01 julho 2021

O Papa em apelo de paz para o Líbano: basta de usar o país para interesses e lucros alheios

 
 A conclusão do dia de oração pela paz no Líbano, na Basílica de S. Pedro 
 
Ao reforçar que os libaneses permaneçam unidos para promover “projetos de paz e não de desgraça”, o Papa Francisco concluiu o Dia de Oração pela Paz no Líbano, no Vaticano, com uma mensagem de responsabilidade comum. Daí o apelo do Pontífice para que “os detentores do poder” estejam aó serviço do bem comum e não dos próprios interesses para fazer ressurgir “uma aurora de esperança. Cessem as animosidades, extingam-se os dissídios e o Líbano volte a irradiar a luz da paz”.
 

Andressa Collet - Vatican News

A jornada de reflexão e oração pela paz no Líbano foi nesta quinta-feira (1), a partir do Vaticano e com os líderes das comunidades cristãs presentes no País dos Cedros, mas com a esperança - antecipada pelo próprio Papa Francisco - de que seja um dia “seguido de iniciativas concretas sob o signo do diálogo, do empenho educativo e da solidariedade”. Na mensagem do Pontífice, proferida na Basílica de S. Pedro, após a oração ecuménica que concluiu o evento “Juntos em prol do Líbano”, a exortação para que todos, libaneses na pátria e no mundo inteiro, permaneçam unidos para promover “projetos de paz e não de desgraça”. Esta frase foi repetida quatro vezes pelo Papa na mensagem, “em resposta ao grito da nossa oração” e fazendo referência às palavras de Deus nas Escrituras (Jr 29,11).

A oração pela paz que acompanha o grito de misericórdia

Francisco, junto aos pastores e sustentados pela oração dos fiéis, rezaram e refletiram, impelidos pela grande preocupação pelo Líbano que se vê mergulhado numa grave crise. no meio deste “momento escuro” e orientados “à luz de Deus”, através de invocações e cantos de diferentes tradições presentes naquele país, com textos em árabe, siríaco, arménio e caldeu, o Papa recordou a necessidade de pedir perdão pelas “nossas sombras”, como “os erros cometidos quando não testemunhamos o Evangelho com toda a coerência". Um pedido de misericórdia que é quase “o grito de um povo inteiro”, aquele libanês, “desiludido e exausto, carecido de certezas, de esperança, de paz”.

“Não desistamos, não nos cansemos de implorar, do Céu, aquela paz que os homens têm dificuldade de construir na terra. Peçamo-la insistentemente para o Médio Oriente e para o Líbano. Este querido país (...) não pode ser deixado à mercê do destino ou de quem procura sem escrúpulos os próprios interesses. Pois, sendo sem dúvida um pequeno-grande país, o Líbano é mais do que isto: é uma mensagem universal de paz e fraternidade que se eleva do Médio Oriente.”

Projetos de paz e não de desgraça

O Papa procura enaltecer que a oração em comum desta quinta-feira (1) busca “projetos de paz e não de desgraça”, afirmando “com todas as forças que o Líbano é e deve continuar a ser um projeto de paz”. Uma terra com a vocação da fraternidade, onde diferentes religiões e confissões se encontram e convivem. Daí o apelo do Pontífice para que “os detentores do poder” estejam ao serviço do bem comum e não dos próprios interesses.

“Basta de lucros de poucos à custa da pele de muitos! (…) Basta de fazer prevalecer verdades de parte sobre as esperanças da gente! Basta de usar o Líbano e o Médio Oriente para interesses e lucros alheios! É preciso dar aos libaneses a possibilidade de serem protagonistas de um futuro melhor, na sua terra e sem interferências indevidas.”

Para realizar “projetos de paz e não de desgraça”, Francisco convida ainda os libaneses a inspirarem-se nas “raízes profundas” de uma “história única” do país, através de exemplos – como dos próprios idosos – que usaram a diversidade como possibilidade, não como obstáculo. Uma exortação que é dirigida a todos os cidadãos, mas também aos dirigentes políticos, para que encontrem “soluções urgentes e perduráveis para a crise económica, social e política atual”; aos migrantes, para que se coloquem ao serviço da pátria; e à comunidade internacional, para que, com esforço conjunto, sejam criadas condições para começar um caminho de recuperação.

Enfim, um compromisso renovado a todos os cristãos para se “construir um futuro juntos, porque o futuro só será pacífico se for comum”, enaltece o Papa, sendo “semeadores da paz e artesãos de fraternidade”, sem fugir das responsabilidades do presente.

“Por isso, aos irmãos e irmãs muçulmanos e de outras religiões, asseguramos abertura e disponibilidade para colaborar na construção da fraternidade e na promoção da paz. Esta ‘não exige vencedores nem vencidos, mas irmãos e irmãs que, não obstante as incompreensões e as feridas do passado, passem do conflito à unidade’.”

Unidos, por uma aurora de esperança

No final da mensagem, o Papa recorda a participação dos jovens no momento conclusivo da jornada pelo Líbano no Vaticano, daqueles que são a esperança e “o renascimento do país”, como “lâmpadas que ardem nesta hora escura”. E feito luz que brota das palavras do poeta libanês, Khalil Gibran, citadas pelo próprio Pontífice: “mais além da cortina negra da noite, há uma aurora que nos espera”.

Francisco pede escuta e atenção a essa geração, mas também às crianças: que os seus “olhos luminosos, mas banhados por muitas lágrimas, sacudam as consciências e orientem as opções”. Outras luzes a serem “respeitadas, valorizadas e envolvidas nos processos decisórios do Líbano” são aquelas das mulheres, lembra Francisco, ao finalizar a mensagem parafraseando novamente o poeta sobre a importância da união diante da escuridão: “para chegar à aurora, não há outra estrada senão a noite. E na noite da crise, é preciso permanecer unidos”.

“Oxalá se dissipe a noite dos conflitos e ressurja uma aurora de esperança. Cessem as animosidades, extingam-se os dissídios e o Líbano volte a irradiar a luz da paz.”

VN

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