

 

A oração 🙏🏻 é uma realidade fundamental para que o nosso coração pulse com o coração de Deus e para que a #Paz se realize neste mundo, para o bem de todos e de cada um, sobretudo naqueles locais onde ela está em causa. 


Patriarcado de Lisboa

Francisco: calem-se as armas, quem faz a guerra esquece a humanidade

 
  Angelus - Praça São Pedro  (Vatican Media)  
 
Depois do Angelus, novo apelo do Papa pela Ucrânia: as pessoas simples desejam a paz mas pagam na própria pele pelas loucuras da guerra, corredores humanitários são necessários para aqueles que procuram refúgio. Recordando os conflitos na Síria, Etiópia e Iemen: "Deus está com os construtores de paz, não com aqueles que usam a violência".
 

Alessandro De Carolis – Vatican News

Uma voz contra o barulho dos mísseis, que o crepitar das armas não enfraquece. É uma voz sobre uma grande praça, mas acima de tudo sobre as consciências, a de Francisco. Não ouvida por aqueles que estão a derramar sangue e transformando um pedaço da Europa num campo de batalha, mas que não recua:

Nestes dias, ficamos abalados por algo trágico: a guerra. Muitas vezes rezamos para que este caminho não fosse percorrido. E não paramos de falar; pelo contrário, suplicamos a Deus com mais intensidade.

 

 Angelus Praça São Pedro 

 

A verdadeira vítima, o povo

A mensagem do Papa no pós-Angelus é um refrão que liga todos os últimos apelos. A guerra desencadeada pela Rússia na Ucrânia torna ainda mais urgente a convocação, na Quarta-feira de Cinzas, de um Dia de oração e jejum para que a paz possa retornar onde pessoas indefesas procuram refúgio ou morrem, onde "as mães estão em fuga com os seus filhos...". Rezaremos, é o convite de Francisco, "para sentir que somos todos irmãos e irmãs e para implorar a Deus o fim da guerra".

Quem faz a guerra esquece a humanidade. Não parte do povo, não olha para a vida concreta das pessoas, mas coloca diante de tudo interesses de parte e de poder. Baseia-se na lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus. E distancia-se das pessoas comuns, que deseja a paz; e que em cada conflito - pessoas comuns - são as verdadeiras vítimas, que pagam as loucuras da guerra com a própria pele.

 

 Angelus Praça São Pedro 

 

Pedaços de guerras que não devem ser esquecidos

Para os idosos, as crianças, as pessoas que procuram refúgio, "é urgente - insistiu Francisco - abrir corredores humanitários", eles são irmãos e irmãs "que devem ser acolhidos". E mais uma vez a voz se move sobre o mundo das guerras "em pedaços".

Com o coração dilacerado pelo que está a acorrer na Ucrânia - e não esqueçamos as guerras noutras partes do mundo, como no Iêmen, na Síria, na Etiópia... -, repito: calem-se as armas! Deus está com os construtores de paz, não com aqueles que usam a violência.

"Porque aqueles que amam a paz", concluiu o Papa, citando a Constituição italiana, "repudiam a guerra como instrumento de ofensa à liberdade de outros povos e como meio de resolver disputas". As bandeiras de muitos ucranianos na Praça de S. Pedro balançaram em sinal de agradecimento ao Papa. E Francisco saudou-os no seu idioma: Хвала Ісусу Христу, "Louvado seja Jesus Cristo".

VN

O Papa: as palavras têm um peso, as calúnias mais afiadas que uma faca

 
  Papa Angelus  (Vatican Media)  
  
No Angelus, Francisco convida-nos a ter cuidado com as palavras que usamos e que podem "alimentar preconceitos, levantar barreiras" e poluir o mundo. Pede às pessoas que reflitam sobre o seu olhar: "Nós olhamos para as nossas misérias. Encontramos sempre razões para culpar os outros e justificarmo-nos.
 

Silvonei José – Vatican News

"Falamos com mansidão ou poluímos o mundo espalhando venenos: criticando, lamentando-nos, alimentando a agressão generalizada"?

Num momento de crise e tensão, de medo e desequilíbrios internacionais, Francisco exorta à paz que, disse no Angelus, é construída a partir da linguagem. Detendo-se sobre o Evangelho de Lucas, no qual "Jesus convida-nos a refletir sobre o nosso olhar e o nosso falar", o Papa na sua catequese adverte sobre as consequências de um uso impróprio e superficial de uma linguagem que pode ferir como uma arma. 

