Que a Virgem Maria nos ajude a combater a tentação da hipocrisia dentro
de nós mesmos – Jesus diz-les: “Hipócritas”, é uma grande tentação a
hipocrisia -, e ajude-nos a fazer o bem sem aparecer e a fazê-lo com
simplicidade.
Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!
Hoje o Evangelho da liturgia (cfr. Mc 12,38-44) fala-nos de Jesus
que, no templo de Jerusalém, denuncia perante o povo a atitude hipócrita
de alguns escribas (crf. vs. 38-40).
A estes últimos era confiado um papel importante na comunidade de
Israel: liam, transcreviam e interpretavam as Escrituras. Por isso eram
muito considerados e as pessoas prestavam-lhes reverência.
Para além das aparências, no entanto, o seu comportamento muitas vezes
não correspondia ao que ensinavam. Alguns, de facto, fortes pelo
prestígio e poder de que gozavam, olhavam os outros “de cima para
baixo”, faziam pose e, escondendo-se por detrás de uma fachada de falsa
respeitabilidade e de legalismo, arrogavam-se privilégios e chegavam até
mesmo a cometer verdadeiros furtos em detrimento dos mais fracos, como
as viúvas (cfr. v. 40). Em vez de usarem o seu papel para servir os
outros, faziam dele um instrumento de prepotência e de manipulação. E
acontecia que também a oração, para eles, corria o risco de não ser mais
um momento de encontro com o Senhor, mas uma ocasião para ostentar
respeitabilidade e falsa piedade, útil para atrair a atenção das pessoas
e obter consensos (cfr. ibid.).
Comportavam-se como pessoas corruptas, alimentando um sistema social e
religioso em que era normal tirar vantagem à custa dos outros,
especialmente dos mais indefesos, cometendo injustiças e garantindo a
impunidade.
Destas pessoas Jesus recomenda tomar distância, “ter cuidado” (ver
versículo 38) de não imitá-las. Pelo contrário, com a sua palavra e o
seu exemplo, como sabemos, ensina coisas muito diferentes sobre a
autoridade. Ele fala dela em termos de abnegação e de serviço humilde
(cf. Mc 10,42-45), de ternura materna e paterna para com as pessoas (cf.
Lc 11,11-13), especialmente em relação às necessitadas (Lc 10,25-37).
Convida a quem tem autoridade a olhar para os outros, a partir da sua
própria posição de poder, não para humilhá-los, mas para elevá-los,
dando-lhes esperança e ajuda.
Então podemos perguntar-nos: como me comporto eu nos meus âmbitos de
responsabilidade? Ajo com humildade ou tiro vantagens da minha posição?
Sou generoso e respeitoso com as pessoas ou trato-as de forma rude e
autoritária? E com os irmãos e as irmãs mais frágeis, estou próximo
deles, sei inclinar-me para ajudá-los a levantarem-se?
Que a Virgem Maria nos ajude a combater a tentação da hipocrisia
dentro de nós mesmos, a fazer o bem sem aparecer e com simplicidade.
O Santo Padre após o Angelus recordou o
drama do Chade, da Espanha, da Terra Santa, Mianmar e Sudão. “A guerra é
sempre uma derrota, sempre!”
Silvonei José – Vatican News
Após a oração mariana do Angleus deste
1º de novembro, Festa de Todos os Santos, o Papa Francisco expressou a sua
solidariedade com o povo do Chade, especialmente às famílias das vítimas
do grave ataque terrorista ocorrido há alguns dias, bem como às pessoas
afetadas pelas enchentes.
E em relação a catástrofes ambientais, continuou o Papa, “rezemos
pelo povo da Península Ibérica, especialmente pela comunidade
valenciana, atingida pela tempestade “DANA”: pelos falecidos e os seus
entes queridos, e por todas as famílias prejudicadas. Que o Senhor
sustente aqueles que sofrem e aqueles que levam socorro. A nossa
solidariedade ao povo de Valência".
Seguidamente, o Papa saudou os participantes na “Corrida dos Santos”, organizada pela Fundação Missões Dom Bosco. “Queridos
amigos, - disse - também neste ano vocês lembram-nos que a vida cristã é
uma corrida, mas não como corre o mundo, não! É a corrida de um coração
que ama! E obrigado pelo vosso apoio à construção de um centro desportivo
na Ucrânia".
