Era quinta feira, anoitecia e
Pedro caminhava apressado para o abrigo onde normalmente serviam uma
refeição quente aos sem abrigo, aos abandonados, aos esfomeados, aos
necessitados.
Admirou-se
quando chegou por ver uma multidão de gente à espera para entrar e
pensou que não teriam comida para toda aquela gente.
Foi
dizendo boa noite a todos, pedindo-lhes para esperarem um pouco e
entrou na sala onde João e os seus dez companheiros iam arrumando tudo
para poderem começar a servir as refeições.
Chamou
João e os outros dez e foram à cozinha, onde um grupo de mulheres,
coordenadas por uma outra chamada Maria, enérgica, mas com uma bondade
incrível, preparavam a comida para o jantar.
Pedro
disse a todos: Está uma multidão de gente lá fora para comer. Não sei
como vai ser pois não temos comida para todos, sejam muito parcimoniosos
na distribuição da comida para ver se podemos, pelo menos, dar qualquer
coisa a cada um.
Abriram então a porta e de imediato a sala ficou cheia, tendo ainda ficado muita gente do lado de fora.
Pedro
ainda disse aos que estavam de fora para esperarem um pouco pois iam
ver se conseguiam arranjar alguma comida também para eles.
Quando
se preparavam para começar a servir, Pedro reparou que na mesa logo à
saída da cozinha estava um homem cuja presença chamava a atenção, tal
era a tranquilidade que dele emanava e o olhar terno e amoroso com que
olhava para toda a gente.
Aproximou-se dele e disse-lhe: Escolheste bem o lugar, porque aqui logo à saída da cozinha não te faltará com certeza alimento.
O
homem olhou para ele, com um olhar que trespassava de amor e disse-lhe
em tom suave mas com uma autoridade inquestionável: Olha Pedro, quero
pedir-te que quando trouxerem as travessas com a comida da cozinha, as
apresentem primeiro a mim, antes de servirem os convidados.
Pedro nem sequer questionou porquê, pois até já tinha ficado admirado com o facto de o homem saber o seu nome.
Chamou
todos os outros à cozinha e disse-lhes para fazerem exactamente o que o
homem lhe tinha dito, e pediu ainda mais uma vez para irem alertando as
pessoas que estavam na sala, para o facto da comida ser escassa e poder
não chegar para todos.
Ouviu-se então a voz de Maria, aquela que coordenava na cozinha, dizer: Olhem. «Façam tudo o que esse homem vos disser!» Jo 2, 5
E começaram a servir.
Cada
travessa que saía da cozinha era apresentada ao homem que estava na
primeira mesa, ele levantava os olhos para o alto, murmurava uma
qualquer prece e abençoava as travessas.
Só
passado pouco tempo é que Pedro, João e os seus dez companheiros se
aperceberam que os que estavam na sala já todos tinham comido e ficado
bem saciados, que outros tinham entrado e comido também, porque as
travessas que entravam vazias na cozinha saíam cheias de comida para a
sala sem ninguém perceber como.
Quando
a refeição acabou e todos saíram, o homem, que ainda não tinha comido,
chamou Pedro, João e os outros dez e pediu-lhes: Sentai-vos comigo aqui à
mesa e comamos juntos.
Sentaram-se
rodeando-o e olhando para ele com um misto de curiosidade, de espanto,
mas também de uma esperança que não conseguiam perceber.
O
homem disse-lhes então: Estais admirados com o que se passou? A verdade
é que saciámos a fome a muita gente e «fostes vós mesmos que lhes
destes de comer». Lc 9, 13
Mas
saciámos-lhes apenas a fome do corpo, porque a fome do espírito, a fome
do amor, a fome da liberdade, a fome da vida, só eu a posso saciar.
Reclinaram-se
todos sobre a mesa olhando fixamente o homem e sentindo a paz
extraordinária que dele emanava e naquele momento ali se sentia.
O
homem olhou-os profundamente, tomou nas suas mãos um pão partiu-o e
deu-o a todos eles dizendo: «Tomai, comei, isto é o meu corpo.». Mt 26,
26
Depois tomou o cálice, deu
graças e deu-o a todos dizendo: «Bebei dele todos. Porque isto é o meu
sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para
remissão dos pecados.» Mt 26, 28
«Foi então que, de repente, os seus olhos se abriram e O reconheceram» Lc 24, 31
Marinha Grande, 14 de Abril de 2022
Joaquim Mexia Alves
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