18 maio 2021

Comunicação ao Conselho Presbiteral

 

 

Caríssimos irmãos e amigos 

Foi precisamente há oito anos que o Papa Francisco me nomeou Patriarca de Lisboa. Mantendo-me ainda algum tempo no Porto, posso dizer que nesse mesmo dia “voltei” a Lisboa, onde já exercera o ministério episcopal por sete anos, com o saudoso Cardeal Policarpo. Voltei enriquecido com a experiência portuense, designadamente com o que lá fizéramos em conjunto, em torno da “Missão 2010” e das “Jornadas Vicariais da Fé” (2012-2013).
Evoco isto para vos dizer que, logo que aqui voltei, comecei a delinear com os meus colegas bispos e nos vários orgãos de corresponsabilidade pastoral, como se foram retomando, o modo de acertarmos em horizontes comuns de evangelização, em torno de datas marcantes e sugestivas, que se costumam revelar mobilizadoras para os fiéis em geral.
Sabemos que nunca se consegue interessar e envolver a todos e a cada um nestes objetivos gerais. Seja como for, não devemos desistir deles, dado o resultado que acabam por alcançar, reforçando a convivência eclesial, insistindo em pontos concretos de evangelização e abrindo futuro.
Na altura não foi difícil definir objetivos. O Papa Francisco tinha-nos oferecido a exortação apostólica Evangelii Gaudium, com o “sonho missionário de chegar a todos” e pedido que em cada diocese se convocassem instâncias de corresponsabilidade para porem em prática o que apresentava como “programa” do seu pontificado. Entre elas incluía-se o sínodo diocesano.
Foi assim que propus ao Conselho Presbiteral, em janeiro de 2014, a realização duma assembleia sinodal, a coincidir também com o tricentenário da qualificação patriarcal de Lisboa (1716 – 2016). A proposta foi aprovada com unanimidade e entusiasmo e anunciada à Diocese na Solenidade São Vicente de 24 de janeiro de 2014, suscitando muito interesse, dentro e mesmo além do âmbito eclesial. 
A partir daí e até novembro de 2016, o Secretariado do Sínodo, promoveu o estudo dos vários capítulos da Evangelii Gaudium por parte de grupos sinodais, organizados em paróquias, movimentos, institutos e iniciativas ad hoc, ao longo de cinco trimestres. Foram centenas os grupos e muitos milhares os que de algum modo participaram. Com as conclusões que fizeram chegar ao Secretariado elaborou-se o documento que, depois de debatido e aprovado na assembleia sinodal de novembro-dezembro de 2016, resultou na Constituição Sinodal de Lisboa.
Nos anos seguintes – ampliados em mais um por causa da pandemia que interrompeu e adiou muitas ações programadas –, prosseguimos na aplicação de alguns pontos fulcrais da Constituição Sinodal de Lisboa, atinentes à Palavra de Deus, à Liturgia e à Caridade, além do incremento da corresponsabilidade comunitária. Estamos agora em plena avaliação desta caminhada conjunta, como a concluiremos na assembleia sinodal de 18-19 de junho.
Desde já – e também como eco do recente Congresso da Pastoral Socio-caritativa – posso acrescentar ter-se tornado ainda mais evidente que a pastoral que prosseguirmos em todos os níveis – local, vicarial ou diocesano - tem de integrar sempre e cada vez mais cada um daqueles pontos. Não há verdadeira iniciação cristã que não provenha da Palavra anunciada e escutada, da Liturgia autenticamente vivida e convivida e da Caridade praticamente atuada, tudo em comunhão corresponsável e fraterna. Como São Paulo, tanto acentua, trata-se de incorporação eclesial em Cristo, num único corpo onde carismas e ministérios confluem e se projeta em missão permanente.

Seguem-se a partir de agora dois anos de objetivo ainda mais alargado e muito bem definido: a Jornada Mundial da Juventude, marcada pelo Papa Francisco para Lisboa no verão de 2023.
Já se trabalha intensamente na sua realização, como amanhã escutaremos. O interesse e o entusiasmo são crescentes, nas dioceses portuguesas e por esse mundo além. O próprio facto de ser, como esperamos, “a Jornada pós-pandemia”, faz dela uma ocasião por excelência de relançar o mundo em caminhos novos de solidariedade, de justiça e de paz, tão urgentes como coincidentes com as aspirações da juventude. 
Nos trabalhos de hoje, peço-vos a colaboração especial para concretizarmos desde já este desiderato na preparação dos jovens que participarão na Jornada. Quer no âmbito catequético, onde já estão em prática as catequeses Say Yes e Rise Up; quer no âmbito comunitário, pela maior participação e protagonismo dos jovens de paróquias e movimentos; quer no âmbito socio-caritativo, que, além de essencial, se demonstra muito propício à descoberta de Cristo vivo na caridade exercitada. Os textos da exortação apostólica pós-sinodal Christus Vivit, que vos foram entregues para o trabalho de grupos, são boa inspiração nesse sentido. As vossas sugestões práticas serão muito úteis para a preparação da JMJ Lisboa 2023!

Amigo e grato, 

+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Patriarcado de Lisboa

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