O Papa então pediu para que rezemos pela
martirizada Ucrânia, rezemos pela Palestina, Israel, Líbano, Mianmar,
Sudão e por todos os povos que sofrem com as guerras.
“Irmãos e irmãs, a guerra é sempre
uma derrota, sempre! E é ignóbil, porque é o triunfo da mentira, da
falsidade: busca-se o maior interesse para si mesmo e o maior dano para o
adversário, pisando vidas humanas, o meio ambiente, infraestruturas,
tudo; e tudo disfarçado com mentiras. E os inocentes sofrem! Estou
a pensar nas 153 mulheres e crianças massacradas nos dias passados em
Gaza”.
Francisco então recordou que neste sábado temos a comemoração anual de todos os fiéis defuntos. “Aqueles
que podem, nestes dias, vão rezar no túmulo dos seus entes queridos”,
pediu. “Eu também irei amanhã de manhã celebrar a missa no Cemitério
Laurentino, em Roma. Não devemos esquecer: a Eucaristia é a maior e mais
eficaz oração pelas almas dos falecidos".
O Papa concluiu desejando a todos uma
boa festa na companhia dos santos. Saudou ainda os jovens da Imaculada
que são bons!, acrescentou, pedindo para não nos esquecermos de rezar por
ele.
O caminho da santidade, recordou o Papa
no Angelus desta sexta-feira, 1º de novembro e Dia de Todos os Santos,
começa pelo comprometimento na primeira pessoa em "praticar as
Bem-aventuranças do Evangelho nos ambientes em que vivo". Tantos
santos venerados nos altares como aqueles da "porta ao lado", são
"pessoas 'cheias de Deus', incapazes de permanecer indiferentes às
necessidades do próximo; testemunhas de caminhos luminosos,
Andressa Collet - Vatican News
Neste 1º de novembro a Igreja celebra o Dia de Todos os Santos. Na Praça São Pedro, também ponto de partida para a tradicional
Corrida dos Santos na sua décima sexta edição com 4 mil atletas, o Papa
refletiu no Angelus sobre o Evangelho do dia (cf. Mt 5,1-12) e
as Bem-aventuranças proclamadas por Jesus, que são "a carteira de
identidade do cristão e o caminho da santidade", aquele feito por amor,
"que Ele mesmo percorreu primeiro ao se tornar homem, e que para nós é
tanto um dom de Deus quanto a nossa resposta".
O caminho da santidade
É dom de Deus, explicou Francisco, porque, é para Ele "que
pedimos que nos faça santos, que torne o nosso coração semelhante ao
seu", de modo que em nós, como dizia o Beato Carlo Acutis, "tenha sempre
'menos de mim para dar lugar a Deus'". O que nos leva ao segundo ponto,
continuou o Pontífice, a nossa resposta:
O Pai do céu, de facto, oferece-nos a sua santidade, mas não nos
impõe. Ele semeia-a em nós, faz-nos sentir o gosto e ver a beleza,
mas depois espera a nossa resposta. Deixa a nós a liberdade de seguir
as suas boas inspirações, de nos deixarmos envolver pelos seus projetos,
de fazer nossos os seus sentimentos (cf. Dilexit nos, 179),
colocando-nos, como Ele nos ensinou, ao serviço dos outros, com uma
caridade como sempre mais universal, aberta e dirigida a todos, aberta e
dirigida ao mundo inteiro.
Tudo isto vemos na vida dos santos, aprofundou o Papa, ao citar o
caminho da santidade feito por "São Maximiliano Kolbe, que em Auschwitz
pediu para tomar o lugar de um pai de família condenado à morte; ou em
Santa Teresa de Calcutá, que passou a sua existência ao serviço dos mais
pobres entre os pobres; ou no bispo São Óscar Romero, assassinado no
altar por ter defendido os direitos dos últimos, contra os abusos dos
prepotentes". Santos "moldados pelas Bem-aventuranças" que são venerados
nos altares, sem esquecer aqueles que ficam sempre "na porta ao lado",
"aqueles de todos os dias, escondidos que levam adiante a sua vida
cristã quotidiana", "pessoas 'cheias de Deus', incapazes de permanecer
indiferentes às necessidades do próximo; testemunhas de caminhos
luminosos, possíveis também para nós".
“Perguntemo-nos agora: eu peço a Deus, em oração, o dom de uma
vida santa? Deixo-me guiar pelos bons impulsos que o seu Espírito
desperta em mim? E comprometo-me na primeira pessoa a praticar as
Bem-aventuranças do Evangelho nos ambientes em que vivo?”
