31 março 2024

Papa na Urbi et Orbi: a paz nunca é construída com armas, mas estendendo as nossas mãos

 

 
"Jesus de Nazaré, o crucificado, ressuscitou!" Com estas palavras o Papa Francisco abriu a sua mensagem e concedeu aos fiéis a Bênção Urbi et Orbi da sacada central da Basílica de São Pedro, neste Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor. Recordou os povos martirizados por conflitos e violência e pediu a paz para o mundo.
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Queridos irmãos e irmãs, Feliz Páscoa! Hoje ressoa em todo o mundo o anúncio que partiu de Jerusalém há dois mil anos: "Jesus de Nazaré, o crucificado, ressuscitou!"

Assim, o Papa Francisco saudou os milhares de fiéis presentes, na Praça de São Pedro, tapeçada de flores e plantas coloridas, e também todas as pessoas no mundo, através dos meios de comunicação, que acompanharam a missa neste Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor (31/03), ouviram sua mensagem pascal e receberam a Benção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo inteiro).

 

Remover as pedras que fecham as esperanças

“A Igreja revive o espanto das mulheres que foram ao sepulcro na madrugada do primeiro dia da semana. O túmulo de Jesus tinha sido fechado com uma grande pedra; e assim, ainda hoje, pedras pesadas, demasiadamente pesadas, fecham as esperanças da humanidade: a pedra da guerra, a pedra das crises humanitárias, a pedra das violações dos direitos humanos, a pedra do tráfico de pessoas e outras.”

"O túmulo de Jesus está aberto e vazio! É aqui que tudo começa. Através desse túmulo vazio passa o novo caminho, o caminho que nenhum de nós, mas somente Deus, poderia abrir: o caminho da vida como meio para à morte, o caminho da paz como meio para a guerra, o caminho da reconciliação como meio para o ódio, o caminho da fraternidade como meio para a inimizade", disse o Papa na sua mensagem.

Irmãos e irmãs, Jesus Cristo ressuscitou, e somente Ele é capaz de remover as pedras que fecham o caminho para a vida. De facto, Ele mesmo, o Vivente, é o Caminho: o Caminho da vida, da paz, da reconciliação, da fraternidade. Ele abre-nos a passagem, algo humanamente impossível, porque somente Ele tira o pecado do mundo e perdoa os nossos pecados. E sem o perdão de Deus, essa pedra não pode ser removida.

"Sem o perdão dos pecados", disse ainda Francisco, "não se consegue sair dos fechamentos, dos preconceitos, das suspeitas mútuas e das presunções, que levam sempre a absolver a ti mesmo e a acusar os outros. Somente o Cristo Ressuscitado, ao dar-nos o perdão dos pecados, abre o caminho para um mundo renovado".

Paz para as populações atormentadas pela guerra

"Somente ele nos abre as portas da vida, aquelas portas que fechamos continuamente com as guerras que se alastram pelo mundo", disse o Papa, convidanda-nos a voltar o "nosso olhar, em primeiro lugar, para a Cidade Santa de Jerusalém, testemunha do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus, e para todas as comunidades cristãs da Terra Santa".

O meu pensamento  dirige-se, sobretudo, às vítimas dos muitos conflitos em andamento no mundo, começando pelos que ocorrem em Israel, na Palestina e na Ucrânia. Que o Cristo Ressuscitado abra um caminho de paz para as populações atormentadas dessas regiões. Ao mesmo tempo que convido a que sejam respeitados os princípios do direito internacional, espero que haja uma troca geral de todos os prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia: todos por todos!

“Além disto, faço novamente um apelo para que seja garantido o acesso da ajuda humanitária a Gaza e insisto, uma vez mais, na pronta libertação dos reféns sequestrados em 7 de outubro e em um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.”

