Vivemos na nossa Diocese de Leiria-Fátima um tempo em que nos confrontamos com a falta de sacerdotes, o que forçosamente leva a pensar na reorganização pastoral das paróquias, vigararias e da própria diocese.
Esta situação não é exclusiva da nossa diocese, e, com certeza, verifica-se também noutras dioceses de Portugal e do mundo, muito provavelmente.
Poderíamos e deveríamos tentar perceber a razão porque as vocações sacerdotais diminuíram tanto na Igreja Católica, sobretudo ao nível do clero secular/clero diocesano.
Obviamente que não tenho competência, nem saber, para querer “dar conselhos”, ou encontrar soluções para a situação, mas posso, reflectindo para mim próprio, analisar, salvo seja, o caminho que se percorre, embora não seja conhecedor de todas as opções e discussões que sobre o tema têm havido.
Mas há algo que me chama a atenção.
As reuniões e encontros sucedem-se, as análises são partilhadas, cada um, (e ainda bem que assim é), dá a sua opinião livremente, mas não parece, a mim apenas, com certeza, haver uma coesão de pensamento, ou melhor, uma identidade do que é a Igreja, e como Ela se edifica através daqueles que são Igreja, movidos pelo Espírito Santo.
É que, se tivermos em atenção o tempo que cada reunião ou encontro duram, em comparação com a oração feita para que esses encontros e reuniões tenham a mão de Deus, a diferença parece-me abissal.
Obviamente que as reuniões e encontros não têm de ter o mesmo tempo de oração como têm de debate, (ou deveriam ter?), mas fora desse tempo de reunião deveriam acontecer momentos vários de oração de toda a diocese por essa intenção, para já não falar da oração particular de cada um diariamente e antes de cada reunião.
Refere-se muito hoje o desejo de regresso à vida das “primeiras comunidades” do cristianismo, mas o que sobressai dessas “primeiras comunidades” é o que vem descrito nos Actos dos Apóstolos e não só: «Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações.» Act 2, 42
E era precisamente esta “prática” constante que levava os Apóstolos com aqueles primeiros cristãos a discernirem o caminho da Igreja nascente, segundo a vontade de Deus.
Por isso lemos nos mesmos Actos dos Apóstolos versículos como este: «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis» Act 15, 28
«O Espírito Santo e nós próprios», porque em primeiro lugar é preciso escutar o Espírito Santo, o que se faz primeiramente pela oração, pelo silêncio, pela entrega, pela humildade, pela escuta de Deus e, com certeza, também dos outros.
Mas todos aqueles que são chamados a debater este tema da reorganização da diocese, sacerdotes e leigos, não devem colocar em primeiro lugar os seus planos, muito bem pensados, provavelmente, sem primeiro os colocar nas mãos de Deus, para poderem discernir o que é a vontade de Deus e o que são apenas os planos humanos, que podem estar cheios de saber e de certezas, mas que se não forem do agrado de Deus, de nada servirão e soçobrarão irremediavelmente mais cedo ou mais tarde.
Devemos, com certeza, servirmo-nos das experiências do passado, analisando o que foi bom e o que não resultou tão bem.
Devemos também abrir-nos à novidade, pois o Espírito Santo suscita sempre coisas novas àqueles que a Ele se entregam.
Mas devemos, sem dúvida, entregar-nos à oração contínua, individualmente e colectivamente, pois só com a graça do Espírito Santo encontraremos o caminho que Deus quer para a Sua Igreja no seu todo, e na porção que é a nossa diocese.
A oração deve ser a fonte onde se encontram os planos para a Igreja, deve ser o suporte desses mesmos planos, e não os planos dos homens serem a fonte da oração, ou sequer o suporte da oração.
E ainda mais do que isso, ou melhor, completando isso, devemos ter sempre presente que a cabeça da Igreja é Cristo e que a missão da Igreja é levar Cristo à humanidade e a humanidade a Cristo, e que nós apenas semeamos, porque Ele é que é o verdadeiro Agricultor.
Unamo-nos em oração, nas nossas orações particulares do dia a dia, colocando essa intenção sempre, e unamo-nos em assembleia de fiéis, em Igreja, rezando sempre por essa intenção em cada Eucaristia, em cada Adoração, em cada momento de oração comunitária.
Assim, sem dúvida, chegaremos a um momento em que também poderemos dizer em Igreja: «O Espírito Santo e nós …».
Marinha Grande, 28 de Maio de 2024
Joaquim Mexia Alves
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