Não podemos falar do testemunho cristão sem falar do
Espírito Santo.
Podemos nós dar testemunho de Cristo sem ser o Espírito
Santo a dá-lo em nós, ou melhor servindo-se de nós para o dar?
Só depois do Pentecostes, os Apóstolos tiveram a coragem e
também as palavras, (Pedro era um homem tão simples onde foi ele arranjar as
palavras?) para darem testemunho de Cristo, para anunciarem Cristo, para
proclamarem com palavras, gestos e a própria vida o Evangelho, a Boa Nova de
Jesus Cristo.
E aqueles que se lhes seguiram fizeram-no também, porque o
Espírito Santo foi derramado neles pela imposição das mãos.
É Jesus quem nos diz muito claramente que temos de ser
testemunhas da Boa Nova.
Dos Actos dos Apóstolos
«Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que
descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia
e Samaria e até aos confins do mundo.» Act 1, 8
Portanto, o testemunho dos cristãos é imperativo, é
decisivo, para que o Evangelho chegue a todo o lado.
Lembremo-nos da narrativa da Samaritana no Evangelho de São
João.
«Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram nele devido
às palavras da mulher, que testemunhava» Jo 4, 39
Pelo testemunho daquela mulher muitos foram à procura de
Jesus Cristo para O ouvirem e serem tocados por Ele.
Depois … depois o “resto” é com Ele.
«Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios
ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo.» Jo 4, 42
Escreve o Frei Raniero Cantalamessa, hoje, Cardeal, no seu
livro “Vem, Espírito Criador”:
«Em certo sentido, o Espírito Santo tem necessidade de nós
para ser Paráclito. Ele quer consolar, defender, exortar; mas não tem boca,
mãos, olhos, para dar corpo à sua consolação.
Ou melhor, tem as nossas mãos, os nossos olhos, a nossa
boca.»
Há muitos anos atrás, talvez 1998 ou 1999, numa Assembleia
da Pneumavita em Fátima, ao princípio da tarde o Pe Lapa pediu-me que fosse ter
com ele ao palco.
Fui, obviamente, e fui surpreendido quando ele me disse que
queria que eu desse testemunho da minha vida, da minha conversão, logo a
seguir.
Olhei, vi aquele mar de gente e fiquei em pânico.
Eu tinha começado a minha caminhada há tão pouco tempo!
Recorri ao Pe António Fernandes que me levou para trás do
palco e rezou por mim.
Depois abriu a Bíblia e leu-me esta Palavra:
«Por isso recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se
encontra em ti, pela imposição das minhas mãos, pois Deus não nos concedeu um
espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso. Portanto, não te
envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas
compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho, apoiado na força de Deus.» 2 Tm 1,
6-8
Aquela Palavra deu-me um ânimo, uma força que eu não
conhecia em mim que, ainda para mais, eu não gostava de falar em público.
Ainda hoje em dia, de quando em vez, há pessoas que vêm ter
comigo e me lembram esse testemunho.
As coisas que o Espírito Santo faz!!!
Dar testemunho é entregar a vida a Cristo pelo outro, ou
seja, é sair de nós próprios, dos nossos medos, das nossas vergonhas e
deixando-nos conduzir pelo Espírito Santo anunciarmos com as nossas vidas a Boa
Nova de Jesus Cristo.
Já não nos interessa se somos “mal vistos”, se não estamos a
viver segundo o que o mundo quer, e já não nos importamos com as eventuais
consequências que nos podem acontecer, porque não podemos calar Cristo que vive
em nós, porque não podemos calar o amor do Pai que sentimos em nós, porque não
podemos aprisionar o Espírito Santo em nós.
E o nosso testemunhar não tem só a ver com o que dizemos,
com as palavras que proferimos, arrisco até a dizer que, mais importante do que
as palavras, são as nossas atitudes, os nossos gestos, a nossa simpatia, a
nossa ajuda aos que de nós necessitam, quer material, quer espiritualmente, e,
também, muito especialmente, a alegria com que vivemos e testemunhamos.
Claro que não é a alegria da gargalhada fácil, mas alegria
que nos vem de termos Jesus Cristo no coração e assim vivermos a paz e o amor
que o Espírito Santo derrama em nós.
Mas São Paulo na Carta a Timóteo que acima referi, fala-nos
de termos um espírito que Deus nos concede «de fortaleza, de amor e de bom
senso.»
Um espírito de bom senso!
Realmente o nosso testemunho tem que ser percorrido pelo bom
senso, o que significa, por exemplo, o não nos impormos, o não deixarmos falar
os outros, o não ouvirmos os outros, o não lhes respondermos com um simples e
duro “estás errado”, mas sim procurar ajudar o outro a encontrar o caminho que
nós já vamos percorrendo.
Há tempos atrás, numa reunião dos Cursos Alpha a nível
nacional, ouvi um sacerdote de Braga dizer uma verdade de que muitas vezes não
nos lembramos.
Quando estamos a conversar ou a ouvir outros que querem
desabafar, pedir conselho, já temos muitas vezes as nossas respostas, da nossa
pretensa sabedoria, na “ponta da língua” para responder ao outro, e, por isso,
nem sequer quase o deixamos falar, não ouvindo tudo o que nos quer dizer.
Isto é tão verdade!
Há uns anos atrás ouvi uma senhora que queria falar comigo,
pedir conselho.
Sentámo-nos e a senhora começou a falar, e não se calava, e
eu cheio de vontade de a presentear com algumas “pérolas da minha pretensa
sabedoria”.
Ao fim de algum tempo calou-se, olhou para mim, deu-me um
abraço e disse-me: eu só queria que ouvissem!
Eu não tinha dito nada!
Numa reunião do RCC de Lisboa ouvi o Pe Victor Gonçalves
dizer a seguinte frase que ele tinha lido algures:
«Não fales muito de Deus se não to pedirem, mas vive de tal
maneira que to peçam.»
Realmente o testemunho não deve ser forçado, não deve ser,
desculpem que o diga assim, como uma arma de arremesso, ou até
"chato", mas sim algo que surge das circunstâncias, da oportunidade,
do tal bom senso de que fala São Paulo.
O Pe Lapa, nos primeiros tempos do meu regresso a Deus e à
Igreja, e, perante a minha ansiedade e activismo, chamou-me a atenção e
disse-me fortemente para eu me acalmar e deixar que o Espírito Santo me
conduzisse e não eu a querer conduzir o Espírito Santo.
Quantas vezes o fazemos nós, ou seja, quantas vezes não
somos nós que queremos ter a condução do que fazemos e dizemos, quando afinal
nós sem Ele nada somos.
Lembremo-nos do que referi no início destas palavras:
Nós estamos aqui porque os Apóstolos, cheios do Espírito
Santo derramado em Pentecostes, deram testemunho das suas vidas tocadas por
Jesus Cristo, pelo amor do Pai.
Nós somos agora, ou devemos ser, esses apóstolos deste
tempo, ou seja, devemos dar testemunho de Jesus Cristo, envoltos no amor do Pai
e sempre, mas sempre, guiados pelo Espírito Santo.
Não nos esqueçamos que um bom testemunho é sempre
evangelizador.
Jesus Cristo diz hoje a cada um de nós:
«Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá
sobre vós, e sereis minhas testemunhas em todo o Portugal, na Europa, e até aos
confins do mundo.» cf Act 1, 8
Marinha Grande, 11 de Junho de 2024
Joaquim Mexia Alves
NOTA: Texto/notas que preparei para falar de “ser
testemunha”, no Grupo de Oração Pneumavita em Lisboa no passado dia 11.