27 setembro 2023

Papa: que o Mediterrâneo se torne um mosaico de civilização e esperança

 
 
A recente visita do Papa a Marselha e, em particular, a sua participação no encerramento dos "Encontros Mediterrâneos", foi o tema da sua catequese na audiência geral de quarta-feira (27). Francisco reiterou que o Mediterrâneo deve ser um lugar de encontro e não de conflito, de vida e não de morte.
 

Thulio Fonseca – Vatican News      

Na manhã desta quarta-feira, 27 de setembro, o Papa dedicou a reflexão da catequese para contar aos fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro sobre a experiência que viveu no final da semana passada, na sua viagem a Marselha, onde foi participar da conclusão dos “Encontros Mediterrâneos”.

O Santo Padre disse que, junto com bispos e prefeitos da região mediterrânea, e com numerosos jovens, dedicou-se ao diálogo aberto sobre o futuro. Ao relembrar o tema do evento em Marselha, "Mosaico da Esperança", Francisco afirmou que "este é o sonho, este é o desafio: que o Mediterrâneo recupere a sua vocação de ser um laboratório de civilização e paz".

Um lugar de encontro e não de conflito

“O Mediterrâneo é o berço da civilização, e o berço é para a vida! Não é tolerável que se torne um túmulo, nem mesmo um lugar de conflito. Não. O Mar Mediterrâneo é o oposto de choques entre civilizações, guerra ou tráfico de seres humanos", disse o Pontífice, sublinhando que o Mediterrâneo conecta a África, a Ásia e a Europa; o norte e o sul, o oriente e o ocidente; povos e culturas, línguas e religiões diferentes.

O Santo Padre ressaltou que o mar é sempre, de alguma forma, um abismo a ser superado e pode se tornar perigoso. Suas águas abrigam tesouros de vida, suas ondas e ventos conduzem embarcações de todos os tipos, e destacou: o mar "é um lugar de encontro e não de conflito, de vida e não de morte".

Francisco enfatizou que o encontro em Marselha aconteceu após eventos semelhantes realizados em Bari em 2020 e em Florença no ano passado, e completou: "Não foi um evento isolado, mas sim um passo à frente em um itinerário para responder, hoje, ao apelo lançado por São Paulo VI em sua Encíclica Populorum Progressio, para promover "um mundo mais humano para todos, um mundo em que todos tenham algo para dar e receber, sem que o progresso de alguns constitua um obstáculo ao desenvolvimento dos outros".

Conversão pessoal, solidariedade social e esforços concretos

Ao falar sobre os resultados do evento em Marselha, o Papa afirmou que "surgiu um olhar sobre o Mediterrâneo simplesmente humano, não ideológico, não estratégico, não politicamente correto, nem instrumental, mas humano, ou seja, capaz de relacionar cada coisa com o valor primordial da pessoa humana e sua dignidade inviolável".

Para Francisco, este olhar de esperança despertou principalmente através dos testemunhos compartilhados: "Esta obra passa sempre pela fraternidade, através dos olhos, mãos, pés e corações de homens e mulheres que, nos seus respetivos papéis de responsabilidade eclesiástica e civil, procuram construir relações fraternas e de amizade social", sublinhou o Pontífice.

Esperança no futuro

O Papa disse que há outro aspeto complementar: "é preciso devolver esperança às nossas sociedades europeias, especialmente às novas gerações". E apresentou algumas questões:

"De facto, como podemos acolher os outros se não tivermos nós mesmos um horizonte aberto para o futuro? Os jovens, pobres de esperança, fechados no privado, preocupados em gerir a sua precariedade, como podem abrir-se ao encontro e à partilha?"

Segundo o Pontífice, as nossas sociedades doentes de individualismo, consumismo e vazios precisam se abrirem, oxigenar a alma e o espírito, e então poderão encarar a crise como uma oportunidade e enfrentá-la de forma positiva.

