20 março 2022

Papa: onde reinam o amor e a fraternidade, o mal já não tem poder

 

 
"O mal nunca pode vir de Deus porque Ele "não nos trata segundo os nossos pecados", mas segundo a sua misericórdia. "É o pecado que produz a morte; são os nossos egoísmos que despedaçam os relacionamentos; são as nossas escolhas erradas e violentas que desencadeiam o mal." A verdadeira solução, portanto, é a conversão, com o convite para acolhê-la com o coração aberto 
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Um Deus castigador, que envia desgraças para punir os nossos pecados? Não, “Deus é Pai e olha para nós como um pai, o melhor dos pais. Não vê os resultados que tu ainda não alcançaste, mas os frutos que ainda poderás dar". Um belo nome para ele seria "o Deus de outra possibilidade".

Inspirado no Evangelho de Lucas (Lc 13,1-9), Francisco procura desfazer a ideia de que muitas vezes temos de um Deus responsável pelas nossas desgraças, muitas das quais, meras consequências dos nossos pecados, das escolhas equivocadas que desencadeiam o mal. Assim, especialmente neste tempo da Quaresma, o convite urgente à conversão.

Castigo de Deus para punir os pecados?

Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas presentes na Praça de S. Pedro (30 mil, segundo a Gendarmaria), o Papa começa por explicar a passagem do Evangelho que fala das notícias que chegavam a Jesus, de mortes devido à violência de Pilatos e da queda da torre de Siloé. Diante destas tragédias, as pessoas queriam saber quem era o culpado. “Talvez essas pessoas fossem mais culpadas do que outras e Deus puniu-as?”, perguntavam. Questionamentos, observou Francisco, “sempre atuais”:

Quando as más notícias nos oprimem e nos sentimos impotentes diante do mal, muitas vezes nos interrogamos: trata-se, quem sabe, de um castigo de Deus? É Ele quem envia uma guerra ou uma pandemia para nos punir pelos nossos pecados? E porque não intervém o Senhor?

No contexto destes questionamentos, um alerta:

Devemos estar atentos: quando o mal nos oprime, corremos o risco de perder a lucidez e, para encontrar uma resposta fácil para o que não podemos explicar, acabamos por culpar Deus.  E tantas vezes o mau hábito das blasfémias vem disto. Quantas vezes atribuímos a Ele as nossas desgraças, atribuímos as desventuras no mundo a Ele que, ao contrário, nos deixa sempre livres e, portanto, nunca intervém impondo-se, apenas propondo-se; a Ele que nunca usa a violência e, de facto, sofre por nós e connosco!

O mal nunca pode vir de Deus, Ele trata-nos segundo a sua misericórdia

O Papa explica que Jesus “rejeita e contesta fortemente a ideia de atribuir os nossos males a Deus: aquelas pessoas que foram mortas por Pilatos e aqueles que morreram debaixo da torre não eram mais culpados do que os outros e não são vítimas de um Deus impiedoso e vingativo, que não existe!”.

O mal nunca pode vir de Deus porque Ele "não nos trata segundo os nossos pecados", mas segundo a sua misericórdia. É o estilo de Deus. Não pode tratar-nos de outra forma. Tratanos sempre com misericórdia.”

Ao contrário, ao invés de culparmos Deus, devemos olhar para dentro de nós mesmos:

É o pecado que produz a morte; são os nossos egoísmos que despedaçam os relacionamentos; são as nossas escolhas erradas e violentas que desencadeiam o mal.

Acolher o convite à conversão com coração aberto

A verdadeira solução, portanto, é a conversão: "Se não vos converterdes - diz ele – ireis morrer todos do mesmo modo":

É um convite urgente, sobretudo neste tempo de Quaresma. Acolhamo-lo com o coração aberto. Convertamo-nos do mal, renunciando àquele pecado que nos seduz, abramo-nos à lógica do Evangelho: porque, onde reinam o amor e a fraternidade, o mal já não tem poder!

Francisco recorda que Jesus sabe que “não é fácil converteremo-nos, e que nos ajudar nisto. Sabe que tantas vezes recaímos nos mesmos erros e nos mesmos pecados; que nos desencorajamos e, talvez, nos pareça que o nosso esforço no bem é inútil num mundo onde o mal parece reinar.”

O "Deus de outra possibilidade"

Assim, depois do apelo à conversão – acrescentou o Papa – Jesus encoraja-nos com uma parábola que fala da paciência de Deus, com a “imagem consoladora de uma figueira que não dá frutos no período estabelecido, mas que não é cortada: e lhe é dada mais tempo, outra possibilidade”:

“Gosto de pensar que um belo nome de Deus seria "o Deus de outra possibilidade": ele dá-nos sempre outra oportunidade, sempre, sempre. Assim é a sua misericórdia.”

Deus, o melhor dos pais

E observa que “assim faz o Senhor connosco: não nos separa do seu amor, não desanima, não se cansa de nos devolver a confiança com ternura”:

Irmãos e irmãs, Deus acredita em nós! Deus confia em nós e acompanha-nos com paciência, a paciência de Deus connosco. Ele não desanima, mas coloca sempre esperança em nós. Deus é Pai e olha para ti como um pai: como o melhor dos pais, não vê os resultados que ainda não alcançaste, mas os frutos que ainda poderás dar; não leva em conta as tuas faltas, mas encoraja as tuas possibilidades; não se concentra no teu passado, mas aposta com confiança no teu futuro. Porque Deus está perto de nós, Ele está perto de nós. O estilo de Deus - não esqueçamos -: proximidade, ele está próximo, com misericórdia e ternura. E assim nos acompanha Deus: próximo, misericordioso e terno.

Peçamos, portanto, à Virgem Maria - foi o convite do Santo Padre ao concluir - que nos dê esperança e coragem, e acenda em nós o desejo de conversão.

VN

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