Diálogo entre os povos

"Não permitamos que as hostilidades em andamento continuem a afetar seriamente a população civil, já exausta, especialmente as crianças. Não permitamos que ventos de guerra cada vez mais fortes soprem sobre a Europa e o Mediterrâneo. Não nos rendamos à lógica das armas e do rearmamento. A paz nunca é construída com armas, mas estendendo as nossas mãos e abrindo os nossos corações", sublinhou o Pontífice.

A seguir, o Papa convidou a não nos esquecermos da "Síria, que vem sofrendo as consequências de uma guerra longa e devastadora há quatorze anos. Tantos mortos, pessoas desaparecidas, tanta pobreza e destruição estão à espera de respostas de todos, inclusive da Comunidade internacional".

Voltou o seu olhar para "o Líbano, que há muito tempo vem sendo afetado por um bloqueio institucional e por uma profunda crise económica e social, agora agravada pelas hostilidades na fronteira com Israel", "para a região dos Balcãs Ocidentais, onde estão a ser dados passos significativos para a integração no projeto europeu", encorajou" ao diálogo entre a Arménia e o Azerbaijão, para que, com o apoio da Comunidade internacional, se possa continuar o diálogo, ajudar os deslocados, respeitar os locais de culto das diferentes denominações religiosas e chegar a um acordo de paz definitivo o mais rápido possível".

Haiti e Continente africano

Francisco espera que "o Cristo Ressuscitado abra um caminho de esperança às pessoas que,  noutras partes do mundo, sofrem com a violência, os conflitos, a insegurança alimentar e os efeitos das mudanças climáticas". Que Ele "conceda conforto às vítimas de todas as formas de terrorismo". O Pontífice convidou "a rezar pelos que perderam as suas vidas" e implorou "arrependimento e conversão para os autores de tais crimes". O Papa pediu ao Senhor Ressuscitado para que "ajude o povo haitiano, a fim de que a violência, que derrama sangue e dilacera o País, possa cessar o mais rápido possível e que se possa progredir no caminho da democracia e da fraternidade", "dê conforto aos Rohingyas, afligidos por uma grave crise humanitária, e abra o caminho da reconciliação em Mianmar, dilacerado por anos de conflito interno, a fim de que toda lógica de violência seja definitivamente abandonada".

“Que Ele abra caminhos de paz no continente africano, especialmente para as populações provadas no Sudão e em toda a região do Sahel, no Chifre da África, na região de Kivu, na República Democrática do Congo, e na província de Cabo Delgado, em Moçambique, e ponha fim à prolongada situação de seca que afeta vastas áreas e causa fome e carestia.”

Na sua mensagem Urbi et Orbi, o Papa recordou também "os migrantes e aqueles que estão a passar por dificuldades económicas". Pediu ao Senhor para que "guie todas as pessoas de boa vontade a unirem-se em solidariedade, para enfrentarem juntas os muitos desafios que as famílias mais pobres enfrentam na sua busca por uma vida melhor e pela felicidade".

Que a luz da ressurreição converta os nossos corações

Neste dia em que celebramos a vida que nos foi dada na ressurreição de Cristo, Francisco recordou que "a preciosa dádiva da vida é desprezada! Quantas crianças não conseguem sequer ver a luz? Quantas morrem de fome, ou são privadas de cuidados essenciais, ou são vítimas de abuso e violência? Quantas vidas são mercantilizadas pelo crescente comércio de seres humanos?"

No dia em que Cristo nos libertou da escravidão da morte, exorto aqueles com responsabilidade política a não pouparem esforços no combate ao flagelo do tráfico humano, trabalhando incansavelmente para desmantelar as suas redes de exploração e trazer liberdade àqueles que são as suas vítimas. Que o Senhor console as suas famílias, especialmente aquelas que aguardam ansiosamente notícias dos seus entes queridos, assegurando-lhes conforto e esperança.

Francisco concluiu, pedindo "que a luz da ressurreição ilumine as nossas mentes e converta os nossos corações, conscientizando-nos do valor de toda vida humana, que deve ser acolhida, protegida e amada".

VN

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