Caros amigos
A primeira semana de maio deste ano é dedicada à oração pelas vocações. Vamos vivê-la com toda a convicção, pois estamos certos de que a iniciativa é divina, como em tudo o que respeita ao nosso bem e ao bem dos outros. Melhor dizendo, ao bem dos outros através de nós, que nisso mesmo encontraremos a felicidade. Uma frase de Jesus di-lo claramente: «A felicidade está mais em dar do que em receber» (At 20, 35).
Afinal é de felicidade que se trata, quando rezamos pelas vocações. Felicidade da Igreja que se alegra com elas, como a messe com a semente que a faz crescer e frutificar, tal como diz uma legenda na fachada do Seminário dos Olivais. Mas felicidade também de cada um de nós, que só se encontrará verdadeiramente a si quando coincidir de consciência e vontade com aquilo para que Deus o criou.
O mais importante na vida é isto mesmo: que cada homem ou mulher deste mundo descubra o que Deus quer de si e lhe corresponda inteiramente. Só assim se “realizará”, pois tornará real e efetivo o que doutro modo ficaria por fazer, contrariando o chamamento divino que está na origem da sua própria vida. Ficaria uma vida por cumprir inteiramente.
Quando São Paulo descobriu e aceitou a vocação apostólica, reconheceu-se assim: «… aprouve a Deus – que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça – revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios» (Gl 1, 15-16). E disse de todos nós: «É Deus quem segundo o seu desígnio, opera em vós o querer e o agir» (Fl 2, 13).
Frases como estas refletem o que o próprio Jesus dizia de si: «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou – Deus Pai – e consumar a sua obra» (Jo 4, 34). Na oração que nos ensinou, disse-nos tudo o que importa dizermos a Deus Pai, como nesta frase: «Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu». Esta terra começa por ser cada um de nós, onde a Palavra seja assimilada e dê muito fruto.
Tratando-se duma “semana de oração pelas vocações”, tem de ser sobretudo ocasião para fazermos coincidir o nosso pensamento e a nossa vontade com o pensamento e a vontade de Deus. Façamo-lo por nós e por todos, como o Pai Nosso também se reza no plural.
Já em Mês de Maria, respondamos como Ela ao mensageiro celeste: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Foi assim que por Ela Jesus chegou ao mundo e é assim que por nós continuará a chegar agora. A vocação própria de cada um – sacerdotal, diaconal, consagrada ou laical, todas missionárias a seu modo – traduzirá sempre a única vontade salvadora de Deus.
+ Manuel Clemente
Patriarcado de Lisboa