Por ocasião do Dia Mundial do Doente, assinalado esta quinta-feira, 11
de fevereiro, publicamos um texto do diretor da Pastoral da Saúde do
Patriarcado de Lisboa, Pe. Fernando Sampaio, sobre a mensagem do Papa
Francisco para este dia.
Na mensagem para o XXIX Dia Mundial do Doente,
o Papa Francisco começa por orientar o seu pensamento para «as pessoas
doentes e quantos as assistem quer nos centros sanitários quer no seio
das famílias e comunidades». Manifesta, ainda, «a sua proximidade
espiritual e a solicitude da Igreja a todos, particularmente aos que
sofrem os efeitos da pandemia e aos mais pobres e marginalizados».
Para
tema da mensagem, inspira-se na passagem de Mateus em que Jesus critica
a hipocrisia de quantos dizem, mas não fazem (cf. Mt 23, 1-12). Afirma
que esse palavreado sem obras revela uma hipocrisia a que ninguém está
imune, contudo dá conta de uma incoerência entre a fé e a vida real. E
diz que, a essa hipocrisia, Jesus opõe um modelo de proximidade. Face a
quem o procura, Jesus detém-se, escuta, estabelece uma relação direta e
pessoal, sente empatia e enternecimento, deixa-se comover pelo
sofrimento, cura (cf. Lc 10, 30-35).
Da mensagem do Santo Padre podem-se destacar, em resumo, cinco pontos.
Em primeiro lugar, a necessidade dos outros e de Deus - A experiência da doença dá conta que somos vulneráveis e impotentes, que necessitamos do cuidado dos outros e também de Deus. Os cuidados de saúde, por exemplo, não dependem «das nossas capacidades nem do nosso afã, mas dos outros».
Segundo, a urgência de um sentido para a vida - A experiência da doença e sofrimento leva a pessoa doente a interrogar-se sobre o sentido da vida. Esta interrogação, na verdade, dirige-se a Deus à procura de um novo significado, de uma nova direcção a seguir, mas nem sempre encontra resposta imediata. Nesta procura inquietante, comenta o Papa, nem sempre o doente encontra na companhia dos amigos e dos familiares a ajuda mais adequada e recorre ao exemplo de Job. O diálogo acusatório dos amigos fez que Job se sentisse ainda mais só, desorientado e confuso. Foi num diálogo sincero com Deus, a partir dos limites de sua própria fragilidade, que compreendeu o sofrimento. Verificou que não é uma punição nem um castigo e, ainda, que Deus não se afasta do homem nem é indiferente ao seu sofrimento. Descobriu, assim, um horizonte que o levou a reconhecer Deus de forma nova: «Os meus ouvidos tinham ouvido falar de Ti, mas agora veem-Te os meus próprios olhos» (Job 42, 5).
Terceiro, o desafio de proximidade aos doentes e frágeis - O Santo padre desafia os cristãos (a nível pessoal e em comunidade) a tornarem-se próximos dos irmãos doentes, frágeis e atribulados, tal como Jesus o fez. A proximidade, afirma, é um bálsamo precioso que dá apoio e consolação. É expressão do amor de Jesus Cristo, o bom Samaritano, que, compadecido, também «Se fez próximo de todo o ser humano, ferido pelo pecado». E diz ainda que «o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz de curar, que não abandona ninguém, que inclui e acolhe sobretudo os mais frágeis».
Quarto, a urgência de uma relação de ajuda empática - Para que o doente não fique só e desorientado como Job, defende que «é decisivo o aspeto relacional, através do qual se pode conseguir uma abordagem holística da pessoa doente». Enfatiza, deste modo, que quem acompanha os doentes em seu itinerário de cura deve estabelecer com eles uma relação interpessoal de confiança, colocando no centro a dignidade da pessoa cuidada e estabelecendo com ela um «pacto baseado na confiança e respeito mútuos, na sinceridade e na disponibilidade». Diz ainda que «tal relação com a pessoa doente encontra uma fonte inesgotável de motivações e energias na caridade (exemplo) de Cristo (…) Efetivamente, do mistério da morte e ressurreição de Cristo, brota aquele amor que é capaz de dar sentido pleno tanto à condição do doente como à da pessoa que cuida dele».
Em quinto lugar, denuncia as injustiças nos cuidados de saúde, por um lado, e enfatiza a generosidade de muitos, por outro - O Papa denuncia as dificuldades e carências dos mais idosos, vulneráveis e frágeis no acesso aos cuidados de saúde. Afirma que a atual pandemia pôs em evidência as insuficiências dos sistemas sanitários provocadas por opções políticas na administração dos recursos. Destaca também a dedicação e generosidade de profissionais de saúde, voluntários, trabalhadores, sacerdotes e religiosos que a pandemia veio a revelar. Na verdade, têm ajudado a tratar, confortar e servir doentes e os seus familiares com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo.
O Santo Padre termina a mensagem fazendo apelo a uma cultura do cuidado. Diz que «uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma eficiência animada por amor fraterno. Tendamos para esta meta, procurando que ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado». E, por último, confia a Maria, Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos, as pessoas doentes, os agentes de saúde e todos aqueles que se aproximam dos que sofrem. A todos e cada um concede a sua bênção.
Padre Fernando Sampaio
Diretor da Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa
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