Com a língua também podemos alimentar preconceitos, levantar barreiras, atacar e até destruir os nossos irmãos: os mexericos amachucam e as calúnias podem ser mais afiadas do que uma faca!

Raiva e agressão no mundo digital

Um risco que está a aumentar especialmente hoje em dia no mundo digital: demasiadas palavras, disse o Papa, que "correm velozes" e "transmitem raiva e agressão, alimentam notícias falsas e aproveitam -se dos medos coletivos para propagar ideias distorcidas". O Pontífice citou Dag Hammarskjöld, o diplomata sueco que foi secretário geral da ONU de 1953 a 1961 e ganhador do Prémio Nobel da Paz, que disse: "Abusar das palavras equivale a desprezar o ser humano".

 

 Praça de S. Pedro - Angelus 
 

Cuidado com o uso superficial das palavras

É verdade, assim como é verdade que "como alguém fala, pode-se dizer o que tem no coração".

As palavras que usamos dizem quem somos. Às vezes, porém, prestamos pouca atenção às nossas palavras e as usamos superficialmente. Mas as palavras têm peso: elas permitem-nos expressar pensamentos e sentimentos, dar voz aos medos que temos e aos projetos que queremos fazer, de abençoar a Deus e aos outros.

Vamos interrogar-nos: que tipo de palavras usamos, disse o Papa aos fiéis: "Palavras que expressam atenção, respeito, compreensão, proximidade, compaixão, ou palavras que visam principalmente fazer-nos parecer bem diante dos outros"?

O cisco e a trave

Da mesma forma, devemos também refletir sobre o nosso "olhar". Isto é, se estivermos concentrados em "olhar o cisco no olho de nosso irmão sem perceber a trave em nosso próprio olho". Significa "estar muito atento aos defeitos dos outros, mesmo aqueles pequenos como um cisco, negligenciando serenamente os nossos, dando-lhes pouco peso".

Encontramos sempre razões para culpar os outros e justificarmo-nos. E tantas vezes reclamamos de coisas que estão erradas na sociedade, na Igreja, no mundo, sem primeiro questionarmo-nos e sem nos comprometermos a mudar, antes de tudo, nós mesmos.

"Toda a mudança fecunda, positiva, deve começar por nós mesmos, caso contrário, não haverá mudança", disse o Papa.

Reconhecer as próprias misérias

Fazendo assim, enfatizou o Papa, "o nosso olhar é cego". E se somos cegos "não podemos pretender ser guias e mestres para os outros: um cego, de facto, não pode guiar outro cego". A primeira coisa é, portanto, "olhar para dentro de nós mesmos para reconhecer as nossas misérias", porque "se não conseguirmos ver os nossos próprios defeitos, estaremos sempre inclinados a ampliar os defeitos dos outros". Se, por outro lado, reconhecemos os nossos erros e as nossas misérias, a porta da misericórdia abre-se para nós".

Ver o bem nos outros, não o mal

Trata-se, em síntese de olhar para os outros como o Senhor nos olha, "que não vê antes de tudo o mal, mas o bem".

É assim que Deus olha para nós: Ele não vê em nós erros irredimíveis, mas filhos que cometem erros. Muda-se a ótica. Ele não se concentra nos erros, mas nos filhos que cometem erros... Deus distingue sempre a pessoa, dos seus erros. Ele acredita sempre na pessoa e está sempre pronto para perdoar os erros. E nós sabemos que Deus perdoa sempre.

Todos nós somos chamados a fazer o mesmo: "Não procurar nos outros o mal, mas o bem".

 

VN

26 fevereiro 2022

Ucrânia, o núncio em Kiev: é difícil conseguir ajuda, nós confiamos em Deus

 
  Ucrânia. Imagem sacra, símbolo de esperança na guerra  (ANSA) 
 
O arcebispo Visvaldas Kulbokas está na nunciatura da capital ucraniana, onde compartilha o destino dos milhões de civis que procuram abrigo, da batalha que se desencadeou na cidade: "como será que as pessoas vão fazer em poucos dias com os doentes e com o alimento, como vão reagir as crianças que sofreram esta violência? Como cristão, tento ajudar a todos a acreditar na fraternidade e no respeito dos outros".
 