A luz da lamparina do sacrário indica que Jesus, que Deus, está verdadeiramente ali presente.
Será
que também eu deixo que brilhe em mim alguma luz, que não me indique a
mim, mas que mostre que eu estou com Deus e Ele está comigo e em mim?
Terá
que ser uma luz simples, sem artificialismos nem “efeitos especiais”,
mas apenas e tão só a Luz de Cristo, aquela Luz que indica o Caminho,
mostra a Verdade e aponta a Vida.
Não
se tem a Luz de Cristo para a “esconder debaixo da cama”, (Lc 8, 16),
mas sim para mostrar o que deve ser mostrado, testemunhado.
Um dia, Senhor, pelo Baptismo, deste-me essa Luz, que és Tu em mim.
Quantas vezes eu escondo a Tua Luz e não deixo que ela seja visto pelos outros?
Quantas vezes eu tenho vergonha de mostrar a Tua Luz, que é afinal a Luz que sempre me ilumina e guia?
Quantas vezes eu deixo que o mundo esconda a Tua Luz em mim, e assim ela não brilha para que os outros Te vejam em mim.
A
luz da lamparina é uma luz trémula, mas, no entanto, mesmo assim,
revela sempre que Tu estás ali bem presente no Sacramento da Eucaristia.
A
luz que tenho em mim e que Tu me deste, é também muitas vezes trémula e
mortiça, não porque ela fosse assim quando Tu ma deste, mas por causa
de mim, que não a alimento com o azeite do Teu amor, com a cera da Tua
Palavra.
Que a Tua Luz brilhe em mim de tal forma que eu nem sequer apareça, mas apenas Tu, Senhor, que és o tudo e o todo em mim.
"Quando dás uma esmola, olha nos olhos
do mendigo? Toca na mão dele para sentires a sua carne?", questionou o Papa
na alocução que precedeu a oração do Angelus, após a missa conclusiva do
Sínodo dos Bispos. O Santo Padre refletiu sobre a cura do cego Bartimeu
e os elementos essenciais do encontro com Jesus: o grito, a fé e o
caminho.
Thulio Fonseca - Vatican News
Neste domingo (27/10), após a missa de encerramento do Sínodo dos
Bispos na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco dirigiu-se à janela do
Palácio Apostólico para o Angelus. Na alocução que precedeu a
tradicional oração mariana, dirigida aos fiéis reunidos na Praça de São
Pedro, o Pontífice refletiu novamente sobre o Evangelho do dia (Mc
10,46-52), que relata o encontro de Jesus com Bartimeu, um cego que,
ignorado pela multidão, é acolhido por Cristo. Francisco destacou os
três aspetos fundamentais desse encontro: o grito do cego, a sua fé e o
novo caminho que o leva a seguir Jesus.
O olhar compassivo do Senhor
O Santo Padre iniciou destacando o grito de Bartimeu, aquele mendigo à
margem da multidão, que ao clamar a Jesus afirma a sua existência: "Eu
existo, olha para mim." Segundo o Papa, este grito não é somente um
pedido de ajuda, mas um clamor de identidade, uma afirmação da sua
dignidade e necessidade de ser visto e acolhido. "Sim, Jesus vê e ouve o
cego mendigo, com os ouvidos do corpo e do coração," explicou
Francisco, ao ressaltar o olhar compassivo do Senhor.
O segundo aspeto abordado foi a fé. Ao confiar em Jesus, Bartimeu
encontra a cura: "Vai, a tua fé te salvou." O Papa sublinhou que o
Senhor observa como Bartimeu olha para Ele e convidou todos a refletir:
"Como olho eu para um mendigo? Eu ignoro-o? E olho-o como Jesus? Sou
capaz de entender as suas perguntas, o seu grito de ajuda? Quando dás a
esmola, olhas nos olhos do mendigo? Tocas na sua mão para sentires sua
carne?"
No próximo devemos ver Jesus
Por fim, o terceiro aspeto do encontro é o caminho. Segundo o
Pontífice, "cada um de nós também é como Bartimeu, cego por dentro, que
segue Jesus assim que nos aproximamos d'Ele", e completou: "Quando te aproximas de um pobre e te faz sentir próximo, é Jesus que se aproxima de ti na pessoa daquele pobre. Por favor, não façamos confusão: a
esmola não é beneficência. Aquele que recebe mais graça através da
esmola é quem a dá, porque se faz olhar pelos olhos do Senhor."
