Jane Nogara - Vatican News
O primeiro compromisso da manhã desta sexta-feira (04/11) do Papa Francisco no Bahrein foi a participação no Encerramento do Fórum “Oriente e Ocidente em prol da Coexistência Humana”. Francisco iniciou o nseu discurso recordando que a terra vista do alto apresenta-se como um vasto mar azul, que liga margens distintas. “Do céu”, disse o Papa, “parece recordar-nos que somos uma família: não ilhas, mas um único grande arquipélago. É assim que o Altíssimo nos quer, e bem pode simbolizar o seu anseio por este país, um arquipélago de mais de trinta ilhas”.
Entre dois mares de sabores opostos
O paradoxo mundial
Ponderando a questão disse ainda: “Impressiona este paradoxo:
enquanto a maior parte da população mundial encontra-se unida pelas
mesmas dificuldades, atormentada por graves crises alimentares,
ecológicas e pandémicas, bem como por uma injustiça planetária cada vez
mais escandalosa, uns poucos poderosos concentram-se decididamente numa
luta por interesses de parte, desenterrando linguagens obsoletas,
redesenhando áreas de influência e blocos contrapostos”. Alertando eguidamente que “veremos multiplicar-se estas amargas consequências, se
continuarmos a acentuar as oposições sem redescobrir a compreensão”, “se
não deixarmos de distinguir de forma maniqueísta quem é bom e quem é
mau, se não nos esforçarmos por compreender e colaborar para o bem de
todos”. Concluindo este ponto disse:
Documento da Fraternidade Humana
Então Francisco convida a considerar o Documento sobre a Fraternidade
Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, onde se almeja um
encontro fecundo entre Ocidente e Oriente. “Encontramo-nos aqui,
crentes em Deus e nos irmãos, para rejeitar ‘o pensamento isolante’,
aquele modo de ver a realidade que ignora o mar único da humanidade para
se concentrar apenas nas suas próprias correntes”. Ao falar sobre os
temas debatidos durante o Fórum o Papa disse que os líderes religiosos
“não podem deixar de se comprometer e dar bom exemplo”.
“Assim, continuou Francisco, “queria delinear três desafios, que sobressaem do Documento sobre a Fraternidade Humana e da Declaração do Reino do Bahrein e sobre os quais se refletiu nestes dias. Dizem respeito à oração, à educação e à ação.
Oração e Coração
“Em primeiro lugar, a oração, que toca o coração do homem. Na
realidade, os dramas que sofremos e as perigosas dilacerações que
experimentamos, ‘os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão
ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do
homem’” (Gaudium et spes, 10).
“Por isso mesmo a oração, a abertura do coração ao Altíssimo, é fundamental para nos purificar do egoísmo, do isolamento, da autorreferencialidade, das falsidades e da injustiça.
Liberdade religiosa
Porém afirma ainda o Papa “para que isso possa acontecer, há uma premissa indispensável: a liberdade religiosa. A Declaração do Reino do Bahrein explica que ‘Deus orientou-nos para o dom divino da liberdade de opção’ e, por conseguinte, ‘qualquer forma de coerção religiosa não pode levar a pessoa a uma relação significativa com Deus’”.
Educação e mente
“Se o desafio da oração tem a ver com o coração, o segundo desafio – a educação – diz respeito essencialmente à mente do homem” afirmou o Papa. “A Declaração do Reino do Bahrein afirma que ‘a ignorância é inimiga da paz’. É verdade que, onde faltam oportunidades de instrução, aumentam os extremismos e radicam-se os fundamentalismos”. “De facto, é indigno da mente humana crer que as razões da força prevalecem sobre a força da razão, usar métodos do passado para as questões presentes, aplicar os esquemas da técnica e da conveniência à história e à cultura do homem”. Explicando este ponto Francisco afirma: “Isto requer questionarmo-nos, entrar em crise e saber dialogar com paciência, respeito e espírito de escuta; aprender a história e a cultura alheia. Assim se educa a mente do homem, alimentando a compreensão recíproca. Porque não basta dizer que somos tolerantes, é preciso abrir verdadeiramente espaço ao outro, dar-lhe direitos e oportunidades”.
Urgências educativas
O Papa descreveu seguidamente três urgências educativas: “Em primeiro lugar, o reconhecimento da mulher na esfera pública: reconhecer o seu direito ‘à instrução, ao trabalho, ao exercício dos seus direitos políticos’. Em segundo lugar, “‘a tutela dos direitos fundamentais das crianças’, para que cresçam instruídas, assistidas, acompanhadas, não condenadas a viver nos mordimentos da fome e nos remordimentos da violência”. Por fim em terceiro lugar, “a educação para a cidadania, para viver juntos, no respeito e na legalidade. E, em particular, a importância do ‘conceito de cidadania’, que ‘se baseia na igualdade dos direitos e dos deveres’”.
Ação e as forças do homem
Por fim falou sobre o último dos três desafios: “aquele que diz respeito à ação – poder-se-ia dizer –, às forças do homem. A Declaração do Reino do Bahrein ensina que, ‘quando se prega ódio, violência e discórdia, profana-se o nome de Deus’”. “Com efeito”, concluiu o Papa, “não basta dizer que uma religião é pacífica, é preciso condenar e isolar os violentos que abusam do seu nome. E não basta sequer distanciar-se da intolerância e do extremismo, é preciso agir em sentido contrário”. E disse com firmeza:
Concluindo este ponto disse:
“O homem religioso, o homem de paz, opõe-se também à corrida ao rearmamento, aos negócios da guerra, ao mercado da morte. Não sustenta ‘alianças contra ninguém’, mas caminhos de encontro com todos: sem ceder a relativismos ou sincretismos de qualquer espécie, segue apenas uma estrada, a da fraternidade, do diálogo, da paz. Estes são os seus ‘sins’”. Da Praça Al-Fida' no Palácio Real de Sakhir em Awali, Bahrein, a voz do Papa sobe aos céus ao lançar um novo e sentido apelo 'pelo fim da guerra na Ucrânia e por sérias negociações de paz'".
VN
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