22 outubro 2023

Papa no Angelus: Somos do Senhor, não pertencemos a nenhum "César" de turno

 
 
"Não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum 'César' deste mundo. Somos do Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano", disse Francisco no Angelus dominical.
 

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

"Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus": este versículo do Evangelho deste 29o. Domingo do Tempo Comum inspirou a reflexão do Papa no Angelus dominical.

Diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, Francisco comentou o episódio extraído de São Mateus, que narra a cilada que alguns fariseus e herodianos armam contra Jesus. Vão até Ele e perguntam-lhe: "É lícito ou não pagar imposto a César?".

"É uma farsa", explica o Pontífice. Pois se Jesus legitimar o imposto, coloca-se da parte de um poder político pouco tolerado pelo povo, enquanto se disser para não pagá-lo, pode ser acusado de rebelião contra o império.  O Mestre, porém, foge desta trapaça. Pede que lhe mostrem uma moeda, que traz impressa a imagem de César, diz-lhes: "Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (v. 21).

Estas palavras de Jesus tornaram-se de uso comum, prossegue o Papa, mas às vezes foram utilizadas de modo erróneo para falar das relações entre Igreja e Estado. Jesus não quer separar “César” e “Deus”, ou seja, a realidade terrena e daquela espiritual.

"Às vezes, também nós pensamos assim: uma coisa é a fé com as suas práticas e outra coisa é a vida de todos os dias. Não. Esta é uma 'esquizofrenia', como se a fé não tivesse nada a ver com a vida concreta, com os desafios da sociedade, com a justiça social, com a política e assim por diante."

O homem e o mundo pertencem a Deus!

Na realidade, Jesus dá a César e a Deus a sua devida importância. A César – isto é, à política, às instituições civis, aos processos sociais e económicos – pertence o cuidado com a ordem terrena e os cidadãos contribuem promovendo o direito, a justiça e pagando honestamente os impostos. Mas a Deus pertence o homem, todo o homem e todo o ser humano.

“Isto significa que nós não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum 'César' de turno. Somos do Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano. Sobre a moeda, portanto, há a imagem do imperador, mas Jesus recorda-nos que na nossa vida está impressa a imagem de Deus, que nada e ninguém pode obscurecer. A César pertencem as coisas do mundo, mas o homem e o próprio mundo pertencem a Deus: não o esqueçamos!”

Francisco então dirige algumas perguntas aos fiéis: "Sobre a moeda deste mundo está a imagem de César, mas tu, que imagem levas dentro de ti? De quem é a imagem na tua vida? Nós lembramo-nos de pertencer ao Senhor ou deixamo-nos plasmar pelas lógicas do mundo e fazemos do trabalho, da política e do dinheiro os nossos ídolos a adorar?"

E concluiu fazendo votos de que a Virgem Santa nos ajude a reconhecer e honrar a nossa dignidade e a de cada ser humano.

VN

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