"Rezemos juntos a Maria, a aurora da salvação, para que guarde o nosso caminho na luz de Cristo", concluiu o Papa Francisco.
«É no silêncio que encontramos Deus, e é no silêncio que descobrimos quem realmente somos.» Bento XVI
Parece, por vezes, que temos medo do silêncio perante Deus e às vezes até perante os outros.
Realmente
há momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento em que são lidos
tantos textos bíblicos ou de reflexão, são feitas tantas orações, são
cantados tantos cânticos, que não há espaço para o silêncio, para a
interioridade, para a contemplação, para a adoração, para a escuta do
que Deus nos quer dizer ao coração.
Claro
que os momentos de oração vocal, de cânticos, de textos bíblicos ou de
reflexão, são, obviamente, muito importantes, mas, na adoração ao
Santíssimo Sacramento, é da maior importância o silêncio.
Estar
perante Deus e não se colocar à escuta, não se estar em silêncio
gozando aquele momento e não deixar outros fazê-lo também, é uma pena,
porque Deus nos fala sempre no silêncio.
Quem
não teve já momentos em que, sentado ou passeando em silêncio com uma
pessoa amiga, viveu um encontro sem palavras, de uma união perfeita, que
encheu o coração?
Se isso acontece com as pessoas amigas, quanto mais não acontecerá no nosso encontro com Deus, em adoração.
“Encher”
os momentos de adoração com textos lidos em voz alta, cânticos
contínuos e orações sucessivas, acaba por quase nos afastar do centro da
adoração, que deve ser também e sempre o nosso encontro pessoal com
Cristo.
Cada
um, quando vai para um momento de adoração pode levar a sua Bíblia ou
um livro de reflexão, e então, nalgum tempo desse momento de adoração,
fazer a sua leitura e meditação para si próprio, e essa leitura,
iluminada pelo Espírito Santo, é também uma forma de Ele nos falar no
silêncio.
Lembremo-nos sempre da frase de Samuel: «Fala, Senhor, que o teu servo escuta!» 1 Sm 3, 10
Como queremos nós escutar Deus se não nos calamos, se não fazemos silêncio exterior e interior?
E
como a oração, o silêncio é também um processo de aprendizagem, em que o
Espírito Santo nos vai guiando e ajudando a silenciarmos o nosso
coração e a nossa mente.
É,
por vezes, muito incómodo estarmos num momento de adoração, querermos
fazer silêncio, colocarmo-nos à escuta, mas não conseguimos, porque quem
orienta lê inúmeros textos, entremeados de cânticos e orações escritas,
de tal modo que, a partir de uma certa altura, já nem damos a devida
atenção ao que é dito, nem isso nos serve de reflexão.
Rezar o terço em voz alta numa adoração ao Santíssimo?
Sim, com certeza, mas há tantos momentos para o rezar porquê fazê-lo durante uma adoração?
Parece que estamos apenas a preencher tempo!
Obviamente
que cada um tem a sua própria espiritualidade, mas quando lemos os
mestres da oração, que são sempre verdadeiros adoradores, o silêncio é
uma constante nas suas reflexões, porque é no silêncio que se escuta
Deus.
É que, muitas vezes, esse modo de preencher os momentos de adoração, poderá ser mais “ruído” do mundo, do que silêncio de Deus.
Façamos
muitas vezes e durante bastante tempo silêncio em nós, sobretudo na
adoração ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia, e seremos com certeza
surpreendidos como Deus fala ao nosso coração, à nossa vida quando a Ele
nos entregamos.
«O
silêncio é difícil, mas torna o homem capaz de se deixar conduzir por
Deus. Do silêncio nasce o silêncio. Por Deus, o silencioso, podemos
aceder ao silêncio. E o homem é incessantemente surpreendido pela luz
que então resplandece. O silêncio é mais importante do que qualquer
outra obra humana, porque exprime Deus. A verdadeira revolução vem do
silêncio; conduz-nos para Deus e para os outros para nos colocar humilde
e generosamente ao seu serviço.»
Pensamento 68 - A Força do silêncio - Cardeal Robert Sarah
Na Missa presidida pelo Papa Francisco na
Praça de São Pedro neste 20 de outubro, foram elevados à honra dos altares
os franciscanos Manuel Ruiz López e sete companheiros e os leigos
Francisco, Mooti e Raffaele Massabkis, conhecidos como "Mártires de
Damasco"; Pe. José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da
Consolata; Ir. Elena Guerra, conhecida como "Apóstola do Espírito
Santo" e a canadense Ir. Marie-Léonie Paradis, fundadora das Pequenas
Irmãs da Sagrada Família de Sherbrooke.
Santa Missa e Canonização HOMILIA DO SANTO PADRE Praça de São Pedro XXIX Domingo do Tempo Comum, 20 de outubro de 2024
Jesus pergunta a Tiago e a João: «Que quereis que vos faça?» (Mc 10, 36). E logo a seguir, desafia-os: «Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou batizado?» (Mc
10, 38). Jesus faz perguntas e, deste modo, ajuda-nos a discernir,
porque as perguntas fazem-nos descobrir o que está dentro de nós,
iluminam o que trazemos no coração. e que tantas vezes não sabemos.
Deixemo-nos interpelar pela Palavra do Senhor. Imaginemos que ele nos
pergunta a cada um de nós: «O que queres que faça por ti?»; e a segunda
pergunta «podes beber o meu cálice?»
Com estas perguntas, Jesus traz ao de cima o vínculo e as
expectativas que os discípulos nutrem para com ele, com as luzes e
sombras próprias de qualquer relação. Com efeito, Tiago e João estão
ligados a Jesus, mas têm pretensões. Manifestam o desejo de estar perto
dele, mas apenas para ocupar um lugar de honra, para desempenhar um
papel importante, para “na sua glória, se sentarem um à sua direita e
outro à sua esquerda” (cf. Mc 10, 37). Torna-se evidente que
pensam em Jesus como Messias, um Messias vitorioso, glorioso e esperam
que Ele partilhe a sua glória com eles. Veem em Jesus o Messias, mas
pensam nele segundo a lógica do poder.
Jesus não se detém nas palavras dos discípulos, mas vai mais fundo,
escuta e lê o coração de cada um deles e também de cada um de nós. E
durante o diálogo, por meio de duas perguntas, procura trazer à tona o
desejo que existe dentro daqueles pedidos.
Primeiro, pergunta: «Que quereis que vos faça?»; e esta interrogação
revela os pensamentos dos seus corações, traz à luz as expectativas
escondidas e os sonhos de glória que os discípulos cultivam
secretamente. É como se Jesus perguntasse: “Quem queres que eu seja para
ti?” E, assim, desmascara o que eles realmente desejam: um Messias
poderoso e , um Messias vitorioso que lhes dê um lugar de honra. E
tantas vezes na Igreja ocorre esse pensamento: a honra, o poder...
Depois, com a segunda pergunta, Jesus desmente esta imagem de Messias
e ajuda-os, deste modo, a mudar de olhar, isto é, a converterem-se:
«Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou
batizado?». Revela-lhes, desta maneira, que não é o Messias que eles
pensam que é; é o Deus de amor, que se abaixa para chegar aos que estão
em baixo; que se faz fraco para levantar os fracos; que trabalha pela
paz e não pela guerra; que veio para servir e não para ser servido. O
cálice que o Senhor vai beber é a oferta da sua vida, e a sua vida que
nos foi dada por amor, até à morte e morte de cruz.
E, portanto, à sua direita e à sua esquerda estarão dois ladrões,
suspensos na cruz como Ele e não instalados confortavelmente em lugares
de poder; dois ladrões pregados com Cristo na dor e não sentados na
glória. O rei crucificado, o justo condenado torna-se escravo de todos:
este é verdadeiramente o Filho de Deus! (cf. Mc 15, 39). Vence
não quem domina, mas quem serve por amor. Repitamos: vence não quem
domina, mas quem serve por amor. É o que nos recorda também a Carta aos
Hebreus: «não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós» (Heb 4, 15).
Neste momento, Jesus pode ajudar os discípulos a converterem-se, a
mudarem de mentalidade: «Sabeis como aqueles que são considerados
governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como
os grandes exercem o seu poder» (Mc 10, 42). Mas não deve ser
assim para aqueles que seguem um Deus que se fez servo a fim de chegar a
todos com o seu amor. Quem segue Cristo, se quiser ser grande deve
servir, aprendendo d’Ele.
Irmãos e irmãs, Jesus revela os pensamentos, Jesus revela os
pensamentos, revela os desejos e as projeções no nosso coração,
desmascarando por vezes as nossas expectativas de glória, domínio, de
poder, de vaidade. Ele ajuda-nos a pensar já não segundo os critérios do
mundo, mas segundo o estilo de Deus, que se faz último para que os
últimos sejam erguidos e se tornem os primeiros. Faz-se último para que
os últimos sejam reerguidos e se tornem os primeiros. Muitas vezes,
estas perguntas de Jesus, com o seu ensinamento sobre o serviço, são tão
incompreensíveis, incompreensíveis para nós como o eram para os
discípulos. Porém, seguindo-O, percorrendo os Seus passos e acolhendo o
dom do Seu amor que transforma a nossa maneira de pensar, também nós
podemos aprender o estilo de Deus o estilo de Deus: o serviço. Não
esqueçamos as três palavras que mostram o estilo de Deus para servir:
proximidade, compaixão e ternura. Deus se faz próximo para servir; se
faz compassivo para servir; se faz terno para servir. Proximidade,
compaixão e ternura…
É a isto que devemos aspirar: não ao poder, mas ao serviço. O serviço
é o estilo de vida cristão. Não se trata de uma lista de coisas a
fazer, como se, uma vez realizadas, pudéssemos considerar terminado o
nosso turno. Quem serve com amor não diz: “agora toca a outro”. Este é
um pensamento de empregados, não de testemunhas. O serviço nasce do amor
e o amor não conhece fronteiras, não faz cálculos, mas gasta-se e
dá-se. O amor não se limita a produzir para ter resultados, nem é uma
prestação ocasional; é sim algo que nasce do coração, um coração
renovado pelo amor e no amor.
Quando aprendemos a servir, cada gesto de atenção e cuidado, cada
expressão de ternura, cada obra de misericórdia torna-se um reflexo do
amor de Deus. E assim todos nós - e cada um de nós - continuamos a obra
de Jesus no mundo.
Nesta luz podemos recordar os discípulos do Evangelho, que hoje são
canonizados. Ao longo da história conturbada da humanidade, foram servos
fiéis, homens e mulheres que serviram no martírio e na alegria, como o
Irmão Manuel Ruiz Lopez e seus companheiros. Trata-se de sacerdotes e
consagradas fervorosos, e fervorosos de paixão, da paixão missionária,
como o Padre Giuseppe Allamano, a Irmã Paradis Marie Leonie e a Irmã
Elena Guerra. Estes novos santos viveram o estilo de Jesus: o serviço. A
fé e o apostolado que realizaram não alimentaram neles desejos mundanos
e avidez de poder; pelo contrário, eles fizeram-se servidores dos seus
irmãos, criativos em fazer o bem, firmes nas dificuldades, generosos até
ao fim.
Supliquemos com confiança a sua intercessão, para que também nós
possamos seguir Cristo, segui-lo no serviço, e tornarmo-nos testemunhas
de esperança para o mundo.
Tanto para Te dizer e, estranhamente, todas as palavras me parecem pobres e insuficientes para Ti.
Dizer que Te amo?
Sim, amo verdadeiramente, mas parece tão pouco quando o digo ou escrevo.
Como se consegue escrever um sentimento?
Como expressar no papel o sentir mais íntimo do coração?
Mesmo que repita infinitamente “amo-Te, Senhor”, sempre me parece pouco, sempre parece que sinto que são só palavras.
Sim,
Senhor, eu sei que os arrebatamentos nem sempre são sensatos, ou
melhor, nem sempre nos levam a estar mais e melhor contigo.
Esse
amor infinito com que nos amas, esse amor calmo e silencioso com que
nos amas, esse amor palpável, sensível com que nos amas, esse amor é
verdadeiramente o amor perfeito, o amor de Deus que é amor.
Senhor,
o meu amor, o nosso amor, por Ti, é tantas vezes volúvel, tantas vezes
inconstante, tantas vezes apenas ruidoso, porque parece ter medo de ser
silencioso.
É um amor tantas vezes afirmado e, no entanto, tantas vezes pouco vivido.
O
amor com que eu gostaria de Te amar, Senhor, é o amor incondicional, o
amor sem princípio nem fim, o amor só doação, o amor sem medida, o amor
cuja sua própria expressão é apenas e só amor.
Pois,
Senhor, o amor com que Te quero amar é afinal o Teu amor por mim, por
todos, porque Tu nos amaste primeiro e nos ensinaste a amar.
