1. Abrimos hoje no Patriarcado a fase diocesana do Sínodo dos Bispos 2023,
cumprindo a indicação do Papa Francisco, que quis dinamizar toda a
Igreja no aprofundamento doutrinal e prático da sinodalidade, como nota
essencial do nosso ser e missão.
Fazemo-lo
com plena adesão, tanto mais quanto vai nesse sentido a principal
prioridade saída do Sínodo Diocesano, que de 2014 a junho passado nos
ocupou nas suas três fases: preparação, celebração e receção
sistemática. No próximo número da nossa revista oficial, a Vida Católica,
será publicada a documentação relativa a esta última fase, com as
respetivas avaliações e conclusões. Será bom e útil lê-la atentamente,
bem como ao número já dedicado às fases da preparação e da celebração,
pois dão conta de muitas contribuições chegadas dos grupos sinodais e
iniciativas que o caminho sinodal gerou entre nós durante esses anos.
Por ali ressoa a voz do Povo de Deus do Patriarcado de Lisboa. Assim
prosseguiremos, convicta e decididamente, em grande sintonia com o
caminho da Igreja em geral.
O
que faremos agora e acompanharemos depois, nas fases seguintes do Sínodo
dos Bispos, decorrerá a par com a preparação e efetivação da Jornada
Mundial da Juventude, que o Papa Francisco marcou para Lisboa em agosto
de 2023. Para isso trabalhamos já, com particular empenho dos mais
diretamente envolvidos, no Patriarcado e nas outras dioceses
portuguesas, bem como além-fronteiras e em ligação ao dicastério
romano.
Trabalhamos e rezamos,
pois rezar é trabalhar com Deus e segundo os seus desígnios, único modo
certo e seguro de difundir o Reino. Assim fez Cristo, cumprindo a
vontade do Pai e assim fez Maria quando «se pôs a caminho e se dirigiu
apressadamente para a montanha» ao encontro de Isabel (Lc 1, 39). Assim prosseguimos nós na preparação da Jornada Mundial da Juventude.
É
algo que ultrapassa em grande escala tudo o que alguma vez realizámos
em Portugal, mas estamos crentes de que constitui uma magnífica
oportunidade de rejuvenescimento anímico para os que estão e os que
vierem de todo o mundo. Aliás, é algo sinodal também, por ser caminho
feito em conjunto e destinado a todos. Assim o entenderam os próprios
poderes públicos, reconhecendo a oportunidade e apoiando a realização, a
bem da sociedade em geral, que bem precisa de realento depois da grande
depressão pandémica.
2. A
sinodalidade refere-se ao essencial da vida da Igreja, enquanto
seguimento e testemunho comunitário de Cristo e do seu Evangelho. A imagem da caravana (sunodía) em que Jesus foi a Jerusalém, ainda adolescente e com Maria e José (cf. Lc
2, 41 ss), sugere bem o que havemos de ser e fazer como Igreja, pelos
caminhos deste mundo e rumo à Casa do Pai. Assim prosseguiu Jesus já
adulto, anunciando com o seu grupo a Boa-Nova do Reino de Deus (cf. Lc 8, 1-2).
Reparemos
também como reconheceu e valorizou a atitude e a atuação de vários
outros, que, não pertencendo ao seu povo ou ao seu grupo, aderiam à sua
pessoa ou coincidiam no bem que praticavam (cf. Mt 8, 5 ss: a fé do centurião; Mt 15, 21 ss: a fé da cananeia; Mc
9, 40: «Quem não é contra nós é por nós»). Por isso escutaremos todos
os que se queiram associar ao nosso caminho sinodal, sem esquecer o
âmbito ecuménico e inter-religioso.
Entretanto,
valorizemos efetivamente todas as instâncias de sinodalidade previstas
nos cânones e insistentemente recomendadas, como tanto lembrámos ao
longo do nosso sínodo diocesano: conselhos pastorais e económicos em
cada paróquia, encontros e iniciativas vicariais, conselhos e instâncias
de corresponsabilidade diocesana, colaboração de institutos e
movimentos…
Na fé de Deus
unitrino nada se faz sem comunhão e o Evangelho de Cristo é introdução
na vida divina, comunhão perfeita. Relembremos o trecho inicial da Primeira Epístola de São João,
quase um resumo do que seja a sinodalidade missionária: «…
anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a
nós […], para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós
estamos em comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo» (1 Jo 1, 2-3). Tudo dito no plural, como aprendizagem de Deus comunhão.
3.
Numa última referência, que podia ser a primeira, sublinho que o
lançamento da nossa fase sinodal diocesana acontece neste dia e local,
para coincidir com a Solenidade da Dedicação da Sé.
Tem especial significado que assim seja, pois a evocação do que sucedeu
naquele dia inaugural do tempo português da Igreja de Lisboa reforça o
sentido do que somos e havemos de ser sempre e mais, para louvor de Deus
e serviço de todos.
Nas palavras inspiradas e inspiradoras da Constituição Lumen Gentium,
nº 1, «a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o
instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género
humano». É um objetivo que só Deus garante e o mundo profundamente
espera. - Nunca desistiremos de o cumprir!
Sé de Lisboa, 25 de outubro de 2021
+ Manuel, Cardeal-Patriarca
Patriarcado de Lisboa
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