«Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor
tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra.» Lc 22,
44
Veio ao meu coração esta passagem do Evangelho de Lucas e
senti-a tão adequada ao que ontem foi dado a conhecer sobre os abusos na
Igreja em Portugal.
Esta angústia que então sentiste,
sentiste-a com certeza, Senhor, cada vez que uma criança foi abusada,
foi violentada, foi destruída pelo pecado de alguns padres da Tua
Igreja.
Não a posso sentir como a sentiste e sentes, Senhor, mas
sinto também uma angústia terrível, uma tristeza profunda, uma vergonha
enorme, pela dor causada àquelas crianças.
Como é possível, Senhor?
Que
maldade tão presente, que vicio tão entranhado, que desprezo pela
inocência, leva aqueles homens e tantos outros, a esta perversidade sem
nome.
«E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem
em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que
são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar.» Mc 9, 42
Levanto
os meus olhos para Ti, Senhor, e suplico-te por aquelas crianças,
algumas delas hoje homens e mulheres, para que encontrem no Teu amor o
amor que lhes foi negado e terrivelmente enganado naqueles momentos.
Acolhe-os
nos Teus braços, aperta-os junto ao Teu coração e faz-lhes sentir o Teu
amor, o verdadeiro amor que agora, provavelmente, lhes é tão difícil
perceber nas suas vidas marcadas por todo aquele horror.
E aos
que cometeram tão horrorosos pecados, tão terríveis crimes, Senhor, que
sintam sem medida as consequências dos seus actos, que recebam o justo
castigo das suas acções, (quer na Igreja, quer na sociedade civil), que
encontrem dentro de si o arrependimento verdadeiro para perceberem com
toda a magnitude o horror daquilo que praticaram.
E à Tua
Igreja, Senhor, (que somos todos nós baptizados que em Ti acreditamos e
Te seguimos), dá-lhe forças e ânimo para continuar a anunciar o Teu
amor, o Teu Reino, mas não deixando de, em todos os momentos, reconhecer
as terríveis feridas abertas por alguns dos seus filhos transviados.
Monte Real, 14 de Fevereiro de 2023
Joaquim Mexia Alves
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