Ao princípio, confesso, também eu
“embarquei” na critica ao valor apresentado para a construção do palco e
respectivos arranjos para realizar as JMJ.
Claro
que poderíamos invocar apenas a frase de Jesus Cristo - «Sempre tereis
pobres entre vós» (Mc 14, 7) – e fazer dela a interpretação que nos
conviesse para “justificar” este gasto.
Também
podíamos justificar o tal valor comparando com tudo aquilo que tem sido
investido ao longo do tempo em eventos vários e falando do seu retorno,
como, por exemplo, o “Websummit”, concertos de rock, etc., e facilmente
perceberíamos que o número de pessoas que se esperam nas JMJ é,
impressionantemente, maior.
Ainda podíamos argumentar com a obra para o futuro e como ela serve para reabilitar e dar outra utilização àquele lugar.
Enfim
poderíamos arranjar todos os argumentos e comparações necessárias para
satisfazer as nossas consciências, justificando o tal valor a investir.
Mas,
por mim, prefiro regressar à frase de Jesus - «Sempre tereis pobres
entre vós» (Mc 14, 7) – e tentar tirar dela um sentido para o valor que
vai ser investido, um sentido mais espiritual e ao mesmo tempo
caritativo.
Os
ensinamentos de Jesus Cristo e, obviamente, a Doutrina da Igreja, como
não podia deixar de ser, voltam-se para os pobres, para os mais
necessitados, e não são apenas aqueles pobres e necessitados de ajuda
material, mas também aqueles que se desesperam, que estão sós, que são
“pobres” espiritualmente, que não encontram o verdadeiro sentido da
vida, o amor de Deus.
Ora, por
isso mesmo, a consciência cristã tem que estar sempre voltada para estes
pobres necessitados, (dos quais também nós fazemos parte em algumas
alturas das nossas vidas), e assim, o ser cristão, ou melhor, o ser
discípulo de Cristo, passa por aprender, para melhor conhecer Deus e
assim melhor amar os outros, ajudando-os nas suas necessidades, sejam
ela quais forem, materiais ou espirituais.
E
é verdade, por todos constatada, que os jovens, (e não só os jovens),
são, neste tempo, constantemente “bombardeados” por supostos valores que
estão bem longe da solidariedade, do amor, da caridade.
Reuni-los,
então, à volta do Papa Francisco, em comunhão de Igreja, ouvindo a
palavra do Vigário de Cristo na terra, reflectindo sobre tudo o que ele
lhes irá dizer e que os levará a comentar entre si essa verdade,
encontrando caminho para o amor de Deus e, tocados por Ele, se tornarem
verdadeiros discípulos de Cristo que pretendam levar a sério a imagem de
São Paulo para a Igreja e assim sendo para a sociedade - «Assim, se um
membro sofre, com ele sofrem todos os membros» (1 Cor 12, 26) – será,
com certeza, um valor inestimável que ultrapassará em muito o tal valor
monetário da referida obra.
E
os jovens, como sempre se afirma, são o futuro, e se o futuro puder ser
moldado no amor aos outros, na caridade aos outros, em comunhão de
Igreja, então o futuro será bem mais esperançoso do que agora se
apresenta.
Então e todos serão “tocados” por esse amor de Deus e por Ele se deixarão conduzir?
Com
certeza que não, infelizmente, mas uma parte com certeza que o será e
assim poderá mudar algo que não se antevia e aqueles que, por acaso,
neste encontro não encontrarem Cristo, não deixarão de ficar com a
semente que mais tarde poderá florescer e tornar-se fruto neles, para
eles e para todos nós.
Já
estou a ver quem me estiver a ler a pensar que eu “vivo nas nuvens”,
que isto é muito bonito mas não passa de palavras escritas, mas a
verdade é que eu, por exemplo, também não me preocupava com os outros,
nem com Deus, mas a semente que tinha sido plantada no meu coração
acabou por dar fruto e, hoje em dia, mesmo sendo pecador, sou diferente e
preocupo-me e tento ajudar os outros, não só materialmente, mas também
espiritualmente, em tudo aquilo a que Deus me chama.
Claro
que, gostaria de ouvir a “minha” Igreja dizer, claramente, que não
seria preciso gastar um valor tão elevado para fazer um palco e um altar
com a dignidade suficiente para receber o Papa e as JMJ, mas também
penso que não compete à Igreja tal decisão.
Claro
que, não sendo engenheiro nem arquitecto, acredito que talvez se
pudesse fazer “coisa” mais simples, embora digna, não gastando a tal
verba anunciada.
Claro que, nos
tempos que hoje vivemos no nosso país, nos podemos perguntar se não irá
alguém usufruir, ilegitimamente, de parte da mesma verba.
Mas
no fundo o que realmente importa é o fruto espiritual, e não só, que
virá destas JMJ, e esse está nas mãos de Deus que semeará, regará e fará
crescer a planta da fé, para depois dar fruto e fruto que permaneça,
para bem de todos nós e maior glória de Deus.
E
para que assim seja, também são necessárias as orações de cada um de
nós, pedindo que o Espírito Santo se derrame abundantemente sobre os
jovens e sobre a humanidade.
O resto são cousas do mundo.
Marinha Grande, 30 de Janeiro de 2023
Joaquim Mexia Alves
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