25 outubro 2021

Palavras de abertura da fase diocesana do Sínodo dos Bispos 2023

 

 

1. Abrimos hoje no Patriarcado a fase diocesana do Sínodo dos Bispos 2023, cumprindo a indicação do Papa Francisco, que quis dinamizar toda a Igreja no aprofundamento doutrinal e prático da sinodalidade, como nota essencial do nosso ser e missão.
Fazemo-lo com plena adesão, tanto mais quanto vai nesse sentido a principal prioridade saída do Sínodo Diocesano, que de 2014 a junho passado nos ocupou nas suas três fases: preparação, celebração e receção sistemática. No próximo número da nossa revista oficial, a Vida Católica, será publicada a documentação relativa a esta última fase, com as respetivas avaliações e conclusões. Será bom e útil lê-la atentamente, bem como ao número já dedicado às fases da preparação e da celebração, pois dão conta de muitas contribuições chegadas dos grupos sinodais e iniciativas que o caminho sinodal gerou entre nós durante esses anos. Por ali ressoa a voz do Povo de Deus do Patriarcado de Lisboa. Assim prosseguiremos, convicta e decididamente, em grande sintonia com o caminho da Igreja em geral.
O que faremos agora e acompanharemos depois, nas fases seguintes do Sínodo dos Bispos, decorrerá a par com a preparação e efetivação da Jornada Mundial da Juventude, que o Papa Francisco marcou para Lisboa em agosto de 2023. Para isso trabalhamos já, com particular empenho dos mais diretamente envolvidos, no Patriarcado e nas outras dioceses portuguesas, bem como além-fronteiras e em ligação ao dicastério romano. 
Trabalhamos e rezamos, pois rezar é trabalhar com Deus e segundo os seus desígnios, único modo certo e seguro de difundir o Reino. Assim fez Cristo, cumprindo a vontade do Pai e assim fez Maria quando «se pôs a caminho e se dirigiu apressadamente para a montanha» ao encontro de Isabel (Lc 1, 39). Assim prosseguimos nós na preparação da Jornada Mundial da Juventude. 
É algo que ultrapassa em grande escala tudo o que alguma vez realizámos em Portugal, mas estamos crentes de que constitui uma magnífica oportunidade de rejuvenescimento anímico para os que estão e os que vierem de todo o mundo. Aliás, é algo sinodal também, por ser caminho feito em conjunto e destinado a todos. Assim o entenderam os próprios poderes públicos, reconhecendo a oportunidade e apoiando a realização, a bem da sociedade em geral, que bem precisa de realento depois da grande depressão pandémica.

2. A sinodalidade refere-se ao essencial da vida da Igreja, enquanto seguimento e testemunho comunitário de Cristo e do seu Evangelho
. A imagem da caravana (sunodía) em que Jesus foi a Jerusalém, ainda adolescente e com Maria e José (cf. Lc 2, 41 ss), sugere bem o que havemos de ser e fazer como Igreja, pelos caminhos deste mundo e rumo à Casa do Pai. Assim prosseguiu Jesus já adulto, anunciando com o seu grupo a Boa-Nova do Reino de Deus (cf. Lc 8, 1-2).
Reparemos também como reconheceu e valorizou a atitude e a atuação de vários outros, que, não pertencendo ao seu povo ou ao seu grupo, aderiam à sua pessoa ou coincidiam no bem que praticavam (cf. Mt 8, 5 ss: a fé do centurião; Mt 15, 21 ss: a fé da cananeia; Mc 9, 40: «Quem não é contra nós é por nós»).  Por isso escutaremos todos os que se queiram associar ao nosso caminho sinodal, sem esquecer o âmbito ecuménico e inter-religioso. 
Entretanto, valorizemos efetivamente todas as instâncias de sinodalidade previstas nos cânones e insistentemente recomendadas, como tanto lembrámos ao longo do nosso sínodo diocesano: conselhos pastorais e económicos em cada paróquia, encontros e iniciativas vicariais, conselhos e instâncias de corresponsabilidade diocesana, colaboração de institutos e movimentos… 
Na fé de Deus unitrino nada se faz sem comunhão e o Evangelho de Cristo é introdução na vida divina, comunhão perfeita. Relembremos o trecho inicial da Primeira Epístola de São João, quase um resumo do que seja a sinodalidade missionária: «… anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós […], para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo» (1 Jo 1, 2-3). Tudo dito no plural, como aprendizagem de Deus comunhão. 

3. Numa última referência, que podia ser a primeira, sublinho que o lançamento da nossa fase sinodal diocesana acontece neste dia e local, para coincidir com a Solenidade da Dedicação da Sé
. Tem especial significado que assim seja, pois a evocação do que sucedeu naquele dia inaugural do tempo português da Igreja de Lisboa reforça o sentido do que somos e havemos de ser sempre e mais, para louvor de Deus e serviço de todos. 
Nas palavras inspiradas e inspiradoras da Constituição Lumen Gentium, nº 1, «a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano». É um objetivo que só Deus garante e o mundo profundamente espera. - Nunca desistiremos de o cumprir!

Sé de Lisboa, 25 de outubro de 2021

+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Patriarcado de Lisboa

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