09 agosto 2021

Edith Stein, o dom da vida contra a intolerância

 

 
 Edith Stein, o dom da vida  

 
"Mártir, mulher de coerência, mulher que busca a Deus com honestidade, com amor e mulher mártir do seu povo judeu e cristão". Foi assim que o Papa Francisco definiu Santa Teresa Benedita da Cruz, que a Igreja celebra hoje. Uma figura que ainda hoje ilumina o caminho, especialmente para a Europa, da qual ela é co-padroeira. A filósofa Bello: "Uma mulher corajosa que pode dizer muito ao mundo de hoje".
 

Benedetta Capelli – Vatican News

Uma filha amada pela Igreja que reconheceu o seu testemunho de fé e amor, o seu ser 'luz na noite escura', como Bento XVI definiu Edith Stein. Nascida na Silésia alemã em 1881 duma família judaica, ela tornou-se filósofa e depois converteu-se ao catolicismo, pois foi fulgurada pela vida de Santa Teresa de Ávila, sem nunca negar as suas origens judaicas. 

Ela tornou-se religiosa carmelita com o nome de Teresa Benedita da Cruz e durante os anos da perseguição nazista foi transferida para a Holanda. Mas foi ali, no Carmelo de Echt, que ela escreveu o seu desejo de se oferecer "como sacrifício de expiação pela verdadeira paz e a derrota do reino do anticristo". Dois anos após a invasão nazista da Holanda em 1940, ela foi levada com outros 244 judeus católicos a Auschwitz, como ato de represália contra o episcopado holandês, que se opôs publicamente às perseguições. Ela morreu no campo de extermínio junto com a sua irmã Rosa, que também tinha-se convertido ao catolicismo.

O amor cura a dor

S.João Paulo II canonizou-a em 11 de outubro de 1998, destacando a sua "viagem na escola da Cruz" e mostrando como o amor faz frutificar até mesmo na dor. No ano seguinte ele elevou-a a co-padroeira da Europa junto com Santa Catarina de Siena e Santa Brígida da Suécia. A editora italiana Città Nuova apresentou recentemente a série 'Obras completas de Edith Stein'. A professora Angela Ales Bello, docente emérita de História da Filosofia Contemporânea na Pontifícia Universidade Lateranense em Roma e presidente da Associação Italiana Edith Stein, foi quem realizou a edição. Ela destaca as semelhanças entre o momento histórico atual, marcado pela pandemia, e o vivido por Santa Teresa Benedita da Cruz, que por sua vez foi condicionado pela febre espanhola.

O que a história e o pensamento de Edith Stein pode dizer hoje, np meio de uma emergência pandêmica? Qual é a sua mensagem?

Eu diria que a mensagem é de vários tipos. Em primeiro lugar, é uma questão de agir na história e, portanto, de sermos capazes de nos tornarmos, dentro da nossa própria esfera de ação, verdadeiros protagonistas de uma ação voltada para o bem, não apenas o nosso, é claro, mas para o bem dos outros. E aqui o conceito de "comunidade" que Stein propõe é extremamente importante, uma comunidade que significa solidariedade e assunção de responsabilidade mútua. É, portanto, uma mensagem de caráter moral baseada numa dimensão fundamentalmente religiosa, judaico-cristã. 

O Papa Francisco destacou as suas escolhas corajosas, tanto na sua conversão a Cristo, como no dom de sua vida contra todas as formas de intolerância e perversão ideológica. Há, segundo a senhora, aspetos desta figura que são menos conhecidos ainda hoje?

Certamente ela é uma figura completa e complexa. Complexa significa que é difícil captar todas as nuances da sua personalidade. O meu longo estudo dos escritos de Stein permitiu-me ficar um pouco em sintonia, pelo menos acho que sim, com uma pessoa que foi corajosa até o fundo, e isto também é demonstrado pela sua participação na Primeira Guerra Mundial como enfermeira da Cruz Vermelha na sua juventude, contra os conselhos da sua família, porque o trabalho era naturalmente muito arriscado. Ela viu-se num hospital onde também estavam pacientes com tifo e, portanto, numa situação muito difícil. Mas não apenas este elemento mostra a sua coragem, mas também a forma como ela enfrentou a sua conversão religiosa em relação à sua família que, naturalmente, não poderia aceitar esta mudança para uma visão diferente da do judaísmo. E novamente no momento da perseguição, ela é de facto um extraordinário exemplo de centralidade sobre si mesma, de serenidade interior que vem da consciência da fé para enfrentar qualquer situação negativa. De 5 a 9 de agosto ela foi transferida para Auschwitz junto com a sua irmã que a segui para o Carmelo de Echt, na Holanda. De acordo com o testemunho de alguns dos sobreviventes, ela estava especialmente empenhada em cuidar das crianças que muitas vezes tinham sido abandonadas pelas suas mães, que não as podiam cuidar mais devida à angústia e do drama da situação. Ela é, portanto, um exemplo verdadeiramente extraordinário de força moral para nós. Nos seus escritos, ela fala da força espiritual que pode contrastar todas as situações negativas da vida, mesmo quando falta o que ela chama de força vital. Jesus mostrou-nos a força moral na sua paixão e morte, então Stein realmente o imitou e acredito que este foi também um elemento importante na determinação de sua santidade.

Que imagem de Edith Stein fornece a série que a senhora está a realizar?

Antes de tudo, de uma pensadora, não devemos esquecer todas as suas pesquisas filosóficas. Ela tinha uma capacidade teórica e de intuir imediatamente os elementos fundamentais diante de uma situação problemática e extraordinária. A sua inteligência era grande no sentido de compreensão. A sua reflexão foi fundamentalmente centrada no ser humano, mas depois do ser humano na sua singularidade, ela passou a outros: daí o grande tema da intersubjetividade, da interpessoalidade. O ensino de Stein sobre o processo educacional é extremamente importante e é fundamental não apenas para os jovens, aos quais ela naturalmente presta grande atenção nas escolas e famílias, mas também para uma educação que poderíamos definir como permanente, recíproca e vitalícia. As suas obras são verdadeiramente um sinal extraordinário da sua excecional atividade intelectual; ela é uma das maiores filósofas de todos os tempos. Stein é, na minha opinião, um farol e é ladeada por outras pensadoras que mostram que as mulheres têm uma extraordinária capacidade teórica. Stein, lecionando na escola secundária por muitos anos, disse que os seus alunos tinham grandes capacidades metafísicas, para compreender precisamente a essência dos fenómenos fundamentais da relação entre o ser humano e Deus, o ser humano e o mundo.

VN

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