08 novembro 2012

Carta Pasrtoral de Bento XVI - "O ANO DA FÉ"


PORTA FIDEI DO SUMO PONTÍFICE
BENTO XVI
COM A QUAL SE PROCLAMA
O .ANO DA FÉ 

1. A PORTA DA FÉ (cf. Act 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início no Baptismo (cf. Rm 6, 4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos crêem n’Ele (cf. Jo 17, 22). Professar a fé na Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – equivale a crer num só Deus que é Amor (cf. 1 Jo 4, 8): o Pai, que na plenitude dos tempos enviou seu Filho para a nossa salvação; Jesus Cristo, que redimiu o mundo no mistério da sua morte e ressurreição; o Espírito Santo, que guia a Igreja através dos séculos enquanto aguarda o regresso glorioso do Senhor.

2. Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado, disse: «A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude»[1]. Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado.[2] Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas.

3. Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida (cf. Mt 5, 13-16). Também o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde jorra água viva (cf. Jo 4, 14). Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos (cf. Jo 6, 51). De facto, em nossos dias ressoa ainda, com a mesma força, este ensinamento de Jesus: «Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna» (Jo 6, 27). E a questão, então posta por aqueles que O escutavam, é a mesma que colocamos nós também hoje: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» (Jo 6, 28). Conhecemos a resposta de Jesus: «A obra de Deus é esta: crer n’Aquele que Ele enviou» (Jo 6, 29). Por isso, crer em Jesus Cristo é o caminho para se poder chegar definitivamente à salvação.

4. À luz de tudo isto, decidi proclamar um Ano da Fé. Este terá início a 11 de Outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e terminará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, a 24 de Novembro de 2013. Na referida data de 11 de Outubro de 2012, completar-se-ão também vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado pelo meu Predecessor, o Beato Papa João Paulo II,[3] com o objectivo de ilustrar a todos os fiéis a força e a beleza da fé. Esta obra, verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II, foi desejada pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 como instrumento ao serviço da catequese[4] e foi realizado com a colaboração de todo o episcopado da Igreja Católica. E uma Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi convocada por mim, precisamente para o mês de Outubro de 2012, tendo por tema A nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Será uma ocasião propícia para introduzir o complexo eclesial inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé. Não é a primeira vez que a Igreja é chamada a celebrar um Ano da Fé. O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, proclamou um ano semelhante, em 1967, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo no décimo nono centenário do seu supremo testemunho. Idealizou-o como um momento solene, para que houvesse, em toda a Igreja, «uma autêntica e sincera profissão da mesma fé»; quis ainda que esta fosse confirmada de maneira «individual e colectiva, livre e consciente, interior e exterior, humilde e franca».[5] Pensava que a Igreja poderia assim retomar «exacta consciência da sua fé para a reavivar, purificar, confirmar, confessar».[6] As grandes convulsões, que se verificaram naquele Ano, tornaram ainda mais evidente a necessidade duma tal celebração. Esta terminou com a Profissão de Fé do Povo de Deus,[7] para atestar como os conteúdos essenciais, que há séculos constituem o património de todos os crentes, necessitam de ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado.

5. Sob alguns aspectos, o meu venerado Predecessor viu este Ano como uma «consequência e exigência pós-conciliar»[8], bem ciente das graves dificuldades daquele tempo sobretudo no que se referia à profissão da verdadeira fé e da sua recta interpretação. Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, «não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja. Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa».[9] Quero aqui repetir com veemência as palavras que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: «Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja».[10]

6. A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de facto, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou. O próprio Concílio, na Constituição dogmática Lumen gentium, afirma: «Enquanto Cristo “santo, inocente, imaculado” (Heb 7, 26), não conheceu o pecado (cf. 2 Cor 5, 21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (cf. Heb 2, 17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja “prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus”, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cf. 1 Cor 11, 26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz».[11]
 
Nesta perspectiva, o Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. Act 5, 31). Para o apóstolo Paulo, este amor introduz o homem numa vida nova: «Pelo Baptismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). Em virtude da fé, esta vida nova plasma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afectos, a mentalidade e o comportamento do homem vão sendo pouco a pouco purificados e transformados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida. A «fé, que actua pelo amor» (Gl 5, 6), torna-se um novo critério de entendimento e de acção, que muda toda a vida do homem (cf. Rm 12, 2; Cl 3, 9-10; Ef 4, 20-29; 2 Cor 5, 17).

