O passarito tinha ficado preso no intervalo ajardinado em frente da janela do meu escritório nas termas. As paredes são altas e o passarito ainda novo não tinha forças para voar tão alto. Tentou vários voos, mas infelizmente não conseguiu altura suficiente para sair do “buraco” em que tinha caído. Lançava
chilreios desesperados e os seus pais já lhe tinham vindo fazer
companhia, mas não conseguiram tirá-lo da situação em que o pobre
passarito se tinha metido.
Decidi que tinha chegado o momento de
ir ajudar o pobrezito a sair daquela situação agarrando-o e colocando-o
na rua de onde pudesse voar para o ninho. Fui abrir a porta que
dava para o “buraco” ajardinado, mas o passarito num derradeiro esforço
conseguiu levantar e chegar à berma do alto da parede. Ouço agora os seus chilreios, mas já são de alegria, os dele e todos os outros que se lhe juntaram.
E
ao acabar de escrever tudo isto que agora se passou à minha frente,
apenas vem ao meu coração um versículo bíblico: «Mas tínhamos de fazer
uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu;
estava perdido e foi encontrado.» Lc 15, 32
Quantas vezes não estamos nós em situações em que nos deixámos cair e nos parece que delas não conseguimos sair? Vêm outros e tentam ajudar-nos, mas nós ainda não encontrámos forças para sairmos daquela situação. É
que há situações em que por culpa nossa caímos, mas que por muito que
nos que nos queiram ajudar e ajudem, o último esforço tem que ser nosso,
da nossa vontade, para conseguirmos vencer a situação.
E estamos sós nessa luta derradeira para vencer esse momento? Claro que não! Deus
está connosco e o amor do Pai e do Filho derramam o Espírito Santo em
nós, que nos dá forças e asas de confiança e esperança, para voarmos em
liberdade.
É muito bom e gratificante ver em tudo a mão de Deus!
Monte Real, 31 de Maio de 2022 Joaquim Mexia Alves
Vista do Palácio Apostólico durante o Regina Coeli
(Vatican Media)
"Jesus sobe ao Pai
para interceder em nosso favor, para apresentar-lhe a nossa humanidade.
Assim, diante dos olhos do Pai, há e haverá sempre, com a humanidade de
Jesus, as nossas vidas, as nossas esperanças, as nossas feridas (...).
Aprendamos isto: a oração de intercessão, interceder pelas esperanças e
sofrimentos do mundo, interceder pela paz. E abençoemos com o olhar e
com as palavras aqueles a quem encontramos todos os dias!"
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“Ao subir ao Céu, em vez de ficar perto de poucos com o seu corpo,
Jesus faz-se próximo de todos com o seu Espírito. O Espírito Santo torna
Jesus presente em nós, para além das barreiras do tempo e do espaço,
para nos tornar suas testemunhas no mundo.”
Ascensão do Senhor ao Céu e Pentecostes, dois acontecimentos
intimamente ligados cuja relação foi metodicamente explicada pelo Papa
na sua alocução que precedeu a oração do Regina Coeli neste domingo, 29 de maio.
Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça de S.
Pedro, Francisco começou por recordar que a Ascensão, isto é, o retorno de
Jesus ao Pai, após cumprida a sua missão terrena, é celebrada neste
domingo em vários países.
Mas, como entender este acontecimento, qual o seu significado?,
pergunta. Para responder – explicou – devemos concentrar-nos em duas
ações que Jesus realiza antes de subir ao Céu: anuncia o dom do Espírito
e depois abençoa os discípulos.
O anúncio do dom do Espírito: ao subir ao Céu, Jesus não abandona os seus discípulos
Ao dizer "eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu”, Jesus
“está a falar do Espírito Santo, do Consolador, daquele que vos
acompanhará, vos guiará, vos sustentará na missão, vos defenderá nas
batalhas espirituais”, explicou ainda Francisco:
Compreendemos então uma coisa importante: Jesus não está
a abandonar os seus discípulos. Ele sobe ao Céu, mas não nos deixa
sozinhos. Antes pelo contrário, precisamente ao subir ao Pai, assegura a
efusão do Espírito Santo, do seu Espírito.
E a subida ao Céu para que o Paráclito pudesse vir, tornando assim
Jesus presente e próximo, também é uma demonstração do seu amor por nós:
A sua presença não quer limitar a nossa liberdade. Pelo
contrário, abre espaço para nós, porque o verdadeiro amor sempre gera
uma proximidade que não sufoca, não é possessivo, é próximo mas não
possessivo. Antes pelo contrário, o verdadeiro amor torna-nos
protagonistas (...). Ao subir ao Céu, Jesus, em vez de ficar perto
de poucos com o seu corpo, faz-se próximo de todos com o seu Espírito. O
Espírito Santo torna Jesus presente em nós, para além das barreiras do
tempo e do espaço, para nos tornar suas testemunhas no mundo.
Jesus, o grande sacerdote da nossa vida
Ao erguer as mãos e abençoar os apóstolos – a segunda ação – Jesus realiza um gesto sacerdotal:
Ao dizer-nos que Jesus é o grande sacerdote da nossa
vida. Jesus sobe ao Pai para interceder em nosso favor, para
apresentar-lhe a nossa humanidade. Assim, diante dos olhos do Pai, há as nossas feridas. Assim, ao fazer o seu "êxodo" para o Céu,
Cristo "abre caminho", vai preparar-nos um lugar e, desde então,
intercede por nós, para que sejamos sempre acompanhados e abençoados
pelo Pai.
