Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Descanso e compaixão, dois aspetos importantes da vida que guiaram a reflexão do Papa Francisco no Angelus deste XVI Domingo do Tempo Comum, que voltou a ser rezado da janela do apartamento pontifício, visto que o anterior foi do Hospital Agostino Gemelli, onde o Pontífice recuperava de uma cirurgia.
O perigo do ativismo
O Papa inspirou-se no Evangelho de Marcos proposto pela liturgia do dia para chamar à atenção que Jesus se preocupa com o cansaço físico e interior dos seus discípulos. Prova disto, é que ao ouvir os seus relatos jubilosos pelos “prodígios da pregação” durante a missão, Jesus faz-lhes um convite: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”, convida ao repouso.
Ele quer alertá-los para um perigo, que está sempre à espreita também para nós: o perigo de deixar-mo-nos cair no frenesim do fazer, cair na armadilha do ativismo, onde o mais importante são os resultados que obtemos e o sentir-mo-nos protagonistas absolutos.
Aprender a parar
E isso, observou Francisco, acontece também na Igreja, “estamos atarefados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar Jesus e estarmos sempre nós no centro. Por isso, convida os seus para repousar um pouco à parte, com Ele”:
Não é apenas repouso físico, é também descanso do coração. Porque não basta “desligar”, é preciso repousar de verdade. E como se faz isto? Para fazer isto é preciso voltar ao cerne das coisas: parar, ficar em silêncio, rezar, para não passar da correria do trabalho para a correria das férias.
Mas o facto de Jesus se retirar em cada dia na “oração, no silêncio, na intimidade com o Pai”, não impede que Ele esteja atento às necessidades da multidão, e o convite dirigido aos seus discípulos, deveria acompanhar também a nós, que deveríamos parar “a correria frenética que dita as nossas agendas”:
A compaixão nasce da contemplação
Mas o Papa recorda ainda, que “o Evangelho narra que Jesus e os discípulos não podem descansar como gostariam”, pois as pessoas provenientes dos lugares mais diversos reconhecem-nos. Neste ponto, move-se a compaixão”:
Aqui está o segundo aspeto: a compaixão que é o estilo de Deus, o estilo de Deus é: proximidade, compaixão e ternura. Quantas vezes no Evangelho, na Bíblia, encontramos esta frase: “teve compaixão dele”. Comovido, Jesus dedica-se ao povo e retoma o ensino. Parece uma contradição, mas na realidade não o é. De facto, só o coração que não se deixa levar pela pressa é capaz de se comover, isto é, de não se deixar levar por si mesmo e pelas coisas a fazer e de perceber os outros, as suas feridas, as suas necessidades. A compaixão nasce da contemplação.
Ecologia do coração
Assim – observou Francisco - caso aprendamos a descansar verdadeiramente, tornaremo-nos capazes da verdadeira compaixão:
Se cultivarmos o olhar contemplativo, levaremos em frente as nossas atividades sem a atitude voraz de quem quer possuir e consumir tudo; se permanecermos em contacto com o Senhor e não anestesiarmos a parte mais profunda de nós, as coisas a fazer não terão o poder de nos tirar o fôlego e de nos devorar. Temos necessidade - ouçam isto - temos necessidade de uma “ecologia do coração” que inclui descanso, contemplação e compaixão. Aproveitemos o tempo de verão para isso. Ajuda-nos bastante!
Ao concluir, o Santo Padre convidou os fiéis a dirigirem-se a Nossa Senhora, “que cultivou o silêncio, a oração e a contemplação, e move-se sempre em terna compaixão por nós, seus filhos.”
VN
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