Ao recordar que a Europa precisa de redescobrir a paixão e o entusiasmo, Francisco disse que em Marselha encontrou no Cardeal Aveline, nos sacerdotes e nos consagrados, nos fiéis leigos empenhados na caridade e educação, no povo de Deus, uma grande cordialidade. O Papa também agradeceu ao Presidente da República, Emmanuel Macron, que, com a sua presença, demonstrou a atenção de toda a França no evento em Marselha.

No final da catequese, Francisco recordou Nossa Senhora da Guarda, venerada pelo povo de Marselha, e disse confiar a Ela o caminho dos povos do Mediterrâneo, "para que esta região se torne aquilo que sempre foi chamada a ser: um mosaico de civilização e esperança".

VN

26 setembro 2023

CONVERSAS NO CAMINHAR IV

 

 
 
Provocação – A sério pensa lá em ti e no que realmente fazes ao serviço de Deus?
Reflexão – Colocas-me assim, perante mim, mas mais ainda, perante Deus. Na minha reflexão tenho que abrir o meu coração e ser verdadeiro, pelo menos naquilo que julgo sobre mim, como se me visse de fora de mim e perceber se o que me move é apenas e só servir a Deus, (e os outros em Deus, claro), ou se há algum interesse “não confessável” da minha parte.

P – Sim, pensa nisso e diz-me o que te move, o que no teu íntimo está, também, no teu serviço a Deus.
R – Primeiro acredito, apesar de tudo, que existe em mim uma verdadeira vontade de servir a Deus, servindo os outros.
Julgo que isso é indissociável da minha relação pessoal com Jesus Cristo, na minha procura constante do Espírito Santo em mim, do meu querer viver do e no amor do Pai.
Mas se isto é verdade, acredito eu, não é menos verdade que o reconhecimento por parte dos outros de uns quaisquer dons que me possam ser atribuídos, não me é desagradável, antes pelo contrário, me é agradável e alegra o meu ego.

P – E que mal vês tu nisso?
R – Não haveria mal em si, se tal fosse um reconhecimento em humildade, da minha parte, de que esses possíveis dons vêm de Deus e que são Sua graça e apenas Sua graça, sem qualquer mérito meu.

P – Significa isso que te sentes, por acaso, credor de dons de Deus por méritos da tua vida?
R – Infelizmente tenho que reconhecer que, embora não me julgue credor de quaisquer dons de Deus, no meu infame orgulho penso que tudo o que tenho vivido e feito ao serviço de Deus, merecerá da sua parte os eventuais dons com que talvez me agracie.

P – O que sentes tu quando alguém te elogia ou “reconhece” em ti eventuais dons de Deus?
R – Pois é aí que reside o problema, que reside a minha luta contra o pecado de me julgar merecedor ou mesmo digno de qualquer dom de Deus.
Em vez de humildemente reconhecer intimamente, (exteriormente é fácil dizer que reconheço que é tudo graça de Deus sem mérito meu), que é tudo graça de Deus, acabo por julgar que de algum modo esses eventuais dons serão fruto de uma entrega minha, de um qualquer caminho de santidade meu, de um qualquer reconhecimento por parte de Deus das minhas orações o da minha busca do Caminho da Verdade e a Vida.

P – Mas achas tu que Deus não deve reconhecer os seus filhos que se entregam a Ele para O servir, servindo os outros?
R – A minha resposta terá que ser, obviamente, quem sou eu para achar ou deixar de achar aquilo que Deus deve ou não reconhecer!
Mas infelizmente, (ainda sou muito humano, digamos assim), acho que sim, que Deus deveria reconhecer aqueles que a Ele se entregam para O servir servindo os outros.
Custa-me escrever o que acabei de escrever, mas tenho que ser verdadeiro nestas conversas e dizer o que deveras sinto.

P – Então e que reconhecimento seria esse da parte de Deus?
R – Pois. A verdade é que o “reconhecimento” de Deus para aqueles que a Ele se entregam há muito que está determinado, ou seja, é a promessa concretizada em Jesus Cristo da vida eterna junto de Deus.
Mas os orgulhosos como eu gostam de ser elogiados nesta vida, gostam de ser reconhecidos nesta vida, como se eu pudesse alguma vez ser um “escolhido” de Deus para guiar outros, ou “pior” ainda, como se os outros pudessem vir a Deus por causa de mim e não e apenas por sua graça.

P – Mas tu achas que Deus não escolhe alguns para serem guias de outros, para serem de alguma forma testemunhas de que o seu amor transforma o homem?
R – Claro que acredito que Deus escolhe alguns ao longo do tempo para serem suas testemunhas privilegiadas, como podemos facilmente constatar em tantos santos da Igreja e até noutros que não tendo sido reconhecidos como “santos de altar”, foram e são, no entanto, razão para muitos procurarem Deus e quererem viver a alegria da fé que neles é tão visível.
Mas esses, com certeza, não pensam como eu, ou melhor, não se alegram intimamente com os elogios que lhes são dados e nem sequer os procuram.

P – Quer dizer que tu procuras os elogios, o reconhecimento?
R – Não verdadeiramente, isto é, não os provoco directamente, talvez, mas intimamente desejo-os e, às vezes, por causa deles, sinto-me como que privilegiado por Deus, (ou gostaria que me vissem assim), como se tivesse uma relação com Ele melhor do que a dos outros, mais íntima, como se Ele me amasse mais do que aos outros!
Sou tão fraco!

P – E isso faz-te sofrer?
R – Faz e não faz! Como posso eu explicar esta dualidade que em mim vive?
Eu sei que é um caminho de perfeição e que a mesma nunca será alcançada a não ser quando, por sua graça, eu esteja junto dEle eternamente.
Mas no dia a dia é uma luta constante e pior do que isso é esta pergunta constante que faço a mim próprio se estou ou não a ser verdadeiro na minha relação com Deus.
Lembro-me de São Paulo e do “espinho” que ele dizia ter e Deus não lho tirava, mas até essa comparação me faz sentir, por um lado orgulhoso, por outro um mentiroso na verdade que quero encontrar e viver.

P – E isso não será falta de um verdadeira entrega a Deus, para que Ele te guie e te ajude a ultrapassar todos esses sentimentos?
R – Sem dúvida que é falta de entrega total e incondicional a Deus.
Mas já rezei e rezo tanto para me sentir menos dividido nestes sentimentos, já fiz tantas promessas a mim próprio de me retirar de tudo e só aceitar aquilo a que me chamem, de fechar tudo que tenho e escrevo sobre a minha vivência da fé, e no fundo os sentimentos continuam e não me deixam descansar em Deus.
E depois tenho medo de se abandonar tudo, ficar esquecido e já não se quererem servir de mim!

P – E essa não poderia ser a solução para venceres esses teus sentimentos?
R – Talvez pudesse ser!
Mas e se fosse o inimigo que instilasse tais pensamentos em mim para eu não fazer aquilo que faço?
Ou será este pensamento também um orgulho por pensar que faço alguma coisa que afasta os outros do inimigo, ou melhor, que os aproxima de Deus?

P – Pois não sei o que te responder para te ajudar.
R – Nem eu sei também!
Sei que este é um caminho difícil e que se Deus o permite é porque me quer guiar em alguma coisa importante na vida que me deu, mas a verdade é que me divide, me custa, me ocupa tanto tempo e pensamentos para procurar a verdade e encontrar o caminho e a vida que Deus quer para mim, nunca esquecendo os outros.




Marinha Grande, 26 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves
 

24 setembro 2023

O Papa no Angelus: a "moeda" de Deus é o seu amor, incondicional e gratuito

 
 
"A justiça humana diz para “dar a cada um o que merece”, enquanto a justiça de Deus não mede o amor na balança dos nossos rendimentos, dos nossos desempenhos ou dos nossos fracassos: Deus ama-nos e basta, ama-nos porque somos filhos, e fá-lo com amor incondicional e gratuito."
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

A justiça de Deus não mede o amor na balança dos nossos rendimentos, desempenhos ou fracassos, Deus ama-nos porque somos filhos e fá-lo com amor incondicional e gratuito, "para o seu coração nunca é tarde, Ele procura e espera-nos sempre."

Critérios de Deus

Este é o cerne da reflexão do Papa Francisco inspirada na narrativa de Mateus (20, 1-16) sobre o proprietário da vinha que paga o mesmo valor aos trabalhadores contratados em diferentes horas do dia, o que é considerado injusto pelos que foram contratados primeiro e trabalharam mais.

Francisco explica ainda no início que “a parábola não deve ser lida por meio de critérios salariais; mas sim, quer mostrar os critérios de Deus, que não faz cálculos dos nossos méritos, mas nama-nos como filhos.”

O Senhor procura e nos espera-nos sempre

Então chama atenção para duas ações divinas da narrativa. A primeira delas, Deus que sai a qualquer hora para nos chamar, destacando assim que não são apenas os homens que trabalham, mas “sobretudo Deus, que sai sempre, sem se cansar, o dia inteiro":

Deus é assim: não espera os nossos esforços para vir ao nosso encontro, não nos faz um exame para avaliar os nossos méritos antes de nos procurar, não desiste se demoramos a responder-lhe; pelo contrário, Ele mesmo tomou a iniciativa e em Jesus “veio” ao nosso encontro, para nos manifestar o seu amor (...). Para o seu coração nunca é tarde, Ele procura e espera-nos sempre. Não esqueçamos disto: o Senhor nos procura e espera-nos sempre.

A justiça de Deus é superior, vai além

Francisco chega então à segunda ação divina: precisamente porque Deus é tão generoso, ele retribui a todos com a mesma “moeda”, que é o seu amor. E o último sentido da parábola é esse: os trabalhadores deaúltima hora são pagos como os primeiros porque, na realidade, aquela de Deus é uma justiça superior, vai além:

A justiça humana diz para “dar a cada um o que merece”, enquanto a justiça de Deus não mede o amor na balança dos nossos rendimentos, dos nossos desempenhos ou dos nossos fracassos: Deus ama-nos e basta, ama-nos porque somos filhos, e o faz com amor incondicional, um amor gratuito.

Superar relação 'mercantil' com Deus

Como já tinha feito em tantas outras ocasiões, ao falar sobre a gratuidade, Francisco chama a atenção para o risco de termos uma “relação ‘mercantil’ com Deus, centrando-nos mais na nossa bravura do que na generosidade da sua graça”:

Às vezes, mesmo como Igreja, em vez de sair a cada hora do dia e abrir os braços a todos, podemo-nos sentir os primeiros da classe, julgando os outros distantes, sem pensar que Deus também os ama com o mesmo amor que tem por nós. E mesmo nas nossas relações, que são o tecido da sociedade, a justiça que praticamos por vezes não consegue escapar do esquema do cálculo e limitamo-nos a dar de acordo com o que recebemos, sem ousar fazer algo mais, sem apostar na eficácia do bem feito gratuitamente e do amor oferecido com grandeza de coração.

Agir com os outros como Jesus age comigo

O Papa então propõe que nos interroguemos:

Eu cristão, eu cristã, sei ir na direção dos outros? Sou generoso, sou generosa com todos, sei dar aquele “a mais” de compreensão, de perdão, como Jesus fez comigo e faz todos os dias comigo?

Que Nossa Senhora – disse ao concluir - nos ajude a converter-nos à medida de Deus, à de um amor sem medida.

VN

19 setembro 2023

OS FILHOS

 

 
 
«O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe.»

Este versículo do Evangelho de hoje, (Lc 7, 11-17), suscitou em mim esta reflexão.

Lemos que Jesus ressuscitou o filho da viúva de Naim e lho entregou, seguramente com compaixão pelo seu sofrimento e, com certeza, porque aquele filho único era o sustento daquela mãe viúva.

Deixo-me levar pelo coração e vejo-me/vejo-nos, muitas vezes mortos espiritualmente pelas nossas fraquezas, e a nossa Mãe do Céu implorando do Seu Filho a graça de nos resgatar da morte do pecado.

Por uma “porta”, mesmo que apenas ligeiramente entreaberta, da nossa vontade de pedir perdão, Jesus vem, toca-nos e diz-nos: «Levanta-te!»

Perdoados, levantados do chão onde o pecado nos tinha prostrado, entrega-nos a Sua Mãe que, por vontade d’Ele, é nossa Mãe também.

Talvez seja por causa da dor de Sua Mãe por ver os seus filhos mortos pelo pecado, ou talvez seja, também, por saber que, entregues a Ela e se por Ela nos deixarmos guiar num sim permanente e convicto, encontraremos a salvação que Ele nos deu na Sua entrega por nós na Cruz.

Esta Mãe que Jesus nos dá, não precisa de nós para seu sustento, mas quer precisar de nós, porque nos ama, e nos quer felizes junto a Seu Filho para sempre.

Ressuscita-nos, Jesus, manda-nos levantar do torpor em que tantas vezes caímos, entrega-nos a Tua Mãe, para que no seu Sim nós digamos Sim também.



Monte Real, 19 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves
 

17 setembro 2023

O Papa: perdoar é uma condição fundamental para quem é cristão

 


No Angelus deste domingo, Francisco falou sobre o perdão. Segundo ele, "fora do perdão não há esperança, fora do perdão não há paz. O perdão é o oxigênio que purifica o ar poluído pelo ódio. O perdão é o antídoto que cura os venenos do rancor".
 

Mariângela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (17/09), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

O Evangelho deste domingo "nos fala do perdão", disse o Papa, citando a pergunta de Pedro a Jesus: «Senhor, quantas vezes devo perdoar, se o meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?»

Sete, na Bíblia, é um número que indica completude e, por isso, Pedro é muito generoso nas suposições da sua pergunta. Mas Jesus vai além e responde-lhe: «Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete». diz-lhe Ele, ou seja, que quando se perdoa, não se calcula, que é bom perdoar tudo e sempre! Assim como Deus faz connosco, e como é chamado a fazer quem administra o perdão de Deus: perdoar sempre. Digo isto aos sacerdotes, aos confessores: perdoem sempre como Deus perdoa.

"Jesus ilustra esta realidade através de uma parábola, que tem sempre a ver com números. Um rei, depois de ter sido suplicado, perdoa uma dívida de dez mil talentos a um servo: é um valor exagerado, imenso, que varia de duzentas a quinhentas toneladas de prata! Era uma dívida impossível de saldar, mesmo trabalhando uma vida inteira: mas aquele patrão, que recorda o nosso Pai, a perdoa por pura «compaixão»", disse Francisco, acrescentando:

Este é o coração de Deus, perdoa sempre porque Deus é compassivo. Não nos esqueçamos de como é a maneira de Deus: Deus é próximo, compassivo e terno, este é o modo de ser de Deus.

"Depois, porém", prosseguiu o Papa, "este servo, a quem a dívida foi perdoada, não mostra nenhuma misericórdia para com um companheiro que lhe deve 100 denários. Esta também é uma grande quantia, equivalente a cerca de três meses de salário - como se dissesse que o perdão entre nós custa, mas nada comparável à quantia precedente, que o patrão tinha perdoado".

A mensagem de Jesus é clara: Deus perdoa de forma incalculável, excedendo toda medida. Ele é assim, age por amor e gratuidade. A Deus não se compra, Deus é gratuito, é gratuidade. Não podemos retribuir-lhe, mas quando perdoamos o irmão ou a irmã, o imitamos. Perdoar não é uma boa ação que se pode fazer ou não: perdoar é uma condição fundamental para quem é cristão.

Segundo Francisco, "cada um de nós, de facto, é um "perdoado" ou "perdoada": não nos esqueçamos disso, somos perdoados, Deus deu a vida por nós e de modo algum podemos compensar a sua misericórdia, que Ele nunca retira do coração. Entretanto, correspondendo à sua gratuidade, ou seja, perdoando-nos uns aos outros, podemos dar testemunho dele, semeando vida nova em nosso redor".

Fora do perdão não há esperança, fora do perdão não há paz. O perdão é o oxigênio que purifica o ar poluído pelo ódio. O perdão é o antídoto que cura os venenos do rancor, é o caminho para desativar a raiva e curar tantas doenças do coração que contaminam a sociedade.

A seguir, o Pontífice convidou cada um a perguntar-se: "Creio ter recebido de Deus o dom de um perdão imenso? Sinto a alegria de saber que Ele está sempre pronto para me perdoar quando eu caio, mesmo quando os outros não o fazem, mesmo quando nem eu mesmo consigo perdoar-me? Ele perdoa: creio que Ele perdoa? E depois: sei, por minha vez, perdoar quem me fez mal?"

A este propósito, Francisco propôs "um pequeno exercício: cada um de nós pense numa pessoa que nos feriu, e peçamos ao Senhor a força para perdoá-la. E vamos perdoá-la por amor ao Senhor. Queridos irmãos e irmãs, isto far-nos-á bem, restituir-nos-á a paz no coração".

"Que Maria, Mãe da Misericórdia, nos ajude a acolher a graça de Deus e a perdoar-nos uns aos outros", concluiu.

VN

15 setembro 2023

NOSSA SENHORA DAS DORES (2023)

 
 
 
 
 
Olho-te Mãe

nesses olhos tão profundos
onde repassa a dor.

Quero acarinhar-te
mas afinal és Tu que me beijas
e me enches de amor.

Puxas-me para Ti
sentas-me ao teu colo
afagas-me o rosto
e dizes-me com ternura:
Deixa estar assim
bem junto de mim
que Eu gosto.

Eu aninho-me mais um pouco
e repito baixinho
uma súplica constante:
Roga por nós pecadores,
Mãe,
Nossa Senhora das Dores.




Monte Real, 15 de Setembro de 2023

 

11 setembro 2023

O PRECEITO


 
 
 
 
«Eu pergunto-vos se é permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la»



O que resta do preceito sem o amor?
O que resta do preceito sem a máxima vontade de fazer a vontade de Deus?
O que resta do preceito sem amar primeiro a Deus?
O que resta do preceito sem amar os outros como a mim mesmo?
O que resta do preceito se o mesmo se torna rotina sem fé?
O que resta do preceito sem a comunhão com os outros em Igreja?
O que resta do preceito sem a vontade de servir a Deus servindo os outros?
O que resta do preceito se não há obediência aos ensinamentos de Jesus Cristo e da Igreja?
O que resta do preceito se não houver abertura à luz do Espírito Santo?
O que resta do preceito se ele não me edifica?
O que resta do preceito se ele não me une e me faz unir?
O que resta do preceito se ele não me dá vida e faz viver?

Enfim, verdadeiramente, o que resta do preceito sem o amor?

O preceito é coisa boa se tiver tudo isto e muito mais, porque então não se fica apenas pelo preceito, mas antes se torna vida e amor de Deus em nós, para nós e para os outros.




Monte Real, 11 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

 

10 setembro 2023

Papa: a correção fraterna sugere ajudar o irmão no erro, com gentileza e não chacota

a
 
Na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus deste domingo (10), Francisco refletiu sobre a "correção fraterna" proposta no Evangelho do dia e indicou três passos para alcançar aquela que é "uma das expressões mais elevadas do amor e também uma das mais exigentes, porque não é fácil corrigir os outros". Quando um irmão na fé comete uma falta, "Apontas o dedo ou abres os braços?", questionou o Pontífice.
  