Alessandro De Carolis – Vatican News

Um prédio atingido por um míssil russo, uma ambulância parada entre veículos blindados. Rodovias por onde passam os tanques e disparam uns contra os outros. A loucura de Kiev, onde há quatro dias o trânsito era irrefreável e as pessoas jantavam em restaurantes, está toda nas imagens desoladas que chegam, às centenas, da frente de guerra aberta pela Rússia na Ucrânia e simboliza o cenário terrível que uma nação inteira vem vivenciando desde quinta-feira. Na tensão dos combates, os civis procuram escapar, descendo para as fundações da cidade ou a pé em direção às fronteiras, puxando uma mala como turistas de um feriado absurdo.

Testemunha direta do que está a ocorrer em Kiev é o núncio apostólico, arcebispo Visvaldas Kulbokas, cujo destino, e o dos seus colaboradores, não é diferente daquele vivido por milhões dos seus concidadãos. O prelado contou à média do Vaticano o que ele viu.

Excelência, estamos a testemunhar com grande preocupação e dor o que está a ocorrer na Ucrânia. O senhor está em Kiev, que se tornou o cenário da luta: o que nos pode dizer sobre a situação atual?

Esta é minha principal preocupação: a cidade de Kiev, onde estou e de onde estou a falar, é uma grande cidade, com pouco menos de três milhões de pessoas, e agora, nestes dias, está completamente paralisada pela ação de guerra. Além dos mísseis que passam e das pessoas que se escondem o melhor que podem nos porões e estações de metro, a pergunta que me vem à cabeça é: o que os doentes estão a fazer? Os doentes de qualquer tipo de doença, porque é difícil moverem-se, é difícil locomoverem-se, encontrar cuidados... Como estão a viver?

As notícias que chegam do país retratam a imagem de uma cidade fantasma, onde além dos cuidados com a saúde, agora é difícil conseguir água e comida...

Sim, sabendo que dias difíceis estavam a aproximar-se, todos tentaram armanezar um pouco de comida, mas isso vai durar alguns dias e assim surge a pergunta: o que acontecerá se esta situação continuar por vários dias? O que restará para comer? Porque agora não há como abastecer, e é arriscado ficar nos apartamentos, nos quartos, é difícil ficar nas áreas comuns... Até nós, na nunciatura, tentamos ficar nos andares inferiores onde há menos risco de sermos atingidos. E assim é ainda mais difícil ir lá fora e encontrar algumas lojas abertas, mas não me parece que estejam abertas ou que sejam capazes de se abastecer, porque até mesmo as estradas estão bloqueadas... O que vai acontecer em poucos dias, é uma pergunta muito grande.

Vemos fotos e vídeos de pessoas que se refugiaram em porões, em túneis do metro, especialmente muitas mulheres e crianças, que certamente não entendem o que de repente desestabilizou as suas vidas...

Esta é outra grande questão. Como nós, os adultos..., que preparação damos às crianças? Porque talvez um adulto passe pelo sofrimento, mas uma criança... Já conheci pessoas em Itália e noutros países europeus que cresceram durante a Segunda Guerra Mundial: quanto sofrimento ainda passam hoje... Estava esta manhã a pensar nas crianças de Kiev: quando crescerem, que tipo de atitude terão em relação aos outros, tendo vivido os primeiros dias, os primeiros meses, os primeiros anos de suas vidas sob tiros, sob mísseis? Esta é outra questão muito importante...

Como estão todos na nunciatura?

Na nunciatura, sabemos que estamos numa área residencial e, portanto, não estamos imediatamente expostos nas principais artérias da cidade. Entretanto, pode-se ouvir os mísseis a passar, pode-se ouvir as explosões - mesmo ontem à noite - as batalhas nas proximidades... Nós também, os funcionários da nunciatura, estamos nos andares inferiores prontos para nos refugiarmos no porão, caso vejamos ser necessidade imediata. Mas rezamos: rezamos por nós mesmos, pelos outros, rezamos pela paz, rezamos pela conversão de todos.

Que apelo o senhor sente necessidade de fazer?

Mais do que um apelo, eu coloco a questão diante de Deus: o que o eterno Deus me diz nesta situação? O que devo fazer comigo mesmo? E como cristão, entendo que nada acontece que esteja escondido do Senhor Jesus e que mesmo numa situação tão pesada a minha vocação é procurar minha própria conversão, mas também tentar ajudar os outros. "Outros" significa "todos": converterem-se e garantir que não apenas a paz seja encontrada, mas a fraternidade, o respeito uns pelos outros.

A Igreja reza pela paz na Ucrânia e o fará de maneira especial no dia 2 de março, como solicitado pelo Papa Francisco. Um momento ao qual imaginamos que os senhores estarão fortemente unidos...

