Isabella Piro – Vatican News
Alguém as definiu como “equilibristas”: são as mães italianas com
filhos menores, sempre divididas, tentando equilibrar a família e o
trabalho. De acordo com o último relatório da Save the children,
publicado em maio deste ano, existem na Itália pouco mais de 6 milhões
de mulheres que se encontram nessa situação. Em 2020, ano que a pandemia
da Covid-19 explodiu, muitas dessas mães foram penalizadas pelo mercado
de trabalho. Um dos principais motivos, foi a carga de trabalho
doméstico e de cuidados que elas tiveram que suportar durante os
períodos em que creches e escolas estavam fechadas. De 249 mil mulheres
que perderam seus empregos em 2020, observa o estudo, 96 mil são mães
com filhos menores de idade. Entre elas, 4 de cada 5 mulheres, têm
filhos com menos de 5 anos. Além disso, as mulheres italianas se tornam
mães pela primeira vez, sempre mais velhas (32,2 anos), em comparação
com a média de idade na União Europeia (29,4 anos). Outra dificuldade
enfrentada pelas mães de todo o mundo, destaca a Organização
internacional do Trabalho (OIT), é que apenas 45% das mães com
recém-nascidos recebem um subsídio de maternidade.
Maria Nossa Mãe
A pergunta que fica: o que fazer para melhorar essa situação? Além das mudanças radicais necessárias no mercado de trabalho, no sustendo da família e na promoção do papel da mulher na sociedade, os cristãos e todas as pessoas de boa vontade têm um recurso adicional: podem recorrer a Maria, Mãe de Deus. Ela representa o modelo de mulher e mãe por excelência. Suas características foram bem definidas pelo Papa Francisco em oito anos de pontificado. Ao reler as homilias proferidas por ele entre 2014 e 2021, na solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, que cai no dia 1º de janeiro, emerge um verdadeiro “retrato” da Santíssima Virgem, do qual as mulheres de hoje podem se inspirar. “Fonte de esperança e de verdadeira alegria”, Maria não é só Mãe de Deus, mas também “nossa Mãe”. Maria é Aquela que “nos procede e nos confirma continuamente na fé, na vocação e na missão – disse Francisco em 2014 – com seu exemplo de humildade e disponibilidade à vontade de Deus. Ajuda-nos a traduzir nossa fé em um anúncio alegre e sem fronteiras do Evangelho. Assim a nossa missão será fecunda, porque se baseia na maternidade de Maria”.
Jesus não pode ser compreendido sem sua Mãe
Além disso, a “relação muito próxima” de Maria com Jesus é central, pois é algo natural “entre a criança e sua mãe”. “O corpo de Cristo – sublinhou o Papa em 2015 – foi tecido no seio de Maria”, criando efetivamente uma “inseparabilidade”. Isto quer dizer que Maria “está unida a Jesus porque teve o conhecimento do coração dele, o conhecimento da fé, alimentada pela sua experiência materna e pelo vínculo íntimo com seu Filho. É por isso que Jesus não pode ser compreendido sem sua Mãe”, afirmou Francisco.
Com Maria aprende-se o significado dos acontecimentos
Aquela que “acreditou na palavra do Anjo” representa o cumprimento de “uma antiga promessa” e a concretização da “plenitude dos tempos”. Nesse sentido – explicou o Pontífice em 2016 – Maria se apresenta a nós como “um vaso sempre cheio da memória de Jesus, sede de sabedoria, do qual se pode ‘retirar’ para ter uma interpretação coerente do seu ensinamento”. Na prática, disse Francisco, Nossa Senhora nos permite “captar o significado dos acontecimentos que nos afetam pessoalmente, nossas famílias, nossos países e o mundo inteiro”, graças à “força da fé que traz a graça do Evangelho de Cristo”.
Antídoto contra o individualismo e o egoísmo
Mas há um aspecto, em particular, graças ao qual Maria pode ser um ponto de referência para todas as mulheres de hoje. Foi isto que o Papa recordou em 2017. “Ser antídoto mais forte para nossas tendências individualistas e egoístas. Contra nossos fechamentos e apatia”, afirmou Francisco. “Uma sociedade sem mães seria não apenas uma sociedade fria – disse o Papa há 4 anos – mas uma sociedade que perdeu seu coração, que perdeu seu ‘sabor de família’. Uma sociedade sem mães seria uma sociedade sem misericórdia, que cedeu apenas ao cálculo e à especulação. Porque as mães, mesmo nos piores momentos, sabem dar testemunho da ternura, da dedicação incondicional, da força da esperança”.
Proteção da “orfandade espiritual”
As mães sofredoras, as que têm seus filhos presos, hospitalizados ou subjugados pela escravidão das drogas, as que vivem em campos de refugiados ou no meio da guerra – disse o Santo Padre em 2017 – têm muito a ensinar porque “não se rendem e continuam a lutar para dar o melhor aos seus filhos”. Muitas vezes, o “melhor”, significa literalmente a vida. “Onde há mãe, há unidade, há pertença dos filhos”, reiterou o Papa. Francisco aponta para Maria que nos protege da “corrosiva enfermidade da ‘orfandade espiritual’, aquela que encontra espaço no coração narcisista daqueles que só sabem olhar para si e para os seus próprios interesses”.
Um mundo sem olhar materno é míope
Por isso, a devoção à Mãe de Deus “não é etiqueta espiritual, mas uma exigência da vida cristã”, acrescentou Francisco em 2018. Olhando de fato para Maria, “somos encorajados a deixar tantos pesos inúteis e a redescobrir o que importa: [...] a mãe é a assinatura de Deus na humanidade”. O seu “olhar maternal” – explicou o Pontífice em 2019 – “infunde confiança, ajuda a crescer na fé” e “lembra-te que a ternura é essencial para a fé, pois afasta a mornidão”. “Olhar da Mãe, olhar das mães. Um mundo que olha para o futuro, privado de olhar materno, é míope. Aumentará talvez os lucros, mas jamais será capaz de ver, nos homens, filhos. Haverá ganhos, mas não serão para todos. Habitaremos na mesma casa, mas não como irmãos. A família humana fundamenta-se nas mães. Um mundo, onde a ternura materna acaba desclassificada a mero sentimento, poderá ser rico de coisas, mas não rico de amanhã”, disse o Papa.
A Mãe não é um ‘opcional’
Além do olhar, o abraço de Maria também é essencial, fundamento contra “a vida fragmentada de hoje, onde nos arriscamos a perder o fio à meada”. Conectado, mas desunido, de fato – disse Francisco, o mundo precisa se entregar à Mãe que é “remédio para a solidão e a desagregação. É a Mãe da consolação, a Mãe que consola: está com quem se sente só” e o “pega pela mão, apresenta-o com amor à vida”. Deus – sublinhou o Pontífice – “não negou a Mãe, tanto que necessitamos dela”. Isso significa que, “Nossa Senhora não é opcional: deve ser acolhida na vida. É a Rainha da paz, que vence o mal e guia pelos caminhos do bem, repõe a unidade entre os filhos, educa para a compaixão”.
A violência contra a mulher é uma profanação de Deus
Outra característica de Maria, lembrada pelo Papa em 2020, é a capacidade de “guardar as coisas no coração”, isto é, cuidar “levar a vida ao coração”. E esta é uma atitude “própria das mulheres”, disse Francisco, porque “a mulher mostra que o sentido da vida não é produzir coisas em continuação, mas tomar a peito as coisas que existem. Só vê bem quem olha com o coração, porque sabe «ver dentro»: a pessoa independentemente dos seus erros, o irmão independentemente das suas fragilidades, a esperança nas dificuldades; vê Deus em tudo”. A partir desse princípio, o apelo do Pontífice pela proteção das mulheres: elas são “fonte de vida”, mas, “são continuamente ofendidas, espancadas, violentadas, induzidas a prostituir-se e a suprimir a vida que trazem no seio”. “Toda a violência infligida à mulher é profanação de Deus, nascido de uma mulher – disse o Papa no ano passado. A salvação chegou à humanidade, a partir do corpo de uma mulher: pelo modo como tratamos o corpo da mulher, vê-se o nosso nível de humanidade”.
Não humilhar a maternidade
Forte, portanto, a advertência de Francisco contra a exploração do corpo feminino “nos altares profanos da publicidade, do lucro, da pornografia”. Deve ser “libertado do consumismo, deve ser respeitado e honrado; é a carne mais nobre do mundo: concebeu e deu à luz o Amor que nos salvou!”. O Papa fez um apelo contra a humilhação da maternidade, tão frequente hoje, e pelo fato que “o único crescimento que interessa é o econômico. Há mães que, na busca desesperada de dar um futuro melhor ao fruto do seu seio, se arriscam em viagens impraticáveis e acabam julgadas como número excedente por pessoas que têm a barriga cheia, mas de coisas, e o coração vazio de amor”.
Maria traz Deus no tempo
Por fim, em janeiro deste ano, o Papa destacou mais um traço de Maria, tão importante para a época contemporânea: a capacidade de “levar Deus ao longo do tempo”. “O tempo é a riqueza que todos temos – sublinhou Francisco – mas somos ciumentos a seu respeito porque queremos usá-la só para nós”. Esta é, portanto, a “graça” que Nossa Senhora pode nos ajudar a pedir para o novo ano: “encontrar tempo para Deus e para o próximo: para quem está só, para quem sofre, para quem precisa de escuta e atenção. Se encontrarmos tempo para doar, acabaremos maravilhados e felizes, como os pastores”.
As celebrações do Papa
Por último, recorda-se que, por ocasião da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, primeira festa mariana surgida na Igreja Ocidental, o Pontífice presidirá duas celebrações na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Nesta sexta-feira (31/12), o Papa Francisco presidirá às Primeiras Vésperas, seguidas pela exposição do Santíssimo Sacramento, o hino tradicional “Te Deum” para o final do ano civil e a Benção Eucarística. A fim de evitar aglomerações e o consequente risco de contágio de Covid-19, o Papa não visitará o presépio montado na Praça São Pedro, como era costume ao final da celebração.
Neste sábado, 1º de janeiro de 2022, às 10h locais, Francisco
presidirá à Santa Missa, na qual haverá uma oração pelos pais, para que
tenham “a alegria de criar os filhos na santidade”, e pelo povo
angustiado, para que possa experimentar “a doce companha de Jesus”. A
celebração coincidirá com o 55º Dia Mundial da Paz, para o qual, o
Pontífice escreveu uma mensagem dedicada ao tema “Diálogo entre
gerações, educação e trabalho: ferramentas para construir uma paz
duradoura”.
VN