Andressa Collet - Vatican News

O Papa nestá de volta ao Angelus na Praça São Pedro, já que há exatamente uma semana cumpria agenda na Ásia durante viagem apostólica à Mongólia. Neste domingo (10), ao reencontrar os peregrinos no Vaticano, Francisco refletiu sobre o trecho do Evangelho do dia (cf. Mt 18,15-20) que fala da "correção fraterna", descrevendo-a como "uma das expressões mais elevadas do amor e também uma das mais exigentes, porque não é fácil corrigir os outros... Quando um irmão na fé comete uma falta contra ti, tu, sem rancor, o ajudas, o corrijes". Mas nem sempre é assim, recorda o Pontífice:

"Infelizmente, por outro lado, a primeira coisa que geralmente se cria em torno de quem erra é a chacota, em que todos ficam a saber do erro, com todos os detalhes, excepto a pessoa em questão! Isto não é correto, irmãos e irmãs, isto não agrada a Deus. Não me canso de repetir que a chacota é uma praga na vida das pessoas e das comunidades porque leva à divisão, leva ao sofrimento, leva ao escândalo, e nunca ajuda a melhorar, nunca ajuda a crescer."

O Pontífice, então, recorreu a São Bernardo de Claraval (1090-1153), "um grande mestre espiritual", educador de gerações de santos que deixou documentos fundamentais e tinha a humanidade de Cristo como o centro de tudo. Ele "dizia que a curiosidade estéril e as palavras superficiais são os primeiros degraus da escada da soberba, que não leva para cima, mas para baixo, precipitando o homem para a perdição e a ruína (cf. Os Graus da Humildade e da Soberba)".

Os passos para a correção fraterna

O melhor comportamento é ensinado pelo próprio Jesus em três etapas, recorda Francisco. A primeira sugere que, para corrigir o irmão que cometeu o erro, "converse-se com ele 'cara a cara', converse de forma justa, para ajudá-lo a ver onde está errando". Uma atitude "para o bem dele", "que não é aquela de falar mal, mas dizer as coisas na cara dele com mansidão e gentileza".

Se itso não for suficiente, Jesus aconselha a procurar ajuda junto de algumas pessoas que realmente tenham boa intenção. "Mas cuidado: não aquele grupo de tagarelas!", alerta o Pontífice. Se mesmo assim não entender, "então, diz Jesus, envolva a comunidade".

"Mas, também aqui, vamos esclarecer: não significa ridicularizar a pessoa, envergonhá-la publicamente, não, mas sim unir os esforços de todos para ajudá-la a mudar. Apontar o dedo contra as pessoas não é bom; na verdade, muitas vezes torna mais difícil para quem errou reconhecer o próprio erro. Em vez disso, a comunidade deve fazer com que ele ou ela sinta que, ao mesmo tempo em que condena o erro, está próxima com a oração e com o carinho à pessoa, sempre pronta a oferecer o perdão, a compreensão e a começar de novo."

Se não ouvir nem mesmo a comunidade, Jesus diz que o irmão deve tornar-se “como se fosse um pagão ou um pecador público” (v. 17). O Papa Francisco conclui a reflexão do Evangelho pedindo a intercessão de Maria "que continuou a amar mesmo quando ouvia as pessoas condenarem o seu Filho". E para procurar o caminho do bem, Francisco assim convida-nos a analisar, perguntando a nós mesmos::

“Como eme comporto com quem erra contra mim? Será que guardo isto para mim e acumulo ressentimentos? 'Vais pagar por isto': esta palavra, que vem com tanta frequência... 'Vais pagar por isto'. Será que faço disto um motivo para falar pelas costas? 'Sabes o que aquele ali fez?' Blá blá blá... aquele papo.... Ou sou corajoso, corajosa e tento conversar? Rezo por ele ou por ela, peço ajuda para fazer o bem? E as nossas comunidades cuidam daqueles que caem, para que possam levantar-se e começar uma nova vida? Apontam o dedo ou abrem os braços? O que fazes? Apontas o dedo ou abres os braços? Pensa.”

VN