Para nós, 2 de março ainda é muito distante, temos que chegar lá. Rezamos sempre pela paz, porque é também um momento que nos inspira, porque provoca esta oração intensa, de entrega ao Senhor, de entrega à Virgem Maria, a Mãe de todos: a Mãe de todos, não apenas da Igreja dos Cristãos. Como cristãos, sabemos que os muçulmanos têm um grande respeito pela Virgem Maria, portanto, unamos as nossas orações também às deles, para que a Virgem Maria possa interceder por todos nós.

VN

"Nunca mais!", os apelos dos Papas contra a guerra

 
 

"Nunca mais a guerra! A paz deve guiar o destino dos povos e de toda a humanidade". Desde o grito de Paulo VI na ONU, em 4 de outubro de 1965, à advertência de João Paulo II aos jovens no Angelus de 16 de março de 2003, "Nunca mais a guerra", até as palavras de Francisco, na audiência de 23 de março de 2022: "Jesus nos ensinou que à diabólica insensatez da violência se responde com as armas de Deus, a oração e o jejum". Um vídeo com os apelos dos Pontífices contra a guerra.

VN 

25 fevereiro 2022

Guerra na Ucrânia, o Papa na Embaixada da Rússia para expressar preocupação

 

  Papa Francisco  

 
Francisco, nesta manhã, na sede em Via della Conciliazione, por mais de meia hora. O Pontífice está a acompanhar de perto a evolução da situação no país do Leste Europeu, sob ataque desde 24 de fevereiro, onde se contam inúmeros mortos e feridos. Nesta quinta-feira o apelo do cardeal Parolin a dar mais espaço à negociação.
 

Salvatore Cernuzio, Silvonei José – Vatican News

O Papa quis manifestar a sua preocupação com a guerra na Ucrânia dirigindo-se por volta do meio-dia desta sexta-feira, à sede da Embaixada da Federação Russa junto à Santa Sé, chefiada pelo embaixador Alexander Avdeev. O Papa chegou em um veículo utilitário branco e permaneceu no prédio na Via della Conciliazione por mais de meia hora, como confirmou o diretor da Sala de Imprensa vaticana, Matteo Bruni.

O apelo na audiência geral

Francisco acompanha de perto a evolução da situação no país do Leste Europeu, sob ataque desde a noite de 24 de fevereiro, onde se contam inúmeros mortos e feridos. O próprio Pontífice já tinha expressado "grande pesar no meu coração" pelo agravamento da situação no país na última quarta-feira, 23 de fevereiro, no final da Audiência geral, quando a violência ainda não tinha eclodido. O Papa apelou "aos que têm responsabilidades políticas para fazer um sério exame de consciência diante de Deus, que é o Deus da paz e não da guerra". E ele chamou tanto os crentes como os não crentes a unirem-se numa súplica coral pela paz no dia 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, rezando e jejuando: "Jesus ensinou que à diabólica insensatez da violência responde-se com as armas de Deus, com oração e jejum pela paz", disse o Pontífice. "Convido todos a fazerem no próximo 2 de março, Quarta-feira de cinzas, um dia de jejum pela paz. Encorajo os crentes de uma maneira especial a dedicarem-se intensamente à oração e ao jejum naquele dia. Que a Rainha da Paz preserve o mundo da loucura da guerra”.

Declaração do cardeal Parolin

Ontem, porém, "na hora mais escura" para a Ucrânia, a declaração do cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin. Recordando o apelo dramaticamente urgente do Papa após o início das operações militares russas em território ucraniano, o cardeal observou que "os trágicos cenários que todos temiam estão infelizmente a tornarem-se realidade", mas que "ainda há tempo para a boa vontade, ainda há espaço para a negociação, ainda há espaço para o exercício de uma sabedoria que impeça o prevalecer dos interesses de parte, tutele as legítimas aspirações de cada um e poupe o mundo da loucura e dos horrores da guerra". "Nós fiéis", disse Parolin, "não perdemos a esperança num vislumbre de consciência daqueles que têm o destino do mundo em suas mãos".

VN

Querem o fim do mundo? Senhor, livrai-nos do mal

 Fieis em oração na Catedral católica ucraniana da santa família ucraniana em Inglaterra (24.fevereiro.22) 
 
Diante da violência avassaladora da guerra, às populações atônitas do mundo inteiro não resta que rezar e ajudar aqueles que sofrem. Há medo e perplexidade diante da loucura de um conflito que pode se tornar muito maior. Não podemos ficar indiferentes

Sergio Centofanti – Vatican News

Não nos resta que rezar. Diante da violência inaudita e avassaladora da guerra, diante dos pesadelos de um conflito maior e devastador, diante da loucura e da irracionalidade que fazem o mundo tremer, nada mais resta senão invocar a Deus. Toda a humanidade está angustiada com as notícias que chegam da Ucrânia. Há incredulidade, medo, perplexidade. Há quem fala de sinais apocalípticos: a pandemia, as alterações climáticas, a guerra. Há quem recorde como começou a II Guerra Mundial: o Anschluss, a Sudetenland, a Polônia. O que podemos fazer diante do grande mistério da iniquidade? Somente elevar os olhos para o céu e rezar.

Podemos ajudar aqueles que sofrem. A Caritas está na linha de frente. Podemos pensar nas crianças, nas mães, nos pais, nos avós, nos homens e mulheres da terra ucraniana, que agora está tão próxima de nós. Eles pedem ajuda, solidariedade. Juntamente com eles estamos chocados, aterrorizados. Hoje sofrem eles, amanhã quem sabe. Não podemos ficar indiferentes. Eles são nossos irmãos e irmãs.

O que se quer ocupar? O que se quer destruir? Que armas serão usadas? Outros países serão atacados? Com que justificativas estúpidas e falsas? Não queremos acreditar que haja alguém tão louco a ponto de arriscar devastar o mundo para acrescentar um pouco de poder ao seu poder. O poder deste mundo passa rapidamente. E depois virá o juízo de Deus. Mas a história nos ensina que, nestes casos, muitas vezes, o julgamento humano vem por primeiro.

Soldados vão para a guerra. Obedecem. Eles matam e são mortos. Por um pedaço de terra que algum poderoso ambiciona. Alguém vai recusar a ordem de matar inocentes? Alguém se rebelará contra o comando para realizar um bombardeio indiscriminado e atroz? Ou todos terão orgulho em esmagar os mais fracos? Gigantes orgulhosos em espezinhar os menores.

Diante desses eventos, sentimo-nos inermes, sem palavras. Não nos resta que rezar. E ajudar, cada um como pode. Todos nós devemos rezar. Elevando nossa voz fraca para Deus. Mesmo aqueles que pensam que são ateus podem rezar. Basta um pensamento. O Criador ouve o grito de todas as suas criaturas. Devemos estar todos unidos agora, esquecendo toda divisão, todo contraste, todo rancor, para poder dizer juntos: Senhor, livrai-nos do mal.

VN

24 fevereiro 2022

Ucrânia: “Que pare a guerra!”, apela o Cardeal-Patriarca de Lisboa

 

 

“Que pare a guerra para que as pessoas se entendam e se salvaguarde a vida de cada um”, apelou hoje D. Manuel Clemente, em declarações à Agência Ecclesia. O Cardeal-Patriarca pediu também a proteção das populações na Ucrânia, falando num “primeiríssimo valor que não pode estar em causa” no atual cenário de guerra. “As pessoas têm de ser defendidas, na sua dignidade, na sua vida e convivência, populações civis, também os militares”, prosseguiu.
Na intervenção, D. Manuel Clemente manifestou “solidariedade total” ao povo ucraniano, em termos espirituais e de oração, “com atenção a tudo o que puder servir para repor a paz”. “Desejo que a paz se reponha o mais rapidamente possível, que a guerra termine, que haja lugar para o que se tiver de conversar, mas com um entendimento onde toda a gente possa viver e sobreviver”, acrescentou, desejando que as partes em conflito “parem as armas e comecem a conversa que ainda não foi devidamente travada, com espírito aberto, para resolver os problemas”.
Dirigindo-se à comunidade ucraniana, em Portugal, o Cardeal-Patriarca manifestou proximidade. “Queremos estar com eles”, concluiu, sublinhando a abertura do país para receber eventuais refugiados deste conflito.


com Ecclesia

 

Pela paz na Ucrânia

 

 

Comunicado da Conferência Episcopal Portuguesa

 

1. Na audiência geral de ontem e face à iminência da guerra na Ucrânia, o Papa Francisco apelava a que se fizessem todos os esforços para que se encontrem caminhos de paz. Convidava-nos também à oração pela paz, propondo que o dia 2 de março fosse assumido por todos como um Dia de Jejum pela Paz e, para os crentes, um dia de jejum e oração:

«Tenho uma grande dor no coração pelo agravamento da situação na Ucrânia. Apesar dos esforços diplomáticos das últimas semanas, estão a abrir-se cenários cada vez mais alarmantes. Como eu, muitas pessoas em todo o mundo estão a sentir angústia e preocupação. Uma vez mais a paz de todos é ameaçada por interesses de alguns. Gostaria de apelar aos responsáveis políticos para que examinem seriamente as suas consciências perante Deus, que é Deus da paz e não da guerra; que é Pai de todos e não apenas de alguns, que quer que sejamos irmãos e não inimigos. Peço a todas as partes envolvidas para que se abstenham de qualquer ação que possa causar ainda mais sofrimento às populações, desestabilizando a convivência entre as nações e desacreditando o direito internacional.

E agora gostaria de apelar a todos, crentes e não-crentes. Jesus ensinou-nos que à diabólica insensatez da violência se responde com as armas de Deus, com a oração e o jejum. Convido todos a fazer no próximo dia 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, um Dia de Jejum pela Paz. Encorajo de modo especial os crentes a dedicarem-se intensamente nesse dia à oração e ao jejum. Que a Rainha da Paz preserve o mundo da loucura da guerra».

2. Infelizmente, a guerra teve início esta madrugada, com a invasão da Ucrânia pela Rússia. A Conferência Episcopal Portuguesa, em sintonia com o Santo Padre e com o apelo pela Paz das Conferências Episcopais da Europa, condena veementemente a guerra na Ucrânia e propõe que todas as pessoas, comunidades e instituições da Igreja rezem pela paz na região, assumindo o dia 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, como um Dia de Jejum e Oração pela Paz na Ucrânia.

3. A Conferência Episcopal manifesta a sua solidariedade para com a população da Ucrânia e, em particular, para com a numerosa Comunidade Ucraniana em Portugal, desejando que este tempo de angústia, sofrimento e guerra seja rapidamente ultrapassado e se restabeleça a paz e a prática do bem para todos, como nos pede o Santo Padre na mensagem da Quaresma hoje divulgada. Apela ainda a que haja uma partilha efetiva para com a Igreja na Ucrânia, nomeadamente através das Cáritas e de outras instituições.

Lisboa, 24 de fevereiro de 2022

Secretariado Geral da CEP

 

Parolin: quem tem nas mãos o destino do mundo poupe-nos dos horrores da guerra

 
 

O cardeal secretário de Estado após o ataque russo à Ucrânia: "Ainda há tempo para a boa vontade, ainda há tempo para a negociação"

Vatican News

Diante dos desdobramentos hodiernos da crise na Ucrânia, tornam-se ainda mais nítidas e mais prementes as palavras que o Santo Padre Francisco pronunciou ontem ao terminar a Audiência Geral: é o que afirma o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, numa declaração divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé , nesta quinta-feira, 24 de fevereiro, dia em que a crise na Ucrânia se transformou num conflito.

"O Papa evocou grande dor ‘grande dor’, ‘angústia e preocupação’. E convidou todas as partes envolvidas a ‘absterem-se de qualquer ação que provoque ainda mais sofrimento às populações’, ‘desestabilize a convivência pacífica’ e desacredite o direito internacional’."

"Este apelo – prossegue o cardeal Parolin – adquire uma dramática urgência após o início das operações militares russas no território ucraniano. Os trágicos cenários que todos temiam, infelizmente, estão a tornarem-se realidade."

O cardeal secretário de Estado ressalta que "ainda há tempo para a boa vontade, ainda há tempo para a negociação, ainda há tempo para o exercício de uma sabedoria que impeça o prevalecer dos interesses de parte, tutele as legítimas aspirações de cada um e poupe o mundo da loucura e dos horrores da guerra".

"Nós fiéis - conclui o cardeal Parolin - não perdemos a esperança num vislumbre de consciência daqueles que têm o destino do mundo nas suas mãos. E continuamos rezando e jejuando – o faremos na próxima Quarta-feira de Cinzas – pela paz na Ucrânia e no mundo inteiro."

VN

Ataque contra Kiev (ANSA)

 
  Ataque contra Kiev  (ANSA)  
 
O anúncio por parte de Moscovo de uma operação para proteger o Donbass desencadeia imediatamente uma série de condenações e reações internacionais. O presidente ucraniano fala à nação de ataques com mísseis enquanto as primeiras explosões são ouvidas no país. Biden: A Rússia é responsável pela destruição que este ataque trará. Reunião do Conselho de Segurança da ONU em andamento, Comité Cobra programado para Londres e reunião da UE no dia de hoje.
 

