30 janeiro 2023

O PALCO DAS JMJ



Ao princípio, confesso, também eu “embarquei” na critica ao valor apresentado para a construção do palco e respectivos arranjos para realizar as JMJ.

Claro que poderíamos invocar apenas a frase de Jesus Cristo - «Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7) – e fazer dela a interpretação que nos conviesse para “justificar” este gasto.

Também podíamos justificar o tal valor comparando com tudo aquilo que tem sido investido ao longo do tempo em eventos vários e falando do seu retorno, como, por exemplo, o “Websummit”, concertos de rock, etc., e facilmente perceberíamos que o número de pessoas que se esperam nas JMJ é, impressionantemente, maior.
Ainda podíamos argumentar com a obra para o futuro e como ela serve para reabilitar e dar outra utilização àquele lugar.
Enfim poderíamos arranjar todos os argumentos e comparações necessárias para satisfazer as nossas consciências, justificando o tal valor a investir.

Mas, por mim, prefiro regressar à frase de Jesus - «Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7) – e tentar tirar dela um sentido para o valor que vai ser investido, um sentido mais espiritual e ao mesmo tempo caritativo.

Os ensinamentos de Jesus Cristo e, obviamente, a Doutrina da Igreja, como não podia deixar de ser, voltam-se para os pobres, para os mais necessitados, e não são apenas aqueles pobres e necessitados de ajuda material, mas também aqueles que se desesperam, que estão sós, que são “pobres” espiritualmente, que não encontram o verdadeiro sentido da vida, o amor de Deus.
Ora, por isso mesmo, a consciência cristã tem que estar sempre voltada para estes pobres necessitados, (dos quais também nós fazemos parte em algumas alturas das nossas vidas), e assim, o ser cristão, ou melhor, o ser discípulo de Cristo, passa por aprender, para melhor conhecer Deus e assim melhor amar os outros, ajudando-os nas suas necessidades, sejam ela quais forem, materiais ou espirituais.

E é verdade, por todos constatada, que os jovens, (e não só os jovens), são, neste tempo, constantemente “bombardeados” por supostos valores que estão bem longe da solidariedade, do amor, da caridade.

Reuni-los, então, à volta do Papa Francisco, em comunhão de Igreja, ouvindo a palavra do Vigário de Cristo na terra, reflectindo sobre tudo o que ele lhes irá dizer e que os levará a comentar entre si essa verdade, encontrando caminho para o amor de Deus e, tocados por Ele, se tornarem verdadeiros discípulos de Cristo que pretendam levar a sério a imagem de São Paulo para a Igreja e assim sendo para a sociedade - «Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros» (1 Cor 12, 26) – será, com certeza, um valor inestimável que ultrapassará em muito o tal valor monetário da referida obra.

E os jovens, como sempre se afirma, são o futuro, e se o futuro puder ser moldado no amor aos outros, na caridade aos outros, em comunhão de Igreja, então o futuro será bem mais esperançoso do que agora se apresenta.

Então e todos serão “tocados” por esse amor de Deus e por Ele se deixarão conduzir?
Com certeza que não, infelizmente, mas uma parte com certeza que o será e assim poderá mudar algo que não se antevia e aqueles que, por acaso, neste encontro não encontrarem Cristo, não deixarão de ficar com a semente que mais tarde poderá florescer e tornar-se fruto neles, para eles e para todos nós.

Já estou a ver quem me estiver a ler a pensar que eu “vivo nas nuvens”, que isto é muito bonito mas não passa de palavras escritas, mas a verdade é que eu, por exemplo, também não me preocupava com os outros, nem com Deus, mas a semente que tinha sido plantada no meu coração acabou por dar fruto e, hoje em dia, mesmo sendo pecador, sou diferente e preocupo-me e tento ajudar os outros, não só materialmente, mas também espiritualmente, em tudo aquilo a que Deus me chama.

Claro que, gostaria de ouvir a “minha” Igreja dizer, claramente, que não seria preciso gastar um valor tão elevado para fazer um palco e um altar com a dignidade suficiente para receber o Papa e as JMJ, mas também penso que não compete à Igreja tal decisão.
Claro que, não sendo engenheiro nem arquitecto, acredito que talvez se pudesse fazer “coisa” mais simples, embora digna, não gastando a tal verba anunciada.
Claro que, nos tempos que hoje vivemos no nosso país, nos podemos perguntar se não irá alguém usufruir, ilegitimamente, de parte da mesma verba.

Mas no fundo o que realmente importa é o fruto espiritual, e não só, que virá destas JMJ, e esse está nas mãos de Deus que semeará, regará e fará crescer a planta da fé, para depois dar fruto e fruto que permaneça, para bem de todos nós e maior glória de Deus.

E para que assim seja, também são necessárias as orações de cada um de nós, pedindo que o Espírito Santo se derrame abundantemente sobre os jovens e sobre a humanidade.

O resto são cousas do mundo.



Marinha Grande, 30 de Janeiro de 2023
Joaquim Mexia Alves

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