07 dezembro 2021

Francisco: cuidar dos marginalizados é um sinal de mudança real

 
  Papa Francisco com uma pessoa doente  (Vatican Media)  
 
Em entrevista à revista "50mila volti", editada pela Cooperativa OSA, Profissionais da Saúde Associados, o Papa encoraja o trabalho de todos pela ajuda que oferecem a muitas pessoas "para superar sua escuridão, para não se sentirem sozinhas"
 

Benedetta Capelli – Vatican News

A reflexão do Papa sobre algumas palavras-chave ligadas à saúde, velhice e doença: áreas nas quais a Cooperativa OSA, Profissionais da Saúde Associados, trabalha há pelo menos 35 anos, dedicando-se ao cuidado e tratamento de pacientes cujas vidas são frequentemente contadas na revista "50mila volti". O Papa Francisco concedeu uma entrevista à redação da revista na qual aponta a "ternura" como um dos termos para dar ainda mais valor ao cuidado. "O modo pelo qual Deus se fez presente na vida de cada homem, sobretudo através de Jesus".

A ternura indica proximidade não apenas através da competência, mas acima de tudo através da participação na vida concreta das pessoas. É uma proximidade entendida como partilha, cuidado e amor. Espero que a grande provação que vivemos na pandemia nos tenha feito sonhar com uma nova proximidade entre todos. Uma nova ternura.

Encontro entre fragilidades

Depois o Papa falou sobre as crianças e os idosos, "principais cidadãos das periferias existenciais" de uma sociedade que se concentra na produtividade. "as suas vidas", afirmou, "são percebidas como inúteis. Creio, ao contrário disto, que o encontro geracional entre crianças e idosos deva ser preenchido por uma cultura que saiba unir e integrar este tipo de fragilidade". Trata-se, explica Francisco, de "uma questão humana".

Somente quando voltarmos a preocuparmo-nos acima de tudo com os que estão em situação de marginalidade, daremos sinais de mudança real. Quando trabalharmos para que não haja mais conflito geracional, e encontrarmos a coragem de reunir os jovens e os adultos, as crianças e os idosos, só então experimentaremos uma nova qualidade de vida na sociedade.

A Cooperativa Osa auxilia as pessoas no domicílio, na intimidade da sua própria casa, uma dimensão de afetuoso cuidado. Para o Papa, o lar "não é simplesmente um lugar, é acima de tudo um relacionamento" que traz novas forças para enfrentar as provações. “Isto não significa", explica Francisco, "que as estruturas de saúde sejam inúteis, mas devem tornar-se o último recurso na experiência de doença e sofrimento". O Papa elogiou o trabalho realizado "porque torna possível a experiência da dor e da doença num ambiente certamente mais acolhedor, mais humano com maior capacidade de humanizar até mesmo uma parte da vida que, precisamente por ser difícil, faz-nos sentir mais sozinhos, mais incompreendidos e mais vulneráveis".

Recordando a sua recente experiência hospitalar, Francisco sugere algumas regras simples para os profissionais da saúde mas que, na essência, dizem respeito aos que vivem o seu serviço e o seu trabalho de uma forma humana. "Olhem nos olhos das pessoas, considere-as no seu sofrimento sem jamais banalizá-las", e também a escuta para que "essas pessoas possam confiar a alguém o sofrimento que estão a passar, as dificuldades que elas têm". Por fim, o cuidado ao oferecer ajuda, apoio e serviços profissionais "deve ser traduzido de uma forma que nunca seja violenta, previsível ou mecânica".

Todos nós precisamos de um Cireneu

A última pergunta feita ao Papa diz respeito à dor e à morte. Francisco salienta que mesmo sem falar de Cristo, não podemos passar sem Ele e a sua experiência. Lembra que muitas vezes "os discursos, em vez de serem de ajuda ou consolo, causam ainda mais sofrimento", é necessário "não fugir, ficar perto" nos momentos de provação, "diante do escândalo da dor inocente, do escândalo da dor de uma criança". Devemos então evitar a tentação de nos isolarmos porque "quanto mais sofremos, mais sentimos que também precisamos de um Cireneu que nos ajude a carregar a nossa Cruz".

Deus encontra sempre uma forma de estar presente nas nossas vidas, mesmo quando sentimos que Ele está longe ou nos sentimos abandonados. Esta é a nossa força. E mesmo que não o saibamos, a Páscoa já está em ação nessa escuridão. Somente com o tempo é que percebemos que há uma luz escondida mesmo na escuridão mais profunda. Enquanto esperamos para perceber isto, só podemos continuar a ajudar-nos uns aos outros.  

"Obrigado pelo que vocês fazem, vocês ajudam muitas pessoas a superar as suas escuridões, a não se sentirem sozinhas, a não desanimarem e a serem capazes de viver e passar por aquilo que nunca puderam viver ou enfrentar sozinhas", concluiu o Papa.

VN

Sem comentários:

Enviar um comentário