17 julho 2021

Papa: misericórdia oferecida aos últimos e sofredores, raiz da espiritualidade franciscana

 
Papa Francisco com os Frades Menores na Sala Paulo VI, em 10/10/2019  (Vatican Media) 

 
"A renovação da vossa visão só pode partir deste novo olhar com o qual contemplar o irmão pobre e marginalizado, sinal, quase sacramento da presença de Deus. Deste olhar renovado, desta experiência concreta de encontro com o próximo e com as suas feridas, pode nascer uma renovada energia para olhar para o futuro como irmãos e como menores, como vós sois, segundo o belo nome de "frades menores", que S. Francisco escolheu para si e para vós."
 

Vatican News

“Vós tendes uma herança espiritual de riqueza inestimável, enraizada na vida evangélica e caracterizada pela oração, a fraternidade, a pobreza, a minoridade e a itinerância. Não se esqueçam que receberam um olhar renovado, capaz de nos abrir ao futuro de Deus, da proximidade com os pobres, as vítimas da escravidão moderna, os refugiados e os excluídos deste mundo. Eles são vossos mestres. Abracem-nos como S. Francisco!”

Esta foi a exortação do Papa Francisco na mensagem enviada aos participantes do Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores que elegeu o novo Ministro Geral, P. Massimo Giovanni Fusarelli, que sucede ao P. Michael A. Perry, ambos saudados pelo Santo Padre no início da mensagem.

O Papa começa recordando que esta experiência crítica que temos vivido devido à pandemia estimula-nos, por um lado, “a reconhecer o quanto a nossa vida terrena é um caminho a percorrer como peregrinos e forasteiros, homens e mulheres itinerantes, dispostos a livrar-se das coisas e pretensões pessoais”. Por outro lado, “é uma ocasião propícia para intensificar a relação com Cristo e com os irmãos: penso nas vossas comunidades – disse Francisco - chamadas a ser humilde presença profética no meio do povo de Deus e testemunho para todos de fraternidade e de uma vida simples e alegre.”

Celebrar o Capítulo Geral neste tempo difícil e complexo “já é motivo de louvor e de agradecimento a Deus”, disse o Pontífice, que inspirando-se no versículo de Efésios que guia o Capítulo - "Levanta-te ... e Cristo te iluminará" – dirige-se aos Frades Menores dizendo ser esta “uma palavra de ressurreição, que os enraíza na dinâmica pascal, porque não há renovação e não há futuro senão em Cristo ressuscitado”. Neste sentido, agradecidos, os frades devem estar abertos “para acolher os sinais da presença e ação de Deus e redescobrir o dom do seu carisma e da sua identidade fraterna e minoritária.”

Fazendo menção ao Testamento de S. Francisco, onde conta que o princípio da própria conversão foi o encontro com os leprosos”, o Papa disse que na raiz da espiritualidade dos franciscanos “está este encontro com os últimos e com os sofredores, no sinal de ‘fazer misericórdia’”:

“Deus tocou o coração de Francisco pela misericórdia oferecida ao irmão e continua a tocar o nosso coração pelo encontro com os outros, especialmente com os mais necessitados. A renovação da vossa visão só pode partir deste novo olhar com o qual contemplar o irmão pobre e marginalizado, sinal, quase sacramento da presença de Deus. Deste olhar renovado, desta experiência concreta de encontro com o próximo e com as suas feridas, pode nascer uma renovada energia para olhar para o futuro como irmãos e como menores, como vós sois, segundo o belo nome de "frades menores", que S. Francisco escolheu para si e para vós.”

A força renovadora de que os Frades Menores têm necessidade “provém do Espírito de Deus” - enfatizou o Pontífice. “Aquele Espírito que transformou a amargura do encontro de Francisco com os leprosos em doçura de alma e de corpo, age ainda hoje para dar novo frescor e energia a cada um de vós, se se deixarem provocar pelos últimos de nosso tempo”.

O Papa então encorajou os Frades Menores “a ir ao encontro dos homens e mulheres que sofrem na alma e no corpo, para oferecer a sua presença humilde e fraterna, sem grandes discursos, mas fazendo sentir a sua proximidade de irmãos menores”:

“[Encorajo-vos a ir na direção de uma criação ferida, da nossa casa comum, que sofre de uma exploração distorcida dos bens da terra para o enriquecimento de poucos, enquanto se criam condições de miséria para muitos. A ir como homens de diálogo, tentando construir pontes em vez de muros, oferecendo o dom da fraternidade e da amizade social num mundo que luta para encontrar a rota de um projeto comum. A ir como homens de paz e reconciliação, convidando os que semeiam o ódio, a divisão e a violência à conversão do coração e oferecendo às vítimas a esperança que vem da verdade, da justiça e do perdão. Destes encontros recebereis o impulso de viver o Evangelho cada vez mais plenamente, segundo aquela palavra que é o vosso caminho: «A vida e a regra dos Frades Menores é esta: observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo» ( Regra 1, 1). ]”

E diante dos desafios da queda numérica e do envelhecimento, “não permitam que a ansiedade e o medo vos impeçam de abrir os vossos corações e mentes para a renovação e revitalização que o Espírito de Deus desperta em vós e entre vós”, disse o Papa, concluindo com a sua Bênção Apostólica.

VN

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