Aprender a interceder
O convite então do Papa nesta sua reflexão, é para pensarmos no dom
do Espírito que recebemos de Jesus para sermos testemunhas do Evangelho:
Perguntemo-nos se realmente o somos; e também se somos capazes de
amar os outros deixando-os livres e abrindo espaço para eles. E depois:
sabemos ser intercessores pelos outros, isto é, sabemos rezar por eles e
abençoar as uas vidas? Ou servimo-nos dos outros para o nossos próprios
interesses? Aprendamos isto: a oração de intercessão, interceder pelas
esperanças e sofrimentos do mundo, interceder pela paz. E abençoemos com
o olhar e com as palavras aqueles a quem encontramos todos os dias!
E antes de rezar o Regina Coeli, o Papa convidou a rezarmos a
Nossa Senhora, “a bem-aventurada entre as mulheres que, repleta do
Espírito Santo, reza sempre e intercede por nós.”
Em 31 de maio, unir as orações pela paz, pede o Papa
E o Papa voltou ao tema da paz também no final da recitação do Regina Coeli.
Dirigindo-se aos fiéis na Praça de S. Pedro e àqueles de todo o mundo,
convidou para a recitação do Rosário por ele conduzida, em conexão com
numerosos Santuários do mundo em territórios de guerra, no dia 31 de
maio, às 18h, horário italiano, na Basílica de Santa Maria Maior. Unindo
assim as preces para obter o "dom que o mundo espera".
Francisco também relança o Dia Mundial das Comunicações celebrado
neste domingo, cujo tema desta 56º edição é a escuta: "saber ouvir,
deixar que os outros falem tudo, sem interromper – acrescentou - e
crescer nessa capacidade".
Outra efeméride recordada pelo Santo Padre é a 21ª edição do Dia
Nacional dedicado à promoção da cultura do alívio. A pessoa doente - diz
ele - é sempre mais importante do que a doença e mesmo quando não é
possível curar, sempre se pode consolar e fazer com que as pessoas
sintam proximidade.
Um longo aplauso então, como de costume, o Papa pediu para o novo
beato, Padre Luigi Lenzini, sacerdote e mártir de Módena, morto in odium
fidei em 1945 pela fúria cega do comunismo anticlerical. Na manhã de
sábado a celebração na Catedral de Módena foi presidida pelo cardeal
Marcello Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
Num clima de ódio - disse - este sacerdote, mensageiro da verdade e da
justiça, pode ajudar-nos a testemunhar o Evangelho com franqueza.
O apelo de
Francisco após a catequese na audiência geral desta quarta-feira (25):
"O meu coração está abalado pelo massacre na escola primária do Texas. Rezo pelas crianças, pelos adultos mortos e pelas suas famílias. É hora de
dizer basta para o tráfico indiscriminado de armas! Devemo-nos comprometer para que tais tragédias nunca mais possam acontecer".
Vatican News
"É hora de dizer basta para o tráfico indiscriminado de armas.
Devemos-nos comprometer para que tais tragédias nunca mais possam
acontecer": são palavras do Papa nesta manhã de quarta-feira (25), após
sua catequese na Audiência Geral na Praça São Pedro.
Cardeal Cupich: lamentamos, mas devemos agir
A reação dos bispos estadunidenses foi imediata, em particular o
Cardeal Blase Cupich, Arcebispo de Chicago, condenou as leis sobre a
posse de armas: "Devemos chorar e aprofundarmo-nos na dor... mas depois
devemos estar prontos para agir". Já passaram dez anos desde o massacre
de Sandy Cook, também uma escola primária, na qual 20 das 26 vítimas
eram crianças. Recordando aquela e as muitas outras tragédias que
ocorreram nos Estados Unidos nos últimos anos, o prelado perguntou-se: o
que esperamos para os nossos filhos? Que, como regulamento da sua escola,
aprendem a comportarem-se no caso de um ataque armado? Que se sintam em
perigo simplesmente a fazer o que a sociedade diz ser um bem para eles:
ir à escola? Que chegam a questionarem-se se têm futuro?".
"Temos mais armas de fogo do que pessoas"
Dom Cupich, apoiado por todos os bispos dos Estados Unidos, pediu a
todos que imaginassem "ser um pai ou uma mãe com um filho naquela
escola", e depois: "imaginem ter que enterrá-los". Todo o país está
cheio de armas. "Temos mais armas de fogo do que pessoas", afirma ainda
Dom Cupich. Embora nem sempre tenha sido assim, "os tiroteios em massa tornaram-se uma realidade diária nos Estados Unidos de hoje". "O direito
de posse de armas nunca será mais importante do que o vida humana",
conclui Dom Cupich, acrescentando: "Os nossos filhos também têm direitos. E
os nossos agentes eleitos têm o dever moral de protegê-los”.
O Papa Francisco durante a Audiência Geral
(Vatican Media)
Na catequese da
Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco enfatizou que "com todo o
nosso progresso e com todo o nosso bem-estar, tornamo-nos realmente uma
"sociedade do cansaço". A ciência avança, é claro, e isto é um bem. Mas
a sabedoria da vida é algo completamente diferente, e parece estar
paralisada".
Vatican News
O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a
velhice na Audiência Geral, desta quarta-feira (25/05), realizada na
Praça de S. Pedro, que teve como tema "Eclesiastes: a noite incerta do
sentido e das coisas da vida".
O Livro de Coélet é "outra joia inserida na Bíblia". Surpreende o seu
famoso refrão: "Tudo é vaidade", tudo é "neblina", "fumaça", "vazio".
"É surpreendente encontrar estas expressões, que questionam o
significado da existência, dentro da Sagrada Escritura", frisou o Papa.
Há esperança para o amor e a fé
Segundo o Papa, diante de uma realidade que em certos momentos parece
"acabar no nada, o caminho da indiferença também pode-nos parecer o
único remédio para uma dolorosa desilusão", fazendo surgir em nós
perguntas como: "Será que os nossos esforços mudaram o mundo? Alguém talvez
é capaz de fazer valer a diferença entre o justo e o injusto? Parece
que tudo isto é inútil: porque fazer tanto esforço?"
É uma espécie de intuição negativa que pode surgir em qualquer
estação da vida, mas não há dúvida de que a velhice torna quase
inevitável o encontro com o desencanto. E assim a resistência da velhice
aos efeitos desmoralizantes deste desencanto é decisiva: se os idosos,
que já viram de tudo, conservam intacta a sua paixão pela justiça, então
há esperança para o amor, e também para a fé. E para o mundo
contemporâneo, a passagem por esta crise tornou-se crucial, uma crise
salutar, porque uma cultura que presume medir tudo e manipular tudo
também acaba a produzir uma desmoralização coletiva do sentido, do amor e
do bem.
Ilusão da verdade sem justiça
Segundo Francisco, "para a nossa cultura moderna, que gostaria de
entregar praticamente tudo ao conhecimento exato das coisas, o
aparecimento desta nova razão cínica - que soma conhecimento e
irresponsabilidade - é uma reação muito dura. De facto, o conhecimento
que nos isenta da moralidade parece ser, em princípio, uma fonte de
liberdade, de energia, mas logo se transforma numa paralisia da alma".
Com a sua ironia, o Eclesiastes "desmascara esta tentação fatal de uma
omnipotência do saber – um "delírio de omnisciência" - que gera uma
impotência da vontade. Os monges da mais antiga tradição cristã tinham
identificado com precisão esta doença da alma, que de repente descobre a
vaidade do conhecimento sem fé e sem moral, a ilusão da verdade sem
justiça. Eles chamavam-na de 'acídia'. Esta é uma das tentações de
todos, e também dos idosos, mas pertence a todos. Não se trata
simplesmente de preguiça. Não se trata simplesmente de depressão. Ao
contrário, é a rendição ao conhecimento do mundo sem mais paixão pela
justiça e pela ação consequente".
Somos uma sociedade do cansaço
Segundo o Papa, "o vazio de sentido e de forças aberto por este
saber, que rejeita toda responsabilidade ética e todo afeto pelo bem
real, não é inofensivo. Ele não apenas tira as forças da vontade para o
bem, mas abre a porta para a agressividade das forças do mal. São as
forças de uma razão enlouquecida, que se tornou cínica por um excesso de
ideologia".
Na verdade, com todo o nosso progresso e com todo o nosso
bem-estar, tornamo-nos realmente uma "sociedade do cansaço". Pensem um
pouco nisto: somos uma sociedade do cansaço. Devíamos produzir bem-estar
generalizado e toleramos um mercado cientificamente seletivo da saúde.
Devíamos colocar um limite intransponível à paz, e vemos surgir guerras
cada vez mais implacáveis contra pessoas indefesas. A ciência avança, é
claro, e isto é um bem. Mas a sabedoria da vida é algo completamente
diferente, e parece estar paralisada.
Bruxaria com uma certa cultura
De acordo com Francisco, esse tipo de razão "irresponsável tira o
sentido e energias também do conhecimento da verdade. Não é por acaso
que a nossa época seja a das fake news, superstições coletivas e
verdades pseudocientíficas. É curioso: nesta cultura do saber, de
conhecer todas as coisas, até mesmo da precisão do conhecimento,
difundiram-se muitas bruxarias, mas bruxarias cultas. É bruxaria com uma
certa cultura, mas que leva-te a uma vida de superstição: por um lado,
para ir adiante com inteligência no conhecimento das coisas até às
raízes; por outro lado, a alma que precisa de outra coisa e toma o
caminho das superstições e acaba nas bruxarias".
Segundo o Papa, "a velhice pode aprender da sabedoria irónica de
Coélet a arte de levar à luz o engano escondido no delírio de uma
verdade da mente desprovida de afetos pela justiça. Os idosos ricos em
sabedoria e humorismo fazem muito bem aos jovens! Eles salvam-nos da
tentação de um conhecimento do mundo triste e desprovido da sabedoria da
vida". "Coragem, todos nós idosos: coragem e adiante! Temos uma missão
muito grande no mundo. Mas, por favor, não procurem refúgio neste
idealismo um pouco não concreto, não real, sem raízes – digamos
claramente: nas bruxarias da vida", concluiu.
Olho a inevitabilidade da morte, sobretudo quando acontece nos mais
novos do que eu, e fico a pensar que, realmente, só permanecendo em
Cristo a morte tem sentido. Claro que este sentido da morte é
muito difícil, diria quase impossível de perceber aos que ficam por cá e
sentem e choram a ausência dos que partiram, mas se a mais nada nos
podemos “agarrar”, temos, no entanto, a certeza de que permanecendo em
Cristo como Ele vivemos para sempre. E isso mitiga a nossa dor, o nosso sofrimento? Talvez não, porque nos é quase impossível suportar a ausência dos que amamos. Mas
eles, os que partiram permanecendo em Cristo, gosto de os ver, de os
sentir como Jesus Cristo dizendo: «Se assim não fosse, como teria dito
Eu que vos vou preparar um lugar?» Jo 14, 2 Não podemos saber os
mistérios de Deus, mas sabemos pela fé que em tudo Ele quer apenas e só
o nosso bem, a nossa salvação, e que mesmo aquilo que nos é, por vezes,
quase insuportável de viver, acaba por se tornar num bem maior que
conheceremos um dia, se nEle permanecermos e nEle morrermos para viver
eternamente. O amor não morre, nunca morre o verdadeiro amor e,
por isso, quem vive no amor, não morre naqueles que o amam, porque o
amor verdadeiro é Deus e vem de Deus e quem permanece em Deus vive no
amor que se faz presente eternamente nos que estão em Deus e nos que
esperam para estar em Deus na plenitude do amor. «À ida vão a chorar … no regresso cantam de alegria» Sl 126 Monte Real, 24 de Maio de 2022 Joaquim Mexia Alves
No sétimo
aniversário da encíclica Laudato si, fazemos um balanço do que foi feito
até agora e de como as palavras proféticas de Francisco tenham
encaminhado processos fecundos, em todos os campos abordados pelo texto,
desafiando tanto os governantes como as crianças o ponto de
transformar a urgência num hábito: cuidar da Casa Comum, e de cada
criatura, mesmo a mais efémera
Cecilia Seppia – Vatican News
Se o Planeta Terra fosse uma pessoa, provavelmente hoje estaria
deitado em alguma cama de hospital com intravenosa de morfina no braço
para aliviar as muitas e atrozes dores que o afligem. Foi o próprio
homem, nas últimas quatro décadas em particular, que, como um bom
médico, tentou diagnosticar o paciente, submetendo-o a análises clínicas
especializadas, até formular um diagnóstico nefasto: poluição; mudança
climática; desaparecimento da biodiversidade; dívida ecológica entre o
Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios económicos; antropocentrismo;
domínio da tecnocracia e das finanças, com a prevalência de uma
generalizada "cultura do desperdício" que leva à exploração de crianças,
ao abandono dos idosos, à escravidão de outros, ao comércio de órgãos
ou de diamantes ensanguentados. Numa só palavra, "cancror" e, além
disso, "cancro na fase final", que talvez seja ainda mais assustador do
que as doenças descritas acima, mas que nos deixa indiferentes porque
não afetou alguém da nossa família ou algum velho amigo. Este mesmo
médico, tão escrupuloso na fase de diagnóstico, no entanto, esqueceu-se de
encontrar uma cura adequada. Ou onde ele a tinha encontrado, esqueceu-se de
administrá-la diariamente, com perseverança e amor. Há sete anos, em 24
de maio de 2015, com a encíclica Laudato si, o Papa Francisco relançou a
urgência de uma terapia direcionada contra os males da Terra, apelando
não aos doutores profissionais, mas a "todos os homens e mulheres de boa
vontade": 221 páginas, uma introdução, seis capítulos e duas
esplêndidas orações finais que imediatamente deixaram a sua marca não
apenas na Doutrina Social da Igreja, mas também nos processos políticos,
económicos e ecológicos das nossas sociedades globalizadas.
Palavras proféticas
Hoje, também à luz da dramática experiência da pandemia que nos
colocou de joelhos e da guerra que continua a semear o terror e a
destruição, temos provas, por um lado, das intuições "proféticas" do
texto de Francisco e, por outro, da sua força, tão simples quanto o
verso do Cântico das Criaturas do qual tira o seu nome e, ao mesmo tempo,
tão eficaz como cada palavra dirigida a Deus com fé. Os frutos da
encíclica do Papa Bergoglio, a segunda de seu pontificado, de facto
desencadearam processos fecundos, muitos dos quais ainda estão em
andamento, em todos os campos tocados pelo texto, desafiando os
governantes, assim como as crianças, que estão determinadas, sem
qualquer hesitação, a fazer a sua parte. O contexto cultural e
magisterial no qual as reflexões do Papa estão enraizadas é vasto e bem
documentado: desde Paulo VI, que se referiu ao problema ecológico,
apresentando-o como uma crise que é a "consequência dramática" da
atividade descontrolada do ser humano, a São João Paulo II, até Bento
XVI, que com preocupação convidou-nos a reconhecer que a Criação está
comprometida ali "onde somos as últimas instâncias, onde o todo é
simplesmente nosso património e o consumimos somente para nós mesmos".
