Caminhava rapidamente pelo caminho,
cabeça levantada e os olhos fixos na meta almejada, sem se querer
distrair com mais nada que não fosse a sua caminhada.
De repente uma pedra no caminho, (que não viu por levar os olhos fixos na meta a alcançar), fê-lo tropeçar e cair no chão.
Magoou-se um pouco, sujou as roupas, mas levantou-se rapidamente e prosseguiu a caminhada.
Num instante recomeçou o passo apressado e os seus olhos fixaram-se ainda mais no fim do caminho.
Pareceu-lhe
ouvir umas vozes a seu lado que lhe diziam para ter cuidado, mas não
quis parar nem dar atenção a essas vozes, pois só a caminhada e o
atingir a meta era importante para ele.
O
problema é que subitamente lhe faltou o chão e ele caiu com alguma
violência num buraco do caminho que tinha alguma profundidade.
No
fundo do buraco deteve-se um pouco para recuperar da queda, e depois
com grande esforço, conseguiu sair do buraco e voltar ao caminho.
Esperou
um pouco para perceber se estava bem e recomeçou a andar no mesmo passo
apressado em que tinha vindo até então e sempre com o olhar fixo no seu
destino.
Novamente lhe pareceu
ouvir umas vozes que lhe diziam para se preparar, mas como tal não fazia
sentido e ele achava que não precisava de ninguém, fechou os olhos para
se concentrar e continuou a caminhar.
Sentiu
então que algo não estava bem e, quando abriu os olhos, encontrou-se
cercado por uma escuridão imensa, por umas trevas que não o deixavam ver
nada, nem sequer o caminho que pisava.
Parou
e disse interiormente, no meio daquelas trevas, que percebia e
reconhecia agora que se devia ter preparado melhor, que devia ter
trazido coisas importantes, como uma luz, pois realmente há dia e noite e
sem luz é impossível caminhar.
Estava tão arrependido!
“Afundou” os olhos na escuridão e pareceu-lhe ver ao longe uma ténue claridade.
Começou
a caminhar com todo o cuidado, tacteando o caminho passo a passo, e
apercebeu-se que a claridade ia aumentando, de tal modo que passado mais
algum tempo já estava o caminho novamente iluminado e, portanto,
possível de prosseguir.
Mas não recomeçou imediatamente a caminhada.
Sentou-se no chão e decidiu reflectir sobre o caminho que tinha feito até aquele momento.
Em
primeiro lugar lembrou-se do velho ditado que diz que a “pressa é má
conselheira”, percebendo que é melhor caminhar com calma e seguro, do
que freneticamente e sem segurança.
Recordou-se
da pedra onde tinha tropeçado e imediatamente reconheceu que, não
olhando para o caminho e com os olhos fixos apenas na meta, não era
possível ver os obstáculos que o caminho tinha.
Reflectiu
então sobre a queda no buraco reconhecendo que uma das razões era a
mesma pela qual tinha tropeçado, mas também que devia ter dado ouvido às
vozes que lhe diziam para ter cuidado.
Se o tivesse feito, provavelmente não teria caído no buraco.
Por
fim deteve-se a pensar na escuridão, nas trevas que o tinham envolvido e
foi obrigado a reconhecer que, mais uma vez, não tinha dado atenção às
vozes que lhe diziam para se preparar, percebendo que para fazer o
caminho é sempre preciso uma preparação para o enfrentar.
Levantou-se
do chão e foi então que reparou que à sua volta estavam muitos como
ele, que caminhavam o mesmo caminho e lhe estendiam os braços e diziam
para caminharem todos juntos.
Ao
princípio teve a reacção de pensar, como sempre, que era capaz sozinho,
mas depois percebeu que caminhando com todos, todos se ajudariam a
levantar se tropeçassem e caíssem, que seria bem mais fácil saírem dos
buracos em que caíssem, e reparou também que muitos deles tinham luzes e
que as partilhavam com os que não tinham.
Sentiu-se
bem naquela companhia e partiu novamente, agora acompanhado pelos
outros e no ritmo que os mais lentos tinham, para poderem ir todos
unidos.
Sorriu e pensou para si mesmo: Estou no bom caminho!
Pois é, Deus chama-nos a fazer o caminho para Ele, mas quer que o façamos em paz e tranquilidade.
Deus
quer que olhemos para Ele, mas também que olhemos para o mundo e para o
chão que pisamos, porque é neste chão que vivemos por enquanto.
Se olharmos para o mundo em que vivemos podemos evitar muitas vezes as “pedras de tropeço” que o mundo nos apresenta.
E
o caminho que Deus nos propõe, Ele mesmo nos diz que tem armadilhas do
inimigo, os buracos em que de quando em vez caímos, mas que se ouvirmos a
Sua voz e a voz daqueles que Ele coloca ao nosso lado, poderemos evitar
esses buracos.
E, claro, há
sempre momentos em que as trevas, nesta caminhada para Deus, nos querem
envolver, por isso nos devemos preparar para o caminho de Deus,
servindo-nos de tudo o que Ele nos deixou, sobretudo a Palavra de Deus e
os Sacramentos que são a Luz que nos ilumina e vence as trevas.
Ah,
e depois o caminho de Deus é um caminho individual, mas também
colectivo, porque Ele serve-se dos outros que nos acompanham para nos
ajudar a caminhar, como nos chama também a estar sempre prontos para
ajudar aqueles que precisam de nós para caminhar.
Por isso a Igreja é o caminho seguro!
Percebamos
também que se Deus é nossa “meta”, embora Ele esteja no fim à nossa
espera, também está sempre, ao mesmo tempo, connosco a caminhar o
caminho que Ele mesmo nos dá.
Por isso caminhemos sem medo porque a Luz já venceu as trevas!
Marinha Grande, 22 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves