28 fevereiro 2022

O Papa: o diálogo inter-religioso é um caminho de fraternidade rumo à paz que Deus pede e abençoa

 
 O Papa Francisco durante o encontro com os representantes das Igrejas cristãs no Iraque 
 
Um ano após a sua histórica viagem apostólica ao Iraque, o Papa encontrou os representantes das Igrejas cristãs e incentivou-os a manterem viva a sua presença, exortando-os à unidade e ao diálogo com as outras religiões, que é um caminho cansativo, mas voltado para a paz.
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (28/02), no Vaticano, os representantes das Igrejas cristãs presentes no Iraque, por ocasião do primeiro aniversário de sua Viagem apostólica ao país.

"É com emoção e alegria que vos encontro aqui em Roma, representantes das diferentes Igrejas cristãs no Iraque, um ano após a visita, inesquecível para mim, ao vosso país", disse o Papa no seu discurso.

A seguir, Francisco disse aos representantes das Igrejas cristãs no Iraque que as suas terras "são terras de início: início das antigas civilizações do Médio Oriente, início da história da salvação, início da história da vocação de Abraão". "São também terras do início cristão: das primeiras missões, são terras de exilados", sublinhou ainda Francisco. "Mas muitos cristãos da sua região também foram obrigados ao exílio: as perseguições e guerras que se sucederam até aos dias de hoje obrigaram muitos deles a emigrar, levando para o Ocidente a luz do Oriente cristão. Que o sangue dos mártires do nosso tempo, pertencentes a diferentes tradições, mas unidos no mesmo sacrifício, seja uma semente de unidade entre os cristãos e um sinal de uma nova primavera da fé", frisou o Papa.

A propósito das relações fraternas entre as Igrejas, o Pontífice sublinhou os "muitos laços de colaboração no campo do cuidado pastoral, da formação e do serviço aos mais pobres". "Hoje existe uma comunhão arreigada entre os cristãos do país", sublinhou o Papa, incentivando-os "a prosseguir neste caminho, para que, através de iniciativas concretas, do diálogo constante e do amor fraterno, possam ser feitos progressos em direção à unidade plena. No meio de um povo que sofreu tanta divisão e discórdia, que os cristãos resplandeçam como um sinal profético de unidade na diversidade".

A seguir, Francisco disse "que não é possível imaginar o Iraque sem cristãos".

Esta convicção não se baseia apenas num fundamento religioso, mas em evidências sociais e culturais. O Iraque sem cristãos não seria mais o Iraque, porque os cristãos, junto com outros fiéis, contribuem fortemente para a identidade específica do país: um lugar onde a convivência, a tolerância e a aceitação recíproca floresceram desde os primeiros séculos; um lugar que tem a vocação de mostrar, no Médio Oriente e no mundo, a convivência pacífica das diferenças. Tudo deve ser tentado a fim de que os cristãos continuem a sentir que o Iraque é a sua casa, e que são cidadãos plenos, chamados a dar a sua contribuição à terra onde sempre viveram.

O Papa exortou os representantes das Igrejas cristãs presentes no Iraque a estarem próximos dos fiéis que lhes foram confiados, "testemunhando com o exemplo e com a conduta de vida evangélica a proximidade e a ternura de Jesus Bom Pastor". Os cristãos iraquianos, "que desde os tempos apostólicos vivem com outras religiões, têm outra vocação essencial: comprometer-se para que as religiões estejam ao serviço da fraternidade", disse Francisco, acrescentando:

Vocês sabem bem que o diálogo inter-religioso não é uma questão de pura cortesia. Não, vai além. Não é uma questão de negociação ou diplomacia. Não, vai além. É um caminho de fraternidade rumo à paz, um caminho muitas vezes cansativo, mas que, sobretudo nestes tempos, Deus pede e abençoa. É um percurso que precisa de paciência e compreensão. Mas faz-nos crescer como cristãos, porque exige abertura de coração e o compromisso de ser, concretamente, agentes de paz.

Segundo Francisco, "o diálogo é também o melhor antídoto contra o extremismo, que é um perigo para os adeptos de todas as religiões e uma séria ameaça à paz. No entanto, devemos trabalhar para erradicar as causas profundas do fundamentalismo, desses extremismos que se enraízam mais facilmente em contextos de pobreza material, cultural e educacional, e são alimentados por situações de injustiça e precariedade, como as deixadas pelas guerras. E quantas guerras, quantos conflitos, quantas interferências nocivas afetaram o seu país" que "precisa de um desenvolvimento autónomo e coeso, sem ser prejudicado por interesses externos, como infelizmente tem acontecido com demasiada frequência". O Iraque "tem a sua própria dignidade, a sua própria liberdade, e não pode ser reduzido a um campo de guerra", concluiu o Papa, exortando a não desanimar: "Enquanto muitos, em vários níveis, ameaçam a paz, não desviemos os nossos olhos de Jesus, Príncipe da Paz, e não nos cansemos de invocar o eu Espírito, artífice da unidade".

VN

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