No entanto, na maravilhosa obra das mãos de Deus, não há predador, não
há egoísmo, não há senhores e escravos, não há ambiente a ser explorado
segundo a vontade de cada um, mas um lugar, uma casa de facto, a ser partilhada em harmonia. Francisco diz: " A Bíblica ensina-nos que o
mundo não nasceu do caos nem do acaso, mas de uma decisão de Deus que o
chamou e sempre o faz, à existência, por amor. O universo é belo e bom, e
contemplá-lo permite-nos entrever a infinita beleza e bondade do seu
Autor. Cada criatura, mesmo a mais efémera, é o objeto da ternura do
Pai, que lhe atribui um lugar no mundo".
Tudo está conetado, mesmo as crises
O primeiro e precioso fruto da Laudato si' é precisamente a sua
capacidade de conecar aspetos que antes eram tratados setorialmente.
Não é por acaso que entre as expressões mais citadas estão "ecologia
integral", que constitui o seu verdadeiro coração, e "tudo está
conetado", que se tornou quase um slogan, e a anotação de que "não há
duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas sim uma única e
complexa crise sócio-ambiental": o Planeta está em mau estado, mas o
homem certamente não está melhor, obrigado pelas caristias, pela fome,
pelos deslizamentos, pelas inundações, pelas guerras, pela corrupção, ao
deixar a sua própria casa, sem saber se encontrará outra. Também neste ano
contamos no Vatican News, muitas histórias inspiradas na Laudato
si', de Roma às Ilhas Salomão, atravessando os Cinco Continentes com os
testemunhos daqueles que quiseram assumir a questão. A ação a favor do
meio ambiente atravessa culturas, povos, contextos geográficos e
crenças, também deve ser dito, que a Igreja tem sido uma enorme fonte de
ideias e projetos, graças aos quais as palavras do Pontífice não
ficaram no papel.
Os projetos
Em Gana, por exemplo, os bispos da Conferência Episcopal estão
a organizar a plantação de um milhão de árvores, uma ação concreta que
complementa e apoia o projeto governamental "Gana Verde" lançado em
junho de 2021. No Quénia, eles já tinham começado no ano passado, com o
plantio de sementes na floresta de Kakamega, a única floresta tropical
remanescente no país. O programa teve a participação de 500 pessoas de
diferentes confissões cristãs, que realizaram também iniciativas de
consciencialização para um uso mais respeitadores dos recursos da Terra.
"Plantar uma árvore", disse precisamente o Papa Franómenos como o desmatamento e a desertificação. Mas também
estimula-nos a continuar a ter confiança, a esperar e, sobretudo, a
comprometermo-nos concretamente para transformar todas as situações de
injustiça e de degradação de que hoje sofremos". Com isto em mente, os
jovens do Movimento Laudato si', de modo particular, também intervieram
na esfera urbana para enfrentar simbólica e concretamente um dos maiores
desafios que as cidades enfrentam: o da grande produção de lixo. E
assim, em colaboração com a ONG Nairobi Recyclers (Narec), eles criaram
um projeto de reciclagem que tem como objetivo limpar parte da capital.
Além de acolher lixo e proteger o meio ambiente da poluição, a equipe da
Nairobi Recyclers também selecionou 17 escolas e cinco casas religiosas
que acolhem crianças nas quais planejam plantar mais de mil árvores
frutíferas e de outras espécies. Mas a Igreja, além de projetos de
reflorestamento na África, implementou muitos noutros contextos, em
descarbonização, em eficiência energética, agricultura sustentável,
abastecimento de água potável, limpeza dos mares com a retirada do
plástico, da educação e consciencialização ambiental, sem nunca esquecer a
pessoa e a proteção da vida humana. A este respeito, não se pode deixar
de mencionar o trabalho do episcopado americano e da diocese de Chicago,
que sob a liderança do cardeal arcebispo da cidade, Dom Blase Joseph
Cupich, tem o mérito de ter instituído o primeiro ministério Laudato si'
do mundo, chamando à ação tantos católicos, jovens e não jovens, que
colocaram a sua profissão ou o seu 'carisma' ao cuidado da Casa Comum e na
defesa dos mais frágeis. Menção especial também para a diocese de
Burlington, que engajou os fiéis na consciencialização e ação para uma
maior justiça ecológica, iniciando projetos para combater a cultura do
descarte (fabricação de compostagem em hortas e jardins, uso exclusivo
de materiais reciclados começando com o papel, modelos circulares de
produção e consumo alimentares e muito mais), juntamente com o início do
monitorização dos imóveis diocesanos no que diz respeito ao
fornecimento de energia a ser convertida em formas renováveis ou de
baixo impacto ambiental. Também é grande o envolvimento das comunidades
locais, por parte da Igreja, para salvar a Amazónia, o pulmão verde do
mundo que corre o risco de ser destruído cada dia mais devido ao
desmatamento, da corrupção, da exploração intensiva do solo e do
desaparecimento da biodiversidade.
