30 março 2021

Deslocados pela crise climática. Papa: “Ver ou não ver, eis a questão!"

 
 Deslocados latino-americanos 
 
 
Prefácio do Papa Francisco ao livro “Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática" organizado pela Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. A conferência de apresentação foi realizada na Sala de Imprensa da Santa Sé com a presença do cardeal Czerny Subsecretário da Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério

 

Jane Nogara - Vatican News

Na manhã desta terça-feira (30) foi realizada uma colnferência de imprensa para a apresentação do livro “Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática” organizada pela Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. A obra tem o prefácio do Papa Francisco. A coletiva contou com a presença do cardeal Michael Czerny S.I, Subsecretário da Seçção Migrantes e Refugiados, e do padre Fabio Baggio, C.S. também Subsecretário da mesma secção.

Ver ou não ver, eis a questão!

O prefácio do livro escrito pelo Papa Francisco, apresenta a obra como “um guia repleto de factos, interpretações políticas e propostas relevantes …mas, - continua o Papa - desde logo, sugiro que adaptemos o famoso “ser ou não ser” de Hamlet e afirmemos: ‘Ver ou não ver, eis a questão!Tudo começa com a capacidade de ver de cada um, sim, a minha e a vossa”. Francisco destaca a nossa indiferença: “Somos submersos por notícias e imagens de povos inteiros desenraizados devido a cataclismos climáticos e forçados a migrar. Mas o efeito que estas histórias produzem em nós e a nossa resposta (...) dependem da nossa capacidade de ver o sofrimento contido em cada história.

Não é algo inevitável

“O facto de as pessoas se deslocarem porque o seu habitat local tornou-se inabitável, pode parecer um processo natural, algo inevitável. No entanto, a deterioração climática resulta muito frequentemente de escolhas erradas e atividade destrutiva, egoísmo e negligência que colocam a humanidade em conflito com a criação, a nossa casa comum”. O Pontífice pondera que a pandemia, “nos atingiu sem aviso” enquanto a crise climática “manifesta-se desde a Revolução Industrial” e não atinge de modo uniforme mas o maior efeito é sentido pelos que menos contribuíram para elas”.

Números crescentes de deslocados

O Papa alerta ainda que “números impressionantes e crescentes de deslocados pela crise climática estão rapidamente a tornar-se uma emergência grave do nosso tempo”. “Forçadas a abandonar campos e zonas costeiras, casas e aldeias, as pessoas fogem à pressa, levando consigo apenas algumas lembranças e tesouros, fragmentos da sua cultura e património. Partem com a esperança de recomeçar as suas vidas num local seguro. Mas na maioria dos casos acabam em favelas perigosamente sobrepovoadas ou em alojamentos precários, à mercê do destino”.

Apelo do Papa

“As pessoas expulsas dos seus lares pela crise climática necessitam de ser acolhidas, protegidas, promovidas e integradas. Elas querem recomeçar. Para criar um novo futuro para os seus filhos, precisam ter condições e ser ajudadas. Acolher, proteger, promover e integrar são verbos que implicam uma ação útil. Retiremos, uma a uma, as barreiras que bloqueiam o caminho dos deslocados, o que os reprime e marginaliza, os impede de trabalhar e ir à escola, tudo o que os torna invisíveis e nega a sua dignidade”.

Não podemos regressar e não podemos começar de novo

Francisco recorda que as “Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática exigem um novo olhar sobre este drama do nosso tempo”. ‘Não podemos regressar e não podemos começar de novo’. Convidam-nos a tomar consciência da indiferença das sociedades e governos para com esta tragédia. Pedem-nos para ver e cuidar. Convidam a Igreja e outros participantes a agir em conjunto e especificam o modo de o fazer”.

Por fim o Pontífice afirma que “Não vamos superar crises como as alterações climáticas ou a COVID-19 refugiando-nos no individualismo, mas apenas com o esforço de “muitos em conjunto”, através do encontro, do diálogo e da cooperação”. Enche-me assim de grande alegria o facto de estas Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática terem sido elaboradas sob a égide do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, juntamente pela Secção Migrantes e Refugiados e pelo Setor de Ecologia Integral. Esta colaboração é, em si mesma, um sinal do caminho a seguir. Ver ou não ver é a questão que nos conduz à resposta numa ação conjunta. Estas páginas mostram-nos o que é preciso e, com a ajuda de Deus, o que fazer”.

VN

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