Manuel Tavares/Raimundo de Lima - Vatican News
O Santo Padre recebeu na manhã deste sábado (15/01) na Sala Clementina, do Vaticano, os participantes do 164º Capítulo Geral dos Clérigos Regulares Teatinos. Ao saudar o superior geral, que foi reconfirmado no seu cargo, e os demais presentes, Francisco disse “quanto progresso e quanta estrada percorreram com a providência de Deus”!
A seguir, referindo-se ao tema dos trabalhos capitulares “Teatinos para a missão…”, o Papa elogiou a sua escolha, em sintonia com a orientação fundamental da Igreja “sair para evangelizar”, dinamismo impresso por Jesus, que envolve todos os cristãos e comunidades. E explicou:
“Para vós, de modo particular, este dinamismo combina com o carisma de S. Caetano Thiene e dos seus cofundadores, que pode ser resumido como uma fraternidade sacerdotal apostólica, fortemente enraizada na vida espiritual e na caridade concreta com os necessitados”.
"Vocação na vocação" ou "segunda conversão"
Como aconteceu com tantos outros santos e santas, São Caetano impressiona-nos pelo seu "salto qualitativo", que, em termos bíblicos, preferimos chamar "vocação na vocação" ou "segunda conversão". Trata-se da passagem de uma vida boa e prezada para uma vida santa, repleta daquele toque especial, que vem do Espírito Santo. Este salto de qualidade faz crescer, não só a vida pessoal, mas também a vida da Igreja. Em certo sentido, "reforma-a purifica e faz emergir a sua beleza evangélica. E o Papa acrescentou:
“Podemos e devemos recorrer sempre a este testemunho, a este "evangelho vivo" para prosseguir o nosso caminho pessoal e comunitário, cientes de que ‘não é possível, para um cristão, conceber a sua missão na terra sem o caminho da santidade’. É o que o seu fundador demonstra: ‘todo o santo e santa é uma missão, um projeto do Pai’ para refletir e encarnar, num dado momento da história, um aspeto do Evangelho".
Não devemos imitar apenas, em sentido literal, que, praticamente, é o próprio Jesus, mas assumir de um santo e santa o "método", por assim dizer, o dinamismo espiritual, com o qual viveram o Evangelho, tentando traduzi-lo no nosso contexto atual. É isto que vocês propuseram como objetivo geral do vosso capítulo: "Atualizar o carisma teatino, respondendo aos desafios atuais, a partir da nossa identidade".
“A reforma deve começar a partir de cada um”
Falando sobre a identidade, o primeiro objetivo primordial dos trabalhos capitulares dos Teatinos, Francisco recordou um aspeto essencial do testemunho de S. Caetano: “a reforma deve começar a partir de cada um”. Aqui, o Santo Padre citou o exemplo de S. Caetano, que, quando veio a Roma, para trabalhar na Cúria papal, notou uma degradação espiritual e moral, infelizmente, generalizada. Então enquanto exercia o seu ofício, frequentava o Oratório do Amor Divino, cultivando a oração e a formação espiritual, e trabalhava num hospital para assistir os enfermos. E o Papa constatou:
“Eis o caminho: começar por si mesmo a viver o Evangelho de forma profunda e coerente. Todos os santos fizeram assim; eles são os verdadeiros reformadores da Igreja, ou melhor, é o Espírito Santo que forma e reforma a Igreja, por meio da Palavra de Deus e dos santos, que colocam a Palavra em prática nas suas vidas”.
Viver o Evangelho como os Apóstolos
A seguir, refletindo sobre o segundo objetivo primordial do Capítulo Geral, a comunhão, o Santo Padre voltou a falar do exemplo de S. Caetano: “O Espírito não o impeliu a percorrer sozinho um caminho individual, mas convidou.o para formar uma comunidade de clérigos regulares, para viver o Evangelho como os Apóstolos”.
Falando de algumas "santas comunidades", que "viveram heroicamente o Evangelho", Francisco disse que, entre elas, pode ser acrescentada a dos seus cofundadores: nas comunidades religiosas a vida cristã é composta de muitos gestos diários e pequenos gestos de amor, onde os membros cuidam uns dos outros e constituem um espaço aberto e evangelizador, pois o Ressuscitado as santifica, segundo o desígnio do Pai.
Distantes da "espiritualidade do cupim"
Neste ponto do seu discurso, o Santo Padre chamou a atenção, atenda-se à frase “os membros cuidam uns dos outros”, para o perigo dos mexericos numa congregação religiosa, numa comunidade religiosa, quando os irmãos não cuidam uns dos outros:
Por favor, evitem toda a forma de mexerico. Sejam homens consagrados, homens do Evangelho, mas homens. Se tens algo contra o outro, que garanta as tuas calças para lhe dizeres isso na cara, dizer-lhe as coisas na cara ou ficar calado. Ou esse outro critério, digas àqueles que podem remediar, ou seja, aos superiores. Mas não faças grupinhos, essa é a “espiritualidade do cumpim", que esvai a força de uma comunidade religiosa. Nada de nexericos, por favor.
Discernir os sinais dos tempos
Por fim, o Papa comentou o terceiro objetivo dos trabalhos capitulares, a missão: "Discernir os sinais dos tempos para anunciar e viver o Reino de Deus entre os homens". Segundo o carisma do seu fundador, a vossa missão não é ‘ad gentes’. S. Caetano evangelizou Roma, Veneza e Nápoles, mediante o seu testemunho de vida e as suas obras de misericórdia; ele e os seus companheiros serviram e nutriram aquela Igreja "hospital de campo", tão necessária nos nossos dias. E os exortou:
“Encorajo-vos a seguir as suas pegadas, com docilidade ao Espírito, sem esquemas rígidos, mas bem firmes no essencial: oração, adoração, vida comum, caridade fraterna, pobreza e serviço aos pobres. Tudo isto com coração apostólico e com o desejo evangélico de procurar antes de tudo o Reino de Deus”.
Ao terminar o seu discurso para os capitulares Teatinos, Francisco recordou que, entre as cidades evangelizadas por S. Caetano, também estava Buenos Aires, onde a sua festa é celebrada, no dia 7 de agosto, com grande participação popular. Os fiéis veneram-no como "padroeiro do pão e do trabalho". Por isso, ao abençoar os presentes, o Papa pediu a intercessão de S. Caetano e de Nossa Senhora sobre a caminhada dos Teatinos, no seu compromisso de comunhão e missão.
VN
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