7. «Caritas Christi urget nos – o amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14): é o amor de Cristo que enche os nossos corações e nos impele a evangelizar. Hoje, como outrora, Ele envia-nos pelas estradas do mundo para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra (cf. Mt 28, 19). Com o seu amor, Jesus Cristo atrai a Si os homens de cada geração: em todo o tempo, Ele convoca a Igreja confiando-lhe o anúncio do Evangelho, com um mandato que é sempre novo. Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé. Na descoberta diária do seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes, que jamais pode faltar. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de facto, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos. Os crentes – atesta Santo Agostinho – «fortificam-se acreditando».[12] O Santo Bispo de Hipona tinha boas razões para falar assim. Como sabemos, a sua vida foi uma busca contínua da beleza da fé enquanto o seu coração não encontrou descanso em Deus.[13] Os seus numerosos escritos, onde se explica a importância de crer e a verdade da fé, permaneceram até aos nossos dias como um património de riqueza incomparável e consentem ainda que tantas pessoas à procura de Deus encontrem o justo percurso para chegar à «porta da fé».

Por conseguinte, só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus.

8. Nesta feliz ocorrência, pretendo convidar os Irmãos Bispos de todo o mundo para que se unam ao Sucessor de Pedro, no tempo de graça espiritual que o Senhor nos oferece, a fim de comemorar o dom precioso da fé. Queremos celebrar este Ano de forma digna e fecunda. Deverá intensificar-se a reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais consciente e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este que a humanidade está a viver. Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro, nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre. Neste Ano, tanto as comunidades religiosas como as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas, encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo

9. Desejamos que este Ano suscite, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança. Será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é «a meta para a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força».[14] Simultaneamente esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade. Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada[15] e reflectir sobre o próprio acto com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano.

Não foi sem razão que, nos primeiros séculos, os cristãos eram obrigados a aprender de memória o Credo. É que este servia-lhes de oração diária, para não esquecerem o compromisso assumido com o Baptismo. Recorda-o, com palavras densas de significado, Santo Agostinho quando afirma numa homilia sobre a redditio symboli (a entrega do Credo): «O símbolo do santo mistério, que recebestes todos juntos e que hoje proferistes um a um, reúne as palavras sobre as quais está edificada com solidez a fé da Igreja, nossa Mãe, apoiada no alicerce seguro que é Cristo Senhor. E vós recebeste-lo e proferiste-lo, mas deveis tê-lo sempre presente na mente e no coração, deveis repeti-lo nos vossos leitos, pensar nele nas praças e não o esquecer durante as refeições; e, mesmo quando o corpo dorme, o vosso coração continue de vigília por ele».[16]
 
10. Queria agora delinear um percurso que ajude a compreender de maneira mais profunda os conteúdos da fé e, juntamente com eles, também o acto pelo qual decidimos, com plena liberdade, entregar-nos totalmente a Deus. De facto, existe uma unidade profunda entre o acto com que se crê e os conteúdos a que damos o nosso assentimento. O apóstolo Paulo permite entrar dentro desta realidade quando escreve: «Acredita-se com o coração e, com a boca, faz-se a profissão de fé» (Rm 10, 10). O coração indica que o primeiro acto, pelo qual se chega à fé, é dom de Deus e acção da graça que age e transforma a pessoa até ao mais íntimo dela mesma. 

A este respeito é muito eloquente o exemplo de Lídia. Narra São Lucas que o apóstolo Paulo, encontrando-se em Filipos, num sábado foi anunciar o Evangelho a algumas mulheres; entre elas, estava Lídia. «O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia» (Act 16, 14). O sentido contido na expressão é importante. São Lucas ensina que o conhecimento dos conteúdos que se deve acreditar não é suficiente, se depois o coração – autêntico sacrário da pessoa – não for aberto pela graça, que consente ter olhos para ver em profundidade e compreender que o que foi anunciado é a Palavra de Deus.

Por sua vez, o professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos. O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um facto privado. A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele. E este «estar com Ele» introduz na compreensão das razões pelas quais se acredita. A fé, precisamente porque é um acto da liberdade, exige também assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita. No dia de Pentecostes, a Igreja manifesta, com toda a clareza, esta dimensão pública do crer e do anunciar sem temor a própria fé a toda a gente. É o dom do Espírito Santo que prepara para a missão e fortalece o nosso testemunho, tornando-o franco e corajoso.

A própria profissão da fé é um acto simultaneamente pessoal e comunitário. De facto, o primeiro sujeito da fé é a Igreja. É na fé da comunidade cristã que cada um recebe o Baptismo, sinal eficaz da entrada no povo dos crentes para obter a salvação. Como atesta o Catecismo da Igreja Católica, «“Eu creio”: é a fé da Igreja, professada pessoalmente por cada crente, principalmente por ocasião do Baptismo. “Nós cremos”: é a fé da Igreja, confessada pelos bispos reunidos em Concílio ou, de modo mais geral, pela assembleia litúrgica dos crentes. “Eu creio”: é também a Igreja, nossa Mãe, que responde a Deus pela sua fé e nos ensina a dizer: “Eu creio”, “Nós cremos”».[17]
 
Como se pode notar, o conhecimento dos conteúdos de fé é essencial para se dar o próprio assentimento, isto é, para aderir plenamente com a inteligência e a vontade a quanto é proposto pela Igreja. O conhecimento da fé introduz na totalidade do mistério salvífico revelado por Deus. Por isso, o assentimento prestado implica que, quando se acredita, se aceita livremente todo o mistério da fé, porque o garante da sua verdade é o próprio Deus, que Se revela e permite conhecer o seu mistério de amor.[18]

Por outro lado, não podemos esquecer que, no nosso contexto cultural, há muitas pessoas que, embora não reconhecendo em si mesmas o dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo. Esta busca é um verdadeiro «preâmbulo» da fé, porque move as pessoas pela estrada que conduz ao mistério de Deus. De facto, a própria razão do homem traz inscrita em si mesma a exigência «daquilo que vale e permanece sempre».[19] Esta exigência constitui um convite permanente, inscrito indelevelmente no coração humano, para caminhar ao encontro d’Aquele que não teríamos procurado se Ele mesmo não tivesse já vindo ao nosso encontro.[20] É precisamente a este encontro que nos convida e abre plenamente a fé.

11. Para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja Católica. Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II. Na Constituição apostólica Fidei depositum – não sem razão assinada na passagem do trigésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II – o Beato João Paulo II escrevia: «Este catecismo dará um contributo muito importante à obra de renovação de toda a vida eclesial (...). Declaro-o norma segura para o ensino da fé e, por isso, instrumento válido e legítimo ao serviço da comunhão eclesial».[21]   

É precisamente nesta linha que o Ano da Fé deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de facto, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. Desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé.

Na sua própria estrutura, o Catecismo da Igreja Católica apresenta o desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária. Repassando as páginas, descobre-se que o que ali se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja. Na verdade, a seguir à profissão de fé, vem a explicação da vida sacramental, na qual Cristo está presente e operante, continuando a construir a sua Igreja. Sem a liturgia e os sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos. Na mesma linha, a doutrina do Catecismo sobre a vida moral adquire todo o seu significado, se for colocada em relação com a fé, a liturgia e a oração
.
12. Assim, no Ano em questão, o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé, sobretudo para quantos têm a peito a formação dos cristãos, tão determinante no nosso contexto cultural. Com tal finalidade, convidei a Congregação para a Doutrina da Fé a redigir, de comum acordo com os competentes Organismos da Santa Sé, uma Nota, através da qual se ofereçam à Igreja e aos crentes algumas indicações para viver, nos moldes mais eficazes e apropriados, este Ano da Fé ao serviço do crer e do evangelizar.

De facto, em nossos dias mais do que no passado, a fé vê-se sujeita a uma série de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, hoje de uma forma particular, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas. Mas, a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade.[22]

13. Será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos. 

Ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Heb 12, 2): n’Ele encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar connosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação.

Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cf. Lc 1, 38). Ao visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava em quantos a Ele se confiavam (cf. Lc 1, 46-55). Com alegria e trepidação, deu à luz o seu Filho unigénito, mantendo intacta a sua virgindade (cf. Lc 2, 6-7). Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egipto a fim de O salvar da perseguição de Herodes (cf. Mt 2, 13-15). Com a mesma fé, seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cf. Jo 19, 25-27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo (cf. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. Act 1, 14; 2, 1-4).

Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre (cf. Mc 10, 28). Acreditaram nas palavras com que Ele anunciava o Reino de Deus presente e realizado na sua Pessoa (cf. Lc 11, 20). Viveram em comunhão de vida com Jesus, que os instruía com a sua doutrina, deixando-lhes uma nova regra de vida pela qual haveriam de ser reconhecidos como seus discípulos depois da morte d’Ele (cf. Jo 13, 34-35). Pela fé, foram pelo mundo inteiro, obedecendo ao mandato de levar o Evangelho a toda a criatura (cf. Mc 16, 15) e, sem temor algum, anunciaram a todos a alegria da ressurreição, de que foram fiéis testemunhas.

Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade reunida à volta do ensino dos Apóstolos, na oração, na celebração da Eucaristia, pondo em comum aquilo que possuíam para acudir às necessidades dos irmãos (cf. Act 2, 42-47). 

Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho que os transformara, tornando-os capazes de chegar até ao dom maior do amor com o perdão dos seus próprios perseguidores.

Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo para viver em simplicidade evangélica a obediência, a pobreza e a castidade, sinais concretos de quem aguarda o Senhor, que não tarda a vir. Pela fé, muitos cristãos se fizeram promotores de uma acção em prol da justiça, para tornar palpável a palavra do Senhor, que veio anunciar a libertação da opressão e um ano de graça para todos (cf. Lc 4, 18-19).
Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida (cf. Ap 7, 9; 13, 8), confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados.
Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história.

14. O Ano da Fé será uma ocasião propícia também para intensificar o testemunho da caridade. Recorda São Paulo: «Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade» (1 Cor 13, 13). Com palavras ainda mais incisivas – que não cessam de empenhar os cristãos –, afirmava o apóstolo Tiago: «De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta. Mais ainda! Poderá alguém alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé”» (Tg 2, 14-18). 

A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o seu caminho. De facto, não poucos cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado. «Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40): estas palavras de Jesus são uma advertência que não se deve esquecer e um convite perene a devolvermos aquele amor com que Ele cuida de nós. É a fé que permite reconhecer Cristo, e é o seu próprio amor que impele a socorrê-Lo sempre que Se faz próximo nosso no caminho da vida. Sustentados pela fé, olhamos com esperança o nosso serviço no mundo, aguardando «novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça» (2 Ped 3, 13; cf. Ap 21, 1).

15. Já no termo da sua vida, o apóstolo Paulo pede ao discípulo Timóteo que «procure a fé» (cf. 2 Tm 2, 22) com a mesma constância de quando era novo (cf. 2 Tm 3, 15). Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim.

Que «a Palavra do Senhor avance e seja glorificada» (2 Ts 3, 1)! Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro. As seguintes palavras do apóstolo Pedro lançam um último jorro de luz sobre a fé: «É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas» (1 Ped 1, 6-9). A vida dos cristãos conhece a experiência da alegria e a do sofrimento. Quantos Santos viveram na solidão! Quantos crentes, mesmo em nossos dias, provados pelo silêncio de Deus, cuja voz consoladora queriam ouvir! As provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1, 24) , são prelúdio da alegria e da esperança a que a fé conduz: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele, presente no meio de nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11, 20); e a Igreja, comunidade visível da sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da reconciliação definitiva com o Pai.
À Mãe de Deus, proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc 1, 45), confiamos este tempo de graça.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Outubro do ano 2011, sétimo de Pontificado.

BENEDICTUS PP. XVI



[1] Homilia no início do ministério petrino do Bispo de Roma (24 de Abril de 2005): AAS 97 (2005), 710.
[2] Cf. Bento XVI, Homilia da Santa Missa no Terreiro do Paço (Lisboa – 11 de Maio de 2010): L’Osservatore Romano (ed. port. de 15/V/2010), 3.
[3] Cf. João Paulo II, Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 113-118.
[4] Cf. Relação final do Sínodo Extraordinário dos Bispos (7 de Dezembro de 1985), II, B, a, 4: L’Osservatore Romano (ed. port. de 22/XII/1985), 650.
[5] Paulo VI, Exort. ap. Petrum et Paulum Apostolos, no XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (22 de Fevereiro de 1967): AAS 59 (1967), 196.
[6] Ibid.: o.c., 198.
[8] Paulo VI, Audiência Geral (14 de Junho de 1967): Insegnamenti, V (1967), 801.
[9] João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 57: AAS 93 (2001), 308.
[10] Discurso à Cúria Romana (22 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 52.
[11] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 8.
[12] De utilitate credendi, 1, 2.
[13] Cf. Confissões, 1, 1.
[14] Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, 10.
[15] Cf. João Paulo II, Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 116.
[16] Santo Agostinho, Sermo 215, 1.
[18] Cf. Conc. Ecum. Vat. I, Const. dogm. sobre a fé católica Dei Filius, cap. III: DS 3008-3009; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Revelação divina Dei Verbum, 5.
[19] Bento XVI, Discurso no «Collège des Bernardins» (Paris, 12 de Setembro de 2008): AAS 100 (2008), 722.
[20] Cf. Santo Agostinho, Confissões, 13, 1.
[21] Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 115 e 117.
[22] Cf. João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 34.106: AAS 91 (1999), 31-32.86-87.
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27 fevereiro 2012

Ensinamento/Partilha - VII Aniversário do G.O. 'Raboni, Meu Mestre'

Alverca, 25 de fevereiro de 2012

Maria Olga e João Silva

Para reflexão, acerca do Ensinamento/Partilha

Comecemos, então, pela Eucaristia:

‘A EUCARISTIA, É MISTÉRIO DE FÉ, QUE TORNA DEUS, MARAVILHOSAMENTE PRESENTE, NUMA ÍNTIMA E ESTREITA RELAÇÃO EUCARÍSTICA COMIGO, CONTIGO, ENFIM, COM TODOS NÓS’.

“A EUCARISTIA, É MISTÉRIO DE AMOR PORQUE É DEUS MANIFESTANDO O SEU AMOR”.

- Porque é Deus, com o coração de carne, para que possamos senti-lO pulsar como o nosso.

- Porque na Eucaristia, Jesus é Deus feito por nós, habitando materialmente connosco, como um pai, um amigo, que nos convida todos os dias para a Sua Mesa, sem que um só dia queira separar-se de nós.
 