Silvonei José - Vatican News

O que se temia há dias verificou-se e o mundo está a testemunhar uma nova guerra. Durante a noite, a Rússia lançou operações militares em território ucraniano para proteger o Donbass. Foi o próprio presidente Putin quem anunciou a invasão: explosões e sirenes de alarme começaram a ser ouvidas ao amanhecer, também na capital, Kiev, onde se registaram colunas de carros civis em fuga, especialmente de áreas periféricas. O caos está por todo o país, não apenas no sul e sudeste, mas também nas fronteiras com Belarus e Polónia: em Odessa, Kharvik, Mariupol e Lviv. O ataque anunciado por Putin parece, portanto, ser poderoso e em grande escala. No seu anúncio, o presidente russo, por outro lado, usou termos precisos como "desnazificar" e "desmilitarizar" a Ucrânia, ou seja, torná-la inofensiva: "a expansão da OTAN e o seu uso do território ucraniano são inaceitáveis", disse. Qualquer um que tente criar obstáculos e interferir connsco", afirmou, "sabe que a Rússia responderá com consequências sem precedentes". Estamos preparados para tudo. E na ONU, Moscovo deixou claro que o alvo do ataque é "a junta no poder em Kiev". Pouco antes, ele tinha afirmado que estava a responder a um pedido de ajuda de líderes separatistas que, nas últimas horas, afirmaram ter conquistado dois locais no Donbass. A notícia dever ser ainda verificada, assim como a das primeiras mortes.

A resposta da Ucrânia

A presidência ucraniana fala de uma "guerra de agressão", e está a pedir ajuda ao mundo, em termos de sanções e isolamento da Rússia, assistência financeira, militar e humanitária. Enquanto isto, o governo está a tentar proteger a população através da imposição da lei marcial. "Detenham a guerra e Putin", escreveu o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no seu Twitter. Temos notícias, também da destruição da defesa antiaérea de Kiev. E da própria presidência a difusão das primeiras imagens da guerra, uma explosão na capital com uma densa nuvem de fumo, perto de um parque. A operação russa", adverte Zelensky, "visa destruir o estado ucraniano, tomar o u território pela força e estabelecer uma ocupação".

Reações do mundo: EUA, ONU e UE

Reações de condenação e planeamento de uma resposta unida por parte do mundo ocidental são registadas nas primeiras horas após a ação militar russa. Os Estados Unidos e o presidente Biden falam de uma guerra premeditada e injustificada que trará "perdas catastróficas de vidas e sofrimento". O líder norte-americano chamou o presidente Zelensky e anunciou novas e duras sanções contra Moscovo junto com os aliados. A OTAN, que convocou embaixadores com o Secretário-Geral Stoltenberg, disse que faria "o que fosse preciso para proteger os seus aliados". Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, o Secretário Geral Guterres manifestou-se: "este é o momento mais triste do meu mandato", disse ele, "o presidente Putin, em nome da humanidade, retire as tropas russas. Este conflito deve parar agora, esta guerra não faz sentido e viola os princípios da Carta da ONU".

A Europa está ao lado de Kiev: os representantes permanentes dos Estados membros reunir-se-ão nesta manhã em Bruxelas para discutir a situação da segurança. "Nestas horas escuras, os nossos pensamentos estão com a Ucrânia e as mulheres, homens e crianças inocentes que enfrentam este ataque não provocado e temem pelas suas vidas. Responsabilizaremos o Kremlin", disse a presidente da Comissão da UE, Von der Leyen. Putin escolheu o caminho do banho de sangue e da destruição', atacou o primeiro-ministro britânico Johnson, que disse estar horrorizado com os acontecimentos, 'a Rússia escolheu o banho de sangue para um ataque não provocado'. O Comité de Emergência Cobra foi convocado de emergência em Londres nesta manhã.

"Precisamos de orações"

Enquanto isto, a população espera e tenta proteger-se da melhor maneira possível. Ao microfone de Jean Charles Poutzulu Padre Radko Vaolodymyr de Lviv:

É a guerra, ouvimos notícias de bombardeios de numerosas aldeias e até de grandes cidades. O nosso Patriarca chamou-nos a todos nesta manhã para convidar-nos para a oração. Ainda estou na cidade de Lviv, a cerca de 60 quilómetros da fronteira com a Polôóia. Posso testemunhar que durante alguns minutos as sirenes foram ouvidas. Não vamos ceder ao pânico. A ativação das sirenes significa, termos que ser cautelosos e esconder-mo-nos. À meia-noite, hora ucraniana, começou o estado de emergência, e esta manhã o presidente declarou o estado militar, portanto, a guerra aberta começou. Precisamos da oração para nos ajudar a não ceder ao pânico e manter a calma, na esperança de que possamos vencer este mal.

