No Domingo da Palavra de Deus, a homilia do Papa foi repleta de questões sobre a Igreja que somos e que queremos ser. E fez um apelo: "Apaixonemo-nos pela Sagrada Escritura", que nos leva a Deus e aos outros. Durante a celebração, Francisco instituiu leitores e catequistas.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
Ouvir, rezar e colocar em prática as Sagradas Escrituras: é o que nos pede o Papa Francisco neste Domingo da Palavra de Deus.
Para a ocasião, o Pontífice presidiu à celebração eucarística na Basílica de S. Pedro, em que pela primeira vez foram instituídos leitores e catequistas.
No centro da nossa vida está Deus e sua Palavra
Na sua homilia, o Pontífice comentou a primeira Leitura e o Evangelho
deste III Domingo do Tempo Comum, que têm como protagonista a Sagrada
Escritura. Primeiro, o sacerdote Esdras coloca em lugar elevado o livro
da lei de Deus, abre-o e proclama-o diante de todo o povo. Depois, Jesus
lê na frente de todos uma passagem do profeta Isaías.
“Estas duas cenas comunicam-nos uma realidade fundamental: no centro
da vida do povo santo de Deus e do caminho da fé, não estamos nós com as
nossas palavras; no centro, está Deus com a sua Palavra”, observou o
Papa.
A Palavra consola
Jesus encerra a leitura com algo inédito: "Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura" (Lc 4, 21).
A Palavra de Deus já não é uma promessa, explicou o Papa, mas sim,
realizou-se. Em Jesus, fez-Se carne. Mantendo os olhos fixos em Cristo,
Francisco convidou os fiéis a meditar sobre dois aspetos: a Palavra desvenda Deus e a Palavra leva-nos ao homem. Isto é, ao mesmo tempo consola e provoca.
A Palavra consola-nos porque Jesus desvenda o verdadeiro rosto de Deus, que veio para libertar os pobres e oprimidos. Deus é misericórdia, é pai e não patrão, não é neutro nem indiferente, mas compromete-se com a nossa dor, “está sempre presente ali”. “Está próximo e quer cuidar de nós. Esta é a sua característica: proximidade.”
O Papa então convida os fiéis a interrogarem-se: trazemos no coração esta imagem libertadora de Deus, compassivo e terno ou O imaginamos como um juiz rigoroso, um rígido guarda alfandegário da nossa vida? Ou ainda: Qual é o rosto de Deus que anunciamos na Igreja: o Salvador que liberta e cura, ou o Temível que esmaga avivando os sentimentos de culpa?
Para nos convertermos ao verdadeiro Deus, Jesus indica por onde
começar: pela Palavra. Esta liberta-nos dos medos e preconceitos sobre
Ele, derruba os ídolos falsos e traz-nos de volta ao seu rosto
verdadeiro, à sua misericórdia.
A Palavra provoca
A Palavra, acrescentou Francisco, impele-nos a sair de nós mesmos
caminhando ao encontro dos irmãos, como revela Jesus na sinagoga de
Nazaré: Ele é enviado para ir ao encontro dos pobres (que somos todos
nós!) e libertá-los. Jesus revela ainda o culto mais agradável a Deus:
cuidar do próximo. "Devemos voltar a isso. De momento, há na Igreja as
tentações da rigidez, que é uma perversão. Acredita-se que encontrar
Deus é tornarmo-nos mais rígidos, com mais normas... Não é assim. Quando
vemos propostas rígidas, de rigidez, pensemos logo: este é um ídolo, não
é Deus. O nosso Deus não é assim."
Se por um lado consola, por outro provoca. Pois não podemos viver
tranquilos quando o preço a pagar por esta tranquilidade é um mundo
dilacerado pela injustiça. Francisco citou a condição de milhares de
migrantes, rejeitados nas fronteiras inclusive por quem faz política “em
nome de Deus”. “Não há nada a fazer” ou “que posso fazer eu?” não são
mais justificativas. Exige que não sejamos indiferentes, mas diligentes,
criativos, proféticos.
A Sagrada Escritura, disse ainda o Papa, não foi dada para nos
entreter, mas para sair ao encontro dos outros e debruçarmo-nos sobre as
suas feridas.
“A Palavra que Se fez carne quer tornar-Se carne em nós.” E o quer no
tempo que vivemos, não num futuro ideal. Francisco propôs então mais uma
questão: queremos imitar Jesus, tornando-nos em ministros de
libertação e consolação para os outros?
Vamo-nos apaixonar pela Sagrada Escritura
Por fim, um pensamento aos leitores e catequistas que foram
instituídos nesta celebração, chamados à tarefa de servir o Evangelho,
anunciá-lo para que a sua consolação chegue a todos.
Esta, aliás, é também a missão de cada um de nós: ser arautos críveis, profetas da Palavra no mundo.
VN
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