“A EUCARISTIA É MISTÉRIO DE FÉ, TORNANDO DEUS PRÓXIMO DE NÓS”.

- Porque na Eucaristia Jesus Cristo é Deus a conversar connosco; Ele é Deus com um corpo que vive, com lábios que falam, com mãos que abençoam!
 

“A EUCARISTIA É A CELEBRAÇÃO DA CARIDADE”.

- Porque na Eucaristia, Jesus, de uma forma deslumbrante e admiravelmente humana, deixou-nos Seu Corpo e Sangue a fim de que pudéssemos tocá-Lo e ser curados.

- Porque a Eucaristia, como dizia Sta. Teresa de Lisieux, “é o sol do amor cujos raios curam, libertam e inflamam o coração”.

O magistério da Igreja, na sua fidelidade ao Sacramento da Eucaristia instituído por Jesus Cristo, é a única autoridade da Santa Sé para nos orientar e conduzir pastoralmente sobre a Eucaristia.

Escutemos os Papas, começando por Paulo VI, na Festa do Corpo de Deus, em 1974. Dizia-nos:
‘A Santa Eucaristia é uma Presença real de Jesus que nos convida e chama:

“Vinde a mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos consolarei” (Mt 11,28)

Jesus convida como um amigo, aproxima-se esperando sem desistir, pronto a acolher-nos a todos. Convida-nos para uma mesa que é uma dulcíssima celebração de união, de amor, de dor.

É um apelo de preferência àquele que sofre a pena mais; àquele que é pobre e que chora; àquele que está só e sem auxílio; àquele que é pequeno e inocente.

A Sua voz chega igualmente aos afastados, aos utópicos, aos que desertaram do bom caminho.
Vinde, a entrada é livre. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.’
 

“A EUCARISTIA É A CENTRALIDADE DA VIDA CRISTÔ

- Por isso, deve haver uma preparação necessária para a Eucaristia.

- Mas contrariamente, quantas vezes ‘estamos’ na Santa Missa sem preparação alguma para a alegria que a mesa do Senhor nos traz. E isto porque esse acontecimento perdeu o cariz de festa para nós.

- Esquecemos que a Eucaristia é a mais bela das festas.

Escutemos e aceitemos as normas orientadoras da Congregação para o Culto divino na Igreja Católica para a Eucaristia, comunicadas pelo Cardeal e Perfeito da Congregação para o Culto Divino na Igreja, Santa Sé, Roma, em Abril de 2004.

Diz-nos que a arte de celebrar a Eucaristia é, na realidade, saber rezar".
A arte de celebrar privilegia o silêncio, a contemplação, o sentido de espanto diante do mistério que se celebra.

Devemos todos estar atentos aos momentos de silêncio durante a Santa Missa.
Nesse sentido, a meditação antes da Missa, depois da Comunhão e depois da Missa é muito importante.

Por vezes, quando isto não é observado cai-se num paradoxo incrível: Essa missa abençoada que deveria ser um espaço contemplativo portador de alegria, paz e recolhimento profundo, torna-se um lugar de barulhenta saturação e decepcionante horizontalidade de um desequilíbrio entre a liturgia da Palavra e a liturgia Eucarística.

No entanto, que magnífico testemunho nos é dado quando uma assembleia se mantém em profundo recolhimento depois da comunhão”.

Tenhamos ainda, presente o Padre Pio, hoje Santo, que constantemente nos dizia:
“Meus filhos, nunca nos preparamos o suficiente para receber a comunhão”
 

“A EUCARISTIA É MISTÉRIO DE AMOR”

Na Comunhão eucarística, rezamos antes da comunhão:

“Senhor não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo”

- E quando vamos comungar, nos é dito: ‘Corpo de Cristo!’

- E nós respondemos: Ámen.

- Assim, confirmamos e acreditamos que Ele vai entrar em nós.

- Sê um membro de Jesus, para que o teu Ámen seja verdadeiro, como nos diz Sto. Agostinho, sermão 277.

- Assim, quando na Comunhão, a Hóstia consagrada entra nos meus lábios, posso dizer sempre com a mesma convicção e o mesmo amor: é Jesus Cristo, Deus-Homem, a realizar um Pentecostes interior em cada coração.

Escutemos a voz da Igreja, pelo Papa João Paulo II, na Encíclica sobre a Eucaristia.

Diz-nos: “Cada Comunhão é um Pentecostes interior. O Espírito de amor faz da Eucaristia, fogo eucarístico de amor misericordioso.

Pela entrega do Seu Corpo, é realmente um fogo que Jesus derrama: ‘Eu vim trazer o fogo à terra, e como quisera que já estivesse aceso’.

Este calor de fogo do Espírito, Jesus dá-o pelo Seu Corpo entregue na última ceia. De missa em Missa, Ele perpetua-se na Igreja, ao longo da história da humanidade. Assim, pelo dom do Seu Corpo e Sangue, Cristo aumenta em nós o dom do seu Espírito.

A plenitude da Eucaristia é um amor sem limites. O fogo da Eucaristia é a fonte de todo o zelo missionário e da evangelização autêntica, pois quem bebe dessa fonte, torna-se transbordante”.
 

“A EUCARISTIA É A CENTRALIDADE DA NOSSA VIDA CRISTÔ

- Por isso é necessário comungar o Jesus total: cabeça e membros.
Não me posso limitar a recebê-lO, se não comungar os irmãos. Temos de comungar os outros, ou seja, recebê-los no meu coração, no amor, na partilha, no perdão.

- Porque é necessário fazer, de cada Eucaristia a nossa primeira e última Missa em que aconteça uma experiência da graça única e irresistível.

- Dou-vos uma referência: Na sacristia da Catedral de Viterbo, onde está sepultado o único Papa português Pedro Hispano, que tomou o nome de João XXI, está esta frase, de Madre Teresa de Calcutá, hoje Beata:

“Vive a Eucaristia como se fosse a tua primeira Missa!
Vive a Eucaristia como se fosse a tua última Missa!
Vive a Eucaristia como se fosse a tua única Missa!”

Escutemos o Papa João Paulo II, em 1980. Dizia-nos a este respeito que a Eucaristia é um mistério luminoso, no qual Deus é sempre o primeiro a amar-nos (1 Jo 4,10). Na Comunhão eucarística, Cristo entrega-se a Si mesmo a cada um de nós, ao nosso coração, à nossa consciência, aos nossos lábios e à nossa boca, sob a forma de alimento.

Façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir a dignidade sagrada e o espírito profundo da comunhão eucarística”.

Ele lembrava-nos constantemente que a Eucaristia nos orienta para a última vinda de Cristo”.
 

“A EUCARISTIA, COMO MISTÉRIO DE AMOR É A CENTRALIDADE DA VIDA CRISTÔ

“Fazei isso em memória de Mim”, (1 Cor 11, 17 e seg.; Lc 7, Mc 8, 34-38),

Isto é, fazer como ele fez e fazer memória de Jesus, é servir Jesus, seguindo seus passos, gestos e atitudes. É actualizar, na nossa vida de hoje, os gestos, atitudes, palavras, olhares, acções e vida de Jesus.
Mas fazer memória de Jesus, não é só quando estamos na Eucaristia, mas fazer a Eucaristia presente na vida de cada um de nós.

“Fazei isto em memória de Mim”, isto é, fazer como Ele fez e, - (1 Cor 11, 17 e seg.; Mc 8, 34-38).
 Jesus diz-nos: “Eu sou o pão que desce do Céu” (Jo 6,50)

- Jesus não disse que desceu do Céu, porque isso significa ter descido apenas uma vez. Mas disse: Aquele que desce do Céu; e aquele que desce é Aquele que desce constantemente e sempre, para aqueles que são dignos.
 

“A EUCARISTIA, É MISTÉRIO DE FÉ, QUE TORNA DEUS, MARAVILHOSAMENTE PRESENTE, NUMA ÍNTIMA E ESTREITA RELAÇÃO EUCARISTICA COMIGO, CONTIGO, ENFIM, COM TODOS NÓS”

Assumamos, como verdadeiros cristãos, as orientações da Igreja sobre a Santa eucaristia e interiorizemos a nossa responsabilidade de dar testemunho da vida cristã autêntica, sobre a nossa vivência eucarística de Deus connosco.

Concretamente:

- Se Jesus Cristo está comigo, com Jesus e sem Jesus, devemos ser ‘hóstias vivas’ no louvor, na adoração, na reparação, na oblação repleta de amor e na generosidade, na radicalidade evangélica das nossas vidas;

devemos ser ‘hóstias vivas’ nos nossos trabalhos, nos nossos tempos de lazer ou de sofrimento, dos nossos apostolados;

devemos ser ‘hóstias vivas’ nas nossas orações, na nossa vida sacramental e na nossa vivência verdadeiramente cristã.

- Se Jesus Cristo está comigo na Eucaristia, devo fazer do dia inteiro uma ‘Eucaristia? Divinizando o dia todo.

Concluímos com a orientação do Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica, em que nos diz:

“Não hesiteis em afirmar que a Eucaristia impele todo o que acredita n’Ele a fazer-se pão repartido para os outros e, consequentemente, a empenhar-se por um mundo mais justo e fraterno; e é através da realização concreta desta responsabilidade, que a Eucaristia se torna na vida o que significa na celebração”.

VIVAMOS VERDADEIRAMENTE:

A EUCARISTIA QUE É MISTÉRIO DE FÉ, QUE TORNA DEUS MARAVILHOSAMENTE PRÓXIMO DE NÓS, NUMA ÍNTIMA E ESTREITA RELAÇÃO EUCARÍSTICA COMIGO, CONTIGO, ENFIM, COM TODOS NÓS’.

VIVAMOS VERDADEIRAMENTE:

“A EUCARISTIA, QUE É MISTÉRIO DE AMOR, CELEBRAÇÃO DA E CENTRALIDADE DA NOSSA VIDA CRISTÔ.


A EUCARISTIA: DEUS CONNOSCO

EUCARISTIA

Não será aconselhável, neste momento, fazer uma paragem para um pequeno exame de consciência?

A Eucaristia ocupa o lugar central na minha oração?

- Sendo a Eucaristia Sacramento de Amor, procuro sair da celebração a amar, mais e melhor?

- Se a Eucaristia é sacramento de unidade, procuro manter-me unido aos outros antes e depois da celebração? O que é que na minha vida mais prejudica e fere a construção da unidade?

- Sou apóstolo da Eucaristia, levando os outros a amar este Sacramento e a vive-lO com mais intensidade?

- Preparo a Eucaristia com gestos de lava-pés, ou seja, com humildade e espírito de serviço aos irmãos?

Agora, vive um momento de recolhimento e silêncio, meditando e falando com o Senhor presente em teu coração.
________________

Para melhor vivermos a concretização deste Sacramento tão precioso, nunca podemos olvidar o espaço diário para a Oração, reza a Palavra, escuta, contemplação, onde somos levados ao testemunho dos FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO que vamos procurar desenvolver nesta partilha de amor.

No V.T., o livro “Levítico” (designado tb. “Formação de um povo santo”) chama-nos à santidade:

“Sede perfeitos, como o Pai do Céu é Perfeito”

Deus dá-nos os meios que necessitamos, apenas exigindo a nossa colaboração e entrega.

Para além dos dons e carismas, o Espírito Santo desenvolve em nós Seus frutos.

Vamos partilhar os frutos do Espírito Santo. Eles são perfeições que o Espírito Santo forma em nós para sermos imitadores de Cristo e evangelizadores, testemunhando-O.

Acreditemos, que NENHUM DE NÓS DÁ FRUTOS SEM A ACÇÃO DO ESPÍRITO SANTO.

É, só na medida da vivência do HOMEM NOVO, o Espírito  Santo desenvolve a manifestação dos Frutos do Espírito em seu coração, para que possa dar testemunho.

A Sagrada escritura apresenta-nos em (Gl 5, 22,23), quais são os Frutos do Espírito Santo.

Diz-nos que: "O fruto do Espírito é:
Amor, Alegria, Paz, Paciência, Bondade, Benevolência, Fé, Mansidão e Domínio de si"

O que Paulo enumera são:

- As condições em que nasce e desenvolve o AMOR:
 
"FÉ, MANSIDÃO E DOMÍNIO DE SI"

- os sinais da presença do AMOR:
 
"ALEGRIA E PAZ"

- e as manifestações activas do AMOR:
 
"PACIÊNCIA, BONDADE E BENEVOLÊNCIA"


‘Quem está unido a Jesus produz frutos’

Pelos frutos se conhece a árvore. Mas o fruto não é para ficar na árvore, mas para ser colhido e dar aos outros.

Quanto mais dermos, mais recebemos.

Constatamos que a Fé cristã não é uma teoria, mas é o fruto da presença do Amor de Deus nos nossos corações, que se torna um AGIR pelo testemunho, enraizado no amor concreto ao próximo.

O Senhor nos chama e nos envia. Escutemo-lO:

“EU VOS REVISTO DOS FRUTOS DO ESPÍRITO, PARA A MISSÃO COMO MINHAS TESTEMUNHAS, PARA QUE ACREDITEM NO VOSSO TESTEMUNHO E SE CONVERTAM”.

- Para ser testemunha de Jesus é necessário um encontro forte com ELE.

- Escutemo-lO. Ouçamo-lO pronunciar o nosso nome!

- E acreditemos que Ele nos abençoa! ÁMEN!

Recordando, ainda, a visita de Bento XVI à ‘Cartuxa de Serra S. Bruno’, no dia 6 de Outubro pp., em que nos disse:

“O silêncio é uma premissa essencial para acolher a escuta da Palavra.

Um silêncio, explica, que não equivale “ao vazio de nada”, mas à respiração do Espírito”, onde se acaba percebendo “o sopro leve” fs presença de Deus.

“Essa é a realidade mais real que existe, como disse o Papa, e que se encontra muito além da dimensão sensível”.

O Santo Padre acrescenta e conclui:

“SILÊNCIO E PALAVRA: SÃO CAMINHO DE EVANGELIZAÇÃO”.

Se a nossa vida cristã está renovada e em crescimento espiritual de Homem Novo, pela vida sacramental, pela oração, pela escuta da Palavra e, é alicerçada pelo Amor na Trindade Santíssima, dará Frutos espirituais.

Apaixonados e seduzidos pela presença de Jesus em nossos corações e enriquecidos pelos frutos do Espírito Santo, evangelizemos à luz da:

“Bíblia que os homens entendem”
 

‘A BÍBLIA QUE OS HOMENS ENTENDEM’:


Cristo não tem mãos:
Tem só as NOSSAS MÃOS
Para realizar hoje
O Seu trabalho.

CRISTO não tem pés:
Só tem os NOSSOS PÉS
Para guiar os homens
Pelo seu caminho.

CRISTO não tem lábios
Tem só os NOSSOS LÁBIOS
Para falar de si
Aos homens de hoje.

CRISTO não tem meios:
Tem só os NOSSOS MEIOS
Para conduzir a si
Os homens transviados.

Nós somos a única Bíblia
Que os homens ainda entendem.
Somos a única mensagem de Deus
Escrita em palavras e obras

(Texto do sec. XVI)


Sejamos luzes fortes, autênticas, verdadeiras e vivas no contacto e presença com os nossos irmãos, em qualquer lugar e circunstância, como templos activantes do Espírito Santo em nós.

Assim, com a força do Espírito Santo em nós, procuremos sempre:

“REPARTIR O PÃO”

- Aos que caminham, abatidos e em cujo céu as estrelas deixaram de brilhar,

REPARTE, SORRINDO, O PÃO DA ALEGRIA!

- Aos que cruzaram os braços e afirmam que tudo vai mal e nada mais há que fazer,

REPARTE, SORRINDO O PÃO DA ESPERANÇA!

- Aos que se fecham em si próprios e são incapazes de amar e deixar-se amar,

REPARTE, SORRINDO O PÃO DO AMOR!

- Aos que caminham sem o rumo e buscam no ruído evadir-se de si mesmos!

REPARTE, SORRINDO, O PÃO DO SILÊNCIO!

- Aos que fazem da vida apenas um prazer e nada mais esperam para além da morte,

REPARTE, SORRINDO, O PÃO DA VIDA!

- Aos que procuram e não encontram resposta para as suas mais profundas iniquidades,

REPARTE, SORRINDO, O PÃO DA PALAVRA!

- Aos que vivem em guerras e conflitos e buscam caminhos de reconciliação,

REPARTE, SORRINDO, O PÃO DA PAZ!

- Aos que sofrem as consequências da falsidade e da mentira e já não crêem em nada e em ninguém,

REPARTE, SORRINDO, O PÃO DA VERDADE!

- Aos que chegam a ti, oprimidos pelo peso de suas faltas e pecados,

REPARTE, SORRINDO, O PÃO DO PERDÃO!

- Aos que caiem e se erguem num esforço constante de superação de seus limites e de correspondência do AMOR,

REPARTE, SORRINDO, O PÃO DA GRAÇA!


A TODOS E SEMPRE,
REPARTE,
SORRINDO,
O PÃO DE QUE CARECEM!
- Ir. Terersinha A.



SÍNTESE FINAL


Tens feito um percurso no grupo de oração, uma caminhada!

E, agora, através desta partilha que fizemos juntos – viver a Sagrada Eucaristia e o desbrochar dos frutos do Espírito – (…).

Não te acomodes! Não te deixes adormecer!

Avança! Vai ao encontro do outro teu irmão, com o cognome…

Caminha!!

Recheia a tua mochila de AMOR, nas três vertentes dos frutos que Paulo enumera, alicerçado sempre na Palavra da Sagrada Escritura que é fogo ardente, na oração diálogo constante com o SENHOR, através do silêncio, escuta, contemplação, e na Santa Eucaristia – Comunhão.

MINHA DECISÃO

SENHOR, eu quero caminhar na Tua Santa Luz e Verdade, iluminado pelo Espírito santo, de modo que, juntos, serei sempre solidário na Fé.

SENHOR, Tu nos criaste pelo Teu Amor; eu só quero viver no Teu Amor. Obrigado SENHOR. Ámen!

SENHOR, obrigado pelos muitos talentos que me deste. Que eu nunca me sinta orgulhoso por aquilo que não é meu. Que não oculte os meus dons e carismas por falsa humildade. Que os faça frutificar em benefício dos que mais necessitam de uma mão amiga ou de uma palavra de alento que os conduza a Ti, que me amas e que os amas.

Louvor a Vós, SENHOR. Ámen.

“NÃO TEMAS”! “EU ESTOU CONTIGO"
"EU TE ACOMPANHO SEMPRE”
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Obs: - É aconselhável que, quando rezas a Sagrada escritura, atendas às notas de rodapé onde encontrarás alguma referência explícita que te ajudará na introdução ou compreensão do texto.

MO/JS