Outras reações à operação militar russa na Ucrânia

- França -

"A Rússia fez a escolha da guerra. A França condena nos termos mais fortes o lançamento dessas operações", disse o embaixador francês na ONU, Nicolas de Rivière.

Esta decisão, "no preciso momento em que este Conselho está reunido, ilustra o desprezo que a Rússia tem pelo direito internacional e pelas Nações Unidas", acrescentou ele.

"Exortamos a Rússia a respeitar o direito humanitário internacional em todas as circunstâncias, pedimos a proteção e o respeito de todos os civis, incluindo pessoas vulneráveis, mulheres e crianças, e pessoal humanitário", afirmou ainda.

- Alemanha -

A operação militar russa é "uma violação flagrante" do direito internacional, disse o chanceler alemão Olaf Scholz.

- Reino Unido -

O primeiro ministro britânico Boris Johnson condenou  os "horríveis acontecimentos na Ucrânia", dizendo que o presidente russo Vladimir Putin "escolheu o caminho do derramamento de sangue e da destruição ao lançar este ataque não provocado".

- OTAN -

O Secretário Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, condenou o "ataque imprudente e não provocado" da Rússia à Ucrânia, advertindo que isso coloca "inúmeras" vidas em risco.

"Condeno veementemente o ataque imprudente e sem provocação da Rússia à Ucrânia, que coloca em risco inúmeras vidas civis. Mais uma vez, apesar de nossas repetidas advertências e os esforços incansáveis da diplomacia, a Rússia escolheu o caminho da agressão contra um país soberano e independente", disse o Sr. Stoltenberg numa declaração.

"Os Aliados da OTAN reuniram,-se para enfrentar as consequências das ações agressivas da Rússia. Estamos com o povo ucraniano neste momento terrível. A OTAN fará o que for preciso para proteger e defender os aliados", acrescentou ele.

- Itália -

O primeiro-ministro italiano Mario Draghi chamou o ataque da Rússia à Ucrânia de "injustificado e injustificável" e disse que a UE e a OTAN estavam a trabalhar uma resposta imediata.

- Japão -

O ataque russo à Ucrânia "abala as bases da ordem internacional", disse o primeiro-ministro japonês Fumion Kishida.

VN

Guerra após a pandemia: ameaça à humanidade

 
 Conflito na Ucrânia - Rússia (ANSA) 
 
O ataque à Ucrânia já começou. Uma guerra na Europa no século XXI parecia impossível. Os riscos de degeneração são inimagináveis. O Papa pede-nos para contrastar o poder das armas com a fraqueza da oração
 

Sergio Centofanti - Vatican News

Alguns não acreditavam. Uma guerra na Europa no terceiro milénio: improvável, quase impossível. Agora já há muitos mortos. Teme-se um banho de sangue. As habituais vítimas inocentes e indefesas, que gostariam de viver em paz com os outros, com todos, mesmo que tivessem uma bandeira diferente. Os poderosos não se importam com os fracos que sucumbem. Há muitos Herodes cínicos em circulação. O massacre dos inocentes não cessa. Depois dos sofrimentos causados pela pandemia, vem o luto de um conflito que não sabemos como poderá degenerar.

Alguns têm evocado o risco de uma terceira guerra mundial. Continuamos a acreditar que isto é impossível. Continuamos a pensar que a humanidade não será suficientemente louca para cair novamente numa guerra. Porque a guerra é uma loucura, é insensata. É demoníaca. E o diabo quer destruir a vida, quer destruir o mundo. Hoje há armas letais suficientes para atingir o seu objetivo. Não tomemos a paz no mundo como algo dado por certo.

O Papa Francisco, repleto de angústia e preocupação, pede Oração e jejum pela paz. A fraqueza da oração contra o poder das armas. Quem vai querer acreditar nisto? Quem oporá a ascese mansa do jejum contra a força dos canhões? A oração nune-nos ao Pai e faz-nos irmãos, o jejum tira-nos algo para compartilhar com os outros: mesmo que o outro seja um inimigo.

A oração é a verdadeira revolução que muda o mundo porque muda os corações. Temos poucos recursos contra as guerras porque, sem eximir-nos de qualquer responsabilidade, o diabo fomenta-as, com ódio, astúcia, maldade. Jesus diz: "Este tipo de demónios não pode ser expulso de nenhuma maneira, a não ser através da oração".

VN