Tinham combinado encontrar-se naquele sítio ermo a uma determinada hora, mas o seu amigo estava muito atrasado.
Realmente
o local de encontro não era o mais aconselhável e ele, ali sozinho e
com o cair da tarde, ia ficando muito apreensivo, para não reconhecer
que no fundo tinha algum medo.
Já
se podia ter ido embora, mas tinha ficado num impasse entre esperar e
ter companhia e ir embora sozinho, o que não lhe agradava de todo, pois o
caminho de regresso estava cheio de eventuais perigos.
Chamou
a si todas as suas forças e argumentos racionais e tentou descansar o
seu coração, mas a ansiedade e o receio estavam mesmo a tomar conta
dele.
Sentiu
no peito balançar a cruz que sempre trazia num fio, muito mais por
rotina do que por devoção, e pensou que era bem bom se Deus ali
estivesse com ele.
Um pouco mais de espera e “arriscou” uma oração, coisa a que nem sequer estava habituado.
“Ó
Jesus, se me ouves, vem fazer-me companhia e traz-me paz e alento ao
coração, porque eu sinto-me sozinho aqui neste fim de tarde.”
Estranhamente,
pensou ele, sentiu uma espécie de tranquilidade, uma espécie de força
que, embora não tivesse afastado todo o receio que ele sentia, lhe dava
alento para continuar a esperar.
Curiosamente
parecia-lhe agora não estar ali sozinho, mas esse pensamento longe de
ser assustador, era calmante e acolhedor, por isso rezou novamente.
“Ó Jesus não sei o que fizeste nem como fizeste, mas sinto-me agora mais calmo e até parece que estás aqui junto de mim.”
Bem, pensou mais uma vez, se o meu amigo não vier entretanto, vou-me embora porque já esperei tempo que chegasse por ele.
Passado cerca de um quarto de hora, decidiu que já chegava de espera, e começou a caminhar no regresso a sua casa.
À
medida que caminhava e se aproximava de locais onde já não havia tanto a
temer, ia reflectindo para si próprio, dizendo interiormente:
Afinal
o amigo por quem esperava não apareceu, mas parece-me que Jesus, a quem
eu não esperava, se fez presente, não sei como, e fez-me companhia
dando-me paz e descanso.
Sentiu uma voz dentro de si que lhe dizia:
Tens
a certeza de que não Me esperavas? Não tens andado ultimamente, agora
que se aproxima o Natal, a perguntar-te se realmente Eu existo e se
estou convosco?
Cada vez mais agradavelmente admirado, respondeu:
Realmente tenho pensado muito nisso e até esperado que no Natal alguma coisa mudasse em mim, e na minha relação conTigo, Jesus.
E a resposta logo surgiu:
Vês,
quem espera por Mim sempre alcança, porque Eu me faço sempre presente
para todos os que por Mim esperam. Dá-me a mão e caminhemos juntos o teu
caminho da vida.
Sentiu
de uma forma inexplicável a presença de Jesus junto de si e consigo,
mas assustou-se quando percebeu que alguém lhe tocava num ombro.
Voltou-se surpreendido e deu de caras com o seu amigo por quem tanto tempo tinha esperado.
Abraçou-o fortemente, coisa que deixou o outro surpreendido, e disse-lhe:
Obrigado
por me teres feito esperar tanto tempo, porque durante esse tempo de
espera, Aquele que eu julgava não esperar, veio afinal ter comigo e
fez-se presente em mim.
Monte Real, 27 de Novembro de 2023
Joaquim Mexia Alves
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