Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Silenciar e colocar-se à escuta de Deus, acolhendo a sua voz para além dos nossos esquemas e superando os medos com a sua ajuda.
Antes de rezar o Angelus com os peregrinos reunidos na Praça de S. Pedro sob um calor de 36°C, o Papa comentou o Evangelho de João proposto pela liturgia do XIX Domingo do Tempo Comum, que fala da reação dos judeus à afirmação de Jesus: “Desci do céu”, "escandalizam-se"!
Eles perguntam, como é possível que um filho de um carpinteiro, cuja mãe e parentes são pessoas comuns, conhecidas, normais, como tantos outros, poderia ter "descido do céu", por outras palavras, de "como Deus poderia manifestar-se de forma tão comum?". E Francisco explica:
Eles estão bloqueados na própria fé, pelo preconceito, bloqueados pelo preconceito em relação às suas origens humildes e também bloqueados pela presunção, portanto, de não terem nada a aprender d’Ele. Os preconceitos e a presunção, quanto mal fazer! Impedem um diálogo sincero, uma aproximação entre irmãos. Estejamos atentos aos preconceitos e à presunção. Eles têm os seus próprios esquemas rígidos e não há espaço nos seus corações para o que não tem a ver com eles, para o que não conseguem catalogar e arquivar nas estantes empoeiradas das suas seguranças.
No entanto - observou o Papa - "são pessoas que observam a lei, dão esmolas, respeitam os jejuns e os momentos de oração". E mesmo Cristo tendo realizado vários milagres, isto "não os ajuda a reconhecer n’Ele o Messias". Por quê?
Porque realizam as suas práticas religiosas não tanto para ouvir o Senhor, mas para encontrar nelas a confirmação do que pensam. São fechados à Palavra do Senhor e procuram uma confirmação para os próprios pensamentos. Isto é demonstrado pelo facto de nem sequer se preocuparem em pedir uma explicação a Jesus: limitam-se a murmurar entre si a respeito dele, como que para se tranquilizarem, uns aos outros, sobre aquilo de que estão convencidos, e fecham-se, são fechados como que numa fortaleza impenetrável. E assim não conseguem acreditar. O fechamento do coração, quanto mal faz, quanto mal faz!
E isto - observou o Papa - pode acontecer também a nós, na nossa vida de fé e na nossa oração:
Pode acontecer-nos, isto é, que em vez de ouvirmos verdadeiramente o que o Senhor tem para nos dizer, procuremos d’Ele e dos outros somente uma confirmação daquilo que pensamos, uma confirmação das nossas convicções, dos nossos juízos, que são pré-conceitos. Mas este modo de nos dirigirmos a Deus não nos ajuda a encontrar Deus verdadeiramente, nem a abrir-nos ao dom da sua luz e da sua graça, para crescer no bem, para fazer a sua vontade e para superar os fechamentos e as dificuldades.
Então, o convite do Santo Padre a nos questionarmos:
Na minha vida de fé, sou capaz de realmente fazer silêncio dentro de mim e de me colocar na escuta de Deus? Estou disposto a acolher a sua voz para além dos meus esquemas e superar também, com a sua ajuda, os meus medos?
Que Maria - disse ao concluir - nos ajude a ouvir com fé a voz do Senhor e a fazer com coragem a sua vontade.
VN
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