A
pobreza do meu amor, por Tua graça, encontra sempre a grandeza do Teu
amor e, por isso Tu o aceitas de braços abertos, porque me conheces e
sabes da minha imperfeição.
Hoje em dia há persianas eléctricas, o que exige muito menos esforço de quem as fecha ou abre pois basta carregar num botão.
Às vezes parece que também queremos viver a fé cristã como as persianas eléctricas, ou seja, sem grande esforço da nossa parte.
E
a simbologia que veio ao meu coração também tem muito a ver, quanto a
mim, com esta imagem das persianas, se nos lembrarmos que a principal
maneira de encontrarmos Deus e vivermos a fé, é abrirmos o nosso coração
à presença de Deus, ou seja, simbolicamente abrirmos as “persianas” do
coração que estão tantas vezes fechadas, para deixarmos entrar a
verdadeira Luz.
O
facto de haver persianas eléctricas leva-nos a uma certa preguiça
física, a uma atitude bem mais passiva do que activa, ou seja, ficamos a
ver as persianas abrirem mas, no fundo, pouco contribuimos para isso.
Regressando,
então, a esta simbologia das persianas, podemos reflectir que muitas
vezes também, a procura e vivência da fé é um pouco como as “persianas
eléctricas”, isto é, pouco nos esforçamos por emendar as nossas
fraquezas, por mudar os nossos feitios e atitudes, por querer viver
realmente as celebrações e sacramentos, que tornam Deus presente nas
nossa vidas.
Ficamos apenas ali à espera que as “persianas abram”!
Carregamos
no “botão da fé” e agora esperamos que Deus faça o resto, que abra o
nosso coração, que envie a luz, que mude o que precisa ser mudado,
enfim, que o esforço seja d’Ele e não nosso.
Ora
o Senhor diz claramente que “está à porta e bate”, mas também diz que
“se alguém Lhe abrir a porta”, então Ele entra e ceia connosco.
Mas
Ele não diz que trás consigo a ceia, por isso quem tem de preparar a
ceia somos nós para que Ele a abençoe e a coma connosco, ou melhor,
somos nós que temos que nos preparar para, em estado de graça,
recebermos a Ceia que é Ele próprio, que se dá como alimento divino a
cada um de nós.
Ele não nos dá um “botão para carregarmos”, Ele dá-nos uma vida para vivermos.
É, normalmente, bastante difícil rezar por aqueles que nos
ofendem, aqueles que não gostam de nós, aqueles que por vezes são razão de
provação para nós, que nos prejudicam e, também, por aqueles de quem nós não
gostamos, que também ofendemos, que também podemos prejudicar, por vezes sem
nos darmos conta.
O rezarmos por todos eles, parte em primeiro lugar do nosso
desejo de o fazer, da nossa vontade de proceder como Cristo nos ensina.
E isso é muito bom, porque Deus “lê” o nosso coração, o
nosso desejo de «perdoar como Ele nos perdoa», e, então, mesmo que no início a
nossa oração nos pareça não ser muito sincera, Ele recebe-a na Sua infinita
misericórdia e vai tocando o nosso coração, de tal modo, que a oração que nos
parecia difícil e pouco sincera, passa a ter “calor”, passa a ser
verdadeiramente desejada e, por isso mesmo, o perdão e a paz vão tomando conta
de nós.
Melhor ainda, porque não sabemos e nem precisamos de saber,
como Deus vai tocando também aqueles por quem rezamos, e, se eles estiverem
abertos à Sua presença, vai também mudando os seus corações dando-lhes o perdão
e a paz.
Ao fim de algum tempo, se insistirmos nessa oração, vamos
recordando tudo o que aconteceu e isso já não nos magoa, já não é motivo de
tristeza para nós, mas sim, ensinamento para a vida, percebendo o que fazer e
como fazer.
Então o ressentimento, o rancor, a falta de perdão, são
afastados de nós, e o amor de Deus ocupa esse espaço em nós, levando-nos mesmo
a ajudar, (caso precisem), aqueles que são razão dessas nossas orações.
Realmente a Deus nada é impossível, e ao rezarmos pedindo
por eles, estamos a pedir a Deus que nos dê o que ainda não temos e até
pensamos não conseguir ter, para podermos perdoar e guardar no nosso coração
com paz e amor tudo o que aconteceu.
Foi Ele quem nos amou primeiro e, por isso mesmo, só no Seu
amor podemos ser amor para Ele e para os outros.