Os frutos de um apelo incansável
"Há uma ligação clara entre a proteção da natureza e a construção de
uma ordem social justa e equitativa. Não pode haver uma renovação da
nossa relação com a natureza sem uma renovação da própria humanidade",
disse o Papa na reunião com as autoridades quenianas durante a Viagem
Apostólica em novembro de 2015, que também tocou a Uganda e a África
Central, alguns meses após a publicação da própria encíclica. O apelo do
Pontífice, no entanto, é incansável: “Proteger a Terra para que ela não
responda com destruição", não devorar a Terra, mas restituir-lhe
dignidade, escutando o grito de sofrimento dos povos que continua a
pressionar os ouvidos de todos. Também neste ano, assistimos a um
animado florescimento das Comunidades Laudato si', que se originou de
uma ideia do bispo de Rieti, Dom Domenico Pompili e do fundador do Slow
Food Itália, Carlo Petrini, no silêncio da oração ou no barulho das
mobilizações, mas sempre com iniciativas concretas, relançaram o tema da
ecologia integral, apostando na conversão do coração, mas também da
ação que atravessa e irradia o texto de Francisco. Desde 2020, apesar da
pandemia, os círculos de Laudato si' aumentaram em quase 300 por cento.
A encíclica permeou o debate político e científico desde a Conferência
de Paris sobre o Clima em 2015 e a de Glasgow em 2021; garantiu que os
cuidados da Casa Comum fossem incluídos entre as obras de misericórdia e
iniciou a "Economia de Francisco". Sem esse documento, poderia ter sido
mais difícil realizar um Sínodo como o da Amazónia (cuja conexão com
Laudato si' é evidente desde o tema: "Novos caminhos para a Igreja e
para a Ecologia Integral") e para chegar à consequente exortação
apostólica, Querida Amazónia, com os seus quatro sonhos - social,
cultural, ecológico e eclesial - que são de facto um caminho de ecologia
integral capaz de desafiar a consciência do mundo inteiro, ao qual o
próprio Francisco referiu-se quando, na esteira do trabalho sinodal,
falou de um verdadeiro "pecado ecológico". O próprio Sínodo da Juventude
de 2018 e o "Documento sobre a Fraternidade Humana", assinado em 4 de
fevereiro de 2019 em Abu Dhabi pelo Papa e o Grão Imame de Al-Azhar,
al-Tayyib, seriam basicamente imputáveis entre os frutos deste texto,
inicialmente visto como uma encíclica verde, sendo mais tarde entendido
como uma verdadeira perspetiva inovadora, o motor de uma revolução
cultural, que atravessa a sociedade em cada fenda. Durante a JMJ no
Panamá, em janeiro de 2019, falou-se até mesmo de uma “Geração Laudato
si’". É um facto, porém, que o paradigma da ecologia integral se tenha
espalhado a nível internacional, graças também ao compromisso do
Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, assim como em Itália, onde entre outras coisas encontrou terreno particularmente
fértil, dada a sensibilidade às questões ambientais demonstrada pela
Conferência Episcopal Italiana e por cada uma das dioceses. Entretanto, o
documento de Francisco deu nova vida à reflexão de associações
comerciais como Coldiretti, Confcooperative e Confartigianato, ou a
forças sindicais como a Cisl. A nível eclesial, também foi unido a
iniciativas nacionais como as Semanas Sociais dos Católicos Italianos;
inspirou eventos de espiritualidade, sobretudo o "Tempo da Criação" que
acontece de 1° de setembro, o Dia Mundial de Oração pela Salvaguarda da
Criação, a 4 de outubro, a festa de S. Francisco. Possibilitou a
instituição da Semana Laudato si', este ano agendada de 22 a 29 de maio;
alimentou a música, a arte, a cultura e até mesmo o cinema. "Fazemos
parte de uma única família humana, chamados a viver numa casa comum da
qual, juntos, constatamos a preocupante degradação", foram as palavras
do Papa Francisco no texto entregue aos ambientalistas franceses, que
ele encontrou em 3 de setembro de 2020, mas, acrescentou, "É
gratificante saber que uma tomada de consciência sobre a urgência da
situação já é sentida um pouco em toda a parte, que o tema da ecologia
permeia cada vez mais os modos de pensar, a todos os níveis, e começa a
influenciar as opções políticas e económicas, embora ainda haja muito a
fazer”.
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ)
Lisboa 2023 apresentou hoje, 18 de maio – aniversário do nascimento de
São João Paulo II –, os 13 Santos e Santas Patronos do encontro mundial
de jovens que Portugal vai receber no próximo ano. Foram escolhidas
“mulheres, homens e jovens” que, segundo o Cardeal-Patriarca de Lisboa,
“demonstraram que a vida de Cristo preenche e salva a juventude de
sempre”. No prefácio do livro com a apresentação de cada um dos
Patronos, D. Manuel Clemente começa por acrescentar a “Padroeira por
excelência”, a Virgem Maria. “Ela que se levantou e foi apressadamente
para a montanha, ao encontro de sua prima Isabel, levando-lhe Jesus que
concebera. Assim ensina os jovens de todo o tempo e lugar a levaram
Jesus aos outros que O esperam, agora como então!”. Na
mesma publicação da Paulinas Editora e Paulus Editora, o prefeito do
Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Cardeal Kevin Farrell,
convida os jovens a não fazerem “sozinhos” a “viagem” até Lisboa. “Tais
Patronos não são ‘heróis do passado’ nem ‘celebridades’ distantes, mas
irmãos e irmãs na fé que querem partilhar com todos os jovens a sua
própria experiência de terem seguido a Cristo enquanto jovens e pelas
diversas aventuras que a vida lhes proporcionou”, escreveu o responsável
da Santa Sé.
