24 março 2022

O Papa: uma vergonha o aumento de despesas com armas, é necessária uma mudança de rota

 
 Armas para a guerra 
 
"Os poderosos conspiram para estender o seu domínio em detrimento de outros. A verdadeira resposta não é mais armas, mais sanções, mais alianças políticas e militares, mas um outro modo de governar o mundo". Palavras do Papa Francisco no seu encontro com as mulheres do Centro Italiano Feminino nesta manhã (24) no Vaticano 
 

Jane Nogara - Vatican News

Na manhã desta quinta-feira (24), o Papa recebeu um grupo do Centro Italiano Feminino, que se dedica desde 1944 à contribuição da mulher na participação democrática, promoção humana e de solidariedade da sociedade.

Francisco iniciou o seu discurso elogiando o tema do Congresso do Centro Feminino, ou seja, “Identidade criacional do homem e da mulher numa missão partilhada”, afirmando: “Esta é uma questão muito atual, não só e não tanto no sentido teórico, mas no sentido existencial, na vida das pessoas; penso particularmente nos meninos e nas meninas, nos jovens e nas jovens que, à medida que crescem, precisam de pontos de referência, figuras adultas com as quais se comparar”.

Mulheres que influenciam mudanças

Francisco iniciou uma reflexão recordando que a primeira presidente do Centro Feminino, Maria Federici Agabem, participou da redação de alguns artigos da Constituição Italiana, influenciando com a sua “filosofia” constitucional temas relacionados à solidariedade, subsidiariedade e laicidade do Estado. E disse também, recordando Pio XII, que a participação na vida política “não responde simplesmente à reivindicação da plena cidadania para as mulheres, mas é um ato de justiça para com a comunidade e uma valorização da política como forma de caridade".

A política do poder

"Queridas amigas, hoje é claro que a boa política não pode vir da cultura do poder entendida como domínio total, mas apenas de uma cultura do cuidado, cuidado com a pessoa e sua dignidade e cuidado da nossa casa comum. Isto é comprovado, infelizmente de forma negativa, pela guerra vergonhosa que estamos testemunhando”. O Papa afirmou então que é uma vergonha o aumento de despesas com armas, é necessária uma mudança de rota, um novo modo de governar:

“O mundo continua a ser governado como um ‘tabuleiro de xadrez’, onde os poderosos conspiram para estender o seu domínio em detrimento de outros. A verdadeira resposta, portanto, não é mais armas, mais sanções, mais alianças políticas e militares, mas uma abordagem diferente, uma maneira diferente de governar o mundo”

O modelo da cura já está em vigor, graças a Deus, mas infelizmente está submetido ao do poder económico-tecnocrático-militar.

Mulheres, protagonistas da conversão

Ao ponderar sobre as palavras o Papa disse: “Porque fiz esta reflexão convosco? Porque vocês são uma associação de mulheres, e as mulheres são as protagonistas desta mudança de rumo, desta conversão. Desde que não sejam homologadas pelo sistema de poder em vigor”. Francisco citou também Paulo VI no seu documento dedicado às mulheres no final do Vaticano II quando afirmou que ‘as mulheres que carregam o espírito do Evangelho podem fazer muito para ajudar a humanidade a não decair’. E disse: “O poder profético desta expressão é impressionante. De facto, ao adquirirem poder na sociedade, as mulheres podem mudar o sistema, se elas conseguirem, por assim dizer, converter o poder da lógica do domínio para a lógica do serviço, do cuidado. 

“Há uma conversão a ser feita: converter o poder com a lógica do domínio, em poder com a lógica do serviço, com a lógica do cuidado”

Mulheres que cuidam da vida

Francisco concluiu o seu encontro com as mulheres afirmando:

“Falei convosco sobre isto para lembrar a mim mesmo e a todos, começando por nós cristãos, que esta mudança de mentalidade diz respeito a todos e depende de cada um. É a escola de Jesus, que nos ensinou como o Reino de Deus se desenvolve sempre a partir da pequena semente”. “É a escola de Gandhi – disse ainda o Papa - que conduziu um povo à liberdade no caminho da não-violência. É a escola dos santos e das santas de todos os tempos, que fazem a humanidade crescer através do testemunho de uma vida passada ao serviço de Deus e do próximo. Mas é também - eu diria acima de tudo - a escola de inúmeras mulheres que cultivaram e cuidaram a vida; de mulheres que cuidaram dos frágeis, dos feridos, das chagas humanas e sociais; de mulheres que dedicaram as suas mentes e os seus corações para educar as novas gerações”.

VN

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