19 março 2021

Francisco, na primeira missa - a semente de um magistério

 
O Papa Francisco na missa com a comunidade filipina  (Vatican Media) 
 
 
O padre Luigi Maria Epicoco, teólogo e decano do Instituto Superior Ciências Religiosas Fides et Ratio da cidade de L'Aquila, relê as palavras pronunciadas pelo Papa em 19 de março, há oito anos, durante a missa do início da seu pontificado: nesses pensamentos encontramos ensinamentos que só oito anos depois entendemos plenamente.

 

Eugenio Bonanata, Silvonei José – Vatican News

Há um aspeto marcante da Missa com a qual o Papa “que veio quase do fim do mundo" começa a sua missão como chefe da Igreja. É um 19 de março e é legítimo esperar uma referência à figura de S. José. Na realidade, a homilia daquela missa que foi a primeira a mostrar o coração de Francisco ao mundo está inteiramente centrada nas qualidades do Esposo de Maria. Estes pensamentos sobre José "guardião" são uma pista, mas "somente após oito anos podemos entender a importância daquelas palavras", diz o teólogo padre Luigi Maria Epicoco numa entrevista dada à TV italiana Telepace, que será transmitida num especial nesta noite de sexta-feira.

Curar o mundo é curar o homem

Naquela homilia, reflete o teólogo, o novo Papa prefigura "tudo o que vimos desdobrar-se sucessivamente nos documentos, nos gestos, nas escolhas e nas viagens". Naqueles momentos evidencia-se um dos pilares do magistério que Francisco prefigurou imediatamente após a sua eleição, quando do Balcão das Bênçãos ele convidou as pessoas a rezar pela fraternidade, e novamente durante o Angelus com a referência à centralidade da misericórdia. Na vocação de guardião de José também evidenciam-se as premissas da Laudato si', a grande arquitetura concebida por Francisco para dizer à humanidade que o homem salva -se junto com a terra que ele habita. É a abordagem da ecologia integral, que o Papa já antecipava naquela ocasião ao pedir o "favor" aos muitos chefes de Estado e de governo que vieram prestar-lhe homenagem, para aumentar o compromisso dos seus países nesta direção. A custódia é uma "vocação que não diz respeito somente a nós cristãos", disse o Papa, explicando a necessidade de cuidar também dos relacionamentos, da família, das amizades. Por isso, sublinha o padre Epicoco, uma evidência com a qual Francisco manteve, e mantém, "que para cuidar do mundo é preciso levar as pessoas a sério".

Uma homilia, a de 19 de março, há oito anos, que contém as sementes de um jardim que está prestes a brotar. E anos mais tarde, em dezembro passado, Francisco anunciou a convocação de um ano especial dedicado a S. José em concomitância com o 150º aniversário da sua proclamação como patrono da Igreja. Uma decisão tomada com a carta apostólica Patris corde, não por acaso amadurecida num momento de tribulação como o vivido no presente.

A verdade dos gestos entre os "mercadores de palavras"

"O Papa - é a opinião do teólogo -, quer-nos dizer que nestas circunstâncias difíceis temos alguém para nos inspirar e para nos confiar". De acordo com as indicações dadas durante a homilia de 19 de março de 2013, o convite é para colocar as decisões pessoais, especialmente complicadas, nas mãos do santo, inspirando-nos no seu exemplo que é uma mistura de muita fé, poucas palavras e muita concretude. "Num mundo como o nosso, feito de aparências e mercadores de palavras, precisamos daqueles que são capazes de deixar os fatos, os gestos e acima de tudo as escolhas falarem por si mesmos", comenta o padre Epicoco. "EDm vez de reclamar, devemos aprender a ser criativos com as circunstâncias adversas", conclui o padre que escreveu um livro intitulado 'Con cuore di padre' (Com coração de pai - Edições São Paulo) contendo orações e meditações para acompanhar os leitores neste caminho desejado por Francisco.

VN

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