Apresentação dos Patronos da JMJ Lisboa 2023, por D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa
Padroeira por excelência da próxima Jornada Mundial da Juventude é a Virgem Maria,
a jovem que aceitou ser mãe do Filho de Deus incarnado. Ela que se
levantou e foi apressadamente para a montanha, ao encontro de sua prima
Isabel, levando-lhe Jesus que concebera. Assim ensina os jovens de todo o
tempo e lugar a levaram Jesus aos outros que O esperam, agora como
então!
Patrono é também São João Paulo II, a quem se deve a iniciativa das Jornadas, que têm reunido e animado milhões de jovens dos cinco continentes.
Padroeiros e padroeiras são todos os santos e santas que se dedicaram ao serviço da juventude e em especial São João Bosco,
que São João Paulo II declarou “Pai e Mestre da Juventude”. Aos
formadores propôs o seu “sistema preventivo”, de permanente atualidade:
«Estai com os jovens, evitai o pecado pela razão, religião e
amabilidade. Tornai-vos santos, educadores de santos. Os nossos jovens
sintam que são amados».
Contamos também com a proteção de São Vicente,
diácono e mártir do século IV, que sendo padroeiro da diocese a todos
acolherá e reforçará com a sua caridade e testemunho evangélico.
Realizando-se
em Lisboa, a Jornada terá o apoio celestial de alguns santos lisboetas,
que daqui partiram para anunciar a Cristo. Como Santo António,
nascido por volta de 1190, que mais tarde seguiria, já franciscano,
rumo a Marrocos primeiro e logo de seguida para a Itália, o Sul de
França e de novo Itália, convertendo muita gente ao Evangelho que vivia e
pregava. Faleceu em Pádua em 1231 e um ano depois já tinha sido
canonizado, tanta era a certeza da sua santidade. O papa Leão XIII
chamou-lhe “o santo do mundo inteiro”.
Também de Lisboa foi, séculos depois, São Bartolomeu dos Mártires,
dominicano e arcebispo de Braga. Partiu para Trento, tomando parte na
última fase (1562-63) do Concílio que ali quis reformar a Igreja,
tornando os pastores mais próximos das ovelhas, como o Evangelho requer e
tanto insiste o Papa Francisco. São Bartolomeu, no Concílio e depois,
foi determinante neste sentido e ainda hoje nos motiva a todos.
Um século depois, outro jovem lisboeta, São João de Brito,
jesuíta, partiu para a Índia, para anunciar Cristo. Imparável no
anúncio e nas viagens difíceis, vestindo e falando de modo a chegar a
todos os grupos e classes, foi martirizado em Oriur, em 1693.
Acompanham-nos também alguns bem-aventurados (beatificados), lisboetas também. A primeira, Joana de Portugal,
filha do rei Afonso V, que podendo ter sido rainha em vários reinos da
Europa preferiu unir-se a Cristo e à paixão de Cristo, partindo para o
claustro aos dezanove anos. Faleceu em Aveiro, no convento das
dominicanas, em 1490. Chamamos-lhe Santa Joana Princesa e impele-nos a
escolhas radicais.
Em 1570, João Fernandes,
jovem jesuíta, foi martirizado ao largo das Canárias, quando se dirigia
para a missão do Brasil. Foi um dos quarenta mártires dessa altura,
chefiados pelo Beato Inácio de Azevedo. Tinham partido em resposta ao
seu apelo missionário e decerto contribuíram desse modo no Céu para a
missão que não conseguiram realizar na terra.
Mais tarde, Maria Clara do Menino Jesus,
jovem aristocrata nascida nos arredores da capital. Ficou órfã muito
cedo, mas decidiu ser “mãe” dos desamparados. Numa altura em que tal era
oficialmente proibido, conseguiu fundar uma congregação religiosa
dedicada a essa causa (Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada
Conceição). Até falecer, em 1899, ultrapassou todas as oposições,
repetindo: «Onde é preciso fazer o bem, que se faça!»
A estes
jovens lisboetas que “partiram” como a Mãe de Jesus, quer na geografia
do mundo quer na geografia da alma, para levarem Cristo a muitos outros,
juntam-se padroeiros de outras origens, mas do mesmo Reino. Como o
bem-aventurado Pedro Jorge Frassati, que até falecer em
Turim, em 1925, aos vinte e quatro anos, a todos tocou com o dinamismo,
a alegria e a caridade com que vivia o Evangelho, tanto escalando os
Alpes como servindo os pobres. São João Paulo II chamou-lhe “o Homem das
Oito Bem-Aventuranças”.
Com a mesma juventude e generosidade, contamos com o bem-aventurado Marcel Callo,
nascido em Rennes e falecido no campo de concentração de Mauthausen em
1945. Foi escuteiro e depois jocista (Juventude Operária Católica) e,
quando aos 22 anos foi chamado para o trabalho obrigatório na Alemanha,
para lá partiu, com a firme intenção de continuar o apostolado nessa
duríssima condição. Por isso o levaram depois para o campo de
concentração onde viria a morrer.
Contamos ainda com a proteção
de dois jovens bem-aventurados que também “partiram”, mesmo quando a
doença lhes imobilizou o corpo, mas não o coração. Como Cristo pregado
na cruz, que daí mesmo partiu para o Pai e nos salvou a todos com a vida
que entregou. Foi com Cristo abandonado na cruz que se quis identificar
a bem-aventurada Chiara Badano, jovem focolarina,
quando aos 16 anos a doença a surpreendeu. Faleceria dois anos depois,
em 1990, irradiando sempre uma alegria luminosa que confirmou o nome de
“Luce”, que Chiara Lubich lhe dera.
No ano seguinte, 1991, nasceu o bem-aventurado Carlo Acutis,
que veio a morrer de leucemia em Monza aos quinze anos. A sua curta
vida foi preenchida com grande devoção mariana e eucarística, que a
habilidade com o computador lhe permitiu difundir, mesmo durante a
doença. Assim mesmo fez do seu sofrimento uma oferta e partiu feliz.
No
tempo de cada um, os Patronos da JMJ Lisboa 2023 demonstraram que a
vida de Cristo preenche e salva a juventude de sempre. Com eles
contamos, com eles partimos!
"A paz de Jesus
vem do seu coração manso, habitado pela confiança e daqui flui a paz que
nos deixou: não se pode deixar a paz aos outros se não a temos em nós mesmos. Não se pode dar a paz se não estamos em paz". São palavras do
Papa Francisco na oração do Regina Caeli deste VI Domingo de Páscoa na
Praça São Pedro
Jane Nogara - Vatican News
Na oração do Regina Caeli deste domingo, 22 de maio, VI Domingo de
Páscoa, o Papa Francisco falou sobre a paz com as palavras de Jesus,
recordando as palavras ditas pelo mestre na Última Ceia. Embora Jesus
soubesse tudo o que aconteceria, estava sereno, e disse ao despedir-se
dos discípulos: “Deixo-vos a paz" e "Dou-vos a minha paz" (Jo 14,
27).
Morre-se como se viveu
Francisco refletiu sobre estas palavras destacando que Jesus “em vez
de mostrar agitação, permaneceu gentil até ao final. Um provérbio diz
que morre-se como se viveu. As últimas horas de Jesus são, de facto, como
a essência de toda a sua vida. Ele sente medo e dor, mas não dá espaço
para ressentimentos e protestos”. Explica que a paz de Jesus vem do seu
coração manso, habitado pela confiança e daqui flui a paz que Jesus nos
deixou, concluindo:
“Pois não se pode deixar a paz para os outros se não a temos em nós mesmos. Não se pode dar a paz se não estamos em paz”
A mansidão é possível
Francisco diz ainda que este gesto demonstra que a mansidão é
possível e que Ele a encarnou no momento mais difícil e quer que nos
comportemos assim.
“Isto é testemunhar Jesus e vale mais do que mil palavras e muitos
sermões. Perguntemo-nos se, nos lugares onde vivemos, nós discípulos de
Jesus comportamo-nos assim: aliviamos as tensões, extinguimos os
conflitos? Estamos também nós em atrito com alguém, sempre prontos para
reagir, para explodir, ou sabemos como responder com a não-violência,
com palavras e gestos mansos?”.
E o Papa pondera ainda “É claro que esta mansidão não é fácil: como é
difícil, a todos os níveis, acabar com os conflitos!”. Porém, segue
Francisco, neste ponto vem em nosso auxílio a segunda frase de Jesus:
‘Dou-vos a minha paz’. Ele sabe que sozinhos não somos capazes de
manter a paz, que precisamos de ajuda, um dom”.
Dom de Deus, ajuda para a paz
Explicando seguidamente que a paz, que é nosso compromisso, é, antes de tudo, um dom de Deus.
“De facto, Jesus diz: ‘Eu dou-vos a minha paz. Não como o mundo dá,
eu a dou’. Que paz é essa que o mundo não conhece e que o Senhor
nos dá? É o Espírito Santo, o mesmo Espírito de Jesus. É a presença de
Deus em nós, é a ‘força da paz’ de Deus”
Francisco acrescenta sobre este ponto:
“É Ele, o Espírito Santo, quem desarma o coração e o enche de
serenidade. É Ele, o Espírito Santo, quem derrete a rigidez e extingue
as tentações de agredir os outros. É Ele, o Espírito Santo, quem nos
lembra que ao nosso lado há irmãos e irmãs, não obstáculos e
adversários. É Ele, o Espírito Santo, quem nos dá a força para perdoar,
para recomeçar, porque com as nossas forças não podemos. E é com Ele,
com o Espírito Santo, que nos tornamos homens e mulheres de paz”.
Por fim recorda que nenhum fracasso, nenhum rancor deve desencorajar-nos de pedir com insistência o dom do Espírito Santo, porque
“quanto mais agitado está o nosso coração, quanto mais sentirmos dentro
de nós nervosismo, impaciência, raiva, mais devemos pedir ao Senhor o
Espírito de paz. Aprendamos a dizer todos os dias: 'Senhor, dá-me a tua
paz, dá-me o Espírito Santo'".