Este tempo de Quaresma é sempre o tempo ideal para caminharmos num deserto isento de ruídos, de imagens, de impressões, de certezas adquiridas, enfim, de tudo aquilo que muitas vezes nos mascara para nós próprios.
É por isso um tempo de entrarmos em nós, de nos conhecermos verdadeiramente, de percebermos realmente como somos e como reagimos, e, como em tudo isso que somos ou aparentamos ser, discernir se temos ou não Cristo em nós, ou melhor, se somos verdadeiramente discípulos de Cristo.
Para isso é preciso um exercício de profunda humildade, porque para reconhecermos as nossas poucas ou muitas virtudes é fácil e aceitamo-las de imediato, mas já para reconhecer as nossas fraquezas, os nossos defeitos, a dificuldade é enorme e por vezes temos dificuldade para os aceitar e os combater.
E, obviamente, é sempre difícil sermos verdadeiros connosco próprios, sobretudo no que diz respeito ao que não está bem, ao que não é bom, por isso, nessa viagem pelo deserto que devemos fazer de nós próprios, não poderemos ir sós, mas sim acompanhados, ou melhor, envolvidos e deixando-nos conduzir pelo Espírito Santo.
E o Espírito Santo, com todo o Seu infinito amor, convencer-nos-á do pecado em nós (Jo 16, 8), mas ao mesmo tempo levar-nos-á ao arrependimento, à confissão, ao propósito de emenda.
Porque só convencidos do pecado, só convencidos de que realmente somos pecadores, não como um exercício de, digamos, autoflagelação, mas como um exercício de verdade, podemos perceber como o pecado nos aprisiona e, ao mesmo tempo, como Deus nos quer libertar de todo o mal, e assim, levar-nos ao arrependimento, para no Seu amor encontrarmos o verdadeiro amor e a salvação.
«Arrependei-vos e acreditai no Evangelho» Mc 1, 15
Como podemos nós arrepender-nos se não nos reconhecemos pecadores?
E se não nos arrependemos, como podemos nós acreditar no Evangelho?
Acreditando no Evangelho, ou seja, fazendo do Evangelho a nossa prática de vida, («Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.» Lc 8, 21), seremos então discípulos de Cristo guiados pelo Espírito Santo no deserto que quisermos percorrer e, então, encontrar-nos-emos connosco próprios e conhecendo-nos, percebermos e vivermos Cristo em nós.
Senhor,
conhecendo-me verdadeiramente saberei como sou nada.
No entanto, na humildade de me reconhecer pecador, entrego-me a Ti, e em Ti posso ser tudo o que Te aprouver, mesmo sendo nada.
Amen.
Marinha Grande, 28 de Fevereiro de 2024
Joaquim Mexia Alves