Caríssimos irmãos e amigos
Foi
precisamente há oito anos que o Papa Francisco me nomeou Patriarca de
Lisboa. Mantendo-me ainda algum tempo no Porto, posso dizer que nesse
mesmo dia “voltei” a Lisboa, onde já exercera o ministério episcopal por
sete anos, com o saudoso Cardeal Policarpo. Voltei enriquecido com a
experiência portuense, designadamente com o que lá fizéramos em
conjunto, em torno da “Missão 2010” e das “Jornadas Vicariais da Fé”
(2012-2013).
Evoco isto para
vos dizer que, logo que aqui voltei, comecei a delinear com os meus
colegas bispos e nos vários orgãos de corresponsabilidade pastoral, como
se foram retomando, o modo de acertarmos em horizontes comuns de
evangelização, em torno de datas marcantes e sugestivas, que se costumam
revelar mobilizadoras para os fiéis em geral.
Sabemos
que nunca se consegue interessar e envolver a todos e a cada um nestes
objetivos gerais. Seja como for, não devemos desistir deles, dado o
resultado que acabam por alcançar, reforçando a convivência eclesial,
insistindo em pontos concretos de evangelização e abrindo futuro.
Na altura não foi difícil definir objetivos. O Papa Francisco tinha-nos oferecido a exortação apostólica Evangelii Gaudium,
com o “sonho missionário de chegar a todos” e pedido que em cada
diocese se convocassem instâncias de corresponsabilidade para porem em
prática o que apresentava como “programa” do seu pontificado. Entre elas
incluía-se o sínodo diocesano.
Foi
assim que propus ao Conselho Presbiteral, em janeiro de 2014, a
realização duma assembleia sinodal, a coincidir também com o
tricentenário da qualificação patriarcal de Lisboa (1716 – 2016). A
proposta foi aprovada com unanimidade e entusiasmo e anunciada à Diocese
na Solenidade São Vicente de 24 de janeiro de 2014, suscitando muito
interesse, dentro e mesmo além do âmbito eclesial.
A partir daí e até novembro de 2016, o Secretariado do Sínodo, promoveu o estudo dos vários capítulos da Evangelii Gaudium por parte de grupos sinodais, organizados em paróquias, movimentos, institutos e iniciativas ad hoc,
ao longo de cinco trimestres. Foram centenas os grupos e muitos
milhares os que de algum modo participaram. Com as conclusões que
fizeram chegar ao Secretariado elaborou-se o documento que, depois de
debatido e aprovado na assembleia sinodal de novembro-dezembro de 2016,
resultou na Constituição Sinodal de Lisboa.
Nos
anos seguintes – ampliados em mais um por causa da pandemia que
interrompeu e adiou muitas ações programadas –, prosseguimos na
aplicação de alguns pontos fulcrais da Constituição Sinodal de Lisboa,
atinentes à Palavra de Deus, à Liturgia e à Caridade, além do
incremento da corresponsabilidade comunitária. Estamos agora em plena
avaliação desta caminhada conjunta, como a concluiremos na assembleia
sinodal de 18-19 de junho.
Desde já – e também como eco do recente Congresso da Pastoral Socio-caritativa – posso acrescentar ter-se
tornado ainda mais evidente que a pastoral que prosseguirmos em todos
os níveis – local, vicarial ou diocesano - tem de integrar sempre e cada
vez mais cada um daqueles pontos. Não há verdadeira iniciação
cristã que não provenha da Palavra anunciada e escutada, da Liturgia
autenticamente vivida e convivida e da Caridade praticamente atuada,
tudo em comunhão corresponsável e fraterna. Como São Paulo, tanto
acentua, trata-se de incorporação eclesial em Cristo, num único corpo
onde carismas e ministérios confluem e se projeta em missão permanente.
Seguem-se a partir de agora dois anos de objetivo ainda mais alargado e muito bem definido: a Jornada Mundial da Juventude, marcada pelo Papa Francisco para Lisboa no verão de 2023.
Já
se trabalha intensamente na sua realização, como amanhã escutaremos. O
interesse e o entusiasmo são crescentes, nas dioceses portuguesas e por
esse mundo além. O próprio facto de ser, como esperamos, “a Jornada
pós-pandemia”, faz dela uma ocasião por excelência de relançar o mundo
em caminhos novos de solidariedade, de justiça e de paz, tão urgentes
como coincidentes com as aspirações da juventude.
Nos
trabalhos de hoje, peço-vos a colaboração especial para concretizarmos
desde já este desiderato na preparação dos jovens que participarão na
Jornada. Quer no âmbito catequético, onde já estão em prática as
catequeses Say Yes e Rise Up; quer no âmbito
comunitário, pela maior participação e protagonismo dos jovens de
paróquias e movimentos; quer no âmbito socio-caritativo, que, além de
essencial, se demonstra muito propício à descoberta de Cristo vivo na
caridade exercitada. Os textos da exortação apostólica pós-sinodal Christus Vivit,
que vos foram entregues para o trabalho de grupos, são boa inspiração
nesse sentido. As vossas sugestões práticas serão muito úteis para a
preparação da JMJ Lisboa 2023!
Amigo e grato,
+ Manuel, Cardeal-Patriarca